quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Capítulo 53- Être








Le Eternel Amour

Tulipe Rouge








Num dia tão cinzento, como pode haver tanta claridade? Parece que há luzes vindo de todos os lados, entrando por cada vidraça, se arrastando pelo ar em todas as direções. A luz esbranquiçada parece alcançar cada mínimo pedaço de mim, me expondo a alma completamente!

E de alma exposta, me lembro de que todos me especularão sobre... sobre isso. Sobre como eu pude me relacionar com o irmão do meu quase marido morto. Como eu pude permitir envolver com meu... quase cunhado. Com o "tio" do Caleb. E mesmo que saibam da biologia dos dois, que importa? Como eu rebaterei os argumentos sugerindo que eu mal o conheço, quando é verdade?
Oh sim. Poderia ser qualquer um. Poderia ser um cara numa danceteria. Poderia ser o vizinho viúvo e atraente do andar de baixo. Mas é ele. É o Claude. O herdeiro Geraldy. E, se antes haviam dúvidas sobre a minha índole, hoje tem-se certeza de que tudo oque eu pretendia junto aos Geraldy, era extrair-lhes cada centavo das posses milionárias.

Como seria se eu tivesse entendido as intenções de Tony, e me aproximado de Claude desde que li a carta, ou desde quando ele me pediu que eu falasse com ele, que o entendesse?

Bom, de qualquer forma, eu terei de passar por isso. Terei de arcar com a responsabilidade de que eu sabia desde o dia em que pedi para procurar as meninas, naquele dia em Marseille. No instante em que ele me pediu que pernoitasse em sua casa.
Como eu poderia resistir a ele? Aos olhares, aos gestos tão apropriados e aos mesmo tempo tão cálidos...
Não me arrependo. Mas eu quero que isso tudo tenha mais motivos do que os métodos de sedução do senhor Geraldy. E que signifique algo mais do que uma paixonite para mim.
Contudo, me dei conta de que sempre quis estar com ele... Observá-lo é realmente um deleite! Suas mãos, seus sorrisos, o modo como toca o pescoço... Sempre quis apenas, sem avisos, recostar a cabeça em seu ombro, cheirar seu pescoço, tocar seu braço. Sem perguntas, ou exigências. Sem sobrenomes, apenas, nós.
O que acontece é que eu nunca pensei que ele sentisse o mesmo por mim. E foi tudo tão confuso e aterrador... Eu sei que o meu amor por Tony existiu e ainda existe. Só que eu sei também que ainda que Tony estivesse aqui, a probabilidade de a gente estar juntos como um casal beira à zero.

Amor melancólico, que só se realiza nos simples prazeres e não sobreviveria a uma paixão que fosse. Deixamos o nosso amor de molho por tanto tempo que ele passou do amadurecimento direto à fase de flor seca dentro do livro da nossa história. Tony e eu sempre fomos tão estranhos nesse aspecto de nosso afeto que chego a pensar que jamais poderíamos reverter isso.

Mas com o Claude, é totalmente diferente. A tensão sempre está no ar enquanto estamos perto. Percebi essa tensão mesmo naquele dia no Perrault, com ele vestido de conde Fersen e me olhando de modo tão felino. Éramos atraídos por uma força qualquer, mas repelidos por todas as outras forças de nossas vidas. E Tony certamente sempre foi a força resultante das somas dos vetores todos. Ele nos unia, e nos separava, com a mesma intensidade. Alheio a sua intenção, mas era isso que Tony representava para nós.

Além da lembrança constante de sua identidade estampada em sua face , Claude também trazia toda a fraqueza e toda as amarguras de Jean -Tony, com Claude vieram todos as respostas aos  mistérios que eu nunca deveria ter questionado. Com Claude veio toda a dor.. E a morte de Jean Antoine Geraldy. A quem confundiram com ele próprio.



- Ça va? - ele me pergunta, me olhando de esguelha, tentando tocar minha mão por baixo da mesa

-Ça va. Estou só um pouco... Não sei. Mas está tudo bem, não se preocupe. - respondo sem olhá-lo muito nos olhos. Ele apenas sorri e segura meus dedos em sua palma da mão.

O almoço termina, e Janete me conta do desmaio de Rachel, o que me deixa chocada e muito preocupada.


-Vamos leva-la daqui a pouco, farei todo o possível para assegurar que ela está bem.

-Obrigada Jane. - seguro sua mão

- Sei que ela também vem significando muito pra você, Rosa.

-Quase como se fosse minha. - me abraço enquanto sinto meus olhos lacrimejarem

-Hey, oque foi? - Janete me abraça- Eu disse, não se preocupe, não é nada!

-Tudo bem. Eu só estou nervosa.






Rachel


Talheres de prata e pratos de porcelana portuguesa. Saudades dos almoços com o vovô Henry.
Olhando esse vestido vermelho com laços de fita na barra, me sinto uma dessas garotinhas mimadas por suas mães de bochecha rosada. Mas não tenho uma mãe. Talvez chegue a ter uma madrasta, a madrasta que me deu o vestido com laços de fita.

-Está sem fome, petit?- papai me olha com seus grandes olhos que sempre me fazem querer pular em seu colo e pedir que me conte uma história bonita, que me faça esquecer que contos de fada não existem.

-A comida está ruim, Rach? - Rosa pergunta sorrindo, mas seus olhos denunciam que ela está prestes a entrar em uma crise de choro. Oque me confunde muito, já que papai parece feliz

- Non! Est délicieux! - Dou uma garfada mínima e sorrio com os lábios. ou tento.

-Penso que ela quer se tornar uma modelo de revista, como a mãe dela foi. Por isso que mal come!

-Cale-se, Caleb. - Rosa repreende o filho por entre os dentes, medita de olhos fechados por um segundo - Desculpe-o, querida, acho que ele ainda está enciumado de sua presença.

-Oh, - me levanto de supetão - Neste caso, peço licença, não quero atrapalhar a família.

-Rachel. - Papai chama meu nome com a autoridade que só ele tem soada em sua voz. - Asseyez-vous dès maintenant et terminer votre repas!

-Oui, pa. - sento a contra gosto. e ele me estende o garfo de prata

-être.

-Pardon. - me desculpo sem olhar os olhos que me encaram perplexos.

-Não precisava fazer isso, Claude. Eu deveria ter escolhido melhor as palavras. - a voz suave de Rosa me perturba tanto quanto seus longos dedos perfeitos tocando o braço que meu pai manteve estendido em minha direção nos últimos cinco minutos de sua bem contida fúria.

- D'acord. Mas non disseste nada que fosse ofensivo, Serafina. Rachel esta assim por causa de Caleb. Os dois non eston muito de acordo.

-E porque, Caleb?- Rosa franze o cenho olhando para Caleb que mantinha os olhos mortos em mim

-Ela me irritou, como de costume. Não há nada mais interessante para se fazer do que me irritar, não é mesmo, Rach? - a ironia entrecortada e acentuada em meu apelido ao fim da frase me fez estremecer de raiva. Mas papai me olhava de forma tão percistente que simplesmente abaixei a cabeça

-Imbecil... - sussurro

-Rachel! Vocês dois! Parem já com isso! Não tem porque vocês brigarem! Já estão bem crescidos para isso!

-Pardon, monsignor. - Caleb abaixa os olhos mortos em direção ao prato quase vazio dele

-Pardon papa. - me ajeito na cadeira. Mal termino de falar e Caleb se levanta

-Estou satisfeito, mamãe, obrigado. Com licença.



Caleb

 

 

 

 

Ando descompassadamente até o quarto que era meu, arranco os dardos do alvo que Claude me deu, e lanço em todas as direções. Chuto os sapatos brancos de menininha perfeita de Rachel pra debaixo da cama, arranco as etiquetas que ela colou nas gavetas do meu armário e me jogo na cama.

-AH! - e caio em um choro profundo pela segunda vez nesse maldito dia.




Maldiction!!







 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





















 
















sábado, 16 de novembro de 2013

Caítulo 52 - Anjinhos Feridos






Le Eternel Amour

Tulipe Rouge



-Você apagou!

-Mas.. eu não me lembro... Quanto tempo eu dormi?

-Algo como 3 horas seguidas... Foi assustador quando você caiu!

-Eu te machuquei?

-Não... Tudo bem. - Sorrio. Rachel ainda me olhava com os enormes olhos verdes como os da tia Janete. - Você não está doente, não é?

-Não! Claro que não!- ela levanta o queixo e cruza os braços

-Não se atreva a ficar doente, Rachel! O Claude, a mamãe, pense neles!

- Caleb, como você é imperninente!

-Imper-ti-nente. E duvido que você ao menos saiba o que essa palavra quer dizer!

- É claro que eu sei. Apenas ainda não acordei completamente! - os olhos de Rachel cintilavam e ela ficou vermelha de raiva. Eu ri

- Não importa. Você é só uma menina mimada... Agradeceria se você sumisse no ar de repente!

-Eu também! Ficaria muito contente!

-É realmente uma pena que isso não aconteça... Mas ainda sim, trate de ficar boa, não quero que minha mãe chore de novo, ouviu? E ainda mais por sua culpa!

-Você é mesmo ridículo! Por que  SUA mãe choraria por mim? Nem a MINHA mãe se importaria! Ela nunca se importou em me deixar, oque implica que não se importaria se eu a deixasse! - Ela quase gritou, o que foi muito impressionante, já que ela nunca gritava. Tão irritante! A garotinha perfeita, que tomou O MEU LUGAR!

-E o que você faria, se estivesse na minha situação? Minha mãe mentiu para mim todo o tempo, e meu pai mesmo sabendo de mim, NUNCA veio me ver! Nunca me disse a verdade! Eles sabiam que eu estava sofrendo, vendo as fotografias e idolatrando um HOMEM MORTO! -caio sentado no sofá- Que NUNCA nem soube que eu existia! Bem, ele nunca teve certeza... Mas.. O que mais me dói, foram as mentiras!

-Caleb..- Rachel põe a mão em meu ombro

-Mas oque está acontecendo aqui?- Tia Janete aparece na sala, carregando sacolas de papel cheias de guloseimas para a nossa "festa"

-Ouvimos os gritos!Vocês.. estão brigando?- Alice nos analisa da cabeça aos pés, meio surpresa

-Não posso acreditar! Sai por um minuto! Mas oque acontece? Vocês estavam se dando tão bem..

-Tia, me desculpe!- tento levantar, mas sinto a cabeça pesar mais que uma montanha- Eu só ... estou com... medo... Medo de que tudo volte... Que a mamãe chore...

-Isso não vai acontecer, Caleb. A tia Rosa é forte, soube sobreviver, cuidar dela mesma e de você...-Alice senta a meu lado, tentando me consolar, mas meus soluços ecoavam pela sala

-Caleb, porque tudo isso? E agora? Tudo está se resolvendo... Se acalme, nada de ruim irá acontecer!

-Mas tia, eu não sei.. Sinto algo aqui dentro, não sei, queimando! Estou com medo tia!

-Aquilo lá, que você me disse hoje cedo?- Rachel fala comigo, e acabo me assustando, não achei que ela fosse falar comigo depois da discussão

-Oui. -respondo baixo, num tom ressentido. Mas me arrependo disso

-Bem, fiquem calmos. Vocês estão numa fase de novidades e tudo mais... Logo passará! - Alice sorri





Rosa



Em meus sonhos, ainda o vejo naquela tarde de outro dia, ainda na cadeira que não o promovia de super vilão a pobre mocinho, em meu subconsciente.
Tudo tão... invernal... O suéter cinza escuro, a gola da camisa branca a parecer enforca-lo. A taça cheia à metade de vinho... seu olhar sério e ao mesmo tempo provocador, penetrante.

-Porque você precisa ser assim ton complicada, Serafina?

-Odeio que me chamem de Serafina! - me viro- Mas porque diz isso?

-Porque eu gostaria de poder fazer parte de sua vida.. - ele observava o vinho girar na taça, eu o encaro- De forma que possamos ser um pouco mais do que só amigos, se me entende. - ele pisca um olho, com um sorriso cansado e maroto ao mesmo tempo.

Eu apenas o olhei espantada. Me levantei do banco e entrei em casa, indo direto a meu quarto. Estava perplexa! Nunca imaginei que ele iria ser tão direto assim!




....

Toda a claridade da manhã entrava pela cortina da janela, e meus olhos ainda pesavam..

Sinto seus lábios em meu ombro, suas mãos procuram as minhas, enquanto sinto um longo arrepio.

-Jourrrr... - ele sopra em minha orelha- Ainda temos duas horas antes de los enfants subirem correndo as escadas nos implorando para leva-los à sorveteria depois do almoço!

-Hm... -suspiro preguiçosa, e num reflexo me viro para encará-lo - Janete ligou? -e me arrependo instantaneamente, pois o sorriso dele combinado com seus olhos tão brilhantes, me fizeram corar

-Oui... - Ele responde como se estivesse falando com outra pessoa, pois ignora a conversa e me beija


Nunca imaginei que pudesse sentir oque estou sentindo por "ele".
 Não de forma tão intensa...
 Durante todos esses anos, eu estive alheia à vida dele, e acho que os anos lhe acresceram um charme acentuado, com seus poucos grisalhos no rumo das têmporas e os olhos que antes eram sombrios e agora retêm uma chama acesa.
 Acho que a paternidade causou isso nele. E depois da perda do irmão querido, ele acabou mesmo passando pela metamorfose que a vida exige de todos nós...
Devo dizer que a metamorfose o fez superar tudo, dando-lhe uma nova força, uma nova vitalidade.
Nunca o achei monótono, afinal, tendo uma vida como a dele, como poderia ser? Mas havia sim uma certa cortina de gelo que o envolvia, uma sobriedade, um mar de frieza...
Já hoje, eu o vejo todo divertido, mesmo em meio a dor, alegre, feliz! E agora, a me galantear!

- Espero que goste, mas non sei bem se a massa ficou boa... - Ele me apresenta uma bandeja com panquecas, melado e café preto. Sorrio incrédula

-Então, você cozinha?- o olho por baixo, ainda sentada na beira da cama, vestida com meu roupão preferido, amarelo gema!

-Oh, non morra, s'il vous plaît! - ele sorri, sentando a meu lado, me observando atentamente

-Oque foi?- escondo a boca cheia com as costas das mãos - Meu roupão predileto é tão horrível assim?

-Ele é realmente lindo! - ele me olha com um sorriso no canto da boca- E sua aparência pela manhã me surpreende... -passa os dedos pelo meu cabelo, pondo uma mecha rebelde atrás da orelha

-Sinto muito se o espantei - faço uma careta e sorrio brevemente, sorvendo o café

-Mon Dieu! -ele ri- Como você pode ser tón linda hã?- ele toma a xícara de minhas mãos e me puxa contra si- Como eu posso te amar tanto?- ele sussurra em meu ouvido

-E você me ama?- o encaro

-Como non amaria? Non seria capaz de non te amar! -ele me olha os olhos profundamente- Se eu pudesse...

E ele não completa a frase, pois meu beijo quase o sufocou. E quando acordamos de novo, horas depois, vimos que Janete estava atrasada, e que chovia lá fora. Mas dentro de meu coração, estava tudo ensolarado e quente....

-Eles vão se atrasar um pouco mais... Sérgio esqueceu o rádio do carro ligado e descarregou a bateria do carro..

-Ow... - ele me olha maliciosamente- E quanto tempo seria " um pouco mais "? - ele me abraça e seus olhos parecem mais escuros

-E.e.eu não sei bem... Talvez, meia hora... pela chuva...

-Entón... Mais meia hora só nossa...- ele sorri passando seu polegar entorno de minha boca






Janete



Tomamos o café em silencio, salvo algumas tentativas por parte de Alice de salvar a "pior festa do pijama de todos os tempos". O carro não pegava, e tive de esperar que Sérgio o "concertasse".
Depois de conversar brevemente com Rosa ao telefone e explicar o atraso, permaneci encostada à porta do carro, olhando Sérgio com cara de desespero

-Que passa, amore?- Sérgio pergunta ainda mexendo no capô do carro

-Hum... É que estou meio preocupada com a reação das crianças... Sei que elas apoiaram o plano e tudo... Mas ainda sim, hoje eles pareceram tão nervosos!

-Toda a tensão acumulada amor, pensa! Foram tempos difíceis pra todos! Você verá que assim que tudo estiver se concretizado, eles vão estar tão contentes que nem se lembrarão de ressentir nada!- ele me abraça.. observo Caleb sentado no banco do carro. Ele mantinha a expressão séria, e Rachel ainda conversava com Alice, que trançava seus cabelos. Ainda que de vez em quando lançava um olhar triste a Caleb, que nem a encarava.

-Só não quero que eles sofram mais.. Só isso. Eu não posso dizer que conheço o Claude, apesar de simpatizar com ele e ter ouvido Jean sempre o idolatrar... Mas ainda sim, fico preocupada, tem duas crianças bem feridas no meio da história.. Me pergunto se a facilidade maior em se relacionar com qualquer outro homem que não o Claude, é tão vantajosa para a Rosa quanto parece ser...

-Acho que é um pouco tarde pra arrependimentos, né?- Sérgio me olha - Amor! Se acalme você agora! Vai dar tudo certo, vai ver! -ele me abraça de novo

Mas sei que ele disse isso porque todas as vezes que eu adoto alguma postura diferente da otimista que me é usual, ele inverte os papéis. Passa de confuso e atordoado, a firme e decidido. Meu Sérgio. O mesmo que conheci em Verrièves. E minha família sempre duvidou que pudéssemos funcionar juntos. Exatamente o contrário de Claude e Rosa. Todos em volta os apontam como perfeitos um pro outro, e eles mesmos não tem essa certeza.

Veremos. É esperar, unicamente...











































quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Capítulo 51- Le pour hour


















Le Eternel Amour

Tulipe Rouge






-Oh!! Très belle! Je vous remerci!- a florzinha parecia murcha, mas acho que para ela, era como uma joia raríssima

-Vamos Laurien, não gosto deste lugar!- Rachel olha ao redor, segurando o braço de Laurien

-Ah mas Rach estamos só dando uma volta! E a conversa está tão interessante!- A menina loura protesta, sorrindo dum jeito esquisito para o rapaz a sua frente. Hélio, um aluno da escola mais cara de Paris, com sua roupa engomadinha e que a toda hora coçava o bigodinho ralo que seus três anos a mais que eu o proporcionam.

-Acho que está mesmo na hora de irmos, Rachel. Minha tia já deve estar nos esperando no café, como marcamos.


- Vejam, o sujinho fala! - Hélio me olha com desdém - Vá andando, mudinho. O ambiente precisa mesmo ser limpo, não há lugar pra maricas por aqui!


-Vamos, Rachel.- toco o braço dela, esperando que ela se mova. O que não acontece.


- E.e.eu já vou. Attendez-moi na esquina Caleb, "siulplét"!- Ela sussurra, olhos fixos no horizonte.

-Ei, o que há com você? Está... misturando os idiomas! E isso você só faz quando esta muito...

Não termino a frase e o peso de minha meio-irmã postiça cai sobre mim, inerte. Apenas levanto os olhos e vejo o sorriso de Hélio transformar-se num grito

-Merde!!




Rosa





Mas um desses dias monótonos e eu morro!


- Que exagero, Silvia! - Reviro os olhos  enquanto equilibro a caixa enorme nos braços

-Ah Rosa, você diz isso porque ultimamente, vem tendo dias muito emocionantes!

-Hãã Sil, vai começar? - sorrio - Nada disso.

-Não vem me enrolar, eu sei que tá rolando algo entre você e o capitão bonitão. - ela arrebita o nariz - hum!

-Silvia!

-Oh, capitain está doentinho, tadinho... Precisando de cuidados e de carinho! - ela ri maliciosamente

-Dio mio! Oque fazer com você ein?- balanço a cabeça, em desaprovação.

-Ah amiga, tenho uma ideia melhor!  Porque  você não faz o que você quiser, mas.. com uma outra pessoa? - a forma como ela pronunciou a ultima parte da frase me deu arrepios.

-Acho que já posso ir, tenho tudo oque preciso aqui nessa caixa! -Tento mudar de assunto, mas falho terrivelmente

- Isso! Corre, ainda dá tempo de você o convidar pra um jantar mais reservado, já que a noite permite...

-Ei, mas do que está falando?- a olho incrédula , com um pouco de medo da resposta

-Soube que as crianças marcaram de fazer uma "festa do pijama" na casa da Janete né...- ela sorri zombeteira

-Sil! -tapo o rosto, que mais parecia um grande pimentão vermelho e brilhante




Chego mais cedo que o planejado, mas foi bom. Coloquei tudo em ordem.. Duas crianças podem ser quietas separadas. Mas juntas! Dio, que bagunça!

Claude apesar das dificuldades, não abandona o 'jeito militar to life', a cama milimétricamente arrumada, as meias dobradas..Tudo tão limpo e em ordem que chego a me perguntar como ele faz essa mágica usando muletas.
 E por falar nelas, as encontro abandonadas num canto, entre a cômoda e o espelho...




Claude


Me sinto muito bem, novo em folha! - exclamo, articulando os braços em volta do tronco- Até que enfim, me libertei dessa tala!

-Fico muito feliz por você, Claude! - Janete sorri. Seu jaleco tão branco refletindo a luz fluorescente que vem de todas as partes, ao que parece

-Vai pra casa agora, ou ainda ficará no hospital?

-Daqui a duas horas, mas não se preocupe. Sérgio me ligou e eu pedi que ele buscasse Caleb e Rachel. Irei em seguida. - ela pisca


-Merci! -a cumprimento já me virando para ir embora

- E Claude?

-Hum?

-Não perca a oportunidade de hoje! -ela sussurra sorrindo

-Jamais. - pisco de volta. sorrio.


A rua me parecia mais iluminada, mais alegre. Mas as pessoas pareciam andar lentamente demais, apesar de que para mim, não existia monotonia em seus rostos. Porque não havia em mim!
Oque me faz sorrir sem motivo aparente´, é  a mesma causa de um pequeno taquicardia que sentia todas as milhões de vezes que um mesmo pensamento me sobreveio ...



Rosa estava em casa, com certeza. Pude sentir a presença dela só em atravessar a soleira da porta de entrada. Meu coração estava aos saltos, mas eu precisava conter-me, ao menos para poder respirar. Mas sorria, com uma alegria de dentro para fora, apesar de tudo.

-Soir, Rosa! -apareço em pé a meio metro dela, quase como um vulto. Ela se espanta brevemente, quase imperceptivelmente

-Soir!- Ela me dá um de seus sorrisos doces e volta a ler a correspondência em suas mãos. Dois segundos

-Espere... co..- a menção dela se virar para fazer todas as perguntas sobre a ida ao médico, a dei uma única resposta: a puxei para o nosso primeiro beijo! E pela primeira vez em meses, a pude abraçar, e estando em pé a encostei na pilastra.

-Claude... -Foi tudo o que ela disse. O restante da noite foram apenas olhares, e atitudes do que se pode chamar de o meu "sim" que há tanto estive a esperar.


As mais indescritíveis sensações e tudo o mais que eu não imaginei que pudesse sentir eu encontrei junto com todo o meu desejo por ela. Finalmente eu estava sentindo o que Jean disse que eu sentiria quando encontrasse a garota certa! E tenho de admitir que eu sentia isso tudo só em olhar para ela!
 Mas poder tocá-la é muito mais do que eu posso suportar, é quase como se eu fosse explodir em mil pedaços, como se eu não existisse, apenas ela, ela. Com todo o aroma de sua pele, e todo o frescor de seu hálito. Quando a senti estremecer sob mim, e senti seus braços descerem por minha coluna lentamente, procurei seus olhos. E toda a ternura que encontrei me fez ter a certeza de que eu não era o único a estar em êxtase.
E ao beijá-la, não pude conter a avalanche de sentimentos mesclados, que vieram de súbito, como um redemoinho...



Rosa




E então, ele chorou. Chorou como um bebê. Desses choros que vem da alma mesmo. Lá de dentro. E que não tem um motivo. Tem todos os motivos. E ali, naquele abraço tão quente, e o aconchego de todos os travesseiros de pena, senti as lágrimas dele escorrerem por meu pescoço e ombro, onde a umidade de seus lábios selavam a mensagem que ele escrevia com seu toque em minha pele. Ele me olhou novamente, e em seus olhos vermelhos eu vi felicidade. E foi a primeira vez que eu vi isso nele.

-Beau, maintenant,  j'ai attendu ce moment toute ma vie! (Bela, agora sei que esperei por esse momento minha vida inteira!) - ele sorri. Outra lágrima foge de seus olhos, pingando em minha bochecha, pra onde seus tão penetrantes olhos se desviam por um momento, seu dedo seca a lágrima e seu beijo faz o mundo ao redor girar mais depressa...


Havia muita coisa em seus olhos, esta noite. Como se não fosse apenas uma noite importante para nós dois, mas também fosse importante para ele próprio. E em momento algum ele me pareceu insincero, ou arrogante. Ele foi... completamente perfeito! E, ao contrário do que (confesso) cheguei a pensar, ele foi tão intenso!  O senhor geladeira Geraldy me fez derreter como jamais imaginei que pudesse.
E agora, quem ostenta um enorme sorriso sou eu, enquanto ainda posso senti-lo respirar contra minhas costelas, enquanto seu braço ainda repousa em minha cintura...






Janete



Eu entendo.. Não, tudo bem, a culpa não foi sua, acalme-se Sérgio!


-Ela não se alimentou bem durante o dia, a ultima coisa que comeu foi uma fatia de mamão no café, e isso porque seu pai a obrigou!- Caleb diz ainda assustado, olhando de esguelha o corpo adormecido de Rachel


-Está tudo bem, não precisam se preocupar, eu estou aqui, certo? Sou uma boa pediatra e saberei cuidar dela caso necessário. Foi só um susto, a pressão baixou. Amanhã, com calma, a gente conversa e se precisar fazemos uns exames... - tento acalmar a tensão de Sérgio, que insistia em querer telefonar para a casa de Rosa.


-Amor, eu entendo que você queira que eles se entendam, mas a Rach...

-Sérgio, o pai dela acaba de sofrer por meses com  ossos quebrados, e no mesmo dia em que ele consegue alívio, você quer que ele volte a quebrar o resto é isso? - Sérgio revira os olhos, mas ignoro e continuo massageando seus ombros- Se você ligasse, ele teria um enfarte! Já passou por tanta coisa nesses últimos tempos, coitado! Ei, a Rach está bem! Foi só um susto!

-Tudo bem..

- E de qualquer forma, amanhã faremos alguns exames de rotina nela, só pra confirmar, tá bem?

-Hum-hum... - ele desfaz o bico- Mas ainda aceito um suborno..

-Olha! - finjo indignação- apenas um beijinho, porque você está muito mal criado comigo!

















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