- Acho que a brincadeira foi longe demais, Frason!- diz Claude passando a mão nos cabelos, ele está sentado num corredor de hospital
F- Claude, você não teve culpa! E ela vai ficar bem!- ele senta ao lado do amigo.
C- O que eu digo pra mãe dela, hã? O que eu digo pra aquela senhora que sempre foi tão gentil comigo, que me tratou como filho?... Sabendo que Serafina levou um tiro por minha causa?! Ela agora está lá dentro, sem saber o que fazer!
F- Calma francês, calma! Ela já está estabilizada você não ouviu o que o médico falou? Ela só esta dormindo por causa dos remédios, já ela acorda e fica tudo bem você vai ver...
C- Obrigado, Frason! Você tem feito muito por mim, amigo- dá um abraço em Frasão- Mas o fato é que eu tenho que ir conversar com a mãe de Rosa... Parece que o pai dela nem sabe do que aconteceu ainda... Eu acho que mesmo que Serafina acorde ai de repente e se punha de pé, ela non volta comigo pra casa non...
F- Convenhamos que se isso acontecer mesmo, rapaz, é o fim da picada, né francês?
(...)
C- Au clair de la lune...Mon ami Pierrot...Prête-moi ta plume...Pour écrire un mot...Ma chandelle est morte,Je n'ai plus de feu...Ouvre-moi ta porte...Pour l'amour de Dieu....
- Claude cantarolava baixinho enquanto afagava os cabelos de Rosa, que parecia dormir profundamente na cama do hospital, ele estava sentado na poltrona ao seu lado. Ficara ali por horas, esperando a hora em que seu “sogro” passaria pela porta e o chamaria pra uma longa conversa...
Ele já tinha a certeza de que não ia demorar muito, já que dona Amália apesar de sentir pena dele, não achara outra alternativa a não ser contar a verdade...- Au clair de la lune....Pierrot répondit :"Je n'ai pas de plume...Je suis dans mon lit.Va chez la voisine...Je crois qu'elle y est,Car dans sa cuisine....On bat le briquet...
(...)
C- Sim, seu Giovanni, estamos entendidos sim... – foram as únicas palavras na conversa ditas por Claude, mas seu Giovanni nem as ouviram, visto que lhe batera a porta na cara. Ele ficou ali... parado olhando Rosa dormir...
“Talvez pela última vez...”
Ele vai embora, por que com toda a raiva que o “sogro” estava, a melhor solução encontrada por Amália foi essa. Depois ele poderia voltar, num horário que não coincidisse com Giovanni, para ver Rosa acordada, o que estava previsto somente pro outro dia pela manhã.
Por Claude se contaria toda a verdade aos Smith, mas a presença de Frasão não lhe permitiu tal coisa, já que o amigo ao notar a falta de palavras na hora da explicação se adiantou e disse que quando Rosa saísse do hospital, ela iria passar uns dias na casa da mãe, e que Claude a iria visitar todos os dias.
(...)
D- Ô doutor Cloudes, o senhor não vai comer nada não? Desde ontem que o senhor não almoça, não janta! Nem só de café preto viverá o homem, sabia?- Dádi tenta animar
Claude, que está sentado na mesa da biblioteca, com olhar distante...
C- Non se preocupe, non Dadi... Eu estou bem, hã? Não precisa se preocupar eu sou bem grandinho, non?
D- Olhe, eu vou lhe trazer um lanchinho que é pro senhor poder parar de pé, né? Com todos os remédios que o senhor está tomando se não comer não adianta, viu?
C- Tá, tá... Você venceu, hã?- Dádi sai e ele começa a andar pelo recinto... Vê o vinil que dera pra Rosa, de clássicos da musica italiana... Logo depois vê o filme da Bette Davis em cima do aparelho de DVD...
“Estranho... é como se ela fizesse parte desse cenário...”
(...)
Ele finalmente adormece, de roupa e tudo. “Rosa iria me matar se me visse de sapatos em cima da cama...”
Ele sonha no campo de novo. Mas Rosa não está em lugar nenhum... A árvore! Ele corre até lá e o que encontra é somente um livro no gramado... O livro está meio úmido, ao que parece por causa do orvalho.
Ele senta ao pé da arvore e abre o livro, não conseguia ler o que estava escrito, as palavras pareciam correr como formigas, ele espremia os olhos pra tentar ler as letras miúdas, e finalmente reconhece do que se tratava...
“ Charles Perrault, Le chat botté... O gato de botas... ” O livro estava em francês, e as gravuras eram antigas, assinadas por Gustave Doré... Ele ficou ali, lendo a história...
C- Rosa?- Claude abre os olhos de repente, ainda era madrugada. Lembra do sonho mais não de como era a história do livro, ele vai até a biblioteca procurando o gato de botas, mais não encontra...
- A loja!- Claude se lembra da “ loja de velharias”, que visitara com Rosa, pensa que certamente encontrara o livro com as mesmas gravuras lá. Talvez não em francês, mas isso não importava...
(...)
R-E eu não posso andar um pouco?- Rosa sorri por que a resposta da enfermeira é sim. Ela levanta os olhos e vê que Claude adentra no quarto, sorrindo e segurando um buquê de rosas numa mão, a outra pra trás. Ela esta sentada na cama, lhe sorri, ele a beija na testa. Ela recebe as flores-
C- Queria ser o primeiro a te ver acordada hoje, hã?- ela faz cara de quem não entendeu, ele mostra a outra mão:
R- Que livro é esse, Claude?- ela diz alisando a capa do livro, que parecia muito precioso- ele sorri
C- Le Chat botté! O gato de botas! Non está todo original por que é muito antigo, foi reencapado, mas ainda sim esta “num ótimo estado de conservaçon”, ou pelo menos foi isso que o vendedor me disse, non?´- ela sorri
R- Claude! Você é maluco, sabia? Obrigada, eu amei o livro!
C- Você já sabe oque aconteceu?- diz sério
R-Já... Eu só não sei é o que vai acontecer, né? Meu pai com certeza vai ficar sabendo de tudo e...
C- Rosa, ele já sabe..
R- Sabe?! Mas como?!
C- Ele já veio aqui ontem e... disse que não era pra eu te ver nunca mais.
R- Hã? Claude? Mas...
C- Rosa eu te agradeço por tudo, por tudo!... Mas eu também acho que seu pai tem razon em querer que eu fique longe de você... Atentarem contra mim é uma coisa, mais com você, non... Non posso permitir, non... Eu non tenho esse direito de expor sua vida a risco nenhum non..- Rosa o olha com os olhos marejados, ele pega as mãos dela- Rosa... Eu acho melhor agente esquecer isso tudo e... E eu vou embora, eu vou voltar pra Paris e... Acho que vai ser melhor assim...- ela começa a chorar, ele a abraça.
(...)
Rosa está andando pelos corredores, observando cada ala...
Pensativa... Valeria a pena fazer qualquer coisa pelo que ela estava sentindo? Valeria! “Se dizem que o amor é cego, é por que não lhes faltaram motivos!” Mas fazer qualquer coisa?... Mas... o que? Oque fazer para manter os pontos com os americanos, continuar ajudando Claude? Teria que continuar morando com ele!
Mas como convencer seu pai a permitir isso? Valeria enfrentá-lo e simplesmente não voltar pra casa?... “Mas e se...” Rosa sorri ao ver que chegara a uma ala muito interessante.....
(...)
Claude chega á construtora, todos ficam de certa forma surpresos com a presença dele mais ao que parece, o dia estava agitado por lá...
F- Claude, amigão, eu já disse pra você esperar mais um pouquinho, rapaz! Quem sabe eles não decidem ir embora pra deixar vocês mais sossegados, hã?- Frasão senta na cadeira a frente a mesa de Claude, que sustenta o torso com os punhos:
C- Ir embora, ir embora pra sempre, hã? E sem me assinar contrato nenhum...
Janete entra na sala-
J- Licença! Doutor Frasão, ligação pro senhor...- Frasão se prontifica e sai todo alegre, tendo em vista que seria sua musa Alabá.
F- Fala, Robertinha! É pois é... Não se preocupe não querida!... Quanto a isso esta tudo bem... Sabe oque é? É que..- Frasão conta toda a circunstancia de Claude e de Rosa. – Mas então fala, qual é o “babado” da hora hã?- Como é que é? O doutor Egidio... Não, nem li o jornal hoje não... O que?! Meu Deus Roberta!...
(...)
Rosa volta pra casa dos pais, mais ainda sim, ela tinha um plano! Não era um plano perfeito, mais... Valeria a pena tentar!
Claude está sentado na sala, passaram-se três dias desde que Rosa teve alta, e pra todos os efeitos, ela estava “passando uns dias na casa dos pais” era essa a explicação dada aos americanos por Frasão, que tomara a frente na ultima conversa sobre o assunto.
Ele estava exausto. Ele não sabe dizer se era pelos remédios ou por que simplesmente ele estava no meio de uma emboscada, “mais cedo ou mais tarde Von saber....” Os americanos chegam, e só de vê-los entrar sorridentes, Claude já sente uma inquietação...
Depois de algumas palavras, Claude sente uma iminente necessidade de por em pratica algo que aprendera com sua “parceira de combate” Serafina.. “A verdade, sempre a verdade... non? Enton, lá vou eu...”
Claude olha fixamente pro casal, este então, começam a desfazer o sorriso...
C- Miss e Mister Smith, eu queria mesmo falar sobre Rosa com vocês, hã?... Eu só preciso... Achar as palavras certas, non?...
Então, (voila!) a porta se abre... Mas eles nem perceberam... Até que uma voz soa familiar....
F- Boa tarde, meus queridos!...-
Todos se voltam pra Frasão, este sorridente, e logo atrás dele, vêem a figura de Rosa, que vem e deposita a mão no ombro do amigo, este vira o rosto pra ela, e ainda sorrindo diz- Tenho a honra de anunciar que madame Geraldy está de volta!- Claude se põe de pé num pulo
R- Não me recebe, Claude?- sorri em tom de brincadeira.
C- Cla..claro Cherri, Claro!- Diz Claude enquanto corre pra ajudar Rosa a descer os degraus...
(...)
C- Rosa? Como você veio parar aqui?- Diz Claude assim que os Smith sobem o ultimo degrau da escada.
R- Eu tinha que vir.
C- Mas... E seu pai?...Você non tem medo de magoá-lo?
R- Eu decidi que precisava seguir minha própria cabeça, minha conciência...E meu coração...-Claude fica por um momento estagnado, admirando o sorriso de convicção de Rosa, algo que ele particularmente gostava muito de ver.- Mas tem mais uma coisa...
C- Oque? Oque é?.. Algum problema?- ele pensa que essa pergunta foi um tanto desnecessária, mediante as circunstancias...- Pode falar, Rosa!
R- É que... Eu.. Eu quero e vou te ajudar,Claude... Mais eu também não quero deixar meu pai assim, sem explicação nenhuma... Afinal, nosso... “acordo” não é pra sempre e... Bem, eu quero que você venha até minha casa comigo. Assim, agente inventa algo pra acalmar meu pai... Pelo menos por hora, né?
C- Claro, Rosa! Claro! Non precisava nem pedir, é o mínimo que eu posso fazer, non?
(...)
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