segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Capítulo 45- Conversas



Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


...Devia ser mais divertido não devia?

- É...Vai ver é por que você não quer mesmo jogar.

- Isso nem é tão verdade assim.

- É só porque você não gosta de mim e foi obrigado a brincar comigo.

- Rachel?

-hum?

- Porque você fala português se o...seu pai é francês?

- Minha mãe era brasileira e minha babá também é. E tem meu avô e...

- Tá já entendi.

-....

- Que foi?

- Porque você e sua mãe falam português também sendo que são descendentes italianos?

- Ah é uma longa história. E chata também.

-Huh

- Você sente falta da sua mãe?

- É... as vezes... mas eu quase não sinto porque não conheci ela direito... Ela...morreu quando eu tinha uns quatro anos.

- Meu...pai...morreu antes de eu nascer.

- Eu lamento muito.

- É eu também...

- Escuta... e se agente fizesse um... esquema?

-Como assim esquema?

- Você queria ter um pai, eu queria ter uma mãe...

- E eu tenho mãe e você tem pai...

- Agente podia... Sei lá... fazer um... revesamento...

- sei não...

- Ah poxa como você é chato

- Ei! Você que é maluca...

- Não ri de mim!

- Mas você também está rindo!

- Não me enrola! Vai diz que aceita!

- Tá... supondo que eu aceite... Oque isso significa? Assinamos um contrato? Pacto de sangue?

- Báh, não... Agente aperta a mão.

-Ok... E agora?

-Agente precisa de um plano.

-Plano?

- É... Acho que...

- Que sorriso é esse?

-É que eu tive uma idéia! Agente precisa juntar os dois!

- Como assim Rachel?

- Ué... Agente precisa fazer os dois ficarem juntos... Como... Um casal.

- Como... Casal?

-É... Eles precisam se casar. Ai agente ia ter os dois ao mesmo tempo. A sua mãe ia ser minha mãe também...

 - E ... Espera... Teu pai mora em Marseille... Como agente faz?

- Ah sei lá... Agente pode... Passar um tempo morando lá e depois agente volta para cá pra Paris...

- Huh Paris é muito chata... Vamos todos pra Marseille que tem praia de verdade e ondas de verdade também.

- Ah eu gosto do Sena.

- Eu gosto do farol e do porto.

- Ah quer saber, montar outro grupo ia ser um trabalho muito duro...

- Que grupo?                

- Ei! Eu vi! Pode voltar uma casa seu sem vergonha!... E o MEU grupo...  cigales

- Ci oquê?

-Cigales. O nome de meu grupo...

- Fazem oque? Dançam Black? Balé?

- Ah eu odeio balé... Larguei e agora me dedico totalmente ao Blues e Jazz.

- Você gosta de Jazz?

- Oui! E olha... Sua rainha está em xequeee!!



“Engraçado... Eles... Conversam como se... Como se nada estivesse acontecendo. Como se nada fosse mais importante... Como se o Claude estivesse aqui... como se... Tudo estivesse bem.
Não parecem incomodados com a possibilidade de eu estar ouvindo a conversa, --e estou.

Não parecem dois órfãos unigênitos de famílias fracassadas. Mas dois... Irmãos. O que por pura ironia da vida não são.
Se pelo menos a Rachel fosse filha do Claude...
Se pelo menos Caleb não fosse filho do Claude... Seriam mais iguais... Ou... menos diferentes...

-Que droga!

-Mas...oque foi?- pergunto a Sérgio, que se desmonta no sofá a minha frente

- Nada é que... bom... estou feliz.

- Você está feliz? Mas...então porque essa cara?

- Acharam a Alice, Rosa!

- Deus do céu! Mas e onde? Como ela..está? Ela está bem?

- É...Ela foi localizada em Lille, não muito longe daqui. Mas...

- Onde está Janete? ham?- meus olhos se enchem de lágrimas

- Ela continua desaparecida e... a Alice está machucada.

-Como...machucada?

- O rosto dela... parece que... ela se feriu em arame farpado e cacos de vidro na fuga.

- Fuga? E de onde ela fugiu?

- Bem... parece que de uma espécie de orfanato clandestino... ainda não sei muito mas tem a ver com o tráfico de....

- Sérgio?- ele espreme os olhos e adormece


....

Voltamos de Lille com Alice dormindo e uma pilha de papéis sobre burocracias e processos jurídicos. E muitas Xerox da foto que Jane mais odiou entre todas as que ela tirou no verão passado... ela disse que aquelas foram as piores férias de todas também, porque não viajamos e ela ficou doente. Tinha pego catapora de um paciente muito bravinho...
Do Caleb. Foi muito engraçado.... E estou com saudades dela reclamar de não poder fazer as unhas com a mesma freqüência com que gostaria...

Alice vai ficar na minha casa também. No quarto de Caleb junto com Rachel. Caleb continuará comigo. A menos que queira a companhia de Sérgio. Ele anda tão solitário. Está afastado do trabalho por depressão e creio que não seria apropriado Alice ir pra casa por enquanto... ainda mais agora... ela precisará de colo de....

Sérgio

- Mãe?-Ela abre os olhinhos... sua cabeça em meu colo

- Oi amor...- Tento não parecer desesperado...Mas as lágrimas escorregam por minhas bochechas e uma até pinga na testa dela

- Papai?- ah como desejei ouvir esse chamado! Abraço-a com todo meu ser. Ela é parte de mim... e nunca mais vou deixá-la ir pra longe de meus olhos!

Alice passa a mão pelo próprio rosto e descobre as gazes... quero dizer...redescobre. Rosa já conversou com os médicos e parece que mais pra frente ela poderá remover as cicatrizes por cirurgia... o importante é que ela está bem... está aqui...

Somos fortes... e vamos conseguir juntar os cacos. E Jane está vindo eu sei. Esteja onde for... está a caminho. Está com saudades... Tanto quanto nós estamos.

-Você podia ao menos me dizer oque você pensa sobre mim, hã?

- Porque está perguntando isso Rosa?

- Porque... estou me sentindo estranha e... inútil.

- Ora mas oque é isso! Você está sendo maravilhosa! Como sempre foi mana!

- Grazie...Ma io so che que non è vero. Eu sinto.. sinto que eu poderia ter feito algo para que... Pra que as coisas fossem diferentes.. Olha só pra mim? A minha vida está toda louca... O pai do meu filho é irmão do homem que eu fiz o Caleb acreditar que fosse pai dele. Ele não sabia sequer da existência do Caleb... Nós nunca tivemos nada parecido com um romance e... Agora ele está desaparecido e eu sei que o inimigo dele... o mesmo farabuto que atirou no Tony... está lá... com ele nas mãos.

- Rosa... Você... por acaso sabe o porquê desse homem ai odiar tanto o Claude?

- Hm...

- Sabe?! Deus! E porque nunca contou pra ele? Ou pra... pra mim!?

- Sinto muito... mas foi um segredo que prometi guardar...

- Rosa...

- Eu sei que agora não faz mais sentido mas... eu prometi pro Tony...

- oque? Foi ele quem te contou?

- é...

ROSA

E do resto de nossa conversa daquele dia eu ainda me lembro... Ele olhou fundo nos meus olhos...

E num suspiro ainda disse:

- Tem certeza que quer saber?

Eu apenas assenti,sentido que com certeza em algum momento iria me arrepender.

- Ele é nosso irmão.

- Oquê?!- saltei do sofá

- É nosso meio-irmão na verdade...

- Tony... mas como assim? Ele é bastardo?

- Mais ou menos isso..

- Teu pai foi infiel a sua mãe?

- Non... O Carlos foi antes do meu pai casar...

- Mas como? Se ele..

-Rosa...

- Tá... pardon

- Ele conheceu a mãe do Carlos... Na mesma data que soube que ia se casar... Ele não conheceu minha mãe antes da véspera do casamento... Naquela noite ele foi à um bar... e lá conheceu uma cigana... filha do dono do lugar... foi ela quem atendeu ele no balcão. Ele disse que se apaixonou na mesma hora. E depois ele se casou... ele soube que a moça estava grávida... mas já era tarde. Ele ainda levou uma corça do meu avô... que pagou um dote à cigana... pra que ela fosse embora da cidade e jamais contasse nada a respeito da história... Meu avô era um homem severo... e não suportava a idéia de ter mais esse escândalo sujando o nome da família Geraldy...

- Nossa... Mas porque o Carlos...

- Carlo... Carlo na verdade... ele ... odiou mil vezes a família que o rejeitou... dizem que ele tem uma espécie de sociopatia... ele.. é doente. Sádico... Fazia coisas horríveis no quartel... isso o próprio Claude me contou...  Eu acho que o Carlos acha que nós somos os culpados por ele ter vivido uma vida miserável... e até... que somos responsáveis pelo assassinato de sua mãe.

- e..

-Sim, foi o meu avô o mandante desse crime. Eu li seu testamento... e suas horríveis confissões. O Claude acha que eu nãos sei de nada... que eu não entendo a raiva dele... Mas ele nem sabe dessa história e nem sabe que eu sei dos segredos sórdidos de nosso avô... que aliás, ele só suspeita.

- Mas Tony... como é que você consegue ser tão...

- Frio? Não Rosa... Não sou frio... Mas com tantos problemas... alguém tem que manter o controle não é? E mesmo que eu tenha de servir de mediador... no fim das contas... eu até prefiro ser. A última coisa que quero é ser um problema a mais.

- Você nunca será Jean...- o olho intensamente. Eu sabia que jamais esqueceria dele. E não esquecerei mesmo que queira.