sábado, 12 de setembro de 2015

Crônicas de URCA- Pensando em você




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    -Eu entendo...
    -entende?
    -Sim. Você queria vê-la. Estava com saudades dela... entendi.
    -Mas... non...non foi isso que fui fazer lá....
    -Que outro motivo te levaria a uma visita a essa hora... e as escondidas?
    -As escondidas?
    -Sim. Você mentiu pra mim. E sem a menor necessidade.
    -Non Serafina, non!
    -Não oque?
    -Você está distorcendo as coisas... - ele passa a mão pelos cabelos num gesto desesperado. Rosa esboça um sorriso nervoso.
    -Distorcendo? Claude você não se preocupou com o que eu pensava antes, porque se preocupar agora?
    -Eu fui até lá pra....
    -olha só quer saber, eu vou subir. Você não me deve explicações. Eu não quero saber oque você foi fazer lá, faça-me o favor... - ela começa a andar em direção as escadas. Claude entende oque estava prestes a acontecer, então solta o ar pesadamente.
    -Espera, por favor... - Ele a segura por um cotovelo. - Entendo que non queira saber oque eu fui fazer ou ouvir uma explicaçon... mas …- Claude procura seus olhos- Eu quero, eu preciso te explicar, hã?
    -Tudo bem. - ela se solta num suspiro. - Sou toda ouvidos.
    -Primeiro, venha até aqui...- ele a conduz até o sofá onde ambos se sentam.
    -Eu... peço sinceramente pardom por non ter te contado... - ele segura suas mãos tendo a cabeça baixa... Rosa sente vontade de abraça-lo e niná-lo como a uma criança. Zomba discretamente de si mesma com um sorriso.
    -E então?
    -Fui até lá porque eu estava confuso... hoje mais cedo recebi provas bastante condizentes de que Nara está mesmo por trás de tudo isso que tem nos acontecido... Eu... sei que você está sempre certa... mas.. Rosa... eu estive envolvido com ela por quase dois anos... Nós... noivamos por presson... mas... esperava realmente conseguir me acostumar a ideia de casamento. Nós passávamos tanto tempo juntos... Non entendo porque ela quer me prejudicar. Essa situaçon me deixou muito intrigado...
    -Você não percebeu que ela tem um caráter questionável?- Rosa zomba e sorri discretamente em triunfo
    -Acho que finalmente entendi oque isso quer dizer... Me sinto bastante desconcertado... - ele a encara
    -Ela te deixa desconcertado, não é mesmo? Frasão sempre diz isso.
    -Non mais do que você.
    -Eu oquê?
    -Você... Serafina. Você me deixa mais desconcertado do que qualquer pessoa no mundo. - ele sorri.
    -Que cara é essa? Isso não soou muito bom, sabia?
    -Non é bom mesmo. Non pra mim. - ele a olha de forma enigmática
    -Mas então porque não me disse que ia até lá?
    -Eu... fiquei constrangido...
    -Quer dizer que sentiu vergonha?
    -Oui... - ele suspira em rendição- como eu diria a você que odeia Nara, tanto quanto ela a odeia, que ia visitar pra ter uma conversa séria com ela?
    -Você sabe que eu não permitiria que você se exposse tanto, né?
    -Eu non me expus...
    -Não. Você nos expos. Porque a americana está nos vendo como um casal cheio de deficiências. Frágil demais pra ser real. Ela simpatiza comigo Claude. Acha que sou muito ingênua... A ponto de querer me proteger até mesmo de você.
    -Mon Dieu... - Claude bagunça os cabelos.
    -Eu sinto muito por tudo oque está acontecendo... sei que sou a pessoa que está entre você e o amor da sua vida... e de uma forma tão... excêntrica né. mas... é circunstancial... Você me pediu pra estar aqui, e mais de uma vez, lembra?
    -Serafina, por favor...
    -Você se colocou aqui Claude. Ou melhor, você me colocou aqui. Porque quer me deixar ainda mais desconfortável do que já estou? Me culpar?
    -Eu non quero isso...
    -não é oque demonstra. As vezes você age e diz coisas que denunciam esse pensamento.
    -Me perdoa, por favor...
    -está tudo bem, Claude. Olha pra mim?
    -Me perdoa... - ele a encara.
    -Eu sinto muito por tudo isso. Eu só queria te ajudar, lembra?
    -Me perdoa... - ele estava chorando. E Rosa silenciosamente com ele.
    -Você não precisa se envergonhar por amar a sua noiva de verdade, Claude. Sei que você ainda a ama apesar de tudo isso. Sinto muito por ela ter feito isso com você. Mas ela esta tentando te prejudicar, não apenas para acabar com esse casamento de fachada...
    -Eu non... eu non estou mais noivo, Rosa. Na verdade, por vontade própria eu nunca estive noivo. Eu tive de estabelecer esse compromisso apenas pra satisfazer os nossos amigos na sociedade e também os filhos dela... mas.. eu nunca quis me casar.
    -Entendo... mas.. isso não quer dizer que você não tivesse sentimentos por ela e quisesse estar com ela. É isso que eu estou dizendo. Se você tivesse me avisado.. eu poderia ter dado um jeito melhor de a americana não perceber.. ou melhor.. poderia ter te aconselhado a ter mais cautela.. e deu no que deu.
    -Pardon Rosa. Você tem toda a razon de ter ficado desapontada comigo... eu também estou desapontado comigo mesmo...
    -não se sinta assim Claude. Você queria que ela se explicasse.. você conseguiu isso?
    -Non... ela negou tudo... e disse que se sente enciumada... mas que non seria capaz de nada ton... sórdido.
    -E você acreditou nela, não é? Ela conseguiu outra confissão de que isso tudo é fachada e que no final você se casará com ela.
    -Rosa eu... - ele abaixa a cabeça
    -Claude... olha pra mim. Eu estou aqui e sei o porque, lembra? Sei que você não tem nenhuma obrigação de ser fiel a mim como se esse casamento valesse de alguma coisa... Sei que o fato de eu ser fiel a você é só circuntancial porque eu já não tinha ninguém antes e... todos os que se aproximam de mim sabem que eu estou.. “casada” com Claude Geraldy.
    -Você é uma mulher linda Rosa... capaz de fazer qualquer homem muito feliz... - ele a olha nos olhos. Ela sorri.
    -Sim. Mas qualquer homem é quase como homem nenhum.
    -Como assim?
    -Esquece.
    -Viu só como você me deixa desconcertado? Non me deixou explicar nada...
    -Porque como eu já disse, eu entendo.
    -Non, você non entendeu nada. - ele se aproxima dela, e ela se assusta um pouco. Os dois se olham nos olhos e Rosa decide ouvi-lo.
    -Então me explica.
    -Eu... pra começar... eu non queria ir até lá. E isso é muito estranho porque como você disse eu estava noivo dela... mas...
    -mas?
    -Eu fui porque... non era possível a mulher a quem prometi me casar e fiz tantos planos... estivesse contra mim. E quando cheguei la e ela tentou me... seduzir... me agarrar e eu...
    -vai dizer que não gostou?
    -Eu non queria que ela fizesse aquilo, Serafina.
    -E porque não? Vocês são noivos, não são?
    -Non... non somos noivos de verdade.
    -Eram namorados de longa data.
    -Eu sou homem, é claro que foi dificil rejeitá-la daquela forma... ela disse que estava com saudades e …
    -Claude... - Rosa franze o cenho fazendo gesto de quem não quer ouvir aquilo
    -pardon... mas o fato é que... antes isso seria perfeito pra mim. Mas non estava bom. Não parecia certo...
    -e porque não?
    -Você.
    -Eu?
    -Por você. Sei que non temos um relacionamento amoroso de verdade. Sei que non somos casados da forma... convencional. Mas eu só conseguia pensar em você. Eu olhava pra minha mon... e lá estava a aliança de casamento...
    -sentiu que era imoral?
    -Non sei bem... acho que non foi imoralidade que me constrangeu.
    -Então oque? - ela sorriu. Claude olhou sério pra ela.
    -Me perdoe pelo que vou dizer mas... Eu non queria que Nara me agarrasse. Porque eu estava carente e sabia que non seria capaz de resistir facilmente...
    -mas Claude...
    -shiii.. me deixa terminar. Eu sei. Se estava carente era perfeito. Ou seria, se eu quisesse estar com ela. Mas quando ela me agarrou non foi nela que eu pensei.
    -Como assim? Está confessando que tem mais alguém além dela? Haha meu Deus eu sou um alce! - a moça leva as mãos à testa sorrindo
    -Serafina... - ele a olhou preocupado.
    -Que foi Claude? É tão ruim assim oque vai me dizer?
    -é. é terrível.
    -Então diga de uma vez.
    -Eu … eu estou com um grande problema. E non é pela falta de integridade de Nara. Eu estive lá porque... queria proteger você dela... a convencendo de que ela non precisa se preocupar com você.. de que eu non.. de que nós non temos nada e portanto ela non teria que sentir ciúmes...
    -muito bem.
    -Mas eu menti pra ela.
    -Mentiu como?
    -Disse que non tinha intençon nenhuma com você e que me casaria com ela assim que possível.
    -Mas você não quer se casar com ela, não é? Você nunca quis se casar com ninguém. - Rosa zomba- é um solteirão convicto.
    -Mon Dieu. - ele chega mais perto dela e ela prende a respiração por um momento- a culpa é sua.
    -Minha? Logo minha, a senhora Geraldy? - sorri enquanto arqueia a sobrancelha
    -Você me enlouquece sabia? - ele a olha de forma selvagem. Rosa se sente confusa, mas ainda sorri.
    -Sabia. Você sempre disse que eu te tiro do sério. E vive gritando comigo... - ela ri.
    -Eu pensei em você. - ele se mantém sério
    -Oque?- ela desmancha o sorriso
    -Eu só penso em você, non entende? A culpa é sua, eu non consigo mais... -ele descansa o rosto no pescoço de Rosa, que sente um longo arrepio ao sentir a respiração dele em sua pele.
    -Claude...- ela chama ainda se sentindo confusa
    -Eu sei... non devia te dizer isso... ainda mais depois do que eu fiz hoje. Mas... eu non suporto mais fingir que non... eu me sinto imoral sim. Mas porque sei que eu non posso... non posso ter você. E ainda sim te desejo desse jeito.. desse jeito impossível...
    -Ei...- Rosa segura o rosto dele pra o olhar nos olhos- Porque você diz isso?
    -Eu estou apaixonado por você Serafina Rosa. Encantado, abobado por você... Tenho me esfoçando pra que você non percebesse porque... sei que non é o suficiente. Você precisa de mais do que o que eu sinto. Non sei se eu sou capaz de dar a você tudo oque você precisa e que sei que merece. Um amor desinteressado, um amor sincero... vindo de alguém melhor do que eu.
    -Claude... - Rosa choraminga
    -Mas é que... você tem preenchido cada instante dos meus pensamentos... de forma que já non sei se tenho a sanidade intacta. Mon Dieu nos beijamos todos os dias mas nenhum desses beijos é espontâneo o suficiente e... eu seria incapaz de me aprov..- Rosa o beija languidamente. Claude fica sem reação, ainda de olhos fechados
    -Senhor Geraldy?- os dois se olham nos olhos
    -oui... - ele sorri levemente, ainda anestesiado pelo beijo


    -Eu sempre o beijo espontaneamente, sabia? - ele a beija em resposta. Rosa segura seu colarinho de forma que mantenham as testas juntas- E... caso não saiba... O que você sente por mim é... exatamente oque eu quero. - ela sorri- e oque eu preciso também.
    -Mas... - o francês sorri sentindo seu estômago borbulhar. Rosa enlaça seu pescoço numa gargalhada
    -Eu nunca vou me perdoar, - ele a olha confuso- por ter deixado que aquela mocreia tenha feito oque eu deveria ter feito antes dela.
    -Sou louco por você... - Claude sorri quando Rosa beija seu pescoço de forma carinhosa.
    -Vem comigo... - ela o segura pela mão.


O dia se espreguiça pela janela em forma de dourados feixes de luz, que aquecia o gelado ar daquela enevoada manhã paulistana. As ruas iam se enchendo a cada momento, mais veículos, mais pedestres, mais agitação, todo o movimento e a barulheira.
Mas naquele aposento em específico, tudo era quieto. Ela só ouvia uma tranquila respiração a seu lado. Pela primeira vez em muito tempo, ela não queria sair da cama. Queria continuar ali, confortavelmente ali. Sentia naquele abraço a melhor das sensações... ela era sem dúvidas, a mais abobalhada daquela relação. Ele parecia tão frágil, tão amável quanto um bebê, apesar de toda a estatura. E ali estava ela, onde a tanto tempo ela desejava estar. Ela podia o tocar, o sentir, não apenas imaginar...
    -Chérie?... - a voz rouca soa pelo quarto silencioso, logo após de o som dos lábios dele estalarem na sensível pele de seu pescoço.
    -Oui... - ela sorri de forma leve
    -Acha que vou sobreviver quando sua mãe informar dom Giovanni sobre você ter passado a noite aqui comigo?
    -Não garanto... - ela ri e se vira para olhar naqueles olhos que brilhavam como nunca
    -Bom jour, ma épouse.
    -Bom dia, Senhor Geraldy. - ela lhe pisca. Claude a agarra
    -Non devia me provocar ton cedo, Rose Geraldy.- ele sorri
    -E porque não?- ela gargalha se sentindo leve e feliz.


Os dois passam algum tempo se encarando debaixo da vazão da ducha...em meio a tanto carinho que Claude sentiu como se nunca tivesse estado tão contente na vida. O celular dele toca durante um dos intermináveis beijos que trocava com sua esposa. Sua esposa. Enquanto falava com Frasão ao telefone, o francês precisou se concentrar muitíssimo pra não denunciar oque estava acontecendo. Sua Rosa lhe beijava carinhosamente os ombros enquanto o abraçava pela cintura, tendo repousado as mãos em seu peito.
Os dois sabiam oque viviam, mas só eles e os moradores daquele apartamento. Fora dele e diante das pessoas que sabiam da farsa, tudo permanecia como antes. Eram apenas cumplíces da jogada mais impensável no mundo dos negócios.

    -Eles von acabar descobrindo de qualquer jeito, Serafina...- adverte Claude quando a italianinha choraminga por ele a abraçar na sala de reuniões...
    -Enquanto os contratos não forem assinados, eu acho mais seguro que não saibam sobre nós...
    -bem... Eu...
    -você contou a mais alguém...
    -non vou conseguir esconder de Frason por mais tempo, chérie...
    -Claude!
    -Ele vai guardar o segredo...
    -mas e a Alabar?
    -Mon dieu...
    -Roberta, Hugo de Madri... o mundo vai guardar né? - ela revira os olhos. Claude lhe beija o pescoço.
    -Desculpa chérie...
    -Tudo bem. - ela suspira o olhando séria.
    -Que foi?
    -Não está preocupado?
    -E porque estaria?
    -A Nara... vai saber que você a está enganando... suas... chances com ela..- ela sacode a cabeça
    -Chances com ela? Serafina!
    -Mas eu...
    -non quero falar e nem pensar em Nara, hã?
    -Tudo bem. - ela sorri meio desanimada.
    -Você está ton preocupada por causa de Nara?
    -Na verdade não.
    -Enton oque?
    -Você... Você está feliz com isso? Seus amigos agora vão saber que aquilo que você sempre negou ser possível de acontecer é verdade.  Você...
    -Mon Dieu, minha italianinha...- ele a abraça - eu estou feliz, sabia?
    -Feliz?
    -Oui. Muito. Eles diziam que eu estava apaixonado por você desde antes de eu admitir pra mim mesmo! Non faz sentido non admitir o que eles já sabem há tempos!
    -E... você não se importa?
    -Claro que me importo. É um alivio poder te beijar de verdade em qualquer lugar, a qualquer momento, non só na frente dos americanos ou em situações parecidas.
    -Como agora? - ela sorri
    -exatamente. - Claude a beija.
    Frasão entra na sala pigarreando e avisa que Janete espera a senhora Geraldy para o almoço que combinaram.Rosa sorri e sai do recinto após se despedir de seu marido com mais um selinho. Claude se senta em sua mesa de presidente que estava cheia de papéis do projeto corrente.
    -Está feliz, né amigo?
    -E porque non estaria, hã? Está tudo... indo muito bem. - Claude analisa os papéis sorrindo.
    -O trabalho nunca pareceu tão divertido, né não?
    -Mais respeito, Frazon. - ralha ao amigo que só gargalha.
    -Ah Claude nem mesmo o amor de uma mulher tão maravilhosa como a Rosa foi capaz de te curar desse seu mau humor crônico.
    -Hahaha muito engraçado Frason. E que história é essa de ficar falando todo abobalhado de Rosa, hã?
    -Oque? Ela não é maravilhosa?
    -Claro que é. - ele sacode a cabeça- mas isso non te diz respeito, hã.
    -Não mesmo, diz respeito a ela. Lindíssima. - o advogado insiste em provocar o amigo
    -Frazon.. vá catar coquinho, hã? Fica aí falando da mulher dos outros...
    -a mulher dos outros? Foi isso mesmo que eu ouvi?
    -Ah non, pronto. Oque que é ein Frazon?
    -Fala logo.
    -Falar oque?
    -Confessa que tá louco por ela, Claude. Confessa.
    -Isso é um assunto entre mim e ela. Você non tem nada que ficar aí falando dela ou querendo que eu conte o que eu sinto non.
    -Hahaha ah vai falar que não é verdade?
    -Oque?
    -Você está perdidamente apaixonado por ela.
    -Estou ué.
    -Peraí... acho que entrou água no meu ouvido... você confessou?
    -oui. Eu confessei. - ele arqueia as sombracelhas de braços cruzados. Queria ver como Frasão se sairia diante disso.
    -Então...
    -Estamos juntos de verdade.
    -Sério?
    -É sério. Muito sério. Um casamento de verdade.
    -Mon Dieu. - Frasão se senta perplexo.
    -Essa fala é minha.
    -Por isso os sussuros... os beijinhos.. sua cara de bobo apaixonado... há quanto tempo isso tá acontecendo?
    -Oque? Frason você fala como se eu estivesse te traindo! - Claude ri - não vem non ein. Você non faz o meu tipo.
    -Se pensar bem é traição mesmo. Sou seu melhor amigo e você me deixa de fora de uma parada como essa....
    -ah quanto drama.
    -Quanto tempo?
    -Hahahaha chega, Frason. Isso non é da sua conta.
    -Fala logo, você sabe que eu vou acabar descobrindo.
    -Duas semanas. - Claude revira os olhos- Desde aquele dia que disse que ia a casa de Nara e te pedi um álibi.
    -E ela sabe que você foi lá naquele dia? Ou você não foi?
    -Fui. E aconteceu uma confuson e tanto. Nara tentou me seduzir e...
    -tentou? E desde quando ela tenta te seduzir? Ela sempre consegue te levar pra onde ela quiser.
    -Non dessa vez.
    -Oque?
    -Isso non importa agora, Frason. Ela non conseguiu. Mas tive de acalmá-la.
    -Quer dizer negando um envolvimento com Rosa e prometendo que no fim se casaria com ela, né?
    -Oui oui.
    -E...?
    -Eu fui pra casa e a americana estava lá... me acusou de estar traindo Rosa, disse que non dava mais pra acreditar em mim, haviam fotos de mim com Nara, telefonemas, gravações...
    -nossa... e como você se livrou dessa?
    -Rosa foi maravilhosa, livrou minha barra totalmente, inventou desculpas... mas ficou magoada comigo..
    -por você ter ido ver Nara?
    -Non. Por ter mentido pra ela. Ela disse que eu non confiava nela e isso a deixou muito triste.
    -E mesmo assim ela te perdoou?
    -Non foi fácil convencê-la... eu... tive de me expor totalmente... por isso estamos juntos.
    -Mas você …
    -Estava confuso. Disse a ela isso. Que non queria magoá-la. Que non sabia se oque eu sentia era suficiente e... ela disse que oque eu sentia era suficiente sim e exatamente oque ela queria... - Claude faz uma cara abobada
    -é amigão. Você foi oficialmente fisgado. E dessa vez é pra valer.
    -Como assim?
    -Você já se sentiu assim por Nara? Digo a esse ponto, ficar todo bobo só pelo que ela disse não só pelo corpo dela como era com Nara.
    -Frason...
    -pensa aí Claude. E vê se toma uma atitude, senão daqui a pouco você vai perder a mulher da sua vida por medo e insegurança.

Frasão deixa a sala. O amigo precisava refletir. Aquele frágil relacionamento não era suficiente, Claude sabia. Sua Rosa merecia muito mais do que alguns momentos de carinho e presentes. Ainda que fosse tudo tão intenso como era... ele sabia que ela merecia mais dele. Depois de uma tarde de muita reflexão e trabalho, uma Serafina Rosa radiante entra na sala com um enorme sorriso, e se apoia na mesa a frente de Claude. Os dois ainda em silêncio se olhando.
    -Vim te buscar. - ela lhe acaricia a bochecha.
    -é mesmo? - ele lhe pisca. Ela se senta no colo dele, os dois se abraçam num beijo cheio de saudade.
    -Onde estava a minha vida toda, hã?- ele a observa. Rosa ri
    -Nossa, oque você andou bebendo hoje, ein?
    -Rosa... - o francês a abraça
    -não quer saber onde estive hoje?
    -Isso também.
    -Fui almoçar com Janete e encontrei com Mrs. Smith no restaurante. e... adivinha com quem ela estava lá?
    -Non sei... Roberta?
    -Não.
    -hm... Sérgio?- ele revira os olhos
    -não. Mas que isso? você ainda implica com ele?
    -Non quero falar disso, hã?mas é que vocês son muito... grudados.
    -Não somos não. - Claude a olha feio- Só um pouco vai.
    -Hum.. sei. Mas enton. Com quem Mrs. Smith estava?
    -Nara Paranhos de Vasconcelos.
    -Oque? Sério?
    -Seríssimo.
    -E vocês brigaram? Ela te disse alguma coisa? Non recebeu novas ameaças, hã?
    -Ei, pensei que ia perguntar se ela te mandou beijos.- a moça cruza os braços zombando da preocupação dele.
    -Serafina... - Ele sorri de um jeito que Rosa nunca viu antes.
    -Que foi?
    -Eu... bom... Esquece.
    -Hum... tá bem. - ela levanta lhe estendendo a mão - vamos pra casa?
    -Vamos.
Os dois chegam animados ao apartamento. Dona Amália não estava, disse que ligaria mais tarde. Claude convida Rosa para jantarem fora. Ela fica lisonjeada.

    -onde vamos?
    -É surpresa, hã?

    Ele mesmo dirige o carro até chegarem a um estacionamento. Rosa não conhecia nada por lá, nem mesmo em que parte da cidade estavam.

    -Temos que andar até lá, pois non passa carro na rua do restaurante.
Andam por uma rua de ladrilhos e chegam ao restaurante. Rosa se encanta. Os dois se sentam numa mesa a beira duma janela
    -Que delicia de lugar, Claude!
    -Que bom que gostou... esse lugar é... um achado. Muito aconchegante.
    -Está tudo bem?- ela corta o longo silêncio sob o olhar enigmático do francês.
    -Claro que sim, porque?
    -Você... está com um olhar misterioso... - ela sorri- mal falou comigo desde que voltamos do escritório.
    -É que... hoje foi um dia bastante cansativo...- ele suspira olhando para o vinho em sua taça
    -então... não prefere ir embora? Acho que não devíamos ter vindo... você parece cansado mesmo...
    -non cherìe. - ele toca sua mão- Eu estou ótimo. E estar aqui com você... é relaxante, hã?
    -Que bom... - ela sorri – Mas então... porque essa cara?
    -Non consigo esconder nem meus pensamentos de você non é? - ele suspira sorrindo.
    -Bem... acho que não.
    -Tudo bem. Por isso te trouxe aqui. Non queria que nada nem ninguém nos interrompesse.
    -Então, por favor. - ela faz um gesto de reverência em tom cômico. Claude suspira novamente
    -Eu... passei a tarde pensando seriamente na minha vida.... - ele observa o olhar sereno que Rosa lhe lança.
    -E...?
    -Cheguei a concluson de que non podemos continuar dessa forma.
    -Como assim? - ela franze o cenho- quer dizer... está terminando comigo? Aliás, terminando oque? Não somos nem namorados de verdade, somos? Ou éramos, eu não sei. - Rosa da um sorriso triste, olhando para as mãos dele. Em especial a mão que segurava a taça, a mesma em que estava a aliança de casamento.
    -A senhora como sempre, non me deixa falar nada, non é mesmo? - ele sorri. Ainda que ouvir tudo aquilo tenha doído.
    -Então fale... - ela olha em seus olhos. E diante disso ele perde as forças e a coragem de antes.
    -Mon Dieu.. non me olhe assim, senhora.
    -Senhora? - ela zomba.
    -É oque você se tornou Rosa. A minha senhora. Non é assim que te chamam?
    -É sim. - ela suspira. E não entende porque ele ainda sorria. Estava prestes a terminar o relacionamento maluco dos dois!
    -Você non merece estar envolvida em tanta confusão, Serafina. Nosso relacionamento tem te colocado em tantos perigos... e você non ganhou nada em troca de toda a dor de cabeça que lhe causei...
    -Está enganado...
    -Non, non estou. - ele suspira. - Eu aprendi muito com seu pai, sabia? Entendi que ele tem toda a razon em querer que você se separe de mim e desmanche esse casamento maluco.
    -Então você quer se divorciar antes do fechamento do seu negócio?
    -Acho que você non está me entendendo.
    -Acho que você está me enrolando. Fala de uma vez, Claude.
    -Eu... non quero me divorciar de você.
    -Não? - ela segura uma lágrima, mas outra foge. Claude ampara a pequena gota com um dedo, enquanto sua outra mão procura algo em seu bolso. Um lenço, Rosa pensou.
    -Non. Non quero me divorciar, quero me casar com você, Serafina Rosa. - ele coloca uma caixinha de veludo vermelho em cima da mesa. A moça abaixa o olhar e vê um diamante brilhar no anel de ouro branco.
    -Claude... - Ela sorri ao mesmo tempo em que chora. O francês toma sua trêmula mão e lhe coloca o anel em seu dedo.
    -Você quer? Quer se casar comigo? - ele pergunta com a voz embargada. Rosa procura seus olhos e percebe que ele também chora. Ela suspira
    -é claro que quero.
    -Aceita?- ele lhe segura as mãos.
    -Aceito.- ela sorri. Claude beija seus dedos.
    -Mon Dieu. Nunca pensei que ficar noivo de verdade me deixaria ton feliz.
    -Amor....- Rosa lhe enxuga as lágrimas. Os dois se olham mas antes que se beijem um garçon grita:
    -viva os noivos! - ao que os clientes do restaurante respondem- viva!

No outro dia, um belo sábado chuvoso, os dois foram conversar com dom Giovanni num almoço em família. Claude não largava a mão de Rosa um segundo. Amália ainda que sem saber do noivado, sorri de alegria por ver os dois tão juntinhos.
    -bom, dom Giovanni, dona Amália... os senhores sabem das finalidades do meu casamento civil com a filha de vocês... de o porque ter sido tudo ton... fora dos padrões.
    -Si. Tudo sem o nosso conhecimento ou consentimento, o senhore quis dizer, ah?
    - Oui seu Giovanni. Precisamente. Por isso eu... - Claude pigarreia e Rosa lhe segura a mão por baixo da mesa. Os dois se olham com cumplicidade.
    -O senhore?
    -Eu vim aqui... pedir a mão de Serafina Rosa aos senhores.
    -Ma oque?
    -Sim, Seu Giovanni, Dona Amália. Eu amo a filha de vocês e desejo a bençon dos dois para me casar com ela na igreja, como o senhor, seu Giovanni, já havia nos advertido. O senhor estava certo em exigir que nos casássemos direito, Serafina non merece um casamento de fachada.
    -Espera um momento, o senhore está pedindo a mão de mia filha Serafina assim, depois de tudo oque me fez passar, e depois de ela estar já, grávida, êh?
    -Giovanni!- Amália ralha- o home tá com todas as boas intenção, vem aqui, como manda o figurino, pedir pra casar com a esposa, - a senhora levanta o indicador - sim esposa, porque eles já são casados. E você começa mais um dos seus sermões? êh!
    -Enton, prossiga, doutore, prossiga.
    -Eu... gostaria que o senhor nos desse sua bênção e que...- ele olha nos olhos de Rosa- fosse até a igreja comigo marcar a data.
    -Io?
    -sim. - Claude suspira.
    -Ma io no vo.
    -Papai por favor? Claude, me dá um minutinho pra falar com meu pai?
    -Está tudo bem?
    -Está sim, mas eu preciso falar com ele. Em meio a toda a essa correria nós mal conversamos... ele esta magoado comigo... Daqui a pouco te chamo, tá amor?
    -Tudo bem... - Claude se levanta. Dona Amália o leva pela mão até a sala. O moço ainda mantém os olhos fixos em sua noiva até sair do recinto.
    -Papai, olha... eu... peço perdão por tudo oque eu fiz o senhor passar... por ter escondido o casamento maluco em que me meti... mas.. o senhor sabe... eu fiz tudo oque fiz pra tentar ajudar nossa família e amigos a ter um lar e … bom... Porque eu amo esse homem. O senhor sabe que jamais faria nada por interesse não é?
    -Eu sei filha... mas esse... moço. Eu mal o conheço, hã? Ele vem aqui uma hora e diz que é teu patrón, outra que é teu marido, outra que precisava que você more com ele pra enganar os americano e depois de tudo oque me aprontou, vem pedir sua mão em casamento?
    -Eu o amo papai.
    -Eu sei Serafina.
    -Nós dois, eu e o Claude, queremos sua benção. Queremos que o senhor me leve ao altar. Ele aprendeu a respeitar o senhor. Ele me disse sabe oque?
    -Oque?
    -Que te admira. E até que já sentiu inveja de mim por ter um pai como o senhor. Um pai que se importa tanto, que tem tanto caráter, tão bom coração.
    -Ele disse?- o velho italiano dá um muchocho
    -Ele mesmo pode te contar melhor. Posso chamá-lo?
    -si...
Depois de uma longa conversa com os dois, Giovanni abraça o novo filho. Claude vai com o sogro e marca a data da cerimônia. Os americanos ficam felizes pelo casal, e entregam os últimos contratos assinados num envelope embrulhado em papel de presente.
Dois meses depois, emocionados no altar, Rosa conta a Claude que o herdeiro dele não é mais uma fábula. Ele mesmo sem entender muito bem que seria pai, sorri e a beija. Somente durante a sessão de fotos lhe cai a ficha. Ele começa então a gritar que vai ser pai.
Segue-se um ano cheio de trabalho, paparicos a esposa grávida e logo após ao bebê herdeiro de uma fortuna além do que a família de Claude juntara.
O bebê se torna uma menina de oito anos muito levada, que sobe em árvores e corre pelo cortiço de um lado para o outro, deixando os avós malucos e Claude orgulhoso de seu rebento.
Rosa observa o pai coruja ler uma história de aventuras mágicas à pequena Violeta que já ia a alto sono. Claude percebe a figura sorridente da esposa encostada à porta e Violeta resmunga que desligue a luz.
    -Repetindo aquela pergunta... - o francês fecha a porta do quarto atrás de si.
    -Que pergunta?- ela sorri enquanto ele a abraça.
    -Onde esteve durante toda a minha vida?
    -Eu? …. - ela finge pensar – hum... Pensando em você.



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