domingo, 8 de setembro de 2013

Capítulo 49- Qu'est-ce que c'est










Le Eternel Amour

Tulipe Rouge





Ontem eu quase não consegui dormir... Foi bem difícil me manter quieta na cama. Fritei a noite inteira pensando sobre o rumo de nossas vidas depois deste... Tão traumatizante episódio.

Chego a pensar, que apesar de extremamente doloroso, foi necessário para quebrar a crosta de monotonia que se formara durante tantos anos...
A distância de Claude da vida do Caleb... Tão dolorosa e me arrisco a dizer totalmente inútil. Afinal de contas, todos sabemos que mesmo filhos de inseminação artificial  perguntam algum dia por seus pais biológicos... É quase um ponto essencial de nossa existência questionar nossas origens.
 E no caso do Caleb... Uma origem tão... próxima da que lhe fora dito... O avô é mesmo o avô. E o pai... tem a mesma aparência... e sobrenome. É quase como se realmente o conhecesse.
 Como se soubesse. O apego a imagem e a ideia de que ele tinha um pai não era apenas um sexto sentido, era uma verdade. E ele tem sorte por isso. 
E não é como se o Claude o rejeitasse. Mais uma vez, um grande fortunamento dele. O pai realmente o quer. Se houvesse podido, estaria com ele desde o ventre.
Mas sabemos que ele não podia. Realmente não podia. E sabemos que mesmo tendo o conhecido bem pequeno ainda, não poderia estar com ele sem que isso causasse um tufão de acontecimentos. O nome do pai atrairia todos os holofotes ao pobre Caleb caso Claude decidisse brigar por reconhecê-lo como filho e tudo o mais. 
A questão agora é se o Claude vai ter uma chance de estar mais próximo da vida do Caleb.. e se essa história de estar interessado na Rosa é mesmo por gostar dela ou apenas por desejar ser " o pai do Caleb"...
Apesar de saber que nas atuais circunstâncias, ela nem tem mais como negar isso a ele. Não tem como negar que, se eles dois desejarem, convivam e se tornem próximos como pai e filho.

Sempre fui  a primeira a incentivar a Rosa a pensar de forma especial no Claude. Até disse a ela que desse uma chance. Mas na realidade, pensando com meus botões, fico na dúvida se isso realmente fará bem a ela.
Apenas o fato de terem um filho não significa absolutamente que se tornarão uma família feliz. Eles precisarão de um grande afeto que os una, Claude e Rosa.
E isso não inclui Tony. Não inclui Caleb,( o fruto do amor de Rosa por Tony- e não por Claude).
E pro Claude é válido o mesmo pensamento: Rosa. A Rosa. Não a Bel, a moça que eternamente o Tony amou. Com quem se recusou a estar por pensar que assim a pouparia de um grande sofrimento e viuvez.
O que no final, não funcionou.
Não funcionou para ninguém.



Caleb





Ele me olhou profundamente, e quase pude ver sua alma. Seus olhos pareciam muito grandes e acho que estavam marejados. Ele falava pausadamente, como meu vovô Henry.
Não que eles se pareçam. Na verdade, me pergunto se eles podem se parecer em algo a mais que o sotaque. 
Tentei me manter o menos ansioso possível enquanto esperava que ele terminasse de falar para então fazer-lhe outra pergunta. Fiquei um pouco triste em saber que na verdade, ele não sabia de mim, porém, ao mesmo tempo aliviado, porque de certa forma isso quer dizer que ele não me rejeitou- tanto assim.
Ele disse que não esteve aqui, não me contou que eu era seu filho exatamente por não ter "direito" a isso. Não entendi muito bem, mas parece que tem a ver com a mamãe querer me proteger e me amar muito.
A maneira dela- sei que ela tentou isso mesmo. 
Me proteger.
Mesmo que não faça sentido ela querer me proteger do meu pai -quando ele me queria tão bem. E sei que é de verdade não só porque ele me disse. E muitas vezes.
Mas, porque ela mesma me disse isso. Quase como que para me acalmar e aceitar que ele fique aqui conosco. Que Rachel ficasse aqui, que dormisse no meu quarto.
 Que eu a tratasse como... irmã.

Ainda não me sinto preparado para aceitar totalmente que Rachel... não tomou o meu lugar. E ainda mais agora, parece que ela está me tomando a mamãe também.
Mas tenho que me controlar, é o que vovô Henry diria.
 Bem, foi isso o que ele me disse naquele dia, no hospital. E disse que me lembrasse dele sempre, principalmente nesses momentos.

Espero que ele fique orgulhoso...




Rosa





Eu sei que é difícil... Mas mesmo assim, quero mesmo tentar. Quero tentar e ver se dá certo. 
Não é pelo Caleb... é por mim mesma.
 Na verdade, se eu pensar que é pelo Caleb, vou ver que não vale a pena.
 Porque sendo assim, eu e ele acabaremos infelizes. É óbvio que se for apenas pelo Caleb eu não conseguirei ir muito longe com isso. Oque acabaria por machucar a mim e ao Caleb, de novo.

-Pensei mesmo isso, Jane. Mas acho que se fosse só pelo Caleb, ele não tentaria assim, dessa forma. Ele ainda é um Geraldy, e mesmo se dizendo deserdado, sabemos que ele não é.
Se realmente estivesse disposto a tomar o filho de mim, ele usaria as garras.

- Realmente. Oque me deixa intrigada é saber como ele faria pra provar que é o pai do Caleb?
 Ele jamais poderia provar isso biologicamente porque os exames que comprovariam a infertilidade de Jean foram tirados dos arquivos e exterminados a mando do poderoso Henry Geraldy.
 O menino foi reconhecido com uma amostra do sangue do Jean, que já havia falecido.. Como então o Claude poderia contestar?
Eles eram gêmeos univitelinos, idênticos até o ultimo códon de bases nitrogenadas do dna. Iguaizinhos geneticamente.
 De que maneira mais ele faria isso se não te convencendo a declarar isso ao juiz?

- É... Confesso que não me lembrei disso. Mas ainda acho que o Henry faria tudo para vê-lo se aproximar do Caleb como pai... Para ter tudo... nos conformes.
Foi essa a impressão que tive dele, por telefone...
 Ele está realmente animado com a possibilidade de nos entendermos.

-Oquêêê??-Jane arregala os olhos- Estou perplexa! Pensava que ele seria contrário e relutante a isso! Já que levaria o nome dos Geraldy aos jornais caso a imprensa suspeite do famoso encenamento irmão casa com cunhada viúva...
 Tá certo que... o Henry daria tudo mesmo pro Claude voltar a falar com ele... Pra que ele aceite a ser herdeiro de verdade...

- Ainda que, contra a vontade, ele ainda é. -completo. - E pelo que eu soube , o único motivo pra isso é que ele próprio possui herdeiros- sorrio

-Sim.Dois lindos herdeiros. E selá ainda terá mais não é mesmo? - Jane pisca pra mim. sinto a face em brasa

- Janete! Chega de falar disso!







Claude



Todas as noites que passei em Paris, sempre foram totalmente inesquecíveis. Não que estivesse  sempre bem acompanhado ou que aproveitasse da forma como os jovens geralmente o fazem. Mas por puro e simplesmente sentir-me bem acolhido pela brisa de Paris. Pelo ar úmido e quente que se espalha por toda a parte.

E hoje, nem sei como me sinto. Não só em relação à Paris... mas... Bem, sobre minha vida toda. Acabo por me trair em muitos aspectos. A minha vida inteira pareceu mais uma vingança, uma fuga, qualquer coisa. Sempre volto a pensar em como minha alma dói. Por mamam,  por Jean. Por mim.
Não que tenha me feito de vítima e me abandonasse às angústias. Na verdade acredito que é exatamente por nunca ter feito isso que dói tanto.

O meu referencial no mundo.
Assim é como sempre me referi a essa cidade. Um eterno orgulho francês. Paris. Pela janela.
Essa tem sido minha forma de apreciar a paisagem, já que mal pude me mexer durante esses dois meses.
E Rosa continua sem me responder se quer ou não tentar algo como um relacionamento que vá além da cordialidade comigo.
Sei que há muitas barreiras, ela ainda não se recuperou pela morte de Jean, e, acredito que nunca irá. Seria mais fácil se não fossemos gêmeos. Ela se esqueceria um pouco de que somos irmãos. E me deixaria fazê-la feliz sem sentir tanta falta dele.

Mas não desisti e nem pretendo. Tem sido mais difícil do que eu pensei. Nesse tempo em que estive naquele cárcere, formulei todas as possibilidades e observei que eu realmente tenho grandes chances com ela. Ela só precisa entender isso e concordar comigo.
Sempre estive apaixonado por ela, desde aquele dia, na passeata. Lembro dela, tão viva, com olhos cintilantes e espantados ao ouvir que eu não era Tony. A maneira como a face dela se contraiu ao me questionar o motivo de eu tê-la livrado de uma grande confusão. A  mesma expressão questionadora ao me ver na noite do baile de formatura.

 Eu devia ter agradecido a Jean por aquela noite. Devia mesmo. Mas como eu faria isso sabendo o quanto doía nele não ter podido estar lá? Eu o usurpei mais uma vez.
E mesmo assim, foi ele quem me agradeceu.
E as cartas que me remeteu para serem entregues aleatoriamente depois de sua morte me doeram ainda mais. As palavras eram como afagos... mas, à minha consciência, elas feriam como espadas, feriam profundamente.
Sei que terei de conviver com isso. Amo a mesma mulher que ele sempre amou, e nunca poderá ter. E hoje, sei que de alguma forma, sou o único que pode fazê-la feliz. Eu sei disso, e Tony me fez jurar que eu estaria com ela quando...
Bem, meu irmão presumia os meus sentimentos por Rosa e... Disse que, se em algum momento eu sentisse que poderia ser feliz ao lado dela, eu deveria me agarrar a essa oportunidade e não deixá-la por motivo algum.
 Isso seria uma forma de quitar toda a minha dívida para com ele. Por tê-lo deixado sozinho com papai mesmo quando ele estava no momento mais delicado de sua vida. E eu o deixei mesmo assim.
Por ter me relacionado com Nara mesmo sem sentir por ela, todo o sentimento que Jean havia dito que seria necessário para que eu fosse feliz. Mas eu tinha medo de nunca sentir. De que não existisse no mundo alguém não só capaz de me fazer sentir tudo aquilo mas, também, que pudesse senti-los por mim.

A frieza estava em mim como eu estava nela. E deveras foi um grande apoio para quem realmente precisava ser frio. Porque, fora disso, eu me tornaria ainda pior que meu irmão bastardo.

Um colossal calafrio me percorre a espinha com esse pensamento. Não gostaria de estar pensando de forma tão triste sobre minha vida, porém é assim mesmo como me sinto.

 É impossível mudar o passado, e eu sei bem disso.









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