segunda-feira, 27 de junho de 2011

Capitulo 42- Ligação irreversível

 
Le Eternel Amour
Tulipe Rouge




Abro os olhos depois do que me pareceu cinco segundos mas pelo jeito, fora mais de uma hora... Estou num lugar abarrotado de bagagens e ouço o som do maquinário do avião em sua atividade... No chão, onde minhas mãos trêmulas me sustentam agora... Provavelmente havia algum fármaco naquela água... Maldita sede! Onde estará Rosa agora? E com quem? Deus, me ajude!
Saindo pelo saguão, vejo uma portinhola no “teto”, que certamente dará num lugar restrito a comissários. E o pior: trancado por fora!

- Dieeeeu!- berro, tentando abrir a passagem com chacoalhões, pondo todo meu peso nos braços


Rosa


- Ei... aeromoça!..- chamo

- Sim?

- Onde está o Claude... o moço que estava comigo, sabe?

- Ah o seu namorado? Ele disse que iria voltar pro lugar que consta no passaporte dos senhores, mas não quis te acordar... e disse que a senhorita não se preocupasse, e aliás, acho melhor a senhorita não se preocupar mesmo e esperar o avião pousar, isso acontecerá em menos de dez minutos sabe....

- hm... eu cochilei foi?- a comissária assente- Nossa... mas que dor de cabeça...

-A senhorita quer uma água?

- Oh, sim, obrigada.

A mulher sai e eu me levanto rapidamente, sabia que algo estava errado. Jamais o Claude ia me deixar sozinha visto a complicada situação... quero dizer, eu acho. Quero acreditar que está tudo bem, mas ao mesmo tempo, não posso crer que ele me deixaria sozinha sabendo que eu estou assustada e com medo. Afinal, eu estou indo pra um lugar desconhecido, sem propósito definido e o pior: tenho a certeza de estar sendo observada pelo seqüestrador de Janete, Alice e de Rachel.

Entro num banheiro e me dedico a arrancar o carpete: tenho certeza de que há uma saída pra...ah sei lá, uma portinha que me leve a algum compartimento secreto ou...que seja!

E alguém bate na porta...e eu batia na tranca...sim, havia mesmo uma saída!(?) E consigo empurrar a espécie de ferrolho e desço por uma escadinha que me levava pra um lugar branco... inteiramente branco.

Encontro outra escadinha e desço desse...conteiner ou sei lá. E depois mais uma escadinha, e um maquinário esquisito... Não sei ao certo do que se trata... Mas era grande o suficiente pra me render uma escalada. Eu precisava seguir em frente! Mas ai... Descubro finalmente oque havia ali a frente, atrás desse obstáculo dentro do bico do avião...

Era a Rachel, deitada no chão, como que dormindo um sono tranqüilo. Ela estava ali, de bruços, parecia tão... acomodada! Mesmo estando naquele lugar e... no chão frio! Corro até ela e a pego nos braços. Mas era verdade eu sabia: eu estava sozinha ali, naquele lugar vazio, e não sabia como iria sair dali... e quem estaria à espreita! E se eu cai numa armadilha? E se agora aparecessem bandidos pra me pegar ou... matar?

Claude

De alguma forma, percebi que pousamos. Sim, pousamos. Mas é a segunda vez, já. Desde que fiquei preso aqui. Duas vezes... ninguém apareceu, eu não consigo mais me debater, acabei de acordar de mais um cochilo e acho que só vão me encontrar quando as benditas bagagens forem retiradas por completo... deve se tratar de algum esquema de compartimentos de bagagem, elas ficam aqui, todas enfileiradas, com certeza há bem mais malas e caixas dividida em vários cômodos. E este por sinal, é um cômodo pouco “visitado”, deve ser por que todas as malas estão com destino à Minsk... o “ponto” final...

Mas de quê me adianta ser contido e durão agora? Desconto minha raiva em tudo que me aparece à frente. E parece que ninguém nota, Ninguém me nota, e eu fico aqui, sozinho e desprotegido de meus pensamentos e do peso da culpa: -eu devia ter feito alguma coisa.

Eu mal conheço a Rosa mas já consegui deixá-la em perigo. Rachel não tem culpa de tudo o que aconteceu e eu fui quem a deixei desprotegida. Talvez, se eu tivesse prestado mais atenção... Talvez eu percebesse a falha antes dela me surpreender. Como se a teia em que eu guardava meus tesouros rompesse, e, depois de perder tudo, eu descobrisse que nada mais importa. As vezes, eu me achava inalcançável e  inabalável, mas então havia uma garotinha, minha garotinha, tudo oque eu tinha, e então, me vi rendido. O amor as vezes, pode mudar você. Te convencer de coisas improváveis, mas quando você o sente, aí, nada mais importa.

Eu sabia que algum dia amaria, amaria pra valer, a ponto de negar minha existência para que outrem vivesse em meu lugar. E então, redescobri amar, e de brinde ainda percebi que não odeio mais ninguém. Nem mesmo meu pai ou o Carlos.
Só quero encontrar Rachel, e pedir perdão a ela. Me certificar que ainda vamos comer muito cachorro-quente, dar pipoca aos pombos na praça e cantar desafinadamente no piano velho do sótão.
Quero voltar pra casa, e contar uma história pra ela dormir. Quero voltar pra casa, e poder passar um mês com Caleb que seja. Quero voltar no tempo, e salvar a todos. Me salvar pra poder salvar todo o resto.

Sérgio

Ontem foi um dia estranho. Fui pro escritório de manhã, voltei e almocei com Caleb (em voto de silêncio?) Depois, passei a tarde olhando prum frasco vazio de uísque, que esvaziei noite dessas. O Caleb disse que meus olhos estão horríveis. E realmente, não acredito que nada morto possa ser bonito. Sim, meus olhos estão mortos.

Hoje também está sendo um dia estranho. E eu odeio essa chuva estranha, que escurece o céu! Como se não bastasse minha vida estar melancólica, o tempo lá fora me faz cenário.
Uma das coisas mais estranhas é que as vezes, eu acordo pensando ter ouvido risadas delas, das mulheres de minha vida. Delas no banheiro se maquiando, delas na sala assistindo a TV, delas na cozinha fazendo bolo.

Me pergunto como pode o Claude ter vivido só por tantos anos. Criando uma filha. Uma filha mulher. Admiro ele, de certa forma. E nas alturas que estou agora, da maneira como tudo está, dolorosamente me pego pensando na possibilidade de ter apenas uma das duas de volta. E se apenas Jane voltar? Como viveremos sem Alice? E se apenas minha filha voltar, como terei forças pra cuidar dela sozinho?

Sim, admiro o Claude. Ele perdeu a mãe de Rachel e por todos esses anos, cuidou dela. Sendo militar, durão em serviço- muito mais do que um mero homem se vê intimado a ser em seu dia-a-dia normal - e ao retornar à casa, tendo mão de mãe sobre a cabeça da filha, tendo que ser suave e carinhoso, dando toda a atenção que uma menina como… Como minha Alice! Como a Rachel dele requer.

Estranhamente, acredito sim que o Tony de certa forma, previa tudo oque iria suceder. Não estava exato da própria morte, mas sabia que o Claude e a Rosa estariam algum dia, e de alguma maneira, ligados pra sempre. Sim porque, ele sempre queria por eles em convivência.
Queria que os dois se conhecessem. Ele sempre dizia pra mim que era porque ele amava a Rosa como se ela fosse parte dele e o Claude também, da mesma forma era parte dele. E então, ele queria de maneira aparentemente insana e sem nexo, unir os dois. E colocá-los diante de seus olhos.
No fim, eles estão obrigados um a existência do outro. De maneira irreversível. E o fator, esse irreversível, é Caleb - Esse que dorme agora, na cama de Alice, ao lado da poltrona na qual estou agora e a mesma que estive tantas noites para ler esse mesmo livro- o filho deles. Um fruto que nasceu por um amor. Mas não diretamente entre os dois. Mas sobre o Tony.
Para Claude, mais valia a vida de Jean do que a dele próprio. Tony fora quem disse: “está tudo bem irmão, não desista agora. Vá, e lute por você e por mim.” O sonho de voar se tornou para meu estranho amigo Claude, um sonho conjunto. Era certo que apenas ele podia estar lá, e pilotar. Mas como ele fazia parte de Tony, ele estava lá também, no céus, com ele.

Para Rosa, poder fazer algo por Tony era como poder ter asas e voar. Era realmente algo estrondoso e que parecia poder mudar tudo- e mudou. Ela amava o “maluco da flor” a ponto de transformar-se em mãe sem nunca ter tido nada em troca- como o amor em matrimônio.
Depois de tanto que aconteceu, e tudo em torno da breve mais incomparável existência do nosso amigo Jean Antoine Geraldy, surge uma grande pequena promessa: Caleb.
Menino que trouxe alegria a minha irmã solteirona, e ao Claude… Bem, acredito que a ele trouxe a prova de que ele podia sim gerar um filho. E foi o Tony que ajudou. Ha… sim. O maluco tinha razão de novo!




sábado, 11 de junho de 2011

Crônicas de Urca


         Tá dando onda! 2/3





- Nooon...- ele disse outra vez, se encostando no braço do sofá...folgado!- J’ai dit qu’il n’y a aucun moyen!!

                                                                                                                                                        (Já disse que não tem como!)
Mais um buf! E ele desliga. E se vira pra mim

- Quê?

- Nossa calma! Que cara é essa? Era a sua namorada era?

- Non! Mas... ai... obrigado pela ajuda, dona...- peraí, ele não lembrava meu nome?!

- Róósa.- eu disse com raiva

- Rosa... obrigado mesmo viu? De coraçón.- ele põe a mão no peito e eu faço careta pra conter a gargalhada

- De coraçón? Aham...sei.- rio

- Engraçadinha a senhora né?

- Você não faz idéia... Mas... E ai, conseguiu?

- Non... Me ferrei.

- Mas você...- apontei pro telefone

- Non adiantou nada... e o pior é que acho que minha conta no banco tá bloqueada...quero dizer, meu acesso sabe? A senha e tal... só na agência. E como eu vou pra uma agência daqui, onde ninguém me conhece, e sem os documentos, hã? Tô ferrado!

- Que barra ein... - mordo uma maçã, me encolhendo- Hm! Desculpa!- falo dentre os dentes- nem te ofereci comida... Mas sabe oque é? É que aqui nem deve ter nada de muito interessante pra comer não...

- Você non come é? Percebi porque você lembra aquela personagem do desenho lá... a Olívia...

- Olha!- Rio- Mas é que eu não tenho tempo pra comer sabe...

- E pra surfar tem?- ele sorri

- Ah nem me lembre... depois de taaanto tempo sem cair.. Você me aparece pra completar o meu desafortúnio!

- Isso non é linguajar de surfista...

- Ah... acho que nem sou mais viu... Virei prego.

- Hm?- ele riu ao mesmo tempo que seu rosto se contraiu numa careta

- bá... Esquece!- Asceno

Na cozinha me surpreendo com um jantar feito por quem, por quem?! Por ele!

- Aaaah tá me tirando!- rio, sentando de queixo caído

- Agora falou como surfista!- ele empurra minha cadeira

- Nooossa... quero dizer.., Você cozinha!

- Hahaha... Pois é... e esta é uma receita de família.

- Hm... Primeiro encontro e você me apresenta pra família?- rio- indiretamente... mas ainda é da família!

- Oh estou indo de pressa non é?- ele sorri

- Bobão!- balanço a cabeça e desfrutamos do jantar

- Quer dizer enton... que eu posso ficar hoje?

- É. No sofá tudo bem... mas vai lavar a louça! Ai estamos quites!

- Tudo bem... Mon Dieu...

Acordo com o som de risadas. Saio do quarto e ouço:

-Aaah não! Hahaha- era a risada de Janete

Entro no banheiro e depois de uns minutos estou na sala, calçando os sapatos

- Era pra rir?- Claude pergunta a Janete, que lhe estende um lenço

- Pra chorar. Agora vai, pode pondo porque você perdeu a aposta.

- Mas oque tá acontecendo?- sorrio, vendo Claude pegar o lenço

- Foi o jogo de futebol sabe...

- Você é fanática desde quando Jane?

- Desde que eu pude assistir um jogo todo ué...  E agente escolheu cada qual um lado e o dele perdeeeeu!- ela ria

- Oww..- reviro os olhos- Mas que bobagem...

- Vai tomar café amiga... ainda dá tempo!- Jane pisca o olho e eu fico meio sem entender. Mas então tomo café junto com os dois e rio muito do lenço rosa bebê no pescoço de Claude

- E eu?

- Você oque?- pergunto

- Non vai me levar com você?

- Pra quê?! Eu preciso trabalhar sabia?!- pego a bolsa e começo a descer as escadas, ele me segue

- Eu preciso muito que você me leve... você disse que lá dá pra acessar a internet non é?

- Ai meu Deus porque essa droga de computador foi me quebrar logo agora...- resmunguei- Tudo bem... Mas olha, é melhor você ser discreto ein!- Viro e me dou conta de que NUNCA ele iria ser DISCRETO na vida!

- “kClárro”...- era de morrer de  rir esse  sotaque dele

- Mas só se disser de novo.

-O quê?

- Claro.

- “kClárro” oque?- ele me olhava sem entender, eu ri de novo- kClárro oque?!

- Ah, chega!- eu gargalhei de mais!

Entramos no carro e eis que, depois de muuito silêncio, ele finalmente pergunta:

- Você trabalha de quê?

- Nossa... valeu por perguntar. Mas acho melhor não dizer nada sabe...

- Mas porquê? É só... Curiosidade, hã?!

- Exato... e eu não tô nem um pouco a fim de satisfazer sua “curiosidade, HÃ?!”- Ri e ele balança a cabeça

- Eu descubro entóm.

- Claude... pega essa bolsa que está no banco de trás pra mim?- peço, entrando no estacionamento do prédio...

- Tá...- ele se vira pra pegar a bolsa- Non tem bom gosto mesmo hã?- ele se vira de volta, me apontando a bolsa transversal sem graça que eu comprei a taaanto tempo. E ele nem percebeu ainda onde estamos.

Entro sem dizer mais nada além de:

- Ora mais você também não tem esse bom gosto todo... a final, podemos citar o único exemplo que tenho, o de seu peculiar traje de banho!

Entramos pelos fundos, e no momento que visto o avental ele diz

- Ro...Ro...Rosa... Você é?

- Açougueira ? Ah, não.- rio,

- Dr. Serafina Rosa Petroni... -Ele lê meu crachá

- Ei! Tira a mão daí ô!- bato na mão dele e ele me olha estupefato

- Você....

- Pode usar aquele ali ó!- aponto o notebook na mesa- Mas não demora senão eu levo bronca

Ele senta e começa a mexer no computador...As vezes me olhando de lado

- Eu tô te atrapalhando né?

- Não... por enquanto não...- respondi sem tirar os olhos dos prontuários que eu tinha nas mãos- Estou um tanto adiantada sabe...

- Mon Dieu..- ele suspirou, baixando a cabeça

- Que foi?

- Nada é que... Non consigo mexer na minha conta sabe... estou preocupado porque parece que congelaram ela...

 - E porquê fariam isso? Aliás, quem pode fazer isso?

- Ah é uma longa história...urum!-ele tossiu- ai...

- Vai ficar bem?- o olhei nos olhos

- Vou sim. Mas... Eu tenho que voltar pra Son Paulo...

- Agente dá um jeito, não se preocupe.

- Obrigado... doutora...- sorriu


Claude ficou um bom tempo no corredor, lendo revistas velhas e tomando o café horrível que uma enfermeira lhe ofereceu. Não nos falamos mais e depois de algumas horas, sai e não o achei mais.

Procurando pelo hospital o encontro com um menino no colo, cena cômica, os dois se olhando com cara de espanto. Eu cruzo os braços e pigarreio

- Hum... achei.


Uma mulher aparece e agradece a Claude, pegando o menino do colo dele.

Eu fico o encarando com a sombracelha arqueada

- é.é.é... Ela...pediu sabe... ela foi... no...

- Tudo bem, vem logo!- agarro sua mão e o arrasto pro carro



- Vamos onde?

- Pra onde você tem que ir?

- Hã...

-São Paulo, horas!

- Vai me levar?

- Até a rodoviária.

- Oque?!

- Que foi? Você vai pra casa... ah, não me diga nunca andou de ônibus...

- Aw me respeite... Non é isso... Mas achei que ia comigo...

- Sinto desapontá-lo.- sorrio, parando o carro- Chegamos!

-Ah Rosa...

- Quê?..

- Obrigado de novo...- ele pega minha mão- Desculpa qualquer coisa e....

- Tá tudo bem.- sorrio. Saímos do carro, compramos a passagem

- Então...

- Você me deixa aqui.

- É. –sorrio

- Oh non... Voltando pra minha realidade cruel...

- Nossa mais que drama!

- Você nem faz idéia.

- Ah, você deve estar sentindo falta da sua família, não?

- É...- ele abaixa a cabeça

- Bom, eu tenho que ir, meu horário de almoço tá acabando...

- Rosa?- ele segura minha mão

- Quê?

- Hã...- ele me olha por um segundo, e me beija a bochecha- Obrigado de novo...

Sorrio, e entro no carro.

- Non tem tempo pra mim non é?- ele sorri

- Cest moi.... pas le temps pour rien...ni personne!- rio, arrancando com o carro
   (Esta sou eu.. Sem tempo pra nada... nem pra  ninguém!)


- Ei ! Ei ! Rosa ! – ele correu alguns metros atrás do carro, mas eu não parei, e o deixei ir...











Crônicas de U.R.C.A...Tirinha!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Capitulo 41- Si'l vous pleît




  




Le Eternel Amour
Tulipe Rouge



Quando se é bebê, seu mundo é sua mãe. Ela é quem cuida de você. Pelo menos é assim que se pensa. Um bebê não conhece as pessoas, tão pouco o mundo ao redor, mas sua mãe ele sabe, e sabe pelo cheiro. Mas aí você cresce um pouco mais...e se dá conta de que tem outra pessoa em especial na sua vida: seu pai. Assim ele começa a te levantar pro alto, e fazer de você um “foguetinho” , e por incrível que pareça você nem sente medo. Você segura na mão dele e o olha fundo nos olhos. E ai uma química acontece. Você sorri. Se sente seguro.

Entramos no celeiro e lá estava ele. Caído no chão e ensangüentado como um boi abatido. Nas costas dele havia um adesivo de uma empresa aérea... a mesma pra qual eu até cheguei a trabalhar na época que me mudei pra Paris... E lá estava, mais um recado pra mim, que nem me dei o trabalho de ler. Não naquele momento.
Rosa só sabia chorar e gemer enquanto me ajudava a carregar meu pai pro carro. Fomos à toda pra cidade mais próxima ...ou melhor, pro hospital mais próximo.
O olhar do médico com certeza não dizia que meu pai estava bem. E isto me deixava mais ansioso

Rosa

- Claude?..- chamo meio sem graça, mas é que ele estava muito estranho, a cabeça entre os joelhos, e fazia mais de uma hora que não se mexia!

Como ele não responde, chacoalho ele até ele “acordar”

- Nossa! Como você consegue dormir assim?!

- Acredite, já dormi em condições muito piores.- diz ele esticando a coluna que a essa altura devia estar muito longe do lugar dela

-Você não está com fome? Hã?

- Morrendo...- ele se levanta

- Aqui tem uma cantina...

Andamos até a cantina do hospital, e o Claude não disse mais nada. Ele tinha os olhos mortos e ao mesmo tempo muito vivos!

- E agora?- me arrisco a questionar

- Quoi?

- E agora?...- repito desanimada e com medo

- Ça va aller ... Bien...Preciso apenas da alta de meu pai... e continuamos a buscá-las. Na certa ele vai nos dar alguma pista...assim que... acordar.

- É... - curvo os lábios na tentativa de um sorriso de esperança. Mas o mais legal disso tudo é que o Claude estava ali...com o pai dele.

Frazão apareceu com Dadi, e jurou que cuidaria de tudo... Visto que o médico não falara em alta... Claude estava bem abatido, e sei que o estado do pai dele somava muito em sua tristeza... Ele ficou lá no quarto, alisando os cabelos do sir Henry por  pelo menos  duas horas, antes de seguirmos para o aeroporto...

- Mas afinal Claude... Pra onde vamos?

- Ele quer brincar com a gente Rosa... Brincar....... Ele quer que nós peguemos um avión....

- Mas...pra onde?!

- Non sei. Mas ele deve saber exatamente...

- Claude....estou com medo agora

- Se quiser volte e fique com Dádi... Eu vou.

- Não eu vou também.- eu não podia abandoná-lo agora!

Claude olhava atentamente para a multidão na fila do embarque...

- Claude! Olha aqui!- mostro o papel desenhado pelo bandido- Oque está escrito aqui?

-Ah!- ele grita antes de sair como louco e entrar numa porta na qual se lia> privê

-Hey!- saio atrás dele

Descemos umas escadas num lugar que parecia ser restrito a funcionários, e depois saímos já bem perto da pista de aviões, onde malas eram lançadas literalmente na barriga de um avião...

- É este, com certeza

- Quê?

- Vamos!

- Claude! Ficou maluco?!

- Temos que pegar aquele avión!

- Mas...como agente vai entrar ein?

- Vem!-ele me puxa, e subimos de novo pro pátio do aeroporto

Não sei muito bem como, mas conseguimos as passagens, e entramos no avião. Nossa única bagagem era uma mala que o Claude tinha no carro, mas nem lembrava o que tinha nela... ah, e nem sei direito em que continente fica...

- Belarus?

- Oui.- ele responde sem nem olhar pra mim, estava irriquieto

- Claude?!- permaneço encarando-o até que ele se vira

- Hm?

- ...!

- Rosa... elas podem estar aqui sabia?!- ele levanta

- Pra onde você vai?

- Vou ali... andar

- Posso ajudar os senhores?

- Hã... onde fica o banheiro?- sorrio e seguro a mão de Claude
A aeromoça arqueia as sombracelhas e aponta o banheiro

Disfarçamos e passamos pelo banheiro, daí fomos pra o outro andar do imenso avião

- Rosa...fique atenta a tudo e a todos, hã?

- Pode deixar...- suspiro, enquanto descemos as escadas

Encontramos uma aeromoça que nos pergunta se estamos perdidos, nós afirmamos e então ela nos leva pra cabine de bordo, então escapamos e
Tratamos de voltar à nossa busca um tanto insana por “algo errado” no avião.


Claude




Trezentas vezes passando pelo mesmo lugar, e nada de diferente. Até que fomos descobertos pelos comissários perambulando em área restrita de novo. Ai fomos parar na cabine de comando...

Haviam uns três co-pilotos e o capitão eu não vi. Apenas dei uma olhada no painel de relance,pois a aeromoça não demorou a fechar a cabine. Ela nos olhava estranho... sim, algo estava errado!

- Os senhores me desculpem mais não podem andar por ai... tentem se comportar como adultos, sim?- o risinho dela me dava calafrios

- Desculpe... Mas...

- Agente achou que tinha conhecidos nossos por essa área sabe...- Rosa completou, me parecendo calma demais

- É...- concordei, afinal, no momento, parecia a desculpa perfeita

- Entendo... Mas agora o avião fará ponte com Berlim e... preciso que fiquem sentados. Por aqui por favor...










sexta-feira, 3 de junho de 2011

Capitulo 40- Flores de Cores





Le Eternel Amour
Tulipe Rouge



-Você está bem?- pergunto a Rosa, ela balança a cabeça, mas sei que está muito assustada.

- Não sabia que estaria tão... Abandonada assim...

- Nem eu.- olho mais uma vez a casa lá longe, pelas grades enferrujadas.

- Deve ser mais estranho pra você do que pra mim né?...

- De certa forma. Mas eu sei que pra você non é fácil. Rosa...- me viro pra ela- Eu estou muito perturbado mas... non sei se é sensato te levar lá pra dentro... ele pode estar lá e... eu non sei...

- Claude eu acho que pra mim será não só mais assustador mais também mais perigoso ficar sozinha. E ainda mais aqui..- ela abre os braços. Estamos numa estrada sem saída, que levava unicamente pra propriedade de meu pai. E a rodovia estava a quilômetros dali.

- Tem razón...- digo, indo pegar a maleta de ferramentas no porta-malas, pra poder quebrar a corrente do portão.

Suspiro, antes de entrar na propriedade. Estaciono de ré, por segurança. Travamos o carro, dei a chave reserva pra Rosa, e ela guarda num lugar muito convencional... Quero dizer, sei lá. Com o pé de cabra arrombo a porta de entrada. As paredes estão descascadas e cheias de infiltrações... Rosa carrega uma lanterna acesa: a casa estava muito escura. Olho pro alto, o lustre havia sido retirado, havia apenas alguns fios soltos, pendendo.
Não tinha mais muito da antiga mobília, e a lareira estava entupida por entulho, eu acho, porque tinha sido tampada por ripas de madeira. Subo as escadas, com o auxilio de um cajado improvisado, a fim de me certificar de que os degraus estão firmes, visto que a madeira estava podre. Tentei ser cauteloso, mas os rangidos do assoalho eram inevitáveis...

- Clo..- Rosa quase grita, mas eu tampo sua boca

-Shiii...- digo a seu ouvido, tomo à frente, e entro num quarto que nem me lembro mais o que foi antigamente...

Um colchão sem capa no chão, jornais velhos estendidos... Foi feito um cativeiro aqui... mas não havia mais nada, a janela estava bloqueada por madeiras também, aproveito uma brecha pra olhar o carro na frente da casa, ainda estava lá. Ok.

Continuamos a busca, mas nada encontramos. Até que... No corredor dos aposentos de hóspedes, Rosa ouve um ruído. Abre a porta e vê um enorme roedor, e mais uma vez, tapa a própria boca pra conter um grito. Voltamos ao corredor e de repente ela encontra algo no chão: Um cordão vermelho. Procuramos e mais nada. Continuamos.
Mais a frente, outro cordão, só que amarelo. E no fim, uma fita vermelha de cetim, como as que Rachel queria pra por no cabelo, vindo do forro do teto.
- É de Alice, eu tenho certeza!

Pego meu cajado improvisado e começo a cutucar a madeira, até encontrar uma entrada. Só que não havia escada.

- Rosa, suba nos meus ombros.

- Hã?

- Sobe nos meus ombros e olha oque tem lá! A menos que queira me fazer subir nos seus ombros!

Rosa sobe em meus ombros e começa a tentar se apoiar no forro, pra entrar lá. Estamos no segundo andar e o forro não deve suportar muito peso... e Rosa não vê nada à frente por causa da escuridão. Digo pra que ela ponha a lanterna na boca, ela o faz, e consegue entrar no forro.

- Acompanhe minha voz!

-OK!- ela responde. Eu começo a cutucar o caminho que ela deveria fazer até encontrar a fita. Ela chega lá

- Entón?

- Não tem nada aqui.... AAAAH Meu Deus!

- Rosa? Oque foi?!

- Ratos... morcegos, sei lá... estão... estão por toda parte Claude!

- Calma Rosa, está tudo bem, volte!

- Tá... Vou tentar...- a voz dela responde- Aaah!

- Que foi?!

- Nada..- parece estar chorando

- Rosa... són só morcegos... fique calma hã..

Rosa reaparece no buraco do teto, e parece estar suando

- Como eu faço pra descer agora?

- Volte um pouco e desça primeiro as pernas, eu vou te ajudar.
Rosa consegue descer com minha ajuda, e nós descansamos um pouco

- Claude... Elas não estão aqui.. Estamos procurando por horas!

- Ainda falta o porón...e o antigo estábulo.







Sérgio







Meu coração está tão apertado que acho que vou vomitar! E de novo. E de novo...

- Tio? O senhor está bem?- a voz de Caleb vem do outro lado da porta, que tranquei fazem umas horas

- Estou Caleb...- tento forçar a voz mais ela ainda é rouca e grave

- Tio... o vovô tai....ele pediu pra falar com você...

- Já vou!- me levanto, e tento me recompor... Seu Giovanni me mata se me ver chorando outra vez... “essi non sono morti!” ele berrava...

Saio do banheiro acanhado, e de vagar... com certo medo do que meu pai iria dizer...

- Figlio mio...- ele me abraça. Não sei...agonia... tenho que chorar!

- Pai...ah pai...

- No chore Sérgio... nos vamos encontrar elas... eu sei que vamos!

- Eu também pai...-choro..e ele se afasta um pouco mostrando o indicador

- Io tenho fé!

Caleb é um menino muito singular pra idade dele... Sempre tivemos um relacionamento como de pai e filho, e ele é ainda mais companheiro de Rosa do que eu... ele é maravilhoso... Me lembra muito o Tony as vezes... Mas tem uma diferença: o Caleb não tem medo de nada. Pode parecer meio inconseqüente as vezes... mas sei que isso é porque ele quer ser forte e independente...
Ele se unia a Alice pra aterrorizar mamãe... Dona Joana fica louca com esses três...sim, três, porque segundo eles, Ford, o super cão, fazia parte da trupe! E agora Ford estava triste... só ele e Caleb no sofá... assistindo a TV e suspirando...

- Caleb... Vamos até a praça, hã?-

- Ah...Tio...

- Vamos...

- Vamos.- ele balança a cabeça com um sorriso de compreenção. Esse é Caleb. Ele sabe que eu e ele precisamos nos distrair... tenho certeza que sabe que minha dor se nivela a de Rosa quando perdeu o Tony... Sei que não é a mesma coisa... mas pode ser ainda pior porque... Não tenho certeza de nada..se... elas estão bem ou se... posso ir lá e chorar... onde elas estiverem...ah! que horror isso... Não quero mais pensar nisso...

- Quando a tia Jane e a Alice voltarem... vamos fazer uma festa de boas vindas...e vamos comprar muitas flores...- Caleb aponta o velho Luc, no meio das flores dele..e todas as cores em seu avental de pintura

- Muitas...- sorrio. Sim. Essas serão as únicas que compraremos... Flores de alegria!