segunda-feira, 27 de junho de 2011

Capitulo 42- Ligação irreversível

 
Le Eternel Amour
Tulipe Rouge




Abro os olhos depois do que me pareceu cinco segundos mas pelo jeito, fora mais de uma hora... Estou num lugar abarrotado de bagagens e ouço o som do maquinário do avião em sua atividade... No chão, onde minhas mãos trêmulas me sustentam agora... Provavelmente havia algum fármaco naquela água... Maldita sede! Onde estará Rosa agora? E com quem? Deus, me ajude!
Saindo pelo saguão, vejo uma portinhola no “teto”, que certamente dará num lugar restrito a comissários. E o pior: trancado por fora!

- Dieeeeu!- berro, tentando abrir a passagem com chacoalhões, pondo todo meu peso nos braços


Rosa


- Ei... aeromoça!..- chamo

- Sim?

- Onde está o Claude... o moço que estava comigo, sabe?

- Ah o seu namorado? Ele disse que iria voltar pro lugar que consta no passaporte dos senhores, mas não quis te acordar... e disse que a senhorita não se preocupasse, e aliás, acho melhor a senhorita não se preocupar mesmo e esperar o avião pousar, isso acontecerá em menos de dez minutos sabe....

- hm... eu cochilei foi?- a comissária assente- Nossa... mas que dor de cabeça...

-A senhorita quer uma água?

- Oh, sim, obrigada.

A mulher sai e eu me levanto rapidamente, sabia que algo estava errado. Jamais o Claude ia me deixar sozinha visto a complicada situação... quero dizer, eu acho. Quero acreditar que está tudo bem, mas ao mesmo tempo, não posso crer que ele me deixaria sozinha sabendo que eu estou assustada e com medo. Afinal, eu estou indo pra um lugar desconhecido, sem propósito definido e o pior: tenho a certeza de estar sendo observada pelo seqüestrador de Janete, Alice e de Rachel.

Entro num banheiro e me dedico a arrancar o carpete: tenho certeza de que há uma saída pra...ah sei lá, uma portinha que me leve a algum compartimento secreto ou...que seja!

E alguém bate na porta...e eu batia na tranca...sim, havia mesmo uma saída!(?) E consigo empurrar a espécie de ferrolho e desço por uma escadinha que me levava pra um lugar branco... inteiramente branco.

Encontro outra escadinha e desço desse...conteiner ou sei lá. E depois mais uma escadinha, e um maquinário esquisito... Não sei ao certo do que se trata... Mas era grande o suficiente pra me render uma escalada. Eu precisava seguir em frente! Mas ai... Descubro finalmente oque havia ali a frente, atrás desse obstáculo dentro do bico do avião...

Era a Rachel, deitada no chão, como que dormindo um sono tranqüilo. Ela estava ali, de bruços, parecia tão... acomodada! Mesmo estando naquele lugar e... no chão frio! Corro até ela e a pego nos braços. Mas era verdade eu sabia: eu estava sozinha ali, naquele lugar vazio, e não sabia como iria sair dali... e quem estaria à espreita! E se eu cai numa armadilha? E se agora aparecessem bandidos pra me pegar ou... matar?

Claude

De alguma forma, percebi que pousamos. Sim, pousamos. Mas é a segunda vez, já. Desde que fiquei preso aqui. Duas vezes... ninguém apareceu, eu não consigo mais me debater, acabei de acordar de mais um cochilo e acho que só vão me encontrar quando as benditas bagagens forem retiradas por completo... deve se tratar de algum esquema de compartimentos de bagagem, elas ficam aqui, todas enfileiradas, com certeza há bem mais malas e caixas dividida em vários cômodos. E este por sinal, é um cômodo pouco “visitado”, deve ser por que todas as malas estão com destino à Minsk... o “ponto” final...

Mas de quê me adianta ser contido e durão agora? Desconto minha raiva em tudo que me aparece à frente. E parece que ninguém nota, Ninguém me nota, e eu fico aqui, sozinho e desprotegido de meus pensamentos e do peso da culpa: -eu devia ter feito alguma coisa.

Eu mal conheço a Rosa mas já consegui deixá-la em perigo. Rachel não tem culpa de tudo o que aconteceu e eu fui quem a deixei desprotegida. Talvez, se eu tivesse prestado mais atenção... Talvez eu percebesse a falha antes dela me surpreender. Como se a teia em que eu guardava meus tesouros rompesse, e, depois de perder tudo, eu descobrisse que nada mais importa. As vezes, eu me achava inalcançável e  inabalável, mas então havia uma garotinha, minha garotinha, tudo oque eu tinha, e então, me vi rendido. O amor as vezes, pode mudar você. Te convencer de coisas improváveis, mas quando você o sente, aí, nada mais importa.

Eu sabia que algum dia amaria, amaria pra valer, a ponto de negar minha existência para que outrem vivesse em meu lugar. E então, redescobri amar, e de brinde ainda percebi que não odeio mais ninguém. Nem mesmo meu pai ou o Carlos.
Só quero encontrar Rachel, e pedir perdão a ela. Me certificar que ainda vamos comer muito cachorro-quente, dar pipoca aos pombos na praça e cantar desafinadamente no piano velho do sótão.
Quero voltar pra casa, e contar uma história pra ela dormir. Quero voltar pra casa, e poder passar um mês com Caleb que seja. Quero voltar no tempo, e salvar a todos. Me salvar pra poder salvar todo o resto.

Sérgio

Ontem foi um dia estranho. Fui pro escritório de manhã, voltei e almocei com Caleb (em voto de silêncio?) Depois, passei a tarde olhando prum frasco vazio de uísque, que esvaziei noite dessas. O Caleb disse que meus olhos estão horríveis. E realmente, não acredito que nada morto possa ser bonito. Sim, meus olhos estão mortos.

Hoje também está sendo um dia estranho. E eu odeio essa chuva estranha, que escurece o céu! Como se não bastasse minha vida estar melancólica, o tempo lá fora me faz cenário.
Uma das coisas mais estranhas é que as vezes, eu acordo pensando ter ouvido risadas delas, das mulheres de minha vida. Delas no banheiro se maquiando, delas na sala assistindo a TV, delas na cozinha fazendo bolo.

Me pergunto como pode o Claude ter vivido só por tantos anos. Criando uma filha. Uma filha mulher. Admiro ele, de certa forma. E nas alturas que estou agora, da maneira como tudo está, dolorosamente me pego pensando na possibilidade de ter apenas uma das duas de volta. E se apenas Jane voltar? Como viveremos sem Alice? E se apenas minha filha voltar, como terei forças pra cuidar dela sozinho?

Sim, admiro o Claude. Ele perdeu a mãe de Rachel e por todos esses anos, cuidou dela. Sendo militar, durão em serviço- muito mais do que um mero homem se vê intimado a ser em seu dia-a-dia normal - e ao retornar à casa, tendo mão de mãe sobre a cabeça da filha, tendo que ser suave e carinhoso, dando toda a atenção que uma menina como… Como minha Alice! Como a Rachel dele requer.

Estranhamente, acredito sim que o Tony de certa forma, previa tudo oque iria suceder. Não estava exato da própria morte, mas sabia que o Claude e a Rosa estariam algum dia, e de alguma maneira, ligados pra sempre. Sim porque, ele sempre queria por eles em convivência.
Queria que os dois se conhecessem. Ele sempre dizia pra mim que era porque ele amava a Rosa como se ela fosse parte dele e o Claude também, da mesma forma era parte dele. E então, ele queria de maneira aparentemente insana e sem nexo, unir os dois. E colocá-los diante de seus olhos.
No fim, eles estão obrigados um a existência do outro. De maneira irreversível. E o fator, esse irreversível, é Caleb - Esse que dorme agora, na cama de Alice, ao lado da poltrona na qual estou agora e a mesma que estive tantas noites para ler esse mesmo livro- o filho deles. Um fruto que nasceu por um amor. Mas não diretamente entre os dois. Mas sobre o Tony.
Para Claude, mais valia a vida de Jean do que a dele próprio. Tony fora quem disse: “está tudo bem irmão, não desista agora. Vá, e lute por você e por mim.” O sonho de voar se tornou para meu estranho amigo Claude, um sonho conjunto. Era certo que apenas ele podia estar lá, e pilotar. Mas como ele fazia parte de Tony, ele estava lá também, no céus, com ele.

Para Rosa, poder fazer algo por Tony era como poder ter asas e voar. Era realmente algo estrondoso e que parecia poder mudar tudo- e mudou. Ela amava o “maluco da flor” a ponto de transformar-se em mãe sem nunca ter tido nada em troca- como o amor em matrimônio.
Depois de tanto que aconteceu, e tudo em torno da breve mais incomparável existência do nosso amigo Jean Antoine Geraldy, surge uma grande pequena promessa: Caleb.
Menino que trouxe alegria a minha irmã solteirona, e ao Claude… Bem, acredito que a ele trouxe a prova de que ele podia sim gerar um filho. E foi o Tony que ajudou. Ha… sim. O maluco tinha razão de novo!




3 comentários:

  1. Tenso... vc sabe né amiguinha q eu sou sua fã...então vamos a parte q mais amei

    ...Eu sabia que algum dia amaria, amaria pra valer, a ponto de negar minha existência para que outrem vivesse em meu lugar. E então, redescobri amar, e de brinde ainda percebi que não odeio mais ninguém...

    Sabe Karol,quando eu li isso,pensei em como é a mais pura vdd. Quando vc ama alguem ,vc é capaz de negar a existencia e não aceita-la caso essa pessoa ñ esteja por perto...amor é isso...incondicional.

    bjsssssssssss e continue escrevendo

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