quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

FIC URCA Parte15- O Balé russo.



C- Non sei por que eu fui prometer te trazer pra passear... – resmunga o francês enquanto Rosa dá saltitos na sua frente. O Ibirapuera não parecia mesmo fazer parte de São Paulo, era tudo tão verde, tão bonito...

R- Ah, Claude o medico mesmo disse... Que você precisava de ar fresco!- Rosa sorria, Claude resolveu sorrir também... Ela se sentia tão feliz, naquele lugar, o cheiro das arvores o lago... Tudo tão... Perfeito!...

C- Você non consegue parar quieta non? Assim eu vou ter um ataque, non?- Rosa ria andando como criança. Ele se encosta numa arvore, cruza os braços e fecha os olhos.

Rosa lhe aparece por trás, pondo uma mão no seu ombro. Ele nem abre os olhos, suspira:

C- Sabe Rosa? Eu me sinto muito melhor... Este lugar é maravilhoso!

R- Viu só?... Parece até mágica...

C- O que parece mágica?

R- Hum... Não sei... este lugar, a alegria que agente sente por estar aqui... Essa sensação de liberdade...

C- E ai você tem vontade de dançar?!- zomba

R- É! Eu tenho! Se pudesse, eu voaria! Mais como não tenho asas...- fica na ponta do pé, como que tentando ficar na mesma altura que ele.

C- Você pode tentar voar, é só subir numa arvore dessa aí- aponta a copa de uma arvore muito alta-  ó e Voila!!! – aponta como se algo estivesse caindo de lá.

R- Muito engraçado!...- fica de frente pra ele- Mais eu prefiro dançar! É mais seguro, né?

C- A non ser que você dance balé clássico, non? Com todo aqueles contorcionismos você ia precisar de um seguro de vida!- ri ele.

R- Balé.... Você sabia que eu já fiz balé? É! E eu gostava muito... Até hoje me encanta ver as opéras russas... O lago dos Cisnes, O quebra-nozes...A bela adormecida...- Claude dá risada.

C- Mas essas peças são todas francesas!

R- É mais o compositor é Tchaikovsky, e ele era...- ela dá mais um saltito, mais dessa vez se desequilibra, Claude se abaixa rápido pra sustentá-la, as costas lhe reclamam um pouco, os narizes se tocam, ele diz num sorriso:

C- Russo?- Gesticula num bico. Rosa arregala os olhos, meia sem graça por ele estar assim tão perto,

R- É... Russo. ....- ela se solta dele. Totalmente encabulada...

(...)

C- Eu non te entendo non! Me pede pra passear num parque pra eu respirar ar puro e depois me leva naquela loja lá que mais parecia um...

R- Antiquário! Mais não Claude, lá não é um antiquário, é uma loja de mídia, você não reparou não? – Rosa abaixa os olhos, observa o café circular ao impulso da colherinha na xícara, parece sem graça- Obrigada por aquele vinil, eu sei que pra você não é nada...Mais pra mim o preço dele é uma fortuna!- Eles estão em um restaurante, bem requintado por sinal.

C- Non precisa agradecer, hã? – Ele sorri abaixando a cabeça, como que procurando olhá-la nos olhos- Você vale muito a pena!- Rosa cora e ao mesmo tempo franze a testa, intrigada com a frase:

R- Como assim, eu valho a pena?- encara-o, ele arregala os olhos ao perceber que suas palavras ainda ficaram voando no ar, ele não conseguia agarrar nenhuma resposta!-

C- Ãn.... –Arqueia as sombracelhas, dá um gole no café- Você sabe, non?
Ela se prepara pra dizer um sonoro Não... Mas vê atrás de Claude umas figuras familiares...

R- Claude, olha! A Roberta e o Sérgio!- Ele se vira pra olhar, ao voltar os olhos depara com Rosa já de pé, indo dar um abraço no seu “amiguinho”

R- Sérgio!- Abraça calorosamente o amigo- Nossa, eu nem acredito, que sorte encontrar vocês aqui!..

S- Ué Fina, mas e você? Tá tudo bem? E o que você está fazendo aqui?...- ele percebe Claude se aproximar por trás de Rosa.- Ã, tá agora entendi...

R- Não achou que eu estava fazendo bico fora de hora, né?- eles riem, menos Claude que cumprimenta Roberta num sorrisinho amarelo- Mas na verdade é que agente tá esperando o casal Smith sabe? Agente ficou de se encontrar aqui pra jantar...
Eles voltam a sentar, Roberta e Sérgio esperam o diretor Hugo na outra mesa.

 Eles não sabem é que Egidio contratou um atirador e alguns capangas pra matar Rosa durante um suposto assalto, e que este atirador estava ali a disposição, engravatado numa mesa próxima, e seus capangas do lado de fora á espreita, esperando o sinal...

C- Ainda acho que aquela loja lá parece antiquário...- diz Claude ao perceber que o silêncio de Rosa lhe questionava a resposta da ultima conversa...- Tinha tanto pó que eu non podia ficar muito tempo non... Você non estava tentando me aborrecer de novo, hã?- Rosa sorri, mesmo ainda estando brava com ele.

R- Há há, imagina... – os olhares se encontram- Eu não ia fazer nada pra te machucar não Claude...- ela ruboriza diante do olhar que ele a lança, parecia que ele queria “ler-lhe a alma”-... E lá não tinha pó não senhor!

C- Mais velharia de sobra....

R- Eu gosto de coisas antigas! São tão.... Românticas!- Ele contem um riso no canto dos lábios:

C- Românticas... Fora de linha, non?

R- Por que fora de linha? Eu não me conformo com toda aquela história que depois do mal do século, o romantismo soa como bobagem!- ele sorri botando açúcar na xícara.- Eu acho que você não devia botar tanto açúcar assim não...

C- Non posso beber, hã? Enton, eu quero me enganar com o álcool na sua forma primitiva, hã?- ele levanta o açucareiro em demonstração.

R- Hã... Alcoólicos anônimos?- ele ri

C- Non vem com essa non, hã? Eu só ando muito nervoso...

R- E daí desconta na bebida, doutor Claude?!- ele dá uma boa golada, sem saber o que dizer.- Mais... Você não me falou o que acha...

C- Do que?- ele empalidece pensado que ela ainda queria saber por que o “você vale a pena...”-

R- Sobre o romantismo?... – ele para com a xícara na altura do peito, ela o olha com um sorrisinho meigo- Mas então, doutor Claude Antoine Geraldy? Qual é o seu conceito de amor?

C- Pas pour moi...-Ele dá outro gole, ela o olha com cara de hã? Repete por favor? Ele meneia a cabeça- Non é que eu não acredite, é que...-
 ele a olha nos olhos e se ente enfraquecer com o olhar de quase súplica dela “por favor não me magoe”- ... Non sei,... acho que é o amor que non acredita em mim, hã?- ele tenta disfarçar, põe a xícara de volta no pires na mesa...

R- Mais e sua noiva?...- Ele percebe que ela não iria parar por ali

C- Rosa?

R- Hum?- responde num tom cínico

C- Non quero falar mais disso, hã?- Diz com certo receio

R- Tá... Quanto mistério! Não tá aqui mais quem falou!...- Rosa tenta conter um grito de alegria por dentro
“Aha! Ele não dá a mínima pra aquela cenoura perua!” mas sua cara de satisfação se desfaz, ela vê um homem mascarado apontando uma arma em sua direção. Claude se vira :

C- Se abaixa Serafina! Cuidado!- ele se põe de joelhos a segurando pelo braço. Ouvem um tiro abafado, gritos e pratos se quebrando, uma voz anuncia “isso é um assalto!” breve correria e Claude puxa Rosa pra tentar sair dali, ela resiste ao ver que ao que Sérgio se pressionava um braço

R- Sérgio!!!- Claude a pega pelo pulso, eles saem do local e começam a andar pelo estacionamento.

R- Me solta! Eu não posso deixar o Sérgio lá dentro! Ele pode estar ferido, sabia?!-

C- Rosa! Non vai voltar pra lá non tá maluca?

R- Eu quero voltar e é isso mesmo que eu vou fazer! Agora me solta! – Ela impaca.

C- ããaa.... – Ele a joga nas costas- Mulherzinha complicada, hã?

R- Me solta! Me solta! Seu grosso! Claude suas costas! Me solta!

Ele a leva até o carro, e a solta na porta, que ele abre. Ela o olha com raiva, bufando:

R- Você não podia ter feito isso Claude! O Sérgio nunca me deixaria numa situação como essa!- ele insiste num gesto pra que ela entre. Ela se joga no banco, emburrada.

C- Hã, Sérgio, Sérgio...- ele dá a volta e entra no carro também-  Ah ele nem esta lá sozinho non e Roberta? Ele non te deixaria por que você é mulher!

R- Ã? Mas como você é machista! – o carro começa a andar-

C- Machista non, hã? Mais é a mais pura verdade.- pausa- É que o mundo non aceitou ainda a filosofia de direitos iguais, non... E tem Roberta hã? O Sérgio é homem, pelo menos ele intimida um pouco mais que ela...- Rosa franze a testa-

R- Você se preocupa demais Serafina! Ele não esta lá sozinho, non! Ah, doutor Claude e dona Roberta Vermont não arranja um belo herói salvador de donzelas desprotegidas em questão de segundos?

Claude fica sem resposta-

R- Se você estava tão preocupado com ela então por que ao invés de mim você não pegou ela pra levar pra casa, hã?- Claude se vê ainda mais complicado, engole em seco..- Não é por que agente finge ser um casal feliz que até numa hora extrema agente tenha que fingir.... afinidades...

C- Rosa? Por favor...

R- Claude eu não te entendo sabia? Por que você não fala o que pensa? Por que todo esse medo de expressar o que você sente?- ela diz num desabafo, chorosa- Você nunca sorri e quando eu consigo te fazer rir em seguida você me dá uma patada! Claude eu me esforço pra fazer você ficar contente e você nunca dá a mínima!

C- Rosa... Também non é assim, hã?...

R- Claro que é! É exatamente assim! Você só se preocupa com seus problemas e nunca vê o meu lado!

C- Non vai me acusar de novo de...- ele liga o limpador de vidro, por causa da chuva.

R- Manipulador!- o céu brilha num relâmpago- E isso o que você é! Sempre que eu penso que você está sendo sincero em alguma coisa, eu logo me desiludo ao perceber que você só não quer que eu te aborreça, te complique!- Claude tenta escolher as palavras certas, com medo de piorar a situação-

C- Non é verdade! Como você sabe se é isso o que eu faço, hã?

R- Bom, é só perceber o quanto você dá de crédito pra Nara e o quanto você debita de mim! Você sempre quer provar que eu estou errada, mais logo recua quando vê que não existe explicação que me incrimine!

C- Espera ai? Do que exatamente você está falando?

R- Ah, pra começar da sua desconfiança da minha lealdade na história dos americanos , e depois tem a sua lesão pulmonar causada por uso indevido de medicamentos...

C- Mas non foi provado que Nara tenha feito isso non...

R- Ah, então você acha que fui eu?!

C- Non, non...

R- Quer saber?! Chega! Pra mim já deu! Para o carro que eu vou descer!

C- Oque?

R- Para o carro Claude!- ela destrava a porta, ameaçando abrir.- Ou eu vou ter que pular?-

Ele para. Ela desce, batendo a porta com força. Começa a andar na chuva,  os saltos praticamente imersos pela água da rua. Claude pensa em descer e ir atrás dela, mais ao perceber a rua meia desértica prefere continuar acompanhando-a com o carro-

C- Rosa, Rosa volta pro carro!

R- Não! Eu vou pegar um ônibus e vou voltar pra “minha casa”, pra junto da “minha família”!- Ela continua andando apressadamente sendo empapada pela chuva.

C- Rosa... Non vê que esse lugar é perigoso? E você está se molhando toda!- Um grupo homens que estavam sob a cobertura da frente de uma loja começam a mexer com Rosa, que começa a sentir um pouco de medo ao ver que um dos indivíduos se aproximava.

“Mas ele não vai fazer nada com o Claude aqui... O Claude com certeza não vai me deixar sozinha...ele não larga o osso por nada! Rosa tentava se acalmar com esses pensamentos mais como andava de cabeça baixa não percebeu que Claude parara o carro.

Ele salta em meio a chuva e começa a discutir com os indivíduos. Rosa tremendo de frio trata de apertar o passo ao perceber que o homem recuara e Claude começava a vir em sua direção. Mais uma olhada pra trás e ela tropeça numa poça que escondia um bueiro, que mesmo tampado transbordava.

R- Aaaaiii! Aaaii!!- Ela manca e depois para se abaixando de leve pra tentar se livrar do sapato com salto quebrado.- Droga! Acho que desloquei o tornozelo! Aiii!- ela estava irada! Fazia caretas de dor e de raiva.

Claude finalmente a alcança, a chuva se mantém em abastança-

C- Serafina o que aconteceu?

R- Nada, eu estou bem!...- tenta dar mais um passo- Aaaaii!

C- Non, non tá non!- Ele a pega no colo mesmo sob protesto dela-

R- Claude me solta! Mais que coisa! Você perdeu o juízo? Você não pode pegar peso e fica abusando assim?- ele a põe no chão e abre a porta.

C- Non tinha outro jeito hã?

R- Sai da chuva vai!- ele dá a volta e entra novamente, igualmente empapado pela chuva- Depois diz que não pressiona ninguém que não manipula...

C- Rosa chega, hã?- tosse- Eu sei que você esta brava comigo mais vamos deixar esse papo pra depois por que eu acho que por agora basta, hã?- Ele oferece o paletó ao ver que ela batia o queixo.

 O vestido que era tão somente azul se convertera em preto, a saia larga lhe grudavam em pregas até as panturrilhas.

Eles chegam sem mais muita conversa,  Claude toma banho primeiro com a insistência de Rosa lhe alegara que seria em prol dele estar doente. Ele sai e logo ela entra, ela toma o “banho mais quente da minha vida” em vista de que ela não sabia o que pensar, no que acreditar ou mesmo desejar...

Ela se sentia confusa, ofendida. Ora pensava que tudo o que Claude faz por ela fora apenas por interesse, que tudo o que ele queria era manipulá-la, como um fantoche, ora acreditava que ele realmente se preocupava, que se importava e que apenas não sabia como proceder direito, “afinal, ao que eu saiba ele teve uma infância vazia, foi criado em meio a frieza...”

Ela sai e vê Claude sentado na beira da cama, enxugando o cabelo com uma toalha. Ela entra no closet e volta ainda de ropão com um secador, que ela liga á tomada do abajur

R- Booh! – Ela mira Claude e liga o secador. Ele sorri, e ela começa a secar os cabelos dele- Sabe, Claude? Eu lembrei agora que agente nem ligou pra policia..

C- Non era preciz, non.... É que a senhora estava muito ocupada se esperneando e non viu o cerco de viaturas na entrada!- Rosa aponta o secador no rosto dele, que tenta se esquivar pra um lado, ele levanta e ela começa a secar o próprio cabelo.

R- Há, há! Eu não vi por que o senhor fez a grosseria de me arrastar pro estacionamento pelos fundos e sem ao menos poder ir com meus próprios pés!

C- Ninguém mandou a senhora ser maluca e desajuizada!- ele se deita do outro lado da cama-

R- Tá legal! Já deu, por hoje, hã?!- Rosa vai até o closet guarda o secador e se põe o pijama-

Retorna e se deita na cama, olha pro lado de Claude, que está de costas:

R- Claude?- ele responde ainda sem se virar-

C- Ã?- Ela aspira pelo nariz:

R- Obrigada por me defender daqueles caras lá na rua...

C- E...- Ela da um sorriso de desistência-

R- E por me salvar do tiroteio...Mais não pense que eu esqueci o que você disse não,hein?!- ele se vira, os rostos ficam de frente um pro outro, a meio palmo-

C- E o que foi que eu disse?- Rosa ruboriza, diz vacilante-

R- Muitas coisas que eu não gostei de ter ouvido de você...

C- Rosa...- ele toma uma das mãos dela, que seguravam o edredom dela na altura do estômago- Eu sei que eu sou muito grosso as vezes... Um troglodita, hã?Mas eu quero que saiba que eu também non sou esse monstro todo ai, que você pintou...Um bicho papon frio e calculista sem escrúpulos e sem princípios... –
 os olhos dela começam a ficar marejados- ...Pardon, hã? Eu sei que non tenho direito de desconfiar de você, non?- ele beija a mão dela,- boa noite minha esposinha vingativa!-

Ele vira pro outro lado e ela se encosta na cabeceira cruza os braços, ele está de bruços,
ela pega um travesseiro e joga nas costas dele, em seguida deita novamente sorrindo-

R- Boa noite bicho papon!....

(...)

R- Claude?! Claude acorda!Acorda você precisa tomar um banho morno!- Rosa está agachada ao lado de Claude, que arde em febre-

C- Non, Serafina! Eu estou bem, hã?- Ele larga a mão dela e se vira pro outro lado, delirando-

D- Dona Rosa a banheira já está cheinha viu? Quase transbordando como a senhora pediu.

R- Obrigada Dádi! Mas me ajuda a botar ele lá, ele está até delirando, não vai conseguir sozinho!- as duas pegam ele pelos ombros, conduzem-no até o banheiro, Rosa enfia um pé na água encharcando a barra da calça pra ajudar Claude a se por sentado, ela se afasta um pouco e ele se deixa escorregar ficando imerso até o pescoço. Ela se agacha ao lado da banheira, ele parece ainda estar delirante, ela põe a mão na testa dele e sussurra:

R- Mas eu acredito em você!

(...)

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