domingo, 22 de novembro de 2015

Capítulo 66- Prelúdio do fim




Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


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Alice


Lembro daquele dia, uma semana antes de meus tios voltarem, acordei cedo, mas não fui ao colégio. Ouço a voz de mamãe se erguer na manhã silenciosa. Sigo a voz...

E vejo Caleb abraçado aos joelhos no chão do corredor. Os olhinhos acompanhando algo como uma formiga tonta no chão. A seu lado, uma porta aberta, por onde escapa uma voz bastante aborrecida. Voz solitária a descotir com um telefone.

-Você não devia ficar aí ouvindo conversa de adulto, Le.

-Não enche, Alice. E além do mais, estão falando de mim, não percebeu? Faz mais de uma semana que só descutem! E tudo por minha causa.

-O seus pais estão chegando a qualquer momento, primo. É melhor você desmanchar essa carranca ai e botar um sorriso no rosto.

-Eu não vou fingir que estou feliz quando eu não estou. Só causo problemas pra todo mundo. Minha mãe foi em bora por minha culpa. E agora eles correm perigo de novo por minha culpa.

-Mas é claro que não! De onde você tira essas ideias auto-destrutivas ein?

-Ah nem vem. Eu não preciso mais de terapia, já estou no ápice da minha inteligência emocional.

-Com nem doze anos?

-Não ria de mim. Eu não tenho culpa de você ser uma adolescente infantil e mimada. - Caleb revira os olhos, virando a cabeça pro lado com desdém.

-Ei, pode parando com esses perjorativos e o tom agressivo! Ma che?! - Tento segurar minha raiva. Mas esse menino saiu à tia Rosa mesmo, sem papas na língua.

-Ficcanaso!

-Io non sono ficcanaso!- grito. A porta do escritório de papai se abre e mamãe nos olha espantada


-Ei mais oque é isso aqui? Que tá acontecendo nessa casa ein?

- Ele que começou. - aponto, percebendo que ele faz o mesmo gesto pra mim.

-Os dois, pro quarto agora!

-Como mamã? Se eu divido o meu quarto com questo ingrato?

-Ahhh mas vocês me deixam maluca! Esse dom Giovanni também! Pede pra ensinar vocês a falar italiano mas só ensinou os chingamentos, foi? - berra. Eu vou pra sala e Caleb salta as escadas.


Claude


Parecia que eu estava sonhando. Mas tudo aquilo aconteceu, fomos de volta à França com o peso da saudade em nossos corações. Lá estava Rosa...

Ela olha para a rua estática. Como se tivesse medo de atravessá-la e de repente uma catastrofe acontecer. Como um trem expresso passar ou uma mina terrestre explodir.

-Tudo bem, chérie?- beijo sua mão

-Amor, eu estou com tanta vergonha...

-Mas vergonha de quê, amour? - ajeito o lenço que ela tem sob o chapéu. Tento decifrar a face coberta por enormes e negros óculos de sol.

-Isso tudo não estaria acontecendo, se eu tivesse feito as coisas direito. Eu deveria ter dito a você que eu estava sendo ameaçada e que...

-Serafina... - a abraço. A olho mais uma vez. O disfarce lhe cai como uma luva, já que ela parece uma elegante senhora com um lenço indiano em lugar dos cabelos e pálida com a fragilidade de uma paciente oncológica. Estremeço

-Oque foi?

-Non fique assim ton frágil. Parece que vai se quebrar de repente, como as rosas de cristal que ganhamos no casamento.

-Elas se quebraram? - ela me olha confusa

-Eu as quebrei. - admito, porém sem remorço.

-E porquê? Estava tão furioso comigo assim?

-Non. Estava furioso comigo. Eu achava que tinha ido em bora porque non quisesse ficar a meu lado. Que eu lhe fosse insuportável de conviver.

-Mai. Mai... - ela me abraça. - Mesmo que eu não quisesse, amor, eu morreria. Não posso ficar longe de você, entende?

-Non tanto quanto eu de você, Serafina.

-Vamos?

-Criou coragem, foi?

-Com você do meu lado, eu posso tudo. - ela sorri.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Capítulo 65- Carmezim

Le Eternel Amour
Tulipe Rouge

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Hoje foi bem estranho. Algo como brisa de névoa e luz intensa me cercaram. São nesses dias que a gente acorda sem ter certeza de quem é ou de onde se está. Questionando o próprio nome.... Não tem a ver com alegria tristeza, felicidade ou desespero. É apenas um tipo de sobriedade... porque é só nesses breves segundos ao se abrir os olhos e assimilar que sonho é sonho, realidade é realidade que se entende a vida. Ou se imagina entender.


-Quer mesmo saber?

-Lógico que sim. Você desmentiu a minha hipótese. Se você não começou a se interessar por mim depois que passamos o natal juntos. Ainda que você estando noivo e eu próxima ao Jean...

-Non. Non passou nem perto. - ele me abraça. Mas ainda me olha nos olhos. - Você me chamou de Tony. Uma única vez, e ainda sem acreditar que eu era ele.

-hum... não me lembro...

-No desfile de formatura de minha turma de cadete. Suas bochechas estavam carmezim e os olhos arregalados. O capitão do batalhón a assustou, a surpreendeu em área restrita. Uma bobagem, mas pra um militar, regras son regras... - ele aperta meu nariz com os dedos sorrindo.

-Você se lembra desse dia?

-Foi a primeira vez que eu te vi de verdade.

-Oquê? Como assim de verdade?

-Jean já tinha me mostrado fotos suas. E quando eu o via ele só sabia falar em você e na turma de amigos do Perrault. Dizia que eu tinha de conhecer vocês.

-Mas... então você já sabia que tínhamos um... lance esquisito?

-Já. Tava claro que ele era louco por você mas nunca teve coragem de começar nada.. ele non queria que você sofresse... Entón eu olhei pra você naquele dia sabendo que você era o sonho de consumo do meu irmón. Eu non podia ter achado você a garota mais incrível que já tinha visto... Me sentiria culpado eternamente se non resistisse a tentaçon de te cortejar.

-Mas... e aquele dia na formatura.. Você deixou claro que era um martírio estar lá, que Jean te obrigou... - eu o questiono. Claude suspira

-Na verdade... Eu pedi para ir.

-Oquê?

-Num impulso... Ele disse que non queria estar na festa de formatura, non suportaria ver você como numa despedida... ele não pensava em viver pra ver os colegas novamente, estava bastante deprimido. Então eu me ofereci pra estar lá. Assim os colegas o veriam de novo sem que ele passasse por aquilo. Eu estava fantasiado, entón além de você e dos que me conheciam, ninguém mais soube.

-Você... Fez isso porque? Se não gostava de festa? Bem, o Tony me dizia que você não gostava.

-Non mesmo. Haha. Mas... eu gostava de você.

-Oquê?

- Eu estava apaixonado por aquela magrelinha baixinha, ton sorridente. Estava apaixonado por aqueles olhos, pelo seu sorriso...Mon Dieu. Era um martírio sim, um martírio non poder querer você pra mim, mas querendo!


-Amor... - o beijo calidamente - Se você tivesse me beijado naquela noite... Tanta coisa seria diferente...

- Non sei se me arrependo de non tê-la beijado, princesa. Você pode achar que estou errado mas... Me sinto ton forte agora, e com você comigo. Tony me disse pra aceitar esse amor que eu sentia por você no final mas... antes... eu sei que ele teve medo. Medo de se curar e eu roubá-la dele. Ele non suportaria viver sem você. Ele poderia tudo, até morrer, mas non poderia viver se non fosse a seu lado.
-Eu nunca vou entender porque ele fez aquilo... Me afastar, fazer com que mesmo o tocar fosse estranho. Ele criou toda uma... aurea de impossibilidade.

-E eu que era o irmón estranho né. - Claude ri

-Amor!

-Mon Dieu. Sabe que felicidade eu sinto agora? Em ter você perto de mim, um filho ton lindo e inteligente como Caleb.. e outro por vir... -ele acaricia meu ventre

-Como você sabia dele?

-Um anjo me contou. - ele me pisca- nos momentos em que eu fraquejei, Deus me revelou esse outro grande motivo pra continuar te procurando. Mesmo que você non me quisesse mais, amor. Eu precisava olhar pra você, saber que estava bem. Aquele e-mail fez meu coraçon parar, sabia?

-Eu te amo.... - o beijo- Sabe de uma coisa? Já que você me contou quando se apaixonou por mim... eu posso contar sinceramente o meu lado, ou não?

- Hm...espera um minuto pra eu me preparar..- ele suspira. - D'acord, pode contar.


sábado, 12 de setembro de 2015

Crônicas de URCA- Pensando em você




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    -Eu entendo...
    -entende?
    -Sim. Você queria vê-la. Estava com saudades dela... entendi.
    -Mas... non...non foi isso que fui fazer lá....
    -Que outro motivo te levaria a uma visita a essa hora... e as escondidas?
    -As escondidas?
    -Sim. Você mentiu pra mim. E sem a menor necessidade.
    -Non Serafina, non!
    -Não oque?
    -Você está distorcendo as coisas... - ele passa a mão pelos cabelos num gesto desesperado. Rosa esboça um sorriso nervoso.
    -Distorcendo? Claude você não se preocupou com o que eu pensava antes, porque se preocupar agora?
    -Eu fui até lá pra....
    -olha só quer saber, eu vou subir. Você não me deve explicações. Eu não quero saber oque você foi fazer lá, faça-me o favor... - ela começa a andar em direção as escadas. Claude entende oque estava prestes a acontecer, então solta o ar pesadamente.
    -Espera, por favor... - Ele a segura por um cotovelo. - Entendo que non queira saber oque eu fui fazer ou ouvir uma explicaçon... mas …- Claude procura seus olhos- Eu quero, eu preciso te explicar, hã?
    -Tudo bem. - ela se solta num suspiro. - Sou toda ouvidos.
    -Primeiro, venha até aqui...- ele a conduz até o sofá onde ambos se sentam.
    -Eu... peço sinceramente pardom por non ter te contado... - ele segura suas mãos tendo a cabeça baixa... Rosa sente vontade de abraça-lo e niná-lo como a uma criança. Zomba discretamente de si mesma com um sorriso.
    -E então?
    -Fui até lá porque eu estava confuso... hoje mais cedo recebi provas bastante condizentes de que Nara está mesmo por trás de tudo isso que tem nos acontecido... Eu... sei que você está sempre certa... mas.. Rosa... eu estive envolvido com ela por quase dois anos... Nós... noivamos por presson... mas... esperava realmente conseguir me acostumar a ideia de casamento. Nós passávamos tanto tempo juntos... Non entendo porque ela quer me prejudicar. Essa situaçon me deixou muito intrigado...
    -Você não percebeu que ela tem um caráter questionável?- Rosa zomba e sorri discretamente em triunfo
    -Acho que finalmente entendi oque isso quer dizer... Me sinto bastante desconcertado... - ele a encara
    -Ela te deixa desconcertado, não é mesmo? Frasão sempre diz isso.
    -Non mais do que você.
    -Eu oquê?
    -Você... Serafina. Você me deixa mais desconcertado do que qualquer pessoa no mundo. - ele sorri.
    -Que cara é essa? Isso não soou muito bom, sabia?
    -Non é bom mesmo. Non pra mim. - ele a olha de forma enigmática
    -Mas então porque não me disse que ia até lá?
    -Eu... fiquei constrangido...
    -Quer dizer que sentiu vergonha?
    -Oui... - ele suspira em rendição- como eu diria a você que odeia Nara, tanto quanto ela a odeia, que ia visitar pra ter uma conversa séria com ela?
    -Você sabe que eu não permitiria que você se exposse tanto, né?
    -Eu non me expus...
    -Não. Você nos expos. Porque a americana está nos vendo como um casal cheio de deficiências. Frágil demais pra ser real. Ela simpatiza comigo Claude. Acha que sou muito ingênua... A ponto de querer me proteger até mesmo de você.
    -Mon Dieu... - Claude bagunça os cabelos.
    -Eu sinto muito por tudo oque está acontecendo... sei que sou a pessoa que está entre você e o amor da sua vida... e de uma forma tão... excêntrica né. mas... é circunstancial... Você me pediu pra estar aqui, e mais de uma vez, lembra?
    -Serafina, por favor...
    -Você se colocou aqui Claude. Ou melhor, você me colocou aqui. Porque quer me deixar ainda mais desconfortável do que já estou? Me culpar?
    -Eu non quero isso...
    -não é oque demonstra. As vezes você age e diz coisas que denunciam esse pensamento.
    -Me perdoa, por favor...
    -está tudo bem, Claude. Olha pra mim?
    -Me perdoa... - ele a encara.
    -Eu sinto muito por tudo isso. Eu só queria te ajudar, lembra?
    -Me perdoa... - ele estava chorando. E Rosa silenciosamente com ele.
    -Você não precisa se envergonhar por amar a sua noiva de verdade, Claude. Sei que você ainda a ama apesar de tudo isso. Sinto muito por ela ter feito isso com você. Mas ela esta tentando te prejudicar, não apenas para acabar com esse casamento de fachada...
    -Eu non... eu non estou mais noivo, Rosa. Na verdade, por vontade própria eu nunca estive noivo. Eu tive de estabelecer esse compromisso apenas pra satisfazer os nossos amigos na sociedade e também os filhos dela... mas.. eu nunca quis me casar.
    -Entendo... mas.. isso não quer dizer que você não tivesse sentimentos por ela e quisesse estar com ela. É isso que eu estou dizendo. Se você tivesse me avisado.. eu poderia ter dado um jeito melhor de a americana não perceber.. ou melhor.. poderia ter te aconselhado a ter mais cautela.. e deu no que deu.
    -Pardon Rosa. Você tem toda a razon de ter ficado desapontada comigo... eu também estou desapontado comigo mesmo...
    -não se sinta assim Claude. Você queria que ela se explicasse.. você conseguiu isso?
    -Non... ela negou tudo... e disse que se sente enciumada... mas que non seria capaz de nada ton... sórdido.
    -E você acreditou nela, não é? Ela conseguiu outra confissão de que isso tudo é fachada e que no final você se casará com ela.
    -Rosa eu... - ele abaixa a cabeça
    -Claude... olha pra mim. Eu estou aqui e sei o porque, lembra? Sei que você não tem nenhuma obrigação de ser fiel a mim como se esse casamento valesse de alguma coisa... Sei que o fato de eu ser fiel a você é só circuntancial porque eu já não tinha ninguém antes e... todos os que se aproximam de mim sabem que eu estou.. “casada” com Claude Geraldy.
    -Você é uma mulher linda Rosa... capaz de fazer qualquer homem muito feliz... - ele a olha nos olhos. Ela sorri.
    -Sim. Mas qualquer homem é quase como homem nenhum.
    -Como assim?
    -Esquece.
    -Viu só como você me deixa desconcertado? Non me deixou explicar nada...
    -Porque como eu já disse, eu entendo.
    -Non, você non entendeu nada. - ele se aproxima dela, e ela se assusta um pouco. Os dois se olham nos olhos e Rosa decide ouvi-lo.
    -Então me explica.
    -Eu... pra começar... eu non queria ir até lá. E isso é muito estranho porque como você disse eu estava noivo dela... mas...
    -mas?
    -Eu fui porque... non era possível a mulher a quem prometi me casar e fiz tantos planos... estivesse contra mim. E quando cheguei la e ela tentou me... seduzir... me agarrar e eu...
    -vai dizer que não gostou?
    -Eu non queria que ela fizesse aquilo, Serafina.
    -E porque não? Vocês são noivos, não são?
    -Non... non somos noivos de verdade.
    -Eram namorados de longa data.
    -Eu sou homem, é claro que foi dificil rejeitá-la daquela forma... ela disse que estava com saudades e …
    -Claude... - Rosa franze o cenho fazendo gesto de quem não quer ouvir aquilo
    -pardon... mas o fato é que... antes isso seria perfeito pra mim. Mas non estava bom. Não parecia certo...
    -e porque não?
    -Você.
    -Eu?
    -Por você. Sei que non temos um relacionamento amoroso de verdade. Sei que non somos casados da forma... convencional. Mas eu só conseguia pensar em você. Eu olhava pra minha mon... e lá estava a aliança de casamento...
    -sentiu que era imoral?
    -Non sei bem... acho que non foi imoralidade que me constrangeu.
    -Então oque? - ela sorriu. Claude olhou sério pra ela.
    -Me perdoe pelo que vou dizer mas... Eu non queria que Nara me agarrasse. Porque eu estava carente e sabia que non seria capaz de resistir facilmente...
    -mas Claude...
    -shiii.. me deixa terminar. Eu sei. Se estava carente era perfeito. Ou seria, se eu quisesse estar com ela. Mas quando ela me agarrou non foi nela que eu pensei.
    -Como assim? Está confessando que tem mais alguém além dela? Haha meu Deus eu sou um alce! - a moça leva as mãos à testa sorrindo
    -Serafina... - ele a olhou preocupado.
    -Que foi Claude? É tão ruim assim oque vai me dizer?
    -é. é terrível.
    -Então diga de uma vez.
    -Eu … eu estou com um grande problema. E non é pela falta de integridade de Nara. Eu estive lá porque... queria proteger você dela... a convencendo de que ela non precisa se preocupar com você.. de que eu non.. de que nós non temos nada e portanto ela non teria que sentir ciúmes...
    -muito bem.
    -Mas eu menti pra ela.
    -Mentiu como?
    -Disse que non tinha intençon nenhuma com você e que me casaria com ela assim que possível.
    -Mas você não quer se casar com ela, não é? Você nunca quis se casar com ninguém. - Rosa zomba- é um solteirão convicto.
    -Mon Dieu. - ele chega mais perto dela e ela prende a respiração por um momento- a culpa é sua.
    -Minha? Logo minha, a senhora Geraldy? - sorri enquanto arqueia a sobrancelha
    -Você me enlouquece sabia? - ele a olha de forma selvagem. Rosa se sente confusa, mas ainda sorri.
    -Sabia. Você sempre disse que eu te tiro do sério. E vive gritando comigo... - ela ri.
    -Eu pensei em você. - ele se mantém sério
    -Oque?- ela desmancha o sorriso
    -Eu só penso em você, non entende? A culpa é sua, eu non consigo mais... -ele descansa o rosto no pescoço de Rosa, que sente um longo arrepio ao sentir a respiração dele em sua pele.
    -Claude...- ela chama ainda se sentindo confusa
    -Eu sei... non devia te dizer isso... ainda mais depois do que eu fiz hoje. Mas... eu non suporto mais fingir que non... eu me sinto imoral sim. Mas porque sei que eu non posso... non posso ter você. E ainda sim te desejo desse jeito.. desse jeito impossível...
    -Ei...- Rosa segura o rosto dele pra o olhar nos olhos- Porque você diz isso?
    -Eu estou apaixonado por você Serafina Rosa. Encantado, abobado por você... Tenho me esfoçando pra que você non percebesse porque... sei que non é o suficiente. Você precisa de mais do que o que eu sinto. Non sei se eu sou capaz de dar a você tudo oque você precisa e que sei que merece. Um amor desinteressado, um amor sincero... vindo de alguém melhor do que eu.
    -Claude... - Rosa choraminga
    -Mas é que... você tem preenchido cada instante dos meus pensamentos... de forma que já non sei se tenho a sanidade intacta. Mon Dieu nos beijamos todos os dias mas nenhum desses beijos é espontâneo o suficiente e... eu seria incapaz de me aprov..- Rosa o beija languidamente. Claude fica sem reação, ainda de olhos fechados
    -Senhor Geraldy?- os dois se olham nos olhos
    -oui... - ele sorri levemente, ainda anestesiado pelo beijo


quarta-feira, 10 de junho de 2015

Crônicas de U. R. C. A - "A noite" (parte 2)






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-Non fica aí parado, leva logo essa carta pra ela, vai!

-Ei, mas oque que é isso, francês? Tá achando oque? Nunca falou comigo desse jeito. Hunf.
Os dois se encaram.

-Só levo se me pedir com jeitinho.

-Porfavorzinho? - Claude revira os olhos com ironia

-Tá, mas só porque foi engraçado você fazendo biquinho. - Frazão toma a carta dele- Vou estar mais atento na próxima, e tirar uma foto!

-Para de rir, seu palhaço. E anda logo! Vai fazer oque eu te pedi ou non?

-Mas é um cavalo mesmo, hein, Claude? Você não me merece... e nem merece a Rosa também.

Frazão sai da sala e deixa um francês irritado e ansioso.


- Droga de vida... que sais ces't merde?! - Claude bagunça os cabelos num gesto de desespero.





-Traz a tesoura!

-Oque?! - a ruga entre os olhos de Janete se agravam- Vai cortar a carta? Mas e...

-Vou cortar aquele francês em pedacinhos bem pequenos! - a moça se levanta e dá um passo torto, depois dois mas antes que ela firme o terceiro, Claude abre a porta, fazendo ela cambalear pra trás. Era como se ela tivesse desistido, naquele momento.

-Rosa!- Claude a observa como se nunca tivesse tirado os olhos dela. - Está pálida! Tá tudo bem?

A moça suspira, ainda estagnada no mesmo lugar, com um braço estendido, apoiando-se na parede. Os olhos arregalados denunciando sua fragilidade

-Não! E não se aproxime!

-Eu.. mon Dieu.. vem comigo até minha sala, por favor?

-Doutor Claude, eu lamento ter de cruzar com o senhor todos os dias, mas ainda tenho o meu aviso pra cumprir, e eu prometi que o cumpriria, e não pretendo faltar com minha palavra. Mas o senhor está agora me tentando a sair por aquela porta e não olhar pra trás... nunca mais!

-ei, mas que nuvem de chumbo é essa pelo ar? - Frazao aparece com uma maquete nas mãos, e a coloca sobre a mesa de Janete, como se pesasse mil quilos.

-Frazon, me ajuda aqui, hã?

-Rosa querida, viu como a poluição está no auge nessa cidade? Mal consigo respirar – O advogado afrouxa o colarinho e se abana com uma mão

-Eu jamais pensei que seria capaz de odiar tanto um emprego quanto odeio este! - Rosa diz entre os dentes, se mantendo de costas para os dois.

-Oque você fez agora?- O advogado sussurra para o amigo, sem tirar os olhos de Rosa

-Eu? Mon Die non fiz nada! Essa maluca que tá com uma tesoura nas mons

-A carta! O que você escreveu? Você nem me deixou abrir o envelope!

-Frazon, discutiremos isso mais tarde. Agora preciso fazer essa mulher entrar em minha sala imediatamente, hã?

-Ei, Rosa! não faça isso! Eu queria ler essa carta! Não... droga!- Frazão dá um muchocho. Rosa caminha displicentemente até a lixeira, onde joga os restos da carta que Claude lhe escrevera.

-Será que entendeu agora? - ela pergunta para Claude, que a fulmina- não quero papo com você, nunca mais!



-Mulherzinha irritante!- o francês se joga em sua cadeira

-Ah admite que tá gamado nela, anda! - Frazão fecha a porta atrás de si.

-Frazon, quando você vai entender que eu non tenho mais coraçon pra me apaixonar por ninguém?

-Não tem mesmo, porque já é da Rosa.

-É de... - Claude se vira fulminando o amigo- Oque??

-Ah francês, não vai perder essa moça por uma bobeira desmedida que é essa de você ficar julgando ela sem nem saber do que realmente aconteceu. Vocês se desencontraram, e nem um nem o outro conversou, já foi tirando conclusões...

-Olha por favor... chega disso.

-Mas e a carta?

-De novo isso?

-Conta de uma vez, anda!

-Frazon você é um enxerido. Mas nem era uma carta. Era um bilhete... Escrevi uma pequena mensagem... um quase pedido de desculpas... com o endereço de um restaurante e um convite pra jantar hoje a noite....

-Hummm … e você não ia me contar né? Mas é um salafrário mesmo... ainda tem coragem de mentir pra mim, de negar quando falo que você tá caído de quatro patas por ela...

-Frazon.... Vamos trabalhar, hã? - O francês entrega uma pasta empanturrada de papéis pra Frasão

-Ok... você quem perde, não eu.

A tarde seguiu silenciosa. E quem mais falou em trabalhar, menos o fez. Claude passara a tarde com uma tal Rosa enjaulada no jardim de seus sonhos. Mas não mais a cultivando e admirando, mas fulminando em seus pensamentos, tentando fazê-la morrer, murchar. Pena que agora ele sabia, que se isso acontecesse, ele deixaria de existir.
Não é possível. É muito sentimento pra pouca razão...

- Com licença. - Rosa entra na sala, meio cabisbaixa. Claude a encarou de boca seca. Ali estava ela, sempre delicada. E ele se sentia uma montanha sentado naquela cadeira. Tão pesado e incapaz de se mover.

- Pode falar, minha musa. - Frasão diz sorridente, olhando de lado para o amigo, que sentiu como se tivesse sido esbofeteado.

- Esse fax acabou de chegar, e aqui diz urgente. Eu trouxe pra o senhor analisar ….

- Qual assunto, além da urgência?

- Compex transportadora.

-Ah essa parte logística não é comigo... Claude? - chamou Frasão. Mas o francês permanecia olhando pra porta. Nervoso com a presença de Rosa. E ela lhe ordenara que não lhe dirigisse a palavra. Ah, mas quem era ela pra lhe dar ordens?

-Doutor! - Rosa o chama. E então imediatamente seus olhos se encontram.

-Oui?- Ele a encara. E nem percebe que ela se aproxima com os papéis e os coloca sobre a mesa a sua frente.

- A comex transportadora Claude. Você brigou tanto pra conseguir o frete com eles! - Frasão diz sério, com tom profissional. Mas por dentro ria e ria do amigo babando pela Rosa.

- Bom, com licença. - Rosa vira as costas e sai como um foguete. Se sentia tão intimidada!




Uma semana inteira. Rosa sentia-se tonta. Mal comia, mal dormia. O tempo não passava! Queria ver-se livre de toda essa situação... Livre de Claude!

- Bom dia! - a voz dele soa pela recepção. Mais uma polegada e a água que Rosa tomava vazaria através do copo plástico. Ela ainda prendia a respiração, após todos responderem ao patrão.

- Dona Rosa? - ele a chama. Ela matém-se estática, de costas para ele. - Queira me acompanhar até a diretoria, por favor?

- Hm... precisa ser agora? - Rosa consegue responder. - Estou terminando de redigir um documento extenso, se eu ir fazer outra coisa terei de revisá-lo umas três vezes...

- Precisa sim. - ele a olhou profundamente. Ele sabia. -pensa ela. Sabia que não era o documento. Era os dois sozinhos na sala o problema. Frasão não chegara ainda. Ela sabia que ele sabia.

- Ok. Já vou... - ela põe o copo no aparador, e pensa em se recompor antes de seguí-lo, mas ele entrelaça o braço dela ao dele.

Todos na recepção os observam. Rosa sentia tantas coisas com aquele simples contato... que mal percebeu quando ele a conduziu até a sala, e fechou a porta atrás deles.
Os dois se encaram

- Doutor , oquê é tão urgente assim? - um breve momento, e ele estava perigosamente perto demais.

-Isso! - Claude a beija com toda a saudade guardada.

Por uns momentos, eles se esqueceram do mundo exterior, só havia os dois ali naquela sala. Claude tentava falar algo, talvez formular um pedido de desculpas, mas Rosa não deixava ele falar. Ela temia que tudo aquilo fosse mais do que um devaneio, já que sua consciência a condenaria pra sempre se o deixasse prosseguir e a convencesse a perdoá-lo. Ela não seria a mesma boba e idiota que ficou noiva de um canalha. Não mais. Não deixaria isso acontecer de novo. Não queria se envolver novamente.

Eles estavam abraçados contra a parede, em meio a beijos e carinhos, quando Frasão entra na sala junto com Janete, que carregava uma caixa de arquivos. O casal percebeu que tinham expectadores, pouco tarde.

- Ah meu Deus! - Janete tapa a boca, tentando inútilmente abafar o grito de surpresa. Sorte a porta estar fechada, ou o espanto seria de toda a empresa.

- Não é nada disso... Janete... - Rosa diz se recompondo, mas Claude não se afastou dela, como ela previa.

-E o que é enton? - ele a encara. Frasão arrasta Janete pra fora da sala e eles nem percebem novamente. Só tinham olhos um para o outro.

- O que?... - Rosa tenta pensar numa resposta, mas Claude preferiu a prática, e a beijou prendendo gentilmente os pulsos dela contra a parede.

-Non seja ton cruel, Rosa... - ele aspira o pescoço dela

-Você é o mestre aqui Claude. Não tem ninguém aqui mais cruel do que você... - ela o desafia. Mas ele lhe morde o lábio como resposta

-Será que você ainda não percebeu? Quem perdeu aqui fui eu... Rosa me dá só uma chance de te mostrar que nós dois juntos podemos funcionar ton ton bem – ele a beija até deixá-la sem ar

-Hoje você está mais piegas do que de costume... - ela finalmente sorri, enquanto ele lhe beija a bochecha

-Por favor, almoça comigo hoje? Precisamos conversar, hã?

-Conversar é?... - Ela zomba sorrindo. O que Claude não resiste, se aproxima dela novamente, olhando em seus olhos

- Tudo o que você quiser, meu amor. - ele a deixa sem ar, antes mesmo de a tocar desta vez.


A porta se abre novamente, em um momento bastante inconveniente. Elizabeth e John Smith, donos de uma multinacional bilionária e investidores em potencial da construtora Geraldy, presencia o dono da empresa agarrando uma funcionária – deduzindo pelo crachá de Rosa, secretária presidencial.

-Bom dia, doutor Geraldy!- John arrisca, contra sua vontade, pois sua esposa o acotovelou.

Um fio gelado serpenteia a espinha dos dois pegos em flagrante, paralisando-os.

-Bo-om dia, mister e misses Smith! - Claude força um sorriso amarelo. Mas os dois permaneciam frígidos e sérios.

-No me apresenta, a moça?- Elizabeth olha Rosa com desconfiança.

-Ah, sim, claro. Essa é Serafina Rosa, minha namorada.

-Owww... parabéns Claude! Ela é mui linda! - John se anima, mas Elizabeth se mantém séria, encarando Rosa.

- Namorada? Mas su namorada no se chamava Nara? - só então Rosa percebe que estavam falando algo sobre ela, porque os três a encaravam. Ela olha pra Claude com cara de reprovação.

- é... mas non estamos mais juntos non... nunca foi sério...

- Ouvi mesmo dizer que senhor no é sério ….

-Ah, isso non é verdade, eu sou sério, um homem sério. Non é cherrie? - Claude afaga a mão de Rosa, que há muito segurava.

-Sim, muito. Sério até demais... - Rosa abaixa a cabeça.

-Tudo bem, dear? - a americana encara o casal, sempre com semblante desconfiado.

-Está, está sim... se me dão licença, não quero atrapalhá-los mais, com licença... - Rosa ia se afastando de Claude, mas ele a acompanha até a porta, e antes de deixá-la sair a beija rapidamente nos lábios, sob olhar atendo do casal Smith.

Depois de todos acomodados na sala, a americana corta o assunto de negócios drasticamente

- Espero que Rosa non seja mais uma de suas conquistas, doctor Geraldy...

-Hã?... ah non... - Claude engole em seco- Ela é muito especial... non é como as outras non...

-Os homens dizem o mesmo de todas, non é mesmo John?

-Se você diz, my dear...

- Ela parece especial mesmo doctor Claude... gostaria de conhecê-la melhor...

-Tive uma idea... porque não vamos todos almoçar juntos hoje, hã? O senhor, sua namorada e nós?

-Excelent idea darling! - a americana esboça pela primeira vez um sorriso

-Claro... ótima ideia... - Claude murcha.. Não só seus planos foram de água a baixo, mas também seus negócios pareciam em xeque.




-O quê?

-Eles se convidaram, hã?

-Mas eu nem tinha dito que ia!

-Rosa.. por favor... - ele tenta se aproximar , mas ela dá um passo atrás, o fazendo parar. Impotente diante daquela moça baixinha que o fulminava.

- Nãao...

- Esse investimento é tudo o que nós precisamos pra deslanchar essa empresa, tirar ela dessa estagnaçon, quitar as dívidas!


-Claude...

-Eu tô te implorando, hã?...

-E essa história de namoro? Como você me apronta uma dessas assim?

-Mas eu já ia te pedir em namoro no almoço... - ele se aproxima novamente, e diante da revelação ela nem se move. Ele sorri pensando em beijá-la mas são interrompidos

- E os pombinhos não vem almoçar com a gente? Vamos naquele restaurante mexicano maravilhoso da esquina. - diz Frazão, já se aprontando para sair, Janete espera timidamente ao lado da porta.

- Non Frazon, vamos ao capucci com os americanos. - Claude revira os olhos

- Capucci? Sério? Sempre quis conhecer esse restaurante!- Rosa sorri

-Isso quer dizer afinal que você aceita, hã?- o francês abre um sorriso maroto. Frazão e Janete se entreolham sorrindo
-Tenho só uma condição.

-Hm.. e qual é?

-Só vou se você fingir estar de dieta!

-O que? Num restaurante italiano de dieta? Tá louca é?

-Esse é o ponto. Quero levar alguma vantagem afinal.

-Ela quer ver você sofrer Claude!- sussurra Frazão, mas todos ouvem e riem, menos o próprio, que faz uma carranca.

-Serafina...

-Oui mon amor? - Rosa o provoca, piscando-lhe as pestanas

-Vamos logo, hã?

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Crônicas de U.R.C.A - " A noite" (parte 1)




Serafina Rosa Petroni
data de nascimento: 27/05/83
estado civil: solteira
endereço: rua Divina Providência nº 2010.
telefone: 11 12555 555

formação: técnico em administração de empresas.
Perfil: pró ativo e comunicativo. Trabalho em equipe e dinamicidade.

- é... até que não está mal...


- Mas precisa ser mais impressionante... tem que brilhar nas mãos do entrevistador!

-Ah isso é verdade. Eu preciso desse emprego de qualquer jeito, Teresinha!

-Escuta, e se a gente pedisse ajuda pro irmão do Miltom?

-O Antoninho? De jeito nenhum! Ele é um metido pervertido, cretino, farabutto!

-Nossa, não tá mais aqui quem falou. Mas tudo isso é por causa daquele dia que...

-Olha só Terezinha, não quero falar sobre esse assunto, tá legal?

-tá, tá bem... calma. Só quis ajudar.

-Eu sei... desculpa. Mas você entende, não é?

-Claro, eu entendo Fina.

-Ai não me chama assim! Eu detesto!

-Okay. Mas e agora? Vamos deixar assim, ou oque?

- Tenho de entregar amanhã... a minha amiga disse que a entrevista será lá pela sexta... ah, tem o Sérgio!

- O Sérgio, claro...

-Ei, pode desfazer esse sorrisinho, você sabe que o Sérgio e eu somos só amigos!

-Sei... claro que sei. Vivem grudados!

-Ué.. se somos amigos.. e desde que o Julio...

-O seu outro grande amigo.. ops!

-Terezinha!- rosna Serafina, indignada

-Tá... não me olhe assim, você dizia a mesma coisa dele!

-No começo sim. Mas com o Sérgio é diferente. E além do mais, ele é bem mais novo que eu...

-Ah, sim.. 5 anos. É demais pra você. Ele é quase um bebê!- aperta as bochechas e faz bico, gozando da irmã.

-Deus do céu, mas hoje você está mesmo inspirada! - Rosa se levanta da pequena poltrona, e leva consigo papel e caneta, pra que seu amigo Sérgio a ajudasse a escrever o “currículo perfeito”





Claude revira os olhos. A cabeça pendendo do pescoço, amparada apenas por uma das mãos que ele tinha afundada na bochecha. Mira um ponto no horizonte pela janela, tentando se concentrar em algo que não fosse a voz de sua namorada do outro lado do telefone.

-Oui, claro que eu estou prestando atenção, chérrie... Non... eu non vou sair hoje non, eu prometo.

Até parece que uma noite de terça feira open bar ia sair de cogitação depois de um dia como esse. Contas e contas , clientes reclamando que tem muito pó nas obras. Ah, não. Isso é construção civil, pó, cinza, barulho de máquinas e cimento pra todo lado. Oque esses arquitetos idiotas estão pensando? Ah, mas não tem problema. Hoje tem open bar.

-open... - Claude dá um sorriso.

-Oque você disse?

-Open... ah!!! Frazón, cala a boca.

-hein? Você fica ai falando sozinho...

-shiii, não tá vendo que eu estou ao telefone, hã?


-ok, ok, desculpinha.

Um silêncio se espreguiça pela sala. Frazão senta-se a mesa, com seu inseparável sorriso. Tremenda falta de sorte o amigo ter um dedo podre. Escolheu a mais grudenta do quarteto fantástico. Mas isso de escolher uma não era pra ele próprio que, salvo a ruiva do amigo, saíra com todas as outras três.


-ei, essa conversa de uma via só não acaba não? Tem uma pilha de relatório pra fazer, sabia?

-shii.. ela tá falando de ir passar o fim de semana no Rio de Janeiro com as Power Puff!

-oqueee??? Como assim, e eu vou sair com quem?- Frazão se aproxima do telefone tentando ouvir a conversa

-Shiii! -Claude se esquiva. - Chérrie, eu tenho de desligar. Estou sem secretária ainda, você sabe... tem um monte de relatório e trabalho chato pra fazer... tá, ligo sim. Outro.. - Faz cara feia, pois Frazão imitava Nara.

-Ha, não sei como você aguenta essa jararaca!

-Frazon, non ouço nada. Diga oque quiser, porque hoje, eu só escuto anjinhos em coro : “open bar”, a mais perfeita desculpa que eu encontro pra sair da abstinência e cair na farra. Ah, e quem resiste as plaquinhas brilhando?

-É Francês, tô vendo que suas promessas de ano novo não valeram muita coisa.

-Que promessas oque?

-Ué, as promessas. Você disse que ia se casar esse ano, ia virar um homem sério, respeitoso, de família. Que não ia mais beber...

-ah, essa última ai é muito forte. Como isso? Eu devia estar bêbado! Bêbado prometendo non beber nunca é serio. Non me cobre isso non!

-Tá. Você nem tava bêbado. Estava feliz. Tinha fechado o contrato com aquela metalúrgica lá, ia começar as obras dos armazéns, ganhar muita grana... e tava se acertando com Nara de novo.

-É eu estava feliz mesmo. E Nara foi mesmo parte importante disso. A mulher de minha vida.

-Ela só estava no lugar certo na hora certa. Você tinha sido chutado, estava triste, carente e bêbado. Ela te levou no bolso, e foi isso. Depois, caprichosa e cheia de artimanhas, ela te convenceu a entrar nessa furada que vocês chamam de “relacionamento sério”

-Ah Frazon, você é muito chato. Pelo menos eu sempre tenho com quem sair, quando eu quero.

-É. Mas o problema é que mesmo quando você não quer, como agora...

- E quem foi que disse que eu não queria?

- quem é que estava ai com cara de tédio, balbuciando “open bar”???


-Frazon, vamo trabalhar, hã? E vê se me arranja uma secretária boa logo, hã?

-Mas a Judite era boa! Você mandou ela ir em bora semana passada nem sei porque. Nara é uma despeitada.

-Era boa... boa só ser for de rebolado, porque de serviço... vou te contar... fiquei aqui até 11 da noite refazendo todo o trabalho que era dela... haja incopetência...

-Ah para de reclamar. No primeiro dia você parecia bem satisfeito.

-Ela era bonita. É verdade, isso impressiona um pouco. Mas dai, vi que era ton burra quanto. Non ia dar certo, Frazon.

-Mas então, oque vai ser? Open bar hoje e secretária competente, mesmo que seja feinha?

-Issi! É até melhor, assim non corro o risco de Nara querer bater ponto todo dia aqui como quando Judite estava na empresa.

-é.. seguindo essa linha de pensamento... Eu voto a favor!



Vamos, vamos Fina!

-Sérgio, não!

-Ah, qualé? Eu te ajudei, você me deve essa!

-Mas amanhã vou levantar cedo e tudo mais!

-Não quero saber, dívida é dívida!

-Eu sei... Mas é que..

-Rosa, por favor? Eu tô imploraaando. A Cleide acaba de me dar um toco colossal, você tem que me animar, que amizade é essa?

-Amanha eu tenho entrevista... e não me olhe desse jeito.Você nem está tão triste assim.
Sérgio faz bico e abaixa a cabeça.

-Tá bem... você tem razão. Me espere ás 8. Vou pra casa me arrumar, tá?

-Êê! Não se atrase ein? Ah, e é por minha conta!

- isso é que é boa notícia! -Rosa sorri indo em direção a sua casa.







-Hoje esse lugar tá fervendo!

-Ah isso nem me interessa, eu só quero beber!

-credo, Claude, assim você me corta o coração. Eu aqui todo feliz, e você com essa carranca!

-Non enche non Frazon. A noite é uma criança.

-criança não sei mas... Ninfa de olhos verdes... - Frazao sorri olhando de cima a baixo uma morena de vestido azul

-Eu vou no bar.

-vá, vá lá... chispa- disse sem nem tirar os olhos da moça que percebeu e sorria pra ele.




-Ai, não devia ter vindo...

-Já vai começar, Fina?

-Calma, Sérgio, eu ia dizer: não devia ter vindo com esses sapatos! São desconfortáveis. Eu mal posso andar, imagina então dançar?

-Ah não! Como assim? E com quem vou dançar?

-Como com quem? Vai chover de mulher louca pra dançar contigo, menino!

-Não me chama de menino... - Sérgio sorri sem graça. - eu sei que sou mais novo, mas não tanto assim, hã?

-Tá bom, desculpa. Agora vamos? Que tal uma bebida pra esquentar?

- ótima ideia.


-Ei, olha ali! É a minha amiga!

-A de Azul?

-É sim!

-Uau... e como é o nome dela?

-Janete.

-Me apresenta?

-Claro! Vem!

Os dois vão andando em meio a multidão que dançava e se espremia na boate, até chegar ao bar, onde Janete estava sentada voltada para a pista. Ao reconhecer a amiga saltou do banco para abraçá-la.

-Ai amiga, isso é um milagre!

-oque? Nos encontrarmos por acaso?

-Não né ? Milagre é você estar aqui, numa balada, e a noite!

-Ei que isso? Oque você tem contra as matinês?

-Nada não... - diz a moça que agora reparara no sorriso largo e convidativo de Sérgio

- Me chamo sérgio.

-Ah, desculpa gente. Sérgio, Janete, Janete, Sérgio.

-Encantada.

-E ai, quer dançar?

-Claro! Você se incomoda, amiga?

-É lógico que não, vao lá. Eu vou pegar uma bebida!

-okay, é só uma e a gente já volta!

-sei... -responde Rosa pra si mesma, pois os dois já haviam desaparecido na multidão.

Ah! A tão familiar solidão.... Corriqueira, rotineira, quase amiga.
Se não fosse tão ingrata....


-É.. hoje o mar non tá pra peixe. - uma voz disse. Real, irreal, imaginária... quem é que sabe, depois de uns 10 drinques?

- Oque?

- Non está... pra peixe non. - um copo bate na mesa e ela levanta a cabeça. Era real. Um homem meio barbudo, meio descabelado. Alto. Ou ela que estava alta demais

- Você... tá falando de que?

-Ai depende... você consegue entender sentido figurado?

-Sim.. eu entendo. Mas porquê?

-Ah que bom. Graças a Deus uma mulher que entende sentido figurado. É que ultimamente... eu non tenho dado sorte.

-Moço, você quer que chame um táxi?

-Non, non precisa non, mas obrigado.

-Você disse que o mar não está pra peixe. Mas eu acho difícil pegar um peixe só no meio de tantos, veja. Esse lugar está um caos.

Por uns minutos os dois ficam olhando para a pista de dança, que estava tão cheia e tão desordenada, que era meio assustador olhar de fora.

-Você... non gosta de multidon?

-Depende. De uma coisa assim, não muito.

-É.. eu também non.

-Então... porque veio aqui?

-Pela bebida. Mas e você?

-Por um caso de dor de cotovelo.

-Pardon, non entendi. Por um caso de quê?

-Meu amigo foi chutado, e queria se animar. - ela da os ombros. Os dois suspiram ainda olhando a pequena multidão se agitar ao ritmo eletrodance

-E quem não foi? - ambos dizem a uníssono. E gargalham como bêbados que estavam.

-Isso foi tão... brega! - Rosa gargalha

- a vida é brega.

-mas essa frase é pop. Muito pop! - ela toma mais uma golada de bebida enquanto o homem a observava mais atentamente.

A moça era meio baixinha, e parecia bem delicada. Ela tinha um pouco de maquiagem nos olhos e batom vermelho nos lábios. Usava um vestido de cetim azul escuro, que naquela luz, ele decidiu que era mais como preto. Pode até ser uma aparência meio comum, mas ela tinha uma inteligencia e sagacidade bem incomum. Era inevitável parar de falar e apenas observar o sorriso dela, a maneira com que ela se movimentava, a forma como seus olhos se ascendiam ao falar sobre qualquer coisa banal...

-Nossa, eu tô mesmo bêbado. - constata o homem, absorto em seus devaneios.

-É eu também! - ela riu novamente.

-Ei, quer saber, quer mais uma rodada?

-Com certeza!



Um zumbido lhe irrita as orelhas, como se as asas de um mosquito preguiçoso voasse lentamente ao redor de sua cabeça, que então, se afunda debaixo do travesseiro. Mas é necessário respirar. Então, acidentalmente, os olhos se abrem e as orelhas percebem que o mosquito é na verdade trim trim numero 3, seu toque despertador do celular, que estava enfiado em algum longínquo lugar pelo quarto.
Se senta num ataque de pânico ensaiado.

-Ei, onde é que eu tô? - ao se fazer essa pergunta, a moça gira lentamente o pescoço, ao perceber que não estava sozinha na cama. Ela precisava achar o celular. Então se levantou. Tomando antes o cuidado de se cobrir antes de saltar por ai, nesse lugar que lhe era estranho. O lençol estava preso sob o peso de um corpo bem maior que o seu, logo, o plano b consistia numa camisa de linho branco com finas e cinzentas listras verticais abandonada num lado da cama.

-Droga, justo branca! -ela abotoa a quase transparente camisa fazendo careta, e procurando o celular ao mesmo tempo.

E depois de longa saga de alguns segundos, o som se esgota e ela não o encontra. Subindo no colchão e olhando para o leito como quem se apronta para pescar um peixe com as mãos, ela se apronta para mais uma demanda, ficando bem quieta. No instante que o som recomeçasse, ela o encontraria na hora.

-Drooga! - o trim trim vinha de debaixo do tórax daquele ser que se esticava sobre a cama, como se seus braços e pernas não tivessem fim. - onde é que eu me meti?


Sem ter outra alternativa, Rosa se debruça sobre o corpo, e estica o braço tentando movê-lo. Mas justo quando sua mão alcança o aparelho de celular, e o desliga, o homem segura seu braço , a derrubando sobre ele.

-ei!- ela se debate

-Mas oque é isso, hã? Non seja ton indelicada comigo... - ele a põe de costas e a encara
-Você non me disse seu nome.

-você também não.

-Claude.

-Bem francês mesmo, né? - ela ri. Ele lhe mordisca a orelha

-Sua vez

-Rosa.

-Que coisa mais típica, hã? Nome de flor é ser ton brasileiro, non?

-Cala a boca.

-Ótima ideia. - Claude a beija. Até que em instantes o aparelho dela volta a tocar, só que com um som diferente. Ela o empurra, que com a surpresa dupla, cai para o lado.

-alô? - diz ela se levantando novamente, procurando suas roupas.

-ei, volta aqui... - se levanta também e a abraça pelas costas. Rosa olha pela janela e sente um frio na barriga. Deviam estar na cobertura do prédio. Era muito alto. E ela nunca gostara de altura.

-Eu já estou a caminho, não se preocupe.... tenho de desligar, tchau.

-Rosa.. oque foi? - ele a encara, percebendo que a moça estava bem séria.

-Em que parte da cidade estamos?

-No Morumbi... mas porque?

-Eu tenho que ir.

-Onde? Quer que eu te leve?

-Não, não precisa. Obrigada. eu... posso usar seu banheiro?

-Claire, fique a vontade.

Ela pega o vestido e a bolsa, e fecha a porta do banheiro. Claude fica parado lá, ainda olhando para a porta. Porque tinha vontade de estar lá com ela? Que coisa era essa? Ela era só mais uma.. simples assim. Mal se conheciam e foi tudo tao... confuso. Estavam bêbados e meio deslocados. Foi natural.

-Droga, acho que foi totalmente natural. Tanto que fomos irresponsáveis.. mas non quero ser indelicado com ela..e ela pode se ofender.. ia ser ton...


-Eu já estou indo... - ela reaparece do banho, fresca como se estivesse acabado de se arrumar pra sair pela primeira vez.

-Como fez isso?

-Isso oque?

-Nem parece que acordou a pouco.. está ton.. perfeita, alinhada.. - ele pisca pra ela, se aproximando. Ela dá um sorriso que faz as pernas dele tremerem. Os dois se beijam um pouco, até que o celular de ambos tocam, deixando-os atônitos com o barulho que quebrara o silêncio e a calma da manhã . Era uma quarta feira bem agitada, aquela.

Rosa se despede dele com um selinho e sai correndo. Precisava estar com dois cafés da Starbucks nas mãos em meia hora, em frente ao prédio de seu futuro emprego. Não teria erro. Estava tudo planejado. Sérgio e Janete lhe deram todas as coordenadas, o emprego já era seu.

-O elevador abre em cinco, quatro... - ela olhava o marcador na parte superior da porta do elevador. Estava com a pasta, e os cafés. Era só dar os dois passos desajeitados mais ajeitados de sua vida até aquele momento.


Frazão dá um sorriso, mesmo estando de óculos para disfarçar a ressaca iminente. E nem conseguira falar com secretária de olhos verdes direito. Um malandro dançou com ela a noite inteira! Devia ter se juntado a Claude e beber bastante, como “a noite dos cornos”. Mas viu que o amigo se dera melhor que ele, e em nome da amizade e da esperança do francês largar a jararaca ruiva, ele se manteve longe do amigo e sua acompanhante baixinha e sorridente, que ele mesmo mal notara.

-Bom dia! - uma voz feminina diferente das abituais soa pela recepção e Frazão se vê obrigado a olhar para trás. A secretária de olhos verdes apontava pra ele e ele quase acreditara que era com segundas intenções, até reparar na moça, dona da voz, parada de pé em frente a mesa com dois cafés nas mãos.

-doutor Frazão?- a moça sorri

-oh, meu Deus, isso é pra mim? Você veio voando do céu, é isso? Venha, vamos fazer essa entrevista já, porque é urgente, minha mais nova musa!



Claude chega duas horas depois, menos mau humorado do que estaria num dia como aquele, tão cheio e com toda aquela enxaqueca que sentia. Porém, também estava mais pensativo que o normal.

-doutor, sua namorada ligou pra cá agora pouco para avisá-lo que só voltará na próxima segunda.

-Obrigado, Janete. - sorriu pensando “ enfim, uma boa notícia!”- Algo mais?

-Doutor Meneses disse que a reunião pra sexta de manhã está confirmada, e me mandou o endereço do restaurante.

-okay. E as planilhas?

-Metade estão prontas, e a outra metade está com Gurgel. As prontas estão em sua mesa, doutor.

-Tudo bem enton, Janete, obrigado. Non repasse ligações antes das 14 horas, okay? Estou com dor de cabeça, non posso atender ninguém assim.

-sim senhor.

-Onde está Frazon?

-Em entrevista com uma candidata a secretária, doutor.

-Ah. Enton, quando ele terminar, peça que vá a minha sala.

-Ok.


Frazão se impressionara com aquela moça. Ela era atenta, firme, e tinha um currículo bem acima do nível de suas concorrentes. Era ela, com certeza. E como Claude lhe dera carta branca...

-Faz assim, passe no D.P, e comece na sexta, oque acha?

-É sério?

-Seríssimo!

-Doutor, muito obrigada! - eles apertam as mãos.

-Eu é que agradeço! - sorri aliviado. Menos um problema! Ele acreditava estar diante de sua possível substituta no quesito “resolver casos sem solução” e “tratar dos urgentes e desesperados casos de desespero”. Os dias péssimos seriam só ruins. Ela era como doutorzinho pra seus músculos cansados, o reumatismo da empresa agora seria tratado por pequenas mãos ágeis que assinara o contrato e lhe agradecera com um firme aperto.

-Ai ai, a vida é bela... - Frazão sorri observando a moça entrar no elevador. Janete percebe o olhar dele e derruba um peso de papel, bufando em seguida. Frazão alarga o sorriso pensando no quanto ela se incomodara. O plano havia funcionado. A musa de olhos verdes não lhe era alheia.


-Fina, onde você esteve?

-Isso é o de menos, Terezinha, o importante é só uma coisa!

-Oque? Você e o sérgio estão juntos?

-Não! Mas que ideia!

-Então oque?

-Eu consegui o emprego, irmãzinha!

-Jura?- Terezinha sorri

-Sim! Sua irmã está empregada novamente! E em tempo recorde!

-Fina, estou tão orgulhosa de você!

-ei, essa fala é minha, hã? Eu sou a mais velha! -

- E começa quando?

- Na sexta!

-Que ótimo! Ai, graças a Deus!

-É sim. Ainda bem que deu tudo certo. Estava com medo de passar por tudo aquilo novamente, ter de ligar pros nossos pais, e dizer que não tínhamos dinheiro de novo...

-É. mas isso não vai mais acontecer. Deu tudo certo!


-E enton, Frazon, ela é boa?

-Muito boa, amigo! - Frazao esfrega as mãos.

-Mas de novo isso, Frazon?!

-Calma Claude. Não é duplo sentido não.. quero dizer, até é. Porque ela é boa no sentido ambíguo também.

-Mais essa... não é analfabeta funcional como a Judite, é?

-Ah não. Essa é técnica em ADM, e também tem inglês fluente. Trabalhava pra concorrência até 15 dias atrás... saiu de lá por que o pai adoeceu e ela precisou ficar com ele, perdeu 10 dias de trabalho e foi demitida. Está tudo formalizado. Trouxe até o atestado...

-Nossa. Comovente.... Mas... pelo menos nós saímos ganhando duplamente. Além da escolaridade, a experiência dessa mulher, mesmo que for um tribufu.

-Não é tribufu não, amigo. Aliás... é um caso a se pensar...

-Ei, nada disso Frazon. Essa parece ser dessas que processam por assédio e toda a histeria que uma cantada quase inocente sua pode gerar.

-Pois eu digo que ela se sentiria lisonjeada. Eu não tenho culpa se você não sabe como tratar uma dama.

-A dama no caso é a secretária?

-Eu é que não sou, né?

-Ah, chega de falar da secretária.

-Ei, e ontem?

-Ontem oque?

-A baixinha lá. De cabelo comprido... como foi?

-Foi ué.

-Foi?

-Oui. Porque? Você não conseguiu nada com a sua “ninfa de olhos verdes”?

-Nem me fale dela. Um sujeito lá dançou com ela a noite inteirinha. E você lá com sua baixinha, e depois me deixou sozinho. Mas como você sabe, eu sozinho não fico..

-Foi pra casa dormir? - Claude zomba

-Não, né.

-Sei.

-Não vai mesmo me falar da baixinha?

-Que interesse todo é esse?

-É que eu quero medir o “seu” interesse nela. Pro caso de rolar um telefone e tudo mais.

-Mas oque é isso Frason? E nosso pacto?

-E que pacto? Sou de todas, meu amigo. Sem exessões.

-Que amigo fui arrumar, viu... vou te contar...

-E o telefone?

-Ein?

-O telefone, da moça de azul.

-Essa era a tua. Como vou saber?

-Não ,não. A tua, a baixinha. O vestido dela era azul marinho.

-Que bixisse Frazon! Pra mim era preto. Mas no fim nem importa. E non tem telefone non, ela saiu correndo.

-Como assim?

-De manhã... Ela recebeu uma ligaçón e saiu correndo. Deve ser coisa de trabalho, non sei. Mas se estou certo, e sempre estou, ela vai dar um jeito da gente se esbarrar de novo... - Claude dá um sorriso malicioso.


-Então, pela sua alegria, vejo que a noite foi mesmo incomum. Você nunca gosta que te procurem de novo...

-É. Foi incomum sim... ela é incomum...




-Então Fina, o patrão hoje está fora, e pelo jeito nem virá aqui hoje. Então, podemos aproveitar o dia pra você se adaptar e surpreendê-lo na segunda!

-Isso parece genial, Janete! Ah, oque seria de mim sem você?

-Seria a mesma Serafina brilhante e maravilhosa que é, amiga. Bom, essa parte não é nada demais. É só a papelada que o doutor Frazão redige , você edita e o doutor Geraldy assina tudo.

-Entendi. É mais ou menos como na North White. Com a diferença que aqueles americanos lá são muito chatos me sobrecarregavam o tempo todo... espero que aqui não seja assim..

-Fica tranquila. Sobrecarregar só em sazonalidade muito muito intensa. Mas de resto o serviço é pesado, mas dá pra levar normalmente, sem estresse. A parte dos balancetes financeiros também passa por nós duas. O lançamento deles no sistema é feito pela secretaria, mas o controle primeiro passa pro doutor Egidio e depois pro doutor Geraldy. Olha amiga, nunca esqueça de repassar, e tem de conferir tudo antes, okay?

-Tá bem. Na North White eu é quem recalculava os balancetes.

-Ual.. bom, pelo menos aqui não é tanta responsa nas suas costas. O revisamento é feito pela diretoria direto, do jeito que vem do financeiro. Mas temos sempre que conferir as datas e os valores brutos. Mas isso você tira de letra, como sempre!

-Amiga, eu sou segunda secretária, né? Quero dizer, eu sou nova aqui, e vou estar debaixo de sua guarda, certo?

-Bom... como só temos três acionistas, essa de primeira e segunda é desnecessária. Eu vou te supervisionar só um pouco, quem vai fazer isso mesmo é o doutor Frazão. E depois, você tá na vaga da Ana, a antiga secretária do patrão, o dono da empresa, que é o doutor Geraldy. Mas ela se casou e foi morar no interior do estado. Depois veio a destrambelhada da Judite, que não ficou nem dois meses. Além da incompetência, era uma mocreia e vivia dando em cima do patrão e foi despedida, porque a namoradinha do patrão a odiava.

-Nossa.... Mas e porque você diz “namoradinha”?

-Ah porque é o que ela é. Ela se diz noiva do doutor, mas na verdade é só um relacionamento grudento.

-Ué, se são grudentos, o noivado é plausível...

-Não... ela é grudenta. O patrão fica sempre muito aliviado quando ela viaja, quando ela o deixa respirar!

-Credo... que esquisito. Porque ele não termina com ela, então?

-Acho que ele tem medo de ficar sozinho. Eles são do mesmo nível social, oque dá certa segurança pra ele como homem...

-Como assim?

-Ele só encontrava moças interesseiras, oportunistas... Dessas que só querem saber de dinheiro. Daí conheceu a atual. Bem num dia em que ele estava chorando as pitangas por causa de uma “desalmada” aí. Uma modelo linda linda, só que tão ambiciosa que partiu o coração dele. Foi a única que ouviu sobre casamento da boca dele. Acho que a verdade é que ele se fechou, e esta com essa moça só por carência.

-Mas ele é fiel?

-haha, oque? Fiel? Só cachorro, gato e periquito, amiga! Ele continua o mesmo, eu te disse. Esse namoro, como eu te falei, é só uma questão social. Por isso é que ele não termina.

-E ela não sabe disso?

-Claro que sabe. Mas finge que não vê. Ela também tem asinhas e voa pra todo lado. Além do mais, é filha de um dos sócios, e se os dois terminassem, as coisas iam ficar instáveis aqui na empresa.


-Instáveis do tipo... Perda de capital?

-Isso com certeza. Doutor Egidio só tem ela de filha, e é o interlocutor da maioria dos investidores... tem uma longa e sólida carreira de engenheiro e conhece muita gente influente e importante. Seria uma catástrofe.

-Nossa... que horror. Então, pelo bem da nação, vamos paparicar a pobre menina rica e usar óculos de sol pra não sermos pegas olhando pro bibelô dela!

-Sim, sim! Mas agora, vamos almoçar?

-Com certeza, tô morrendo de fome!




-Ah Finalmente é sábado!

-E com Nara no Rio, eu tô sossegado!

-Depois diz que é a mulher da sua vida. Não aguenta ficar com ela por perto.

-Ah mas isso é a minha maneira de viver. Eu preciso de espaço, hã? É só isso.

-Ela que é grudenta. Como uma mulher grudenta pode ser tua alma gêmea?

-Olha Frazon, ela é grudenta as vezes. Porque noutras, como agora, ela adora viajar. Oque significa liberdade pra o menininho aqui. Que outro relacionamento seria melhor que isso?

-Isso quer dizer “relacionamento aberto”, é isso?

-Non, claro que non. Isso quer dizer que eu posso respirar.

-Ah tá, e ela? Se os dois “respiram outros ares”, isso significa relacionamento aberto, meu bem.

-Non confunda os termos Frazon. Nara é uma mulher mimada. Ela gosta de passar o dia em spa, ou tomando sol numa praia ou na piscina, comprar e essas coisas. Isso non significa que ela vai sair por ai pegando todos non... já pra mim, por outro lado...

-Então, em sumo, isso não tem nada haver com amor. Muito menos o amor da sua vida, amigo.

-Frazon, isso ai é coisa de novela, hã? Deixa essa parte pra Robertinha, que ela entende bem. Isso aqui é vida real, hã?

- O que significa que você falar que Nara é a mulher da sua vida é na verdade baseado na relação “menos pior” das que você teve antes.

-É uma questão prática. Ela estava lá disponível, era filha do meu sócio, estava tudo nos conformes.

-Isso é tão broxante. Que coisa de interessante realmente esse relacionamento pode ter, Claude?

-Algo como um fim de semana inteiro de vale night, meu bem.

-Ih sai pra lá com essa de “meu bem”. Você não faz meu tipo.

-Cala a boca, imbecil.

-Olha, eu acabei de me lembrar que marquei com uma morena espetacular hoje pra almoçar...

-Ei como assim? E eu?

-Você oque? Se liga, ô! Onde que vou deixar uma morena linda de morrer como a Kelly esperando?

-Tá bom, já entendi. Você tem todo direito. Non tem culpa de Nara ter viajado. Se ela tivesse avisado com antecedência...

-Mas e a baixinha?

-Oque tem ela?

-Ligou ou alguma coisa?

-Non... Também, ela nem sabe meu nome direito...

-Mas você levou ela no seu apartamento não foi? Ela pode ter deixado algum recado..

-É... aliás, vou ligar agora mesmo pra casa e perguntar à Dadi.

-Você podia dividir ela, né?

-Oque? Frazon, que história é essa? Tá maluco é? Dividir a mesma mulher com você? Daqui a pouco vai me aparecer atrás de Nara também!

-Ai, cruz credo, francês. Atrás daquela lá, nem que fosse a ultima mulher no mundo! Mas eu nem tava falando da baixinha, ô mente poluída. Tava falando de Dádi, a governanta, hã? Ela faz umas comidinhas maravilhosas... você podia era me emprestar ela dia desses..

-Ah. Mas aí é que eu não divido mesmo. Imagine. Dadi é só minha, hã?

-Francês, você é um possessivo desalmado e machista também.

-Machista? Mas no que se encaixa essa afirmaçon?

-Ué, só você pode sair com outras pessoas e Naja, digo, Nara, não pode... e ainda reclama dela.

-Frazon isso é problema meu, tá?

-Ah quer saber? Já vou.

-Vai, vai, mesmo, amigo da onça!

-Um dia você ainda vai agradecer aos céus o privilégio da minha amizade seu desalmado. Olha eu desejo a você meu amigo, a melhor das coisas pra curar sua amargura: que se apaixone de verdade, e dez vezes mais do que se apaixonou pela estúpida da Camila. Aquela mulher era uma cobra ainda mais venenosa que Naja, digo, Nara. Mas você precisa botar um freio nisso, amigo. Cara, mulher é bom, mas elas tem sentimentos também. Nem todas são como a sua ex ou a sua atual, que é tao interesseira quanto. Querido, viva direito, Claude! Ó: respira, inspira, e vai!

-Vai continua! Non tem mais? Vou aproveitar e filmar, fazer um site na internet: “Frazon, o guru do amor.”

- Agora me desinspirei. Mas ainda tá valendo, ein? E minha palavra é pior que de mãe, é pá pum!





Eu sei, eu sei. Mas prometo que chego cedo, irmanzinha.. vai, deixa eu ir?

-Tá, tudo bem. Além do mais, você é maior de idade. Mas vê lá, ein? Não vai se meter em problemas, hã?

-Euzinha me meter em problemas? Que isso Fina, até parece. Você é que é mestre nessa arte.

-ah, pior que tenho de admitir dessa vez... mas então me prometa que não fará oque eu faço, hã?

-hahaha prometo.. mas e ai? Você vai ficar aqui sozinha?

-Não sei bem... mas acho que é provável que eu saia com o Sergio.

-Ah, jura?- a garota revira os olhos- Nem imaginava...

-Terezinha! E isso é só porque ele quer ver minha amiga do trabalho de novo...

-Sei... a que você supostamente dormiu na casa, na terça?

-Supostamente?...

-Você mente muito mal, irmãzinha. Mas vou fingir que acredito. Bom, tá na minha hora!

-Cuidado, hein? E mesmo se eu não estiver aqui, dona Joana ficou de olhar a que horas você vai chegar, viu? Então nada de tentar me enganar!

-Outra vez Fina, eu tenho de discordar dessa inversão de papéis.

-Mas eu sou a mais velha!

-É .. só que... - Terezinha ia se gabar de ser mais sensata, mas alguém bate na porta - ah, é o Milton.. Boa noite, Fina!

-Boa noite, Terê. Juizo, e olha a hora viu!

-beijo!- se despede da irmã, que revirava os olhos sorrindo.


Claude... porque não conseguia se esquecer dele? Do sorriso, da voz profunda, do jeito solene e malicioso ao mesmo tempo? Da temperatura do corpo dele ou de como a olhou? O último beijo que trocaram...

-Esquece, Serafina. Esse cara é só um mauricinho típico, morando num arranha céu e enchendo a cara rotineiramente. Ah Dio mio, ayuta!

-Fina!

-Já vou, Sérgio!

Os dois caminham até o ponto de ônibus. Sérgio não parava de falar e fazer perguntas sobre os gostos de Janete. Rosa achava engraçado todo o interesse dele na amiga. Mas entre uma pergunta e outra, ela se perdia a pensar sobre o tal “Claude”.

-Olha, é o nosso! - uma voz seguida de um som de motor e o vento vindo do movimento do ônibus a despertaram do transe. No trajeto, Rosa pensara em como sua vida estava diferente do que ela imaginara. Se os pais ainda vivessem ali, com ela e a irmã, as duas teriam uma rotina bem diferente. Perderiam e muito a liberdade que tinham agora.
Mas ela preferiria que tudo fosse como antes. Quando seu pai era um senhor tão forte e saudável e cheio de vida. Depois da doença nos pulmões, fruto de tantos anos respirando poluição ao vender balas junto à rodovia em frente à uma escola, nunca mais fora o mesmo. Ir para o interior foi com certeza a melhor das ideias, oque acelerou e otimizou a recuperação de seu pai tão amado. Mas oque ele diria ao ver suas filhas saírem a noite, e naquela frequência? Ou saber que depois do noivado mal sucedido com Júlio, Rosa não se guardara mais?

-Tudo bem que foi só naquela noite... mas...

-Oque disse, Fina?

-Nada! - Rosa se espanta ao perceber onde estava.

-vem, é aqui que a gente desce.

A boate dessa vez era bem diferente da outra. Tinha bem menos pessoas, era mais como um lounge bar. Com uma cantora ao vivo, e mesas decoradas com um jarrinho contendo uma rosa dentro de cada um.
Rosa reparou no pianista careca e rechonchudo, vestido impecavelmente, apropriado ao estilo do jazz que tocava. A cantora, negra e glamourosa, se contorcia na mais envolvente apresentação que presenciara.

-Nossa... esse lugar é tão...

-Ual..

-Eu ia dizer elegante. Mas “ual” define.

-A Janete... tá ainda mais linda..

-ela sempre está linda, Sérgio.

-Quem sou eu pra descordar.

Entre os olhares do casal, Rosa se acomoda na cadeira de madeira alcochoada de um tecido verde aveludado. Tentava se distrair e olhar as pessoas ao redor. Mas era tudo tão calmo e tao romantico que ela precisou pedir licença e ir tomar um ar do lado de fora.

Se lembrou de quando Júlio a pedira em casamento... foi num lugar como aquele. Um pouco mais simples e sem a figura da cantora. Mas havia um pianista tocando Blues e cadeiras acolchoadas. Havia tambem um anel de prata e champagne.

-Com licença, por favor? - uma voz soa ao mesmo tempo que mãos pousam em seus ombros, como quem pede passagem. E ela estremesse ao reconhecê-las. Não apenas a voz, mas também as mãos. Ela chorou por dentro. Preferia nunca mais vê-lo.

-Perdão. - Rosa dá um passo para o lado sem se virar, para ceder a passagem. Permanece de cabeça baixa, rezando para que o moço desaparecesse de repente, assim como chegara.

-Non, Rosa, eu non quero passar. - ele suspirou, ainda tendo as mãos nos ombros dela, que se retesou ao ouvir seu nome.

-Claude... - ela finalmente se virou para ele, que a surpreendeu com um beijo urgente.

-Eu sabia que a gente ia se encontrar de novo!

-Ah é? E como? Colocou um rastreador na minha bolsa, foi?

-Non...- ele sorri, sentindo um borbulhar no estômago. Ela era tão esperta! E a forma como ela se encaixava a ele, o olhar... - mas non seria má ideia, hã?

-O que faz aqui? Está com alguém? - ela suspira

-Na verdade non. Sou um solitário, sabia?

-Ah, finjo que acredito.

-E você, está acompanhada?

-Estou de vela. Um casal de amigos me obrigou a vir. Disseram que ia ser legal, mas a única coisa legal aqui é que tem cadeiras com veludo e uma cantora de Jazz.

-Ah, tadinha. Mas e a bebida, é ruim?

-Meio cara. E também, depois daquele dia, prometi não beber mais.

-Fez promessa a qual santo? Nossa senhora dos desesperados?

-Quase isso.

-Se arrependeu?- ele pisca, ainda a abraçando.

-De quê?

-De mim.

-De você? - ela sorri, ele acente divertido. - ainda não decidi.

-Que bom. Enton, ainda há esperança.

-Esperança de quê?

-De você aceitar sair comigo de novo.

-E a gente já saiu junto antes?

-Bom, aí depende do seu ponto de vista. Falar nisso, tive uma ideia... - ele sorri e a olha de forma enigmática

-O quê? Que ideia?- ela pisca sem entender. Claude a beija

-Só... vem comigo?

-Pra onde?

-É uma surpresa. Vem? - ele faz biquinho e cara de cachorro sem dono. Os dois sorriem um olhando nos olhos do outro.

-Tá... vou pegar minha bolsa.

-yes! - ele ri. - ei, Rosa?

-hum? - ela se vira pra ele, que a surpreende com outro beijo

Rosa não se lembrava do carro dele, nem de como fora parar no apartamento naquele dia. Mas se lembrava de ele olhar para ela a cada semáforo. Lembrava de seu anel prata e vermelho no dedo médio da mão direita, do cabelo sempre bagunçado...

-Chegamos!

-Que lugar é esse? - Rosa o olha desconfiada. Era um prédio parecido com oque ela trabalhava, mas tinha uma fachada diferente.

-A princípio, um prédio comercial. Mas é o que tem lá em cima que quero te mostrar.

-Não tô gostando do tom da conversa...

-Calma. Você vai gostar, eu prometo. Vamos?

-Já estou aqui mesmo... então vamos...

os dois entram num elevador de vidro. Rosa detesta aquela sensação e estremece. Claude discretamente segura sua mão, e vai se aproximando dela gradativamente. Quando ela percebe, está abraçada a ele, que a conduz por uma sala de restaurante pela cintura, e pede uma mesa perto da janela, que na verdade consistia numa enorme vidraça , de onde se tinha a mais explêndia visão da avenida Paulista.

-Nossa.. esse lugar é incrível!

-Você é incrível. - Claude a encarava, que sem graça responde

-Não, Claude. Eu sou uma mulher simples, de coisas simples. Não tenho nada de estraorinário. E provavelmente, não sei nada de que você não saiba.

-Ai é que se engana. Não sou tolo a ponto de subestimar alguém como você. Tenho certeza de que você é uma mulher excepcional. E acredite, eu sei oque digo.

-Bom, acho que deve mesmo ter bastante experiência no assunto. Agradeço, mas ainda discordo, para ser franca.

Os dois se olham comicamente, como se disputassem algo, mas de forma divertida. Até que um mâitre chega e Claude escolhe um vinho para ambos.

-Você é uma má influência. Eu estava indo bem com minha promessa. E agora veja só!- Rosa levanta a taça

-Ah, mas é só hoje. Tenho de te impressionar com alguma coisa... e se tem algo que eu conheça a ponto de me gabar, é vinho, hã?

-Não tem de me impressionar, Claude.

-Mas claro que tenho! Seria non fazer papel de homem, hã?

-Os homens são idiotas se acham que isso é que vale.

-Sabemos que não vale. Mas gostamos de ver vocês sentirem pena de nós e que nos consolem com beijos carinhosos, hã?

-Mas vejam só! - Rosa gargalha.


Havia uma pequena psicina decorativa, com luzes que refletiam no teto de pé direito bem alto. Uma mesa de quatro cadeiras e duas poltronas do outro lado. Mas os dois tiveram vontade de estar no confortável divã, e os dois ao mesmo tempo.

-Você vive aqui sozinho? - Rosa pergunta olhando as formas fantasmagóricas que a água refletia ao longo da parede até o teto.

-Na verdade non. Tenho dois empregados e um motorista que estão sempre aqui. Além de meu melhor amigo, que é como um irmom.

-Hum.. - ela o observa. Ele parecia pensativo

-Porquê? Tá pensando em vir me fazer companhia?

-Mas oque é isso?- ela ri, incrédula- Tá pensando oque de mim, hein? A gente mal se conhece... -

-Bom... se existe um estágio de intimidade mais avançado do que oque estávamos a pouco..

-Claude! - ela bate no peito dele com o punho. E ele lhe morde o lóbulo da orelha como punição.

-Non estou mentindo, estou?

-E além do mais, mesmo que eu quisesse isso. Você está em um relacionamento, esqueceu?

-Non é bem um relacionamento.

-Ah não, é?

-Bom... é um relacionamento.... enrolado. - ele sorri

-Que cafageste... - Rosa ri. Mas se recrimina por estar ali- Acho melhor eu ir.

-Ei, mas claro que non. - ele a puxa de volta

-É sério, Claude, eu tenho que voltar pra casa...

-Mas amanhã é domingo.

-É... Mas algumas pessoas trabalham no domingo, sabia?

-Você non.

-Como você pode ter certeza?

-Você non parece ser dessas que cometem o mesmo erro duas vezes. - Ele sorri e Rosa revira os olhos

- Mas cá estamos, não é?

- Acha que isso foi um erro?

-Provavelmente. Mas foi bom errar com você. - ela sorri e Claude lhe pisca

-Teve problemas, naquele dia? Você parecia atrasada.

-E estava. Só que deu tudo certo.

-Você é a garota do “sem problemas”.

-É... Quase. Nem sempre dá certo.

-Quer subir?- ele a encara

- Se eu disse que tinha que ir... - ela choraminga. Mesmo se sentindo tentada.

-Você non tem non... seja sincera. Escolha ficar aqui comigo...

-Claude... - Ela resmunga. Ele passa a beijar-lhe o pescoço

-Non seja malvada. Venha me consolar.

-E a mim, quem vai consolar quando eu acordar aqui e ver que não devia ter vindo?

-Eu vou. E irei convencê-la do contrário, eu prometo.

-Tem certeza? Acho que vou gravar isso. Porque se amanhã você quiser me expulsar ou coisa assim...

-Non diga bobagens. - ele sorri- No máximo eu te amarro ao pé da cama pra você non ir em bora.

-Ah, acho que vou em bora agora.

-Calma, bobinha, estava só brincando. Fico feliz em ver que non é como a maioria por aí. É independente, e livre.

-É eu sou. -uma sombra passa no olhar dela

-O que foi? - ele levanta a cabeça dela pelo queixo- falei alguma coisa errada?... quero dizer, muito errada, que te ofendeu?

-Não... - ela sorri sem graça. - não liga, não tem nada haver com você... é só...

-É só...

Rosa o olha por algum tempo e, mordendo o lábio o pegou pela mão e os dois caminharam até as escadas. De lá Claude a levou nos braços para o andar de cima.


Quando o despertador toca, Rosa o desliga imediatamente. Teve a sorte de ele estar bem perto, no criado mudo. Mas então percebe que algo a segurava. Algo como dois braços envoltos em sua cintura. Ela ficou séria. Mas em seguida se permitiu sorrir. E o mais de vagar que pôde, virou-se para Claude que ainda dormitava.
-Bonjour... - ele lhe beija o pescoço

-Bonjour... - ela ri da voz dele e aquele tom solene de mordomo.

-Pode me prometer uma coisa?

-E já começa o dia assim, meu garoto das solenidades? Com promessas?

-Oui, minha garota do sem problemas.

-Oque quer que eu prometa?

-Que non vai me deixar aqui sozinho de novo.

-Mas que isso? - ela ri- que carência toda é essa? É melhor você acordar, tomar um café bem forte, e aí vai se dar conta da tremenda bobagem que tá dizendo.

-Porque?

-Você não ia querer passar tanto tempo comigo. Eu sou bem chata.

-Ah, é? - ele a abraça mais forte, e ela suspira

-Na verdade, é ainda pior do que parece. E eu não sei cozinhar tão bem...

-Non importa, eu sei. -Claude lhe pisca um olho e ela levanta as sobrancelhas

- E nem sei lavar roupas sem manchar de alvejante.


-A gente leva na lavanderia.

Os dois riem, e se encaram. Se beijam e Rosa se encolhe no abraço dele.

-Como ela é?

-Quem? - responde de olhos fechados, já imaginando oque se seguiria.

-A sua namorada.

-A minha...

-Não sei como chamar o seu rolo. Seria a sua enrolada? - ela ri

-Non seja ton maldosa. Até parece que ela non fica com mais ninguém.

-E você não se importa?

-Na verdade non sinto ciúmes, exatamente. Non é que eu goste de ser corno, mas é que non sinto nada por ela e provavelmente nem ela por mim.

-Ela também é corna, se pensar bem. - Rosa revira os olhos- E também não entendo o fundamento de ter um rolo assim

-É mesmo complicado... até de explicar.

-Hum.. Quer ovos mexidos? Isso eu sei fazer!

-É mesmo? Vai me fazer café e tudo?

-Ei! Ninguém aqui falou em café!

-Mas ovos sem café...

-Esperava voluntários... - ela pisca, e ele a levanta junto com ele, a levando no colo

-Vamos fazer assim, primeiro um banho, depois o desjejum, hã?

-Parece sensato, senhor. - ela sorri, se dando conta de que vestia outra camisa dele, só que essa era azul clara e lisa.

-Non fale assim, parece minha professora da faculdade.

-É advogado?

-Non.

-Entao oque?

-Você terá de adivinhar...

-ah não tem graça!


Os dois descem, e tomam café em meio a sorrisos e beijos. O celular de Rosa toca. Terezinha querendo saber onde ela se metera. As duas prometeram almoçar na casa da mãe de Miltom, e a moça estava possessa por a irmã não estar lá ainda.

-O que foi? - Claude a observava

-Era minha irmã. Esqueci que hoje fiquei de almoçar com a sogra dela..

-Ela é a mais velha? - ele a puxa para seu colo

-Até você?

- Eu oque? - ele sorri

-Ela é mais nova que eu quase dez anos, ouviu? Não sei porquê dessa mania de dizerem que eu sou a caçula. Nem sou tão desmiolada assim!

-Non te acho desmiolada. Mas ela parece ser a mandona da família, hã?

-Isso é verdade. É bem coisa de caçula, ser mimado e ter isso de “agora, porque eu quero”. - Rosa revira os olhos sorrindo. E ele lhe dá um selinho

-Oui..

-E você não tem irmãos?

-Non... non tive essa sorte..

-E acha isso sorte? Dizem sempre que é melhor ser filho único...

-Talvez... mas quando se tem primos.Mas no meu caso, sou filho único de filhos únicos... meus pais se foram e eu fiquei só.

-Nossa... tadinho! - ela toca o rosto dele e faz biquinho, numa zombaria tão branda que ele sorriu e a beijou

-Sabia que você foi a única pessoa que non me deixou com pena de mim mesmo por isso?

-Eu sou a garota do sem problemas.

-É sim. - Claude acaricia os cabelos dela, que o beija repetidas vezes

-Acho que agora é oficial. Tenho que ir.

-Non vai nem me deixar te levar em casa?

-De jeito nenhum. Você não sabe oque são meus vizinhos. São como medusas com vinte cabeças e com veneno em dobro.

-Nossa, acho que eu non ia querer conhecê-los, né?

-Não mesmo.

- Non estou convencido.- ele sorri e faz cara de incrédulo,

-Ficaria surpreso ao ver que falo sério.

-Está me enganando.

-Não.. -ela ri da birra dele e o beija

-Nos veremos de novo?

-Eu prometo

- Me disseram para non confiar nas mulheres.

-Eu te digo o mesmo. - ela lhe pisca e ri