domingo, 25 de agosto de 2013

Capítulo 48 - Sutilezas





Le Eternel Amour

Tulipe Rouge












Está.... tudo... bem? aqui? .... - Janete vasculha a sala com os olhos

- Bom, acho que está. - Aponto o sofá e nos sentamos.

- Não, não está.

- Não mesmo. Janeteeee... - escondo o rosto em seu ombro, sentindo uma espécie de frenesi de ansiedade

- Se acalme Rosa... Acho desnecessário todo esse alvoroço. Vocês são adultos, livres, desimpedidos, oque esperava? É claro que uma hora ele mostraria interesse... Concretamente.

- É que... faz tanto tempo e eu... Nem sei se posso corresponder sabe...

- Mas porque não? Acaso você está envolvida com o...

- Olha o absurdo Janete. Acha mesmo que eu...

- Na verdade eu acho. É impossível que não sinta nada nunca, Rosa! Onde está aquela garota maluca do Perrault? Onde está todo o rock and roll? Cadê a emoção?

- Jane... - reviro os olhos

- Dá uma chance pro cara, Rosa. Se dê essa chance, poxa! Imagino o quanto seja esquisito, mas ele não é o Tony. Lembra? - Jane procura meus olhos fujões - Ele é o Claude! Nada a ver você ficar tão..

- Não é só medo, eu juro que não é.

- Então, oque é? - ela me inquire, exigindo uma resposta coerente.
 Sim porque a mão na cintura fala por si só

-Acho que é porque ele é quem ele é. O Claude. O... pai do Caleb. Seja como for. É quase como... uma imposição. Não sei.O Claude- o desenho em minha mente-  Ele é agradável, mas....

- Tem um péssimo senso de humor. Cheira mal? Non foi ao show  do U2? - a figura de Claude passa pela porta, e estaciona ao meu lado, quase na mesma altura que eu, em sua cadeira


Claude






-Oque há de errado comigo Rosa?- seguro suas mãos, enquanto o rosto está em brasa

- Excuse moi - Janete diz divertidamente, enquanto sai da sala sorrindo. Permanecemos nos olhando e nem uma palavra é pronunciada.

- Nada. Não é você, ...

-Sou eu - dizemos juntos. Ela revira os olhos sorrindo

- Você sabe dos meus sentimentos por você, certo? Acho que eu não seja lá muito transparente mas... Sempre te considerei uma mulher... admirável. 

-Admirável? - ela me olha sorrindo, incrédula - Foi nisso mesmo que estava pensando...

- Tudo bem, non sei fazer issi non. - abaixo os olhos - Estou muito envergonhado, le jure.

- Não mais do que eu. Pode parecer bastante infantil, mas é como me sinto.

- Você acha que estõn nos pressionando a isso non é?

- Talvez. Mas só um pouco.

- É oque esperam de nós. Que... demos certo. Que nos entendamos.

- Exatamente isso.

- Eu non me oponho. - digo marotamente enquanto a olho sorrindo




Rosa 




-Nem eu. -me ouço dizer. A minha voz permanece no ar alguns segundos até que ele me olhe profundamente de novo. Os olhos dele também eram capazes de sorrir! Fico presa no "sorriso do olhar" dele até ouvir a porta se abrindo.
 Tento soltar as mãos das dele mas ele não me permite

- Chegamos! - Janete entra sorrindo - E trouxemos sorvete pra vocês também!

- De morango com flocos de chocolate - Caleb sorri

- E de chocolate com menta! - Rachel completa. Vê-los juntos e sorridentes era ainda mais compensador. 

-Ótimo. Quero todos. - Claude me olha de esguelha. Me levanto

- Vamos à cozinha então. Nada de sorvete pela tapeçaria. Que aliás, nem terminei de pagar! - sorrio  na tentativa de aliviar meu próprio nervosismo.

Caleb ainda estava calado demais, mas melhorou depois que o Claude conversou com ele ontem de tarde. Não sei sobre oque falaram mas acho que o acalmou. Coloco-o na cama, os cabelos  meio úmidos do banho recém tomado. Sorrio

-Boa noite, petit

-Boa noite mamãe. Je t'aime. - os olhos grandes de Caleb me fitam, os de Claude parecia estar neles.

-Je t'aime aussi petit. - afago seus cabelos e apago o abajur.



Não sei oque me dá. É só que... É absurdo eu sei.
 Mas é como trair a mim mesma. Eu disse que nunca mais nem mesmo pensaria sobre ele.
Por que cogitar isso outra vez? Eu não contava com isso de verdade.
É claro que eu ouvi sobre essa possibilidade todos esses anos mas não havia nenhuma solidez nela.
Afinal, mal nos conhecemos.
 Mas ele... Ele parece tão sincero...

Por que o rejeitaria? E o Caleb... ficaria bem contente, eu acho... 
O que na verdade eu me pergunto é... o que isso significaria... na minha vida?
Não apenas em questões práticas mas... Por dentro... Isso seria...Como...
 Como cicatrizar as feridas? Superar uma insuperável perda? 
Isso me assusta. Parte de mim quer muito mas outra parte se nega a aceitar. E no caso, não pode haver dúvidas.
 Devo decidir. 
Não que eu queira ficar eternamente sem companhia. Mas esse é um caso em particular, foge ás estruturas convencionais.
 Ele é irmão da minha alma gêmea. E, a pior coisa sobre almas gêmeas é que dificilmente elas ficam juntas. Gêmeo.
Gêmeo.
 Por mais que eu tente ignorar isso, gêmeo. É como trai-lo com ele mesmo.
Com OUTRO ele. Não faz sentido.
 Ai minha cabeça!


Insônia não me ajuda, não penso direito, não adianta. Ah os calmantes!



Sérgio



- Mais estranho seria se ele não tentasse não é.

-Eu sei. Mas ele... Ele 

-Está tão confuso quanto ela. Um mês, amor, um mês e ele toma a iniciativa que poderia ter tomado há dez anos. Mas a circunstância parecia ainda pior que a de hoje. Então, ele decide propor algo. Por mais cauteloso que seja, ainda é uma proposta.

-Amor, você acha que ela vai aceitá-lo?

- E você me pergunta isso, Jane? Mulheres são malucas, como saber. - rio e ela me dá um tapa no braço pelo atrevimento- Não tem como prever...

-Sabe qual é o meu palpite? Ela vai acabar cedendo. Ele é bem atraente, um bom partido, não é de se jogar fora assim. - ela sorri em provocação.

- Hum... sei! Mas o motivo maior é o Caleb. Ele iria adorar ter o pai perto, fazendo parte de fato da vida dele. da rotina... da vida da mãe, de tudo.

-Mas e a Rachel, Sérgio? Eu acho ela tão quieta...

-É a educação francesa dela, amor. Acho que ela é uma criança adorável, e a Rosa a adora. Tenho certeza de que Rosa vai fazer um grande bem a ela, seria como uma mãe, coisa que ela nunca teve de verdade né.

-É mesmo. Me pergunto se não é por isso o ar triste que ela têm.







Rosa




Havia flores na sacada, e o sol entrava pela janela iluminando tudo. Bela manhã de primavera!

- Espero que goste dessas, non sei escolher... - Só então percebo Claude, parado perto da porta, como se me esperasse

-Ah, foi você... São lindas, obrigada. -sorrio. Ele me olha intensamente. Pisco sem entender e ele estende a mão. Caminho até ele e a seguro. Ele me puxa até que eu entenda oque ele queria. Me beija a face e sussurra
-Bon jour.

-Bon jour. - respondo olhando em seus olhos. Tentando imaginar oque ele estaria pensando naquele momento - Você é mais matinal do que eu...

-Nem pensar. Apenas me acostumei a acordar cedo, hã.

- Já tomou café?

-Estava a sua espera...- ele sorri

- Onde estão..

-Nossos pequenos foram à escola hoje, lembra? 

- Ah.... - suspiro. Ele disse NOSSOS pequenos?
- Então... vamos tomar café onde? - sacudo a cabeça como que pra dissipar a confusão mental

- Na Coop cofee, bem na esquina. É agradável, e non está longe, hã?- ele pisca um olho

-Oh! é claro... -sorrio ainda me sentindo abobalhada


Café com açucar e uns brownies pra adoçar tudo, até o sangue dar formiga. 

- Ha ha ha Non é issi non é que... Ela sempre esteve lá, comigo sabe. Nunca nem pensei em demiti-la. Nem que eu a contratei. Sempre foi tudo ton... familiar sabe.

- O seu pai não gosta tanto dela não é mesmo?

-Como você sabe?

-Ah - disfarço- Ela me disse eu acho. Ou foi o Tony.

-Tony. Agente sempre volta a ele. É impossível não falar dele.

-Dizem que pessoas extraordinárias geralmente não vivem muito, mas jamais são desapercebidas.

-Você ainda continua com o mesmo amor por ele non?

- Nunca poderei esquecê-lo... - digo triste, ainda sem olhar nos olhos de Claude, que com certeza, me encarava 

- Acho que ele queria que ficássemos juntos... - ele diz me olhando por baixo, divertido

- É um bom flerte. - sorrio, limpando a espuma do capuccino do canto da boca dele

- Quem vê pensa. - ele pisca sorrindo

- Pensa oque? - continuo o olhando

-Que eu uso fralda geriátrica. - ele gargalha

-AH! hahahaha não acredito que disse isso! 

- Non adianta negar, eu sei que pensam issi. -ele continua rindo

- Tudo bem, chega disso vai.

- Ah é divertido. Pelo menos porque eu sei que non é pra sempre né.

-Você teve sorte. 

- Até que tive. Você quis cuidar de mim, oque mais eu poderia querer? 

-Claude!

Breve silêncio constrangedor...

- Acho até que vou pedir que Dádi volte a Paris, mas para visitar os amigos, hã?  Talvez eu fique por aqui...

- Mesmo que o Carlo... Você vai mesmo à audiência? 

- Com certeza.

-E... você já sabe o porque dele... ter...

-A vingança nunca é plena mata a alma e a envenena - ele sorri - Non se preocupe com issi hã? O pior já passou. Estou completamente em paz e tranquilo. Estou vivo, é o que importa. Carlo vai pagar, e estarei lá pra ouvir a sentença.

-Ele esteve mesmo perdido... Acha que ele vai ser internado num hospital psiquiátrico?

- Provavelmente.. Mas com tratamento vip... Com direito à solitária pro resto da vida. E non digo isso por mim só, mas pelos crimes contra a corporaçón... e contra os direitos humanos, hã?

-Mas ainda não entendi oque ele estava fazendo! O que leva a pessoa à tanta...

-Insanidade? Ele deixou o rancor o dominar... O ódio a família Geraldy foi muito além de mim e Tony, e além de nosso pai. Carlo tinha sede por vingança, sim. Mas o sentimento de autodestruição dele era bem maior. Ainda posso ouvir a risada dele... Ton louca  e as palavras ton desconexas... Nunca vou esquecer oque ele disse sobre... A nossa pequena diferença de posiçón na família... sobre... Eu ser um bastardo reconhecidamente... - Claude manteve a cabeça baixa, tanto quanto sua voz soava

- Acho melhor irmos pra casa... Talvez chova hoje também... - murmurei olhando um casal de velhinhos se levantar, sair e depois passar pela vidraça do lado de fora... lentamente e de mãos dadas

- Você estragou tudo Rosa. Mas ainda sim, Caleb está seguro. E graças a Deus, Carlo nem suspeitava que ele é meu filho. - ele me olha ainda ignorando oque acabei de dizer, estático, as mãos sobre a mesa

- Eu não suportaria.

- Eu também non. No entanto tive de suportar non foi?

- Você foi muito forte. - dou um meio sorriso- Um verdadeiro super herói

-Hm..- ele balança a cabeça numa careta- Super heróis non ficam presos em cadeira de rodas hã... Nem mesmo por um curto período.

- Não estrague tudo! - sorrio me levantando.


Em vez de voltar pra casa, Claude me convenceu a ir até um parque... o Sol animou muitas pessoas a estar ao ar livre.. Em sua maioria jovens escolares e idosos

- O dia está lindo, hã.

-Mas ainda pode virar... Que nem ontem...- digo olhando o céu. O vento balançando os galhos da árvore acima de nós

-É uma pena Rachel non estar aqui. Ela adora esse parque...

- O Caleb também... - digo naturalmente. Como numa conversa de comadres. E me lembro que ele deveria saber coisas desse tipo sobre o filho dele. O que me faz engolir em seco. Será que ele me perdoaria algum dia?

- Veja, aquele casal ali... - ele sorri - Eu os conheço desde que tinha sete anos de idade.

- Sério?

- Meus pais ainda vinham no parque naquela época. E eu e Jean brincávamos muito aqui. Era um paraíso só... os piqueniques.... - ele continuava olhando os velhinhos e sorrindo

-Não quer ir lá falar com eles?

- Non... - ele suspira- eles eston ton velhinhos non se lembram mais de mim non...

-Como você sabe?

- Eu sei. - sorri- Ano passado quando estive aqui em Paris  fui visitá-los. Eles me trataram como Jean Geraldy. Como Jean sempre foi mais próximo deles eles só se lembram dele  . Apenas de Jean. Por alguma razon.

- Espera... Mas se eles não o vê-em a dez anos... como podem se lembrar mais dele do que de você? Ou não veio visitá-los durante esse tempo?

- Eu vim sim. Quase todos os anos eu vinha a Paris e sempre os encontrava ou os visitava. Mas eles continuavam a questionar quem era Claude. Entón parei de insistir.

-Sallut, monsieur Geraldy! - a voz da senhora irrompe os poucos metros que nos separa

-Jean! -O velhinho bate continência, alegremente. E Claude a  devolve, sorrindo.

- E... não se importa? - pergunto a ele, que ainda sorri para o casal ao longe.

- Porque me importaria? Eu e Tony somos gêmeos. Non é novidade esse tipo de situaçón...

- Oh, me desculpe.

-Que issi... É como se eu fosse mesmo ele, non? Sou o que restou dele. - ele abre os braços, e não deixo de notar a tristeza em sua voz.

- Ele está em você. - digo, olhando para Claude tendo a certeza de que estava olhando para Claude. Para ele.

- Non se pode julgar um perfume pelo frasco non é oque dizem? Nem julgar o livro pela capa... Claro que sabemos que as vezes a aparência exterior nos dá pistas sobre o conteúdo. Mas non funciona muito bem com pessoas, né?

-Não... Não funciona.


















-









sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Capítulo 47- Pequenas Vitórias


Le Eternel Amour

Tulipe Rouge



Hoje o dia cheira a chuva, e os meus olhos estão bastante irritados com esse vento insistente. Não havia mini baguetes na padaria então trouxe as normais. Caleb passou horas ontem escrevendo na agenda nova que lhe dei... Mas não expressou felicidade alguma quando me agradeceu por ela. Rosa continua olhando pela janela, exatamente onde a deixei quando sai. 

- Foi rápida.

- Sempre sou não é. - respondo com um meio sorriso. Deposito as compras na bancada e tiro as luvas

- Hoje o dia está estranhamente calmo... - ela suspira, ainda perdida em algum lugar distante

- Acho que  vai chover.


Meia hora depois, Sérgio aparece à porta -encharcado.

- Desculpe a demora, amor, não estava contando com esse toró. - ele sorri tirando a jaqueta

- Moooom - Alice entra, deixando a capa de chuva cair

- Oi querida, está com fome?

-Huhum- sorri. A mando tomar banho, e depois sirvo o lanche a todos.

A tarde segue comumente, a não ser o fato do silêncio imperar em alguns momentos.. Como se as nossas palavras necessitassem de um descanso ou algo assim. Rosa voltou a trabalhar em seu computador e por horas não esboçou nenhuma expressão. Mas ainda parecia exausta...

- E Rachel? - Finalmente arrisco a pergunta, que ainda flutuou no silêncio até ela me olhar ainda inexpressiva

- Com Joana. Não quis vir...

- Obrigada por estar aqui - pego em sua mão- Eu sei o quanto tem sido difícil...

- Eu é que agradeço... Não deveria nem dizer isso mas... eu sinto muito, de verdade.

- Está tudo bem. Ninguém teve culpa. Nenhum de nós... - pausa. E Alice vem e senta em meu colo. A abraço ainda olhando Rosa morder o lábio

- Acho que vou ligar outra vez. - Ela diz olhando a tela do computador. Suspiro quando leio a manchete da internet

"E o paradeiro do capitão Claude Geraldi ainda é um mistério..."

- Não por muito tempo. Tenho certeza de que o encontraram.- Rosa responde a maior de todas as dúvidas que pairam sobre nós. O Claude voltar seria como... ter nossas vidas de volta. Ou não.

Rosa




Decidi passar na banca e comprar todos os exemplares que tinham da Le Cordier. Depois depositei um em cada caixa de correiro do prédio. Não que ainda possua a velha insegurança de antes mas precisava ter certeza de que ma voisines ainda sabiam quem eu era. Que eu era alguém. Eu precisava ter certeza que era alguém. Que sou, hoje.
Rachel só cantarolava baixinho enquanto alisava o coelho branco que ganhara de dom Giovani. Chega a parecer que ela é quem toma os calmantes, não eu.
Caleb a segura pela mão, o que me faz sorrir discretamente. Pois, se ele perceber, nunca mais terei a sorte de ver cena tão singela.

- O que vão querer pro jantar? - pergunto assim que tranco a porta. Tento sorrir cordialmente mas sinceramente,  me sinto tão exausta....

- Podia ser aquela comida lá... de sexta. - Rachel diz, e fazia tanto tempo que cheguei a estranhar sua voz tão... seca.

- Não, não. Pizza. Pizza. - Caleb franze o cenho e senta no sofá, irreverente. 

- Acho melhor não, Caleb. Ontem já jantamos pizza. - respondo calmamente. - Comida chinesa parece muito bom mesmo, Rach. 
Caleb quase disparou algo em minha direção mas conteve sua explosão de fúria. Ele era mesmo uma montanha russa em seus humores... E Rachel sorriu ante a pequena vitória. Sempre disputavam as pequenas e as grandes coisas.

Volto ao trabalho e estico até as 3 da manhã. Fora o tempo que fiquei ao telefone hora com o detetive Flanders hora com Silvia, permaneci em silêncio. Caleb estava no piano e Rach com o caderno de desenho que Claude deixou comigo... a Tv... estava sozinha.

...


Foram duas semanas. E então, lá estava ele. Preso como um bandido, numa antiga funilaria soviética  abandonada. Pena que antes que o encontrassem, Carlo havia lhe quebrado duas costelas e deixado muitas lesões por todo o seu corpo, de modo que o encontraram desacordado, e desde quando nem se sabe.


Claude



Abro os olhos ainda pesados, as pálpebras me ardem. E tudo o que vejo é.. branco. 
Como a neve daquela tarde em Montreal, rumo à casa de Rosa. A mulher que não se permitiu muito, ou nada, em nome do amor por Jean. E eu, da mesma maneira, não me permiti dizer oque eu queria dizer naquela noite em Verriéves, no baile. Tudo porque eu... amava Jean. E de todo coração esperava vê-lo feliz com ela. Eles se amavam de uma forma bastante peculiar. E nunca vi ou verei nada parecido. 

- ouvrez vos yeux .... Donc, essayez de ne pas bouger beaucoup. - (abra os olhos... isso, tente não se mexer muito ) uma voz feminina e bastante calma. A mesma se apresentou como Gina Delatresse, médica intensivista, disse que eu estava num hospital em Paris, que fiquei em coma induzido por três dias. Suspiro. 

-Serafina Rosa Petroni...envie de le voir? - (Serafina Rosa Petroni... deseja vê-la?) outra voz feminina irrompe a sala, eu pisco...

- oui.. oui...

....

-olha, eu trouxe flores! - Rosa sorri me mostrando um buquê de margaridas numa jarra ao meu lado.

- Você... esteve aqui?

- Desde que te trouxeram pra cá. 

- E... Rachel? minha filha...

- Ela está bem, Claude. está... comigo.- Ela disse depois de breve pausa, e ainda sim, com um suspiro. Parece cansada.

- Oh... Merci, Rosa, Merci... Você....a trouxe? - me sinto desfalecer... os olhos tão pesados e uma pressão no pescoço

- Você terá alta daqui a dois dias. Poderá vê-la com mais calma. Não acho que vê-lo aqui a deixará menos... assustada. - Os olhos de Rosa se dilataram enquanto ela disse isso, e acho que ela é quem está assustada.

- D'acord. - tento me ajeitar mas minhas costelas parecem estar em pedaços- ahh- grunho

-Melhor não se mexer. E... além do mais... Você vai precisar de muito repouso até se recuperar totalmente.

- Não estou inválido, estou? - Pergunto temendo a pior explicação por me sentir tão dormente

- Você fraturou muitos ossos Claude. acho que a sua tentativa de fuga deixou o diabo furioso.

- Eu precisava tentar. Mas ele machucou minhas mãos por um motivo, que tentei ignorar. Mas não pude.. acabei caindo de uma altura de dois metros e meio...

- Você vai ficar bem, Claude. Vai ficar.- Rosa toca meu braço... mas não olha em meus olhos. 

-Eu estou bem. Ainda mais agora que sei que você também está. Que todos estão.

-Ainda vai precisar de cadeira de rodas por umas semanas e depois, moletas. 

Faço uma careta. Isso estragou tudo!



Rosa




Claude insiste em voltar pra Marselle, mas não posso permitir. Não enquanto ainda precisa da cadeira. 

- É melhor do que ficar na cama o dia inteiro - ele da um meio sorriso

- É sim. - sorrio de volta. Rach em seu colo, o coelho sempre com ela.

- Não pode andar papai?

- Posso sim amor. Mas é que preciso poupar força por enquanto que me recupero. Mas já já papai estará novo em folha!

- Eu vou buscar o Caleb- toco o braço de Claude que com a outra mão me segura

- Não se preocupe Rosa, tenho certeza de que ele irá entender.


Caleb veio em seu voto de silêncio, olhos baixos e respiração entrecortada. 

-Está tudo bem, filho?

-oui mama. - ele responde de prontidão. ainda sem me olhar. 

- Você está confortável em ter o Claude conosco por uns dias?

- Acho que tudo bem, mom. Mas... ainda não entendi... Vocês são como um... um casal, agora?

- Não filho, não somos.

- Mas ele é meu pai não é?

- biologicamente sim.

- Então, porque ele não pode ser meu pai como ele é da Rach.... além de biologicamente, eu quero dizer.

- Amor... - afago seus cabelos- Acho que isso depende de vocês dois, de escolherem ser pai e filho. - sorrio. - Mas filho, porque você perguntou sobre mim e o Claude... sobre sermos...

- Eu queria que agente fosse uma família inteira mom. - ele rompe- a senhora sabe. Com todo mundo envolvido. Sem essa coisa de este é filho deste mas não deste e blábláblá.

- Sabe que isso nem seria possível nem que agente se casasse... que a Rachel...

- Tudo bem mãe. Eu sei da Rachel também. - ele se levantou e entrou antes de mim, que ainda fiquei dentro do carro por um momento... Tentando absorver oque ele realmente quis dizer. Se ele é que quis dizer alguma coisa.