Serafina Rosa Petroni
data de nascimento:
27/05/83
estado civil: solteira
endereço: rua Divina
Providência nº 2010.
telefone: 11 12555 555
formação: técnico em
administração de empresas.
Perfil: pró ativo e
comunicativo. Trabalho em equipe e dinamicidade.
- é... até que não
está mal...
- Mas precisa ser mais
impressionante... tem que brilhar nas mãos do entrevistador!
-Ah isso é verdade. Eu
preciso desse emprego de qualquer jeito, Teresinha!
-Escuta, e se a gente
pedisse ajuda pro irmão do Miltom?
-O Antoninho? De jeito
nenhum! Ele é um metido pervertido, cretino, farabutto!
-Nossa, não tá mais
aqui quem falou. Mas tudo isso é por causa daquele dia que...
-Olha só Terezinha,
não quero falar sobre esse assunto, tá legal?
-tá, tá bem... calma.
Só quis ajudar.
-Eu sei... desculpa.
Mas você entende, não é?
-Claro, eu entendo
Fina.
-Ai não me chama
assim! Eu detesto!
-Okay. Mas e agora?
Vamos deixar assim, ou oque?
- Tenho de entregar
amanhã... a minha amiga disse que a entrevista será lá pela
sexta... ah, tem o Sérgio!
- O Sérgio, claro...
-Ei, pode desfazer esse
sorrisinho, você sabe que o Sérgio e eu somos só amigos!
-Sei... claro que sei.
Vivem grudados!
-Ué.. se somos
amigos.. e desde que o Julio...
-O seu outro grande
amigo.. ops!
-Terezinha!- rosna
Serafina, indignada
-Tá... não me olhe
assim, você dizia a mesma coisa dele!
-No começo sim. Mas
com o Sérgio é diferente. E além do mais, ele é bem mais novo
que eu...
-Ah, sim.. 5 anos. É
demais pra você. Ele é quase um bebê!- aperta as bochechas e faz
bico, gozando da irmã.
-Deus do céu, mas hoje
você está mesmo inspirada! - Rosa se levanta da pequena poltrona, e
leva consigo papel e caneta, pra que seu amigo Sérgio a ajudasse a
escrever o “currículo perfeito”
Claude revira os olhos.
A cabeça pendendo do pescoço, amparada apenas por uma das mãos que
ele tinha afundada na bochecha. Mira um ponto no horizonte pela
janela, tentando se concentrar em algo que não fosse a voz de sua
namorada do outro lado do telefone.
-Oui, claro que eu
estou prestando atenção, chérrie... Non... eu non vou sair hoje
non, eu prometo.
Até parece que uma
noite de terça feira open bar ia sair de cogitação depois
de um dia como esse. Contas e contas , clientes reclamando que tem
muito pó nas obras. Ah, não. Isso é construção civil, pó,
cinza, barulho de máquinas e cimento pra todo lado. Oque esses
arquitetos idiotas estão pensando? Ah, mas não tem problema. Hoje
tem open bar.
-open... - Claude dá
um sorriso.
-Oque você disse?
-Open... ah!!! Frazón,
cala a boca.
-hein? Você fica ai
falando sozinho...
-shiii, não tá vendo
que eu estou ao telefone, hã?
-ok, ok, desculpinha.
Um silêncio se
espreguiça pela sala. Frazão senta-se a mesa, com seu inseparável
sorriso. Tremenda falta de sorte o amigo ter um dedo podre. Escolheu
a mais grudenta do quarteto fantástico. Mas isso de escolher uma não
era pra ele próprio que, salvo a ruiva do amigo, saíra com todas as
outras três.
-ei, essa conversa de
uma via só não acaba não? Tem uma pilha de relatório pra fazer,
sabia?
-shii.. ela tá falando
de ir passar o fim de semana no Rio de Janeiro com as Power Puff!
-oqueee??? Como assim,
e eu vou sair com quem?- Frazão se aproxima do telefone tentando
ouvir a conversa
-Shiii! -Claude se
esquiva. - Chérrie, eu tenho de desligar. Estou sem secretária
ainda, você sabe... tem um monte de relatório e trabalho chato pra
fazer... tá, ligo sim. Outro.. - Faz cara feia, pois Frazão imitava
Nara.
-Ha, não sei como você
aguenta essa jararaca!
-Frazon, non ouço
nada. Diga oque quiser, porque hoje, eu só escuto anjinhos em coro :
“open bar”, a mais perfeita desculpa que eu encontro pra sair da
abstinência e cair na farra. Ah, e quem resiste as plaquinhas
brilhando?
-É Francês, tô vendo
que suas promessas de ano novo não valeram muita coisa.
-Que promessas oque?
-Ué, as promessas.
Você disse que ia se casar esse ano, ia virar um homem sério,
respeitoso, de família. Que não ia mais beber...
-ah, essa última ai é
muito forte. Como isso? Eu devia estar bêbado! Bêbado prometendo
non beber nunca é serio. Non me cobre isso non!
-Tá. Você nem tava
bêbado. Estava feliz. Tinha fechado o contrato com aquela
metalúrgica lá, ia começar as obras dos armazéns, ganhar muita
grana... e tava se acertando com Nara de novo.
-É eu estava feliz
mesmo. E Nara foi mesmo parte importante disso. A mulher de minha
vida.
-Ela só estava no
lugar certo na hora certa. Você tinha sido chutado, estava triste,
carente e bêbado. Ela te levou no bolso, e foi isso. Depois,
caprichosa e cheia de artimanhas, ela te convenceu a entrar nessa
furada que vocês chamam de “relacionamento sério”
-Ah Frazon, você é
muito chato. Pelo menos eu sempre tenho com quem sair, quando eu
quero.
-É. Mas o problema é
que mesmo quando você não quer, como agora...
- E quem foi que disse
que eu não queria?
- quem é que estava ai
com cara de tédio, balbuciando “open bar”???
-Frazon, vamo
trabalhar, hã? E vê se me arranja uma secretária boa logo, hã?
-Mas a Judite era boa!
Você mandou ela ir em bora semana passada nem sei porque. Nara é
uma despeitada.
-Era boa... boa só ser
for de rebolado, porque de serviço... vou te contar... fiquei aqui
até 11 da noite refazendo todo o trabalho que era dela... haja
incopetência...
-Ah para de reclamar.
No primeiro dia você parecia bem satisfeito.
-Ela era bonita. É
verdade, isso impressiona um pouco. Mas dai, vi que era ton burra
quanto. Non ia dar certo, Frazon.
-Mas então, oque vai
ser? Open bar hoje e secretária competente, mesmo que seja feinha?
-Issi! É até melhor,
assim non corro o risco de Nara querer bater ponto todo dia aqui como
quando Judite estava na empresa.
-é.. seguindo essa
linha de pensamento... Eu voto a favor!
Vamos, vamos Fina!
-Sérgio, não!
-Ah, qualé? Eu te
ajudei, você me deve essa!
-Mas amanhã vou
levantar cedo e tudo mais!
-Não quero saber,
dívida é dívida!
-Eu sei... Mas é que..
-Rosa, por favor? Eu tô
imploraaando. A Cleide acaba de me dar um toco colossal, você tem
que me animar, que amizade é essa?
-Amanha eu tenho
entrevista... e não me olhe desse jeito.Você nem está tão triste
assim.
Sérgio faz bico e
abaixa a cabeça.
-Tá bem... você tem
razão. Me espere ás 8. Vou pra casa me arrumar, tá?
-Êê! Não se atrase
ein? Ah, e é por minha conta!
- isso é que é boa
notícia! -Rosa sorri indo em direção a sua casa.
-Hoje esse lugar tá
fervendo!
-Ah isso nem me
interessa, eu só quero beber!
-credo, Claude, assim
você me corta o coração. Eu aqui todo feliz, e você com essa
carranca!
-Non enche non Frazon.
A noite é uma criança.
-criança não sei
mas... Ninfa de olhos verdes... - Frazao sorri olhando de cima a
baixo uma morena de vestido azul
-Eu vou no bar.
-vá, vá lá...
chispa- disse sem nem tirar os olhos da moça que percebeu e sorria
pra ele.
-Ai, não devia ter
vindo...
-Já vai começar,
Fina?
-Calma, Sérgio, eu ia
dizer: não devia ter vindo com esses sapatos! São desconfortáveis.
Eu mal posso andar, imagina então dançar?
-Ah não! Como assim? E
com quem vou dançar?
-Como com quem? Vai
chover de mulher louca pra dançar contigo, menino!
-Não me chama de
menino... - Sérgio sorri sem graça. - eu sei que sou mais novo, mas
não tanto assim, hã?
-Tá bom, desculpa.
Agora vamos? Que tal uma bebida pra esquentar?
- ótima ideia.
-Ei, olha ali! É a
minha amiga!
-A de Azul?
-É sim!
-Uau... e como é o
nome dela?
-Janete.
-Me apresenta?
-Claro! Vem!
Os dois vão andando em
meio a multidão que dançava e se espremia na boate, até chegar ao
bar, onde Janete estava sentada voltada para a pista. Ao reconhecer
a amiga saltou do banco para abraçá-la.
-Ai amiga, isso é um
milagre!
-oque? Nos encontrarmos
por acaso?
-Não né ? Milagre é
você estar aqui, numa balada, e a noite!
-Ei que isso? Oque você
tem contra as matinês?
-Nada não... - diz a
moça que agora reparara no sorriso largo e convidativo de Sérgio
- Me chamo sérgio.
-Ah, desculpa gente.
Sérgio, Janete, Janete, Sérgio.
-Encantada.
-E ai, quer dançar?
-Claro! Você se
incomoda, amiga?
-É lógico que não,
vao lá. Eu vou pegar uma bebida!
-okay, é só uma e a
gente já volta!
-sei... -responde Rosa
pra si mesma, pois os dois já haviam desaparecido na multidão.
Ah! A tão familiar
solidão.... Corriqueira, rotineira, quase amiga.
Se não fosse tão
ingrata....
-É.. hoje o mar non tá
pra peixe. - uma voz disse. Real, irreal, imaginária... quem é que
sabe, depois de uns 10 drinques?
- Oque?
- Non está... pra
peixe non. - um copo bate na mesa e ela levanta a cabeça. Era real.
Um homem meio barbudo, meio descabelado. Alto. Ou ela que estava alta
demais
- Você... tá falando
de que?
-Ai depende... você
consegue entender sentido figurado?
-Sim.. eu entendo. Mas
porquê?
-Ah que bom. Graças a
Deus uma mulher que entende sentido figurado. É que ultimamente...
eu non tenho dado sorte.
-Moço, você quer que
chame um táxi?
-Non, non precisa non,
mas obrigado.
-Você disse que o mar
não está pra peixe. Mas eu acho difícil pegar um peixe só no meio
de tantos, veja. Esse lugar está um caos.
Por uns minutos os dois
ficam olhando para a pista de dança, que estava tão cheia e tão
desordenada, que era meio assustador olhar de fora.
-Você... non gosta de
multidon?
-Depende. De uma coisa
assim, não muito.
-É.. eu também non.
-Então... porque veio
aqui?
-Pela bebida. Mas e
você?
-Por um caso de dor de
cotovelo.
-Pardon, non entendi.
Por um caso de quê?
-Meu amigo foi chutado,
e queria se animar. - ela da os ombros. Os dois suspiram ainda
olhando a pequena multidão se agitar ao ritmo eletrodance
-E quem não foi? -
ambos dizem a uníssono. E gargalham como bêbados que estavam.
-Isso foi tão...
brega! - Rosa gargalha
- a vida é brega.
-mas essa frase é pop.
Muito pop! - ela toma mais uma golada de bebida enquanto o homem a
observava mais atentamente.
A moça era meio
baixinha, e parecia bem delicada. Ela tinha um pouco de maquiagem
nos olhos e batom vermelho nos lábios. Usava um vestido de cetim
azul escuro, que naquela luz, ele decidiu que era mais como preto.
Pode até ser uma aparência meio comum, mas ela tinha uma
inteligencia e sagacidade bem incomum. Era inevitável parar de falar
e apenas observar o sorriso dela, a maneira com que ela se
movimentava, a forma como seus olhos se ascendiam ao falar sobre
qualquer coisa banal...
-Nossa, eu tô mesmo
bêbado. - constata o homem, absorto em seus devaneios.
-É eu também! - ela
riu novamente.
-Ei, quer saber, quer
mais uma rodada?
-Com certeza!
Um zumbido lhe irrita
as orelhas, como se as asas de um mosquito preguiçoso voasse
lentamente ao redor de sua cabeça, que então, se afunda debaixo do
travesseiro. Mas é necessário respirar. Então, acidentalmente, os
olhos se abrem e as orelhas percebem que o mosquito é na verdade
trim trim numero 3, seu toque despertador do celular, que estava
enfiado em algum longínquo lugar pelo quarto.
Se senta num ataque de
pânico ensaiado.
-Ei, onde é que eu tô?
- ao se fazer essa pergunta, a moça gira lentamente o pescoço, ao
perceber que não estava sozinha na cama. Ela precisava achar o
celular. Então se levantou. Tomando antes o cuidado de se cobrir
antes de saltar por ai, nesse lugar que lhe era estranho. O lençol
estava preso sob o peso de um corpo bem maior que o seu, logo, o
plano b consistia numa camisa de linho branco com finas e cinzentas
listras verticais abandonada num lado da cama.
-Droga, justo branca!
-ela abotoa a quase transparente camisa fazendo careta, e procurando o
celular ao mesmo tempo.
E depois de longa saga
de alguns segundos, o som se esgota e ela não o encontra. Subindo no
colchão e olhando para o leito como quem se apronta para pescar um
peixe com as mãos, ela se apronta para mais uma demanda, ficando
bem quieta. No instante que o som recomeçasse, ela o encontraria na
hora.
-Drooga! - o trim trim
vinha de debaixo do tórax daquele ser que se esticava sobre a cama,
como se seus braços e pernas não tivessem fim. - onde é que eu me
meti?
Sem ter outra
alternativa, Rosa se debruça sobre o corpo, e estica o braço
tentando movê-lo. Mas justo quando sua mão alcança o aparelho de
celular, e o desliga, o homem segura seu braço , a derrubando sobre
ele.
-ei!- ela se debate
-Mas oque é isso, hã?
Non seja ton indelicada comigo... - ele a põe de costas e a encara
-Você non me disse seu
nome.
-você também não.
-Claude.
-Bem francês mesmo,
né? - ela ri. Ele lhe mordisca a orelha
-Sua vez
-Rosa.
-Que coisa mais típica,
hã? Nome de flor é ser ton brasileiro, non?
-Cala a boca.
-Ótima ideia. - Claude
a beija. Até que em instantes o aparelho dela volta a tocar, só que
com um som diferente. Ela o empurra, que com a surpresa dupla, cai
para o lado.
-alô? - diz ela se
levantando novamente, procurando suas roupas.
-ei, volta aqui... -
se levanta também e a abraça pelas costas. Rosa olha pela janela e
sente um frio na barriga. Deviam estar na cobertura do prédio. Era
muito alto. E ela nunca gostara de altura.
-Eu já estou a
caminho, não se preocupe.... tenho de desligar, tchau.
-Rosa.. oque foi? - ele
a encara, percebendo que a moça estava bem séria.
-Em que parte da cidade
estamos?
-No Morumbi... mas
porque?
-Eu tenho que ir.
-Onde? Quer que eu te
leve?
-Não, não precisa.
Obrigada. eu... posso usar seu banheiro?
-Claire, fique a
vontade.
Ela pega o vestido e a
bolsa, e fecha a porta do banheiro. Claude fica parado lá, ainda
olhando para a porta. Porque tinha vontade de estar lá com ela? Que
coisa era essa? Ela era só mais uma.. simples assim. Mal se
conheciam e foi tudo tao... confuso. Estavam bêbados e meio
deslocados. Foi natural.
-Droga, acho que foi
totalmente natural. Tanto que fomos irresponsáveis.. mas non quero
ser indelicado com ela..e ela pode se ofender.. ia ser ton...
-Eu já estou indo... -
ela reaparece do banho, fresca como se estivesse acabado de se
arrumar pra sair pela primeira vez.
-Como fez isso?
-Isso oque?
-Nem parece que acordou
a pouco.. está ton.. perfeita, alinhada.. - ele pisca pra ela, se
aproximando. Ela dá um sorriso que faz as pernas dele tremerem. Os
dois se beijam um pouco, até que o celular de ambos tocam,
deixando-os atônitos com o barulho que quebrara o silêncio e a
calma da manhã . Era uma quarta feira bem agitada, aquela.
Rosa se despede dele
com um selinho e sai correndo. Precisava estar com dois cafés da Starbucks nas mãos em meia hora, em frente ao prédio de seu futuro
emprego. Não teria erro. Estava tudo planejado. Sérgio e Janete lhe
deram todas as coordenadas, o emprego já era seu.
-O elevador abre em
cinco, quatro... - ela olhava o marcador na parte superior da porta
do elevador. Estava com a pasta, e os cafés. Era só dar os dois
passos desajeitados mais ajeitados de sua vida até aquele momento.
Frazão dá um sorriso,
mesmo estando de óculos para disfarçar a ressaca iminente. E nem
conseguira falar com secretária de olhos verdes direito. Um malandro
dançou com ela a noite inteira! Devia ter se juntado a Claude e
beber bastante, como “a noite dos cornos”. Mas viu que o amigo se
dera melhor que ele, e em nome da amizade e da esperança do francês
largar a jararaca ruiva, ele se manteve longe do amigo e sua
acompanhante baixinha e sorridente, que ele mesmo mal notara.
-Bom dia! - uma voz
feminina diferente das abituais soa pela recepção e Frazão se vê
obrigado a olhar para trás. A secretária de olhos verdes apontava
pra ele e ele quase acreditara que era com segundas intenções, até
reparar na moça, dona da voz, parada de pé em frente a mesa com
dois cafés nas mãos.
-doutor Frazão?- a
moça sorri
-oh, meu Deus, isso é
pra mim? Você veio voando do céu, é isso? Venha, vamos fazer essa
entrevista já, porque é urgente, minha mais nova musa!
Claude chega duas horas
depois, menos mau humorado do que estaria num dia como aquele, tão
cheio e com toda aquela enxaqueca que sentia. Porém, também estava
mais pensativo que o normal.
-doutor, sua namorada
ligou pra cá agora pouco para avisá-lo que só voltará na próxima
segunda.
-Obrigado, Janete. -
sorriu pensando “ enfim, uma boa notícia!”- Algo mais?
-Doutor Meneses disse
que a reunião pra sexta de manhã está confirmada, e me mandou o
endereço do restaurante.
-okay. E as planilhas?
-Metade estão prontas,
e a outra metade está com Gurgel. As prontas estão em sua mesa,
doutor.
-Tudo bem enton,
Janete, obrigado. Non repasse ligações antes das 14 horas, okay?
Estou com dor de cabeça, non posso atender ninguém assim.
-sim senhor.
-Onde está Frazon?
-Em entrevista com uma
candidata a secretária, doutor.
-Ah. Enton, quando ele
terminar, peça que vá a minha sala.
-Ok.
Frazão se
impressionara com aquela moça. Ela era atenta, firme, e tinha um
currículo bem acima do nível de suas concorrentes. Era ela, com
certeza. E como Claude lhe dera carta branca...
-Faz assim, passe no
D.P, e comece na sexta, oque acha?
-É sério?
-Seríssimo!
-Doutor, muito
obrigada! - eles apertam as mãos.
-Eu é que agradeço! -
sorri aliviado. Menos um problema! Ele acreditava estar diante de sua
possível substituta no quesito “resolver casos sem solução” e
“tratar dos urgentes e desesperados casos de desespero”. Os dias
péssimos seriam só ruins. Ela era como doutorzinho pra seus
músculos cansados, o reumatismo da empresa agora seria tratado por
pequenas mãos ágeis que assinara o contrato e lhe agradecera com um
firme aperto.
-Ai ai, a vida é
bela... - Frazão sorri observando a moça entrar no elevador. Janete
percebe o olhar dele e derruba um peso de papel, bufando em seguida.
Frazão alarga o sorriso pensando no quanto ela se incomodara. O
plano havia funcionado. A musa de olhos verdes não lhe era alheia.
-Fina, onde você
esteve?
-Isso é o de menos,
Terezinha, o importante é só uma coisa!
-Oque? Você e o sérgio
estão juntos?
-Não! Mas que ideia!
-Então oque?
-Eu consegui o emprego,
irmãzinha!
-Jura?- Terezinha sorri
-Sim! Sua irmã está
empregada novamente! E em tempo recorde!
-Fina, estou tão
orgulhosa de você!
-ei, essa fala é
minha, hã? Eu sou a mais velha! -
- E começa quando?
- Na sexta!
-Que ótimo! Ai,
graças a Deus!
-É sim. Ainda bem que
deu tudo certo. Estava com medo de passar por tudo aquilo novamente,
ter de ligar pros nossos pais, e dizer que não tínhamos dinheiro de
novo...
-É. mas isso não vai
mais acontecer. Deu tudo certo!
-E enton, Frazon, ela é
boa?
-Muito boa, amigo! -
Frazao esfrega as mãos.
-Mas de novo isso,
Frazon?!
-Calma Claude. Não é
duplo sentido não.. quero dizer, até é. Porque ela é boa no
sentido ambíguo também.
-Mais essa... não é
analfabeta funcional como a Judite, é?
-Ah não. Essa é
técnica em ADM, e também tem inglês fluente. Trabalhava pra
concorrência até 15 dias atrás... saiu de lá por que o pai
adoeceu e ela precisou ficar com ele, perdeu 10 dias de trabalho e
foi demitida. Está tudo formalizado. Trouxe até o atestado...
-Nossa. Comovente....
Mas... pelo menos nós saímos ganhando duplamente. Além da
escolaridade, a experiência dessa mulher, mesmo que for um tribufu.
-Não é tribufu não,
amigo. Aliás... é um caso a se pensar...
-Ei, nada disso Frazon.
Essa parece ser dessas que processam por assédio e toda a histeria
que uma cantada quase inocente sua pode gerar.
-Pois eu digo que ela
se sentiria lisonjeada. Eu não tenho culpa se você não sabe como
tratar uma dama.
-A dama no caso é a
secretária?
-Eu é que não sou,
né?
-Ah, chega de falar da
secretária.
-Ei, e ontem?
-Ontem oque?
-A baixinha lá. De
cabelo comprido... como foi?
-Foi ué.
-Foi?
-Oui. Porque? Você não
conseguiu nada com a sua “ninfa de olhos verdes”?
-Nem me fale dela. Um
sujeito lá dançou com ela a noite inteirinha. E você lá com sua
baixinha, e depois me deixou sozinho. Mas como você sabe, eu sozinho
não fico..
-Foi pra casa dormir? -
Claude zomba
-Não, né.
-Sei.
-Não vai mesmo me
falar da baixinha?
-Que interesse todo é
esse?
-É que eu quero medir
o “seu” interesse nela. Pro caso de rolar um telefone e tudo
mais.
-Mas oque é isso
Frason? E nosso pacto?
-E que pacto? Sou de
todas, meu amigo. Sem exessões.
-Que amigo fui arrumar,
viu... vou te contar...
-E o telefone?
-Ein?
-O telefone, da moça
de azul.
-Essa era a tua. Como
vou saber?
-Não ,não. A tua, a
baixinha. O vestido dela era azul marinho.
-Que bixisse Frazon!
Pra mim era preto. Mas no fim nem importa. E non tem telefone non,
ela saiu correndo.
-Como assim?
-De manhã... Ela
recebeu uma ligaçón e saiu correndo. Deve ser coisa de trabalho,
non sei. Mas se estou certo, e sempre estou, ela vai dar um jeito da
gente se esbarrar de novo... - Claude dá um sorriso malicioso.
-Então, pela sua
alegria, vejo que a noite foi mesmo incomum. Você nunca gosta que te
procurem de novo...
-É. Foi incomum sim...
ela é incomum...
-Então Fina, o patrão
hoje está fora, e pelo jeito nem virá aqui hoje. Então, podemos
aproveitar o dia pra você se adaptar e surpreendê-lo na segunda!
-Isso parece genial,
Janete! Ah, oque seria de mim sem você?
-Seria a mesma Serafina
brilhante e maravilhosa que é, amiga. Bom, essa parte não é nada
demais. É só a papelada que o doutor Frazão redige , você edita
e o doutor Geraldy assina tudo.
-Entendi. É mais ou
menos como na North White. Com a diferença que aqueles americanos lá
são muito chatos me sobrecarregavam o tempo todo... espero que aqui
não seja assim..
-Fica tranquila.
Sobrecarregar só em sazonalidade muito muito intensa. Mas de resto o
serviço é pesado, mas dá pra levar normalmente, sem estresse. A
parte dos balancetes financeiros também passa por nós duas. O
lançamento deles no sistema é feito pela secretaria, mas o controle
primeiro passa pro doutor Egidio e depois pro doutor Geraldy. Olha
amiga, nunca esqueça de repassar, e tem de conferir tudo antes,
okay?
-Tá bem. Na North White
eu é quem recalculava os balancetes.
-Ual.. bom, pelo menos
aqui não é tanta responsa nas suas costas. O revisamento é feito
pela diretoria direto, do jeito que vem do financeiro. Mas temos
sempre que conferir as datas e os valores brutos. Mas isso você tira
de letra, como sempre!
-Amiga, eu sou segunda
secretária, né? Quero dizer, eu sou nova aqui, e vou estar debaixo
de sua guarda, certo?
-Bom... como só temos
três acionistas, essa de primeira e segunda é desnecessária. Eu
vou te supervisionar só um pouco, quem vai fazer isso mesmo é o
doutor Frazão. E depois, você tá na vaga da Ana, a antiga
secretária do patrão, o dono da empresa, que é o doutor Geraldy.
Mas ela se casou e foi morar no interior do estado. Depois veio a
destrambelhada da Judite, que não ficou nem dois meses. Além da
incompetência, era uma mocreia e vivia dando em cima do patrão e
foi despedida, porque a namoradinha do patrão a odiava.
-Nossa.... Mas e
porque você diz “namoradinha”?
-Ah porque é o que ela
é. Ela se diz noiva do doutor, mas na verdade é só um
relacionamento grudento.
-Ué, se são
grudentos, o noivado é plausível...
-Não... ela é
grudenta. O patrão fica sempre muito aliviado quando ela viaja,
quando ela o deixa respirar!
-Credo... que
esquisito. Porque ele não termina com ela, então?
-Acho que ele tem medo
de ficar sozinho. Eles são do mesmo nível social, oque dá certa
segurança pra ele como homem...
-Como assim?
-Ele só encontrava
moças interesseiras, oportunistas... Dessas que só querem saber de
dinheiro. Daí conheceu a atual. Bem num dia em que ele estava
chorando as pitangas por causa de uma “desalmada” aí. Uma modelo
linda linda, só que tão ambiciosa que partiu o coração dele. Foi
a única que ouviu sobre casamento da boca dele. Acho que a verdade é
que ele se fechou, e esta com essa moça só por carência.
-Mas ele é fiel?
-haha, oque? Fiel? Só
cachorro, gato e periquito, amiga! Ele continua o mesmo, eu te disse.
Esse namoro, como eu te falei, é só uma questão social. Por isso é
que ele não termina.
-E ela não sabe disso?
-Claro que sabe. Mas
finge que não vê. Ela também tem asinhas e voa pra todo lado. Além
do mais, é filha de um dos sócios, e se os dois terminassem, as
coisas iam ficar instáveis aqui na empresa.
-Instáveis do tipo...
Perda de capital?
-Isso com certeza.
Doutor Egidio só tem ela de filha, e é o interlocutor da maioria
dos investidores... tem uma longa e sólida carreira de engenheiro e
conhece muita gente influente e importante. Seria uma catástrofe.
-Nossa... que horror.
Então, pelo bem da nação, vamos paparicar a pobre menina rica e
usar óculos de sol pra não sermos pegas olhando pro bibelô dela!
-Sim, sim! Mas agora,
vamos almoçar?
-Com certeza, tô
morrendo de fome!
-Ah Finalmente é
sábado!
-E com Nara no Rio, eu
tô sossegado!
-Depois diz que é a
mulher da sua vida. Não aguenta ficar com ela por perto.
-Ah mas isso é a minha
maneira de viver. Eu preciso de espaço, hã? É só isso.
-Ela que é grudenta.
Como uma mulher grudenta pode ser tua alma gêmea?
-Olha Frazon, ela é
grudenta as vezes. Porque noutras, como agora, ela adora viajar. Oque
significa liberdade pra o menininho aqui. Que outro relacionamento
seria melhor que isso?
-Isso quer dizer
“relacionamento aberto”, é isso?
-Non, claro que non.
Isso quer dizer que eu posso respirar.
-Ah tá, e ela? Se os
dois “respiram outros ares”, isso significa relacionamento
aberto, meu bem.
-Non confunda os termos
Frazon. Nara é uma mulher mimada. Ela gosta de passar o dia em spa,
ou tomando sol numa praia ou na piscina, comprar e essas coisas. Isso
non significa que ela vai sair por ai pegando todos non... já pra
mim, por outro lado...
-Então, em sumo, isso
não tem nada haver com amor. Muito menos o amor da sua vida, amigo.
-Frazon, isso ai é
coisa de novela, hã? Deixa essa parte pra Robertinha, que ela
entende bem. Isso aqui é vida real, hã?
- O que significa que
você falar que Nara é a mulher da sua vida é na verdade baseado na
relação “menos pior” das que você teve antes.
-É uma questão
prática. Ela estava lá disponível, era filha do meu sócio, estava
tudo nos conformes.
-Isso é tão broxante.
Que coisa de interessante realmente esse relacionamento pode ter,
Claude?
-Algo como um fim de
semana inteiro de vale night, meu bem.
-Ih sai pra lá com
essa de “meu bem”. Você não faz meu tipo.
-Cala a boca, imbecil.
-Olha, eu acabei de me
lembrar que marquei com uma morena espetacular hoje pra almoçar...
-Ei como assim? E eu?
-Você oque? Se liga,
ô! Onde que vou deixar uma morena linda de morrer como a Kelly
esperando?
-Tá bom, já entendi.
Você tem todo direito. Non tem culpa de Nara ter viajado. Se ela
tivesse avisado com antecedência...
-Mas e a baixinha?
-Oque tem ela?
-Ligou ou alguma coisa?
-Non... Também, ela
nem sabe meu nome direito...
-Mas você levou ela no
seu apartamento não foi? Ela pode ter deixado algum recado..
-É... aliás, vou
ligar agora mesmo pra casa e perguntar à Dadi.
-Você podia dividir
ela, né?
-Oque? Frazon, que
história é essa? Tá maluco é? Dividir a mesma mulher com você?
Daqui a pouco vai me aparecer atrás de Nara também!
-Ai, cruz credo,
francês. Atrás daquela lá, nem que fosse a ultima mulher no mundo!
Mas eu nem tava falando da baixinha, ô mente poluída. Tava falando
de Dádi, a governanta, hã? Ela faz umas comidinhas maravilhosas...
você podia era me emprestar ela dia desses..
-Ah. Mas aí é que eu
não divido mesmo. Imagine. Dadi é só minha, hã?
-Francês, você é um
possessivo desalmado e machista também.
-Machista? Mas no que se
encaixa essa afirmaçon?
-Ué, só você pode
sair com outras pessoas e Naja, digo, Nara, não pode... e ainda
reclama dela.
-Frazon isso é
problema meu, tá?
-Ah quer saber? Já
vou.
-Vai, vai, mesmo, amigo
da onça!
-Um dia você ainda vai
agradecer aos céus o privilégio da minha amizade seu desalmado.
Olha eu desejo a você meu amigo, a melhor das coisas pra curar sua
amargura: que se apaixone de verdade, e dez vezes mais do que se
apaixonou pela estúpida da Camila. Aquela mulher era uma cobra ainda
mais venenosa que Naja, digo, Nara. Mas você precisa botar um freio
nisso, amigo. Cara, mulher é bom, mas elas tem sentimentos também.
Nem todas são como a sua ex ou a sua atual, que é tao interesseira
quanto. Querido, viva direito, Claude! Ó: respira, inspira, e vai!
-Vai continua! Non tem
mais? Vou aproveitar e filmar, fazer um site na internet: “Frazon,
o guru do amor.”
- Agora me desinspirei.
Mas ainda tá valendo, ein? E minha palavra é pior que de mãe, é
pá pum!
Eu sei, eu sei. Mas
prometo que chego cedo, irmanzinha.. vai, deixa eu ir?
-Tá, tudo bem. Além
do mais, você é maior de idade. Mas vê lá, ein? Não vai se meter
em problemas, hã?
-Euzinha me meter em
problemas? Que isso Fina, até parece. Você é que é mestre nessa
arte.
-ah, pior que tenho de
admitir dessa vez... mas então me prometa que não fará oque eu
faço, hã?
-hahaha prometo.. mas
e ai? Você vai ficar aqui sozinha?
-Não sei bem... mas
acho que é provável que eu saia com o Sergio.
-Ah, jura?- a garota
revira os olhos- Nem imaginava...
-Terezinha! E isso é
só porque ele quer ver minha amiga do trabalho de novo...
-Sei... a que você
supostamente dormiu na casa, na terça?
-Supostamente?...
-Você mente muito mal,
irmãzinha. Mas vou fingir que acredito. Bom, tá na minha hora!
-Cuidado, hein? E mesmo
se eu não estiver aqui, dona Joana ficou de olhar a que horas você
vai chegar, viu? Então nada de tentar me enganar!
-Outra vez Fina, eu
tenho de discordar dessa inversão de papéis.
-Mas eu sou a mais
velha!
-É .. só que... -
Terezinha ia se gabar de ser mais sensata, mas alguém bate na porta
- ah, é o Milton.. Boa noite, Fina!
-Boa noite, Terê.
Juizo, e olha a hora viu!
-beijo!- se despede da
irmã, que revirava os olhos sorrindo.
Claude... porque não
conseguia se esquecer dele? Do sorriso, da voz profunda, do jeito
solene e malicioso ao mesmo tempo? Da temperatura do corpo dele ou de
como a olhou? O último beijo que trocaram...
-Esquece, Serafina.
Esse cara é só um mauricinho típico, morando num arranha céu e
enchendo a cara rotineiramente. Ah Dio mio, ayuta!
-Fina!
-Já vou, Sérgio!
Os dois caminham até o
ponto de ônibus. Sérgio não parava de falar e fazer perguntas
sobre os gostos de Janete. Rosa achava engraçado todo o interesse
dele na amiga. Mas entre uma pergunta e outra, ela se perdia a pensar
sobre o tal “Claude”.
-Olha, é o nosso! -
uma voz seguida de um som de motor e o vento vindo do movimento do
ônibus a despertaram do transe. No trajeto, Rosa pensara em como sua
vida estava diferente do que ela imaginara. Se os pais ainda vivessem
ali, com ela e a irmã, as duas teriam uma rotina bem diferente.
Perderiam e muito a liberdade que tinham agora.
Mas ela preferiria que
tudo fosse como antes. Quando seu pai era um senhor tão forte e
saudável e cheio de vida. Depois da doença nos pulmões, fruto de
tantos anos respirando poluição ao vender balas junto à rodovia
em frente à uma escola, nunca mais fora o mesmo. Ir para o interior
foi com certeza a melhor das ideias, oque acelerou e otimizou a
recuperação de seu pai tão amado. Mas oque ele diria ao ver suas
filhas saírem a noite, e naquela frequência? Ou saber que depois do
noivado mal sucedido com Júlio, Rosa não se guardara mais?
-Tudo bem que foi só
naquela noite... mas...
-Oque disse, Fina?
-Nada! - Rosa se
espanta ao perceber onde estava.
-vem, é aqui que a
gente desce.
A boate dessa vez era
bem diferente da outra. Tinha bem menos pessoas, era mais como um
lounge bar. Com uma cantora ao vivo, e mesas decoradas com um
jarrinho contendo uma rosa dentro de cada um.
Rosa reparou no
pianista careca e rechonchudo, vestido impecavelmente, apropriado ao
estilo do jazz que tocava. A cantora, negra e glamourosa, se
contorcia na mais envolvente apresentação que presenciara.
-Nossa... esse lugar é
tão...
-Ual..
-Eu ia dizer elegante.
Mas “ual” define.
-A Janete... tá ainda
mais linda..
-ela sempre está
linda, Sérgio.
-Quem sou eu pra
descordar.
Entre os olhares do
casal, Rosa se acomoda na cadeira de madeira alcochoada de um tecido
verde aveludado. Tentava se distrair e olhar as pessoas ao redor. Mas
era tudo tão calmo e tao romantico que ela precisou pedir licença e
ir tomar um ar do lado de fora.
Se lembrou de quando
Júlio a pedira em casamento... foi num lugar como aquele. Um pouco
mais simples e sem a figura da cantora. Mas havia um pianista tocando
Blues e cadeiras acolchoadas. Havia tambem um anel de prata e
champagne.
-Com licença, por
favor? - uma voz soa ao mesmo tempo que mãos pousam em seus ombros,
como quem pede passagem. E ela estremesse ao reconhecê-las. Não
apenas a voz, mas também as mãos. Ela chorou por dentro. Preferia
nunca mais vê-lo.
-Perdão. - Rosa dá um
passo para o lado sem se virar, para ceder a passagem. Permanece de
cabeça baixa, rezando para que o moço desaparecesse de repente,
assim como chegara.
-Non, Rosa, eu non
quero passar. - ele suspirou, ainda tendo as mãos nos ombros dela,
que se retesou ao ouvir seu nome.
-Claude... - ela
finalmente se virou para ele, que a surpreendeu com um beijo urgente.
-Eu sabia que a gente
ia se encontrar de novo!
-Ah é? E como? Colocou
um rastreador na minha bolsa, foi?
-Non...- ele sorri,
sentindo um borbulhar no estômago. Ela era tão esperta! E a forma
como ela se encaixava a ele, o olhar... - mas non seria má ideia,
hã?
-O que faz aqui? Está
com alguém? - ela suspira
-Na verdade non. Sou um
solitário, sabia?
-Ah, finjo que
acredito.
-E você, está
acompanhada?
-Estou de vela. Um
casal de amigos me obrigou a vir. Disseram que ia ser legal, mas a
única coisa legal aqui é que tem cadeiras com veludo e uma cantora
de Jazz.
-Ah, tadinha. Mas e a
bebida, é ruim?
-Meio cara. E também,
depois daquele dia, prometi não beber mais.
-Fez promessa a qual
santo? Nossa senhora dos desesperados?
-Quase isso.
-Se arrependeu?- ele
pisca, ainda a abraçando.
-De quê?
-De mim.
-De você? - ela sorri,
ele acente divertido. - ainda não decidi.
-Que bom. Enton, ainda
há esperança.
-Esperança de quê?
-De você aceitar sair
comigo de novo.
-E a gente já saiu
junto antes?
-Bom, aí depende do
seu ponto de vista. Falar nisso, tive uma ideia... - ele sorri e a
olha de forma enigmática
-O quê? Que ideia?-
ela pisca sem entender. Claude a beija
-Só... vem comigo?
-Pra onde?
-É uma surpresa. Vem?
- ele faz biquinho e cara de cachorro sem dono. Os dois sorriem um
olhando nos olhos do outro.
-Tá... vou pegar minha
bolsa.
-yes! - ele ri. - ei,
Rosa?
-hum? - ela se vira pra
ele, que a surpreende com outro beijo
Rosa não se lembrava
do carro dele, nem de como fora parar no apartamento naquele dia. Mas
se lembrava de ele olhar para ela a cada semáforo. Lembrava de seu
anel prata e vermelho no dedo médio da mão direita, do cabelo
sempre bagunçado...
-Chegamos!
-Que lugar é esse? -
Rosa o olha desconfiada. Era um prédio parecido com oque ela
trabalhava, mas tinha uma fachada diferente.
-A princípio, um
prédio comercial. Mas é o que tem lá em cima que quero te mostrar.
-Não tô gostando do
tom da conversa...
-Calma. Você vai
gostar, eu prometo. Vamos?
-Já estou aqui
mesmo... então vamos...
os dois entram num
elevador de vidro. Rosa detesta aquela sensação e estremece. Claude
discretamente segura sua mão, e vai se aproximando dela
gradativamente. Quando ela percebe, está abraçada a ele, que a
conduz por uma sala de restaurante pela cintura, e pede uma mesa
perto da janela, que na verdade consistia numa enorme vidraça , de
onde se tinha a mais explêndia visão da avenida Paulista.
-Nossa.. esse lugar é
incrível!
-Você é incrível. -
Claude a encarava, que sem graça responde
-Não, Claude. Eu sou
uma mulher simples, de coisas simples. Não tenho nada de
estraorinário. E provavelmente, não sei nada de que você não
saiba.
-Ai é que se engana.
Não sou tolo a ponto de subestimar alguém como você. Tenho certeza
de que você é uma mulher excepcional. E acredite, eu sei oque digo.
-Bom, acho que deve
mesmo ter bastante experiência no assunto. Agradeço, mas ainda
discordo, para ser franca.
Os dois se olham
comicamente, como se disputassem algo, mas de forma divertida. Até
que um mâitre chega e Claude escolhe um vinho para ambos.
-Você é uma má
influência. Eu estava indo bem com minha promessa. E agora veja só!-
Rosa levanta a taça
-Ah, mas é só hoje.
Tenho de te impressionar com alguma coisa... e se tem algo que eu
conheça a ponto de me gabar, é vinho, hã?
-Não tem de me
impressionar, Claude.
-Mas claro que tenho!
Seria non fazer papel de homem, hã?
-Os homens são idiotas
se acham que isso é que vale.
-Sabemos que não vale.
Mas gostamos de ver vocês sentirem pena de nós e que nos consolem
com beijos carinhosos, hã?
-Mas vejam só! - Rosa
gargalha.
Havia uma pequena
psicina decorativa, com luzes que refletiam no teto de pé direito
bem alto. Uma mesa de quatro cadeiras e duas poltronas do outro lado.
Mas os dois tiveram vontade de estar no confortável divã, e os dois
ao mesmo tempo.
-Você vive aqui
sozinho? - Rosa pergunta olhando as formas fantasmagóricas que a
água refletia ao longo da parede até o teto.
-Na verdade non. Tenho
dois empregados e um motorista que estão sempre aqui. Além de meu
melhor amigo, que é como um irmom.
-Hum.. - ela o observa.
Ele parecia pensativo
-Porquê? Tá pensando
em vir me fazer companhia?
-Mas oque é isso?- ela
ri, incrédula- Tá pensando oque de mim, hein? A gente mal se
conhece... -
-Bom... se existe um
estágio de intimidade mais avançado do que oque estávamos a
pouco..
-Claude! - ela bate no
peito dele com o punho. E ele lhe morde o lóbulo da orelha como
punição.
-Non estou mentindo,
estou?
-E além do mais, mesmo
que eu quisesse isso. Você está em um relacionamento, esqueceu?
-Non é bem um
relacionamento.
-Ah não, é?
-Bom... é um
relacionamento.... enrolado. - ele sorri
-Que cafageste... -
Rosa ri. Mas se recrimina por estar ali- Acho melhor eu ir.
-Ei, mas claro que non.
- ele a puxa de volta
-É sério, Claude, eu
tenho que voltar pra casa...
-Mas amanhã é
domingo.
-É... Mas algumas
pessoas trabalham no domingo, sabia?
-Você non.
-Como você pode ter
certeza?
-Você non parece ser
dessas que cometem o mesmo erro duas vezes. - Ele sorri e Rosa revira
os olhos
- Mas cá estamos, não
é?
- Acha que isso foi um
erro?
-Provavelmente. Mas foi
bom errar com você. - ela sorri e Claude lhe pisca
-Teve problemas,
naquele dia? Você parecia atrasada.
-E estava. Só que deu
tudo certo.
-Você é a garota do
“sem problemas”.
-É... Quase. Nem
sempre dá certo.
-Quer subir?- ele a
encara
- Se eu disse que tinha
que ir... - ela choraminga. Mesmo se sentindo tentada.
-Você non tem non...
seja sincera. Escolha ficar aqui comigo...
-Claude... - Ela
resmunga. Ele passa a beijar-lhe o pescoço
-Non seja malvada.
Venha me consolar.
-E a mim, quem vai
consolar quando eu acordar aqui e ver que não devia ter vindo?
-Eu vou. E irei
convencê-la do contrário, eu prometo.
-Tem certeza? Acho que
vou gravar isso. Porque se amanhã você quiser me expulsar ou coisa
assim...
-Non diga bobagens. -
ele sorri- No máximo eu te amarro ao pé da cama pra você non ir em
bora.
-Ah, acho que vou em
bora agora.
-Calma, bobinha, estava
só brincando. Fico feliz em ver que non é como a maioria por aí. É
independente, e livre.
-É eu sou. -uma sombra
passa no olhar dela
-O que foi? - ele
levanta a cabeça dela pelo queixo- falei alguma coisa errada?...
quero dizer, muito errada, que te ofendeu?
-Não... - ela sorri
sem graça. - não liga, não tem nada haver com você... é só...
-É só...
Rosa o olha por algum
tempo e, mordendo o lábio o pegou pela mão e os dois caminharam até
as escadas. De lá Claude a levou nos braços para o andar de cima.
Quando o despertador
toca, Rosa o desliga imediatamente. Teve a sorte de ele estar bem
perto, no criado mudo. Mas então percebe que algo a segurava. Algo
como dois braços envoltos em sua cintura. Ela ficou séria. Mas em
seguida se permitiu sorrir. E o mais de vagar que pôde, virou-se
para Claude que ainda dormitava.
-Bonjour... - ele lhe
beija o pescoço
-Bonjour... - ela ri da
voz dele e aquele tom solene de mordomo.
-Pode me prometer uma
coisa?
-E já começa o dia
assim, meu garoto das solenidades? Com promessas?
-Oui, minha garota do
sem problemas.
-Oque quer que eu
prometa?
-Que non vai me deixar
aqui sozinho de novo.
-Mas que isso? - ela
ri- que carência toda é essa? É melhor você acordar, tomar um
café bem forte, e aí vai se dar conta da tremenda bobagem que tá
dizendo.
-Porque?
-Você não ia querer
passar tanto tempo comigo. Eu sou bem chata.
-Ah, é? - ele a abraça
mais forte, e ela suspira
-Na verdade, é ainda
pior do que parece. E eu não sei cozinhar tão bem...
-Non importa, eu sei.
-Claude lhe pisca um olho e ela levanta as sobrancelhas
- E nem sei lavar
roupas sem manchar de alvejante.
-A gente leva na
lavanderia.
Os dois riem, e se
encaram. Se beijam e Rosa se encolhe no abraço dele.
-Como ela é?
-Quem? - responde de
olhos fechados, já imaginando oque se seguiria.
-A sua namorada.
-A minha...
-Não sei como chamar o
seu rolo. Seria a sua enrolada? - ela ri
-Non seja ton maldosa.
Até parece que ela non fica com mais ninguém.
-E você não se
importa?
-Na verdade non sinto
ciúmes, exatamente. Non é que eu goste de ser corno, mas é que
non sinto nada por ela e provavelmente nem ela por mim.
-Ela também é corna,
se pensar bem. - Rosa revira os olhos- E também não entendo o
fundamento de ter um rolo assim
-É mesmo complicado...
até de explicar.
-Hum.. Quer ovos
mexidos? Isso eu sei fazer!
-É mesmo? Vai me fazer
café e tudo?
-Ei! Ninguém aqui
falou em café!
-Mas ovos sem café...
-Esperava
voluntários... - ela pisca, e ele a levanta junto com ele, a levando
no colo
-Vamos fazer assim,
primeiro um banho, depois o desjejum, hã?
-Parece sensato,
senhor. - ela sorri, se dando conta de que vestia outra camisa dele,
só que essa era azul clara e lisa.
-Non fale assim, parece
minha professora da faculdade.
-É advogado?
-Non.
-Entao oque?
-Você terá de
adivinhar...
-ah não tem graça!
Os dois descem, e tomam
café em meio a sorrisos e beijos. O celular de Rosa toca. Terezinha
querendo saber onde ela se metera. As duas prometeram almoçar na
casa da mãe de Miltom, e a moça estava possessa por a irmã não
estar lá ainda.
-O que foi? - Claude a
observava
-Era minha irmã.
Esqueci que hoje fiquei de almoçar com a sogra dela..
-Ela é a mais velha? -
ele a puxa para seu colo
-Até você?
- Eu oque? - ele sorri
-Ela é mais nova que
eu quase dez anos, ouviu? Não sei porquê dessa mania de dizerem que
eu sou a caçula. Nem sou tão desmiolada assim!
-Non te acho
desmiolada. Mas ela parece ser a mandona da família, hã?
-Isso é verdade. É
bem coisa de caçula, ser mimado e ter isso de “agora, porque eu
quero”. - Rosa revira os olhos sorrindo. E ele lhe dá um selinho
-Oui..
-E você não tem
irmãos?
-Non... non tive essa
sorte..
-E acha isso sorte?
Dizem sempre que é melhor ser filho único...
-Talvez... mas quando
se tem primos.Mas no meu caso, sou filho único de filhos únicos...
meus pais se foram e eu fiquei só.
-Nossa... tadinho! -
ela toca o rosto dele e faz biquinho, numa zombaria tão branda que
ele sorriu e a beijou
-Sabia que você foi a
única pessoa que non me deixou com pena de mim mesmo por isso?
-Eu sou a garota do sem
problemas.
-É sim. - Claude
acaricia os cabelos dela, que o beija repetidas vezes
-Acho que agora é
oficial. Tenho que ir.
-Non vai nem me deixar
te levar em casa?
-De jeito nenhum. Você
não sabe oque são meus vizinhos. São como medusas com vinte
cabeças e com veneno em dobro.
-Nossa, acho que eu non
ia querer conhecê-los, né?
-Não mesmo.
- Non estou
convencido.- ele sorri e faz cara de incrédulo,
-Ficaria surpreso ao
ver que falo sério.
-Está me enganando.
-Não.. -ela ri da
birra dele e o beija
-Nos veremos de novo?
-Eu prometo
- Me disseram para non
confiar nas mulheres.
-Eu te digo o mesmo. -
ela lhe pisca e ri
Passou o fim de semana
com ela?
-A noite de sábado e a
manhã de domingo. - Claude cruza os braços atrás da cabeça
-Quer dizer incluindo a
madrugada entre uma e outra, né. Mas e hoje não vai trabalhar?
-Passei a noite em
claro... estou pensando em como vou terminar com Nara
- E porque não está
em paz? A noticia é tão boa... finalmente! Santa baixinha!
- O nome dela é Rosa.
-Ih, já esta assim é?
Dessa vez minha praga chegou rápido.
-Cala a boca Frazon.
Non vê que isso pode ser catastrófico? Nara pode decidir me
atormentar pra sempre.
-Isso é né. Ela pode
decidir não te atormentar. Porque te atormentar ela já atormenta.
-Frazon...
-Oquê? Tô mentindo,
por acaso?
-Non. Tudo bem, você
tem razon. Mas ao invés de ficar aí me zoando, você deveria era me
ajudar, dar uma ideia aí!
-hum... deixa eu ver...
que tal jogar ela da sacada?
-Você é o advogado...
por favor, sugira algo dentro da lei, né.
-Então... e se a gente
levar ela numa dessas boates de Drag Queen, e dar um perdido nela?
Com sorte traficam ela pro mundo árabe e nunca mais vamos pôr os
olhos nela de novo.
-É... essa foi um
pouco melhor. Mas preciso de algo um pouco mais consistente, hã?
-Francês, na real,
fala a verdade pra ela. Simples assim.
-Oque? Tá maluco, é?
Bebeu tão cedo? Eu chego pra Nara e digo: olha Nara, é o seguinte,
non dá mais, porque eu non suporto mais você. Você é uma chata e
eu nunca gostei de você.
-Também não precisa
ser tão indelicado. Mas é uma opção bastante eficaz.
-Isso é sério?
Frazon, de qualquer forma, ela vai me matar!
-Bom, eu é que
preferiria morrer do que passar o resto da vida com alguém como ela.
Mas se você acha que sua baixinha não vale a pena...
-Rosa, Frazon, o nome
dela é Rosa. E é lógico que vale a pena. Até porquê, eu já
planejava me livrar de Nara faz um tempo.
-Tipo desde que se
comprometeram.
-Tá, já chega. Você
me convenceu, vou trabalhar, hã?
-Já estamos perto da
hora do almoço, francês.
-E daí? Antes tarde do
que nunca.
Olha Serafina, essas
planilhas aqui sempre passam pela sala das cópias, porque todos os
acionistas recebem uma, entende?
-Sim. - Serafina sorri.
Ainda estava com a cabeça na noite de sábado. E na forma como seu
“amigo” a tratara... - Tão cavalheiro...
-Quem é cavalheiro?
-Oque?
-Você que disse, eu
ein. Ah! - Janete dá um pequeno pulo sem sair do lugar, e Rosa se
retesa- e tem também a parte da limpeza da sala. Olha, você tem
que abrir a porta pra faxineira, porque fica trancada. E tem de
verificar se as gavetas estão bem trancadas, porque tem papelada
importante lá dentro, e não pode cair nas mãos de qualquer um.
-Sim, claro.
-Olha, o doutor Frazão
acaba de chegar! Agora vou pra minha mesa. Ele vai te mostrar onde
estão os documentos e te ensinar como proceder com cada um. Até
mais, amiga!
-Olá, senhorita
Petroni.
-Olá, doutor Frazão!
- Rosa sorri
-Venha, temos muito
oque fazer hoje. E seu patrão está uns dois ou três dias atrasado,
como de costume.
-Sério? - ela o
acompanha até a sala. Havia duas mesas principais, uma com apenas
três cadeiras, e uma com pelo menos doze, além de armários e um
sofá.
-Isso nem é tão
importante. Ele só tem de rubricar papéis, essa é a maior parte do
trabalho dele. Eu e você é que tratamos dos assuntos realmente.
-Nossa, mas isso não é
muito pra uma simples secretária?
-Se acalme, dona
Serafina. Nós só vamos cuidar do administrativo, temos tudo sobre
controle. A arquivação é que está atrasada, e tem muito
lançamento chato pra fazer. Mas isso será só no começo, porque
com o novo projeto em andamento, vai ser tudo muito interessante, eu
garanto!
-E quanto ao acesso a
pessoa do doutor?
-Ah, isso é o de
menos. Quase ninguém fala pessoalmente com o presidente da
construtora. Isso vai ficar mais com as outras secretárias. A
maioria dos visitantes fala comigo ou com o Egídio. Quem entra na
sua parte é só a parte pessoal do presidente Geraldy, como
parentes. E isso ele não tem muitos, e também, vivem na europa. Ah,
alguns banqueiros e investidores, mas só.
-Aw, entendi.
-Sim, é isso mesmo.
Nosso chefe é um solteirão meio solitário. Mas não o julgue mau,
ele é apenas um cara que não teve muita sorte nos relacionamentos.
-Imagine, doutor. Na
verdade, até me identifiquei um pouco. Apesar de ainda ter pais
vivos e uma irmã muito preciosa.
-Dê o máximo valor a
eles, Serafina. Realmente, a família é o maior tesouro que se pode
ter.
Os dois sorriram um
para o outro e Claude entra na sala na mesma hora.
-Mas oque?!
-Idiota, imbecil,
fracassado!
-oque foi isso, Rosaa?-
diz a moça de olhos arregalados, entrando no banheiro
-Nada, Janete, nada.
Estava só falando sozinha.
-Não falo disso,
porque é obvio que estava chorando. Quero saber o porque e também
oque foi que aconteceu na sala do doutor Geraldy.
-Ah, Jane... acho que
fui demitida.
-Mas é seu primeiro
dia pra valer... como pode?
-Eu nem sei por onde
começar...
-Vem comigo até a
copa. A gente toma uma água, um café, e você me conta tudo.
Os funcionários não
disfarçaram a curiosidade em ver a moça passar cabisbaixa, amparada
pela amiga. Rosa fez o máximo esforço pra não olhar em direção da
sala de seu malfeitor, o cretino que partira seu coração em pedaços
pela segunda vez. A primeira foi ainda pior, ela admite. Mas dessa
vez foi como um golpe de misericórdia. Ela se viu decidida a não se
importar mais com sentimentos, dali para sempre.
-Porque fez isso, seu
animal?
-Você non percebe,
Frazon? Essa mulherzinha, estava me usando! Ela estava brincando, se
divertindo com a minha cara!
-Tá louco, é ? ô
francês!
-Pensa comigo, ela
sabia quem eu era, mas fingiu não saber... ela tá aqui a mando da
concorrência, isso sim! É uma espiã, e eu cai no jogo dela!
-Para de viajar na
maionese, Claude! Como você pode pensar mal daquela moça? Você mal
a conhece...
-Disse tudo, Frazon! Eu
mal a conheço. Tinha ela por uma moça diferente e simples, mas vejo
que é uma ambiciosa justamente igual a todas as outras!
-Cala a boca, francês!
Pelo amor de Deus, você ficou cego depois do que a Camila te fez e
agora vê o demônio em todas as mulheres do mundo!
Claude se joga na
cadeira, exausto. Abrira os botões da camisa, jogara a gravata
longe. Estava vermelho e suava frio.
-Eu estava me
apaixonando por essa bruxa sem coraçon... e veja! Ela acabou de me
dar o melhor presente que eu poderia receber de uma mulher! Um
coraçon totalmente petrificado
-Eu duvido. Você
precisa repensar seus conceitos, Claude. Você está enganado. Ela
foi mandada em bora de verdade. O pai estava doente de verdade. Ela é
uma moça simples de verdade.
-Como sabe de tudo
isso? E como pode defendê-la com tanta convicçon assim?
-Eu investiguei né
Francês,.
-quando? Se ela
apareceu aqui na quarta passada?
-Antes de ela vir aqui,
ela foi indicada por Janete, que foi indicada por seu tio-avô. Você
não pode negar que Janete é confiável, está conosco desde o
começo e jamais prejudicaria um Geraldy, porque foi criada como uma!
-Eu sei. Mas non
estamos falando de Janete, estamos falando de Serafina Rosa.
-Petroni. O sobrenome
dela é Petroni.
-oque?
-Sei tudo sobre ela.
Levantei a ficha dela inteirinha, sei até as notas do primário.
-E porque Frazon?
-Porque eu precisava
ter certeza que o projeto Vila Real Verde estaria a salvo das
mãos dos concorrentes e que daria tudo certo. Eu sei o quanto você
acredita nesse projeto e o quanto sonha com ele. Sei também, meu
amigo, que essa secretaria é a pessoa perfeita pra estar aqui
conosco e pra falar a verdade, estou triste de vocês terem se
relacionado. Acho que você estragou tudo.
-Non, non Frazon.
Existem outras.
-Como ela? Acho muito
difícil que encontremos a tão pouco do lançamento do projeto.
Precisamos dela, e precisamos agora. - Frazão aponta a pilha de
papéis sobre a mesa de Claude. Que faz uma careta e começa a mexer
na papelada
-Você está
exagerando. Non temos assim tanta urgência non... - o francês
coloca uma pasta na mesa, e todas as outras caem no chão, junto com
a maior pilha de papéis.
-Temos sim. E essa
bagunça na sua sala reflete o nosso estado desesperado, amigo. Na
verdade, acho que posso dizer que é como um reflexo da sua vida
pessoal também, fala aí. - Frazão ri
-Ah tá. E pelo que vi,
na sua analogia, a soluçon de todos os problemas da empresa, e meus
problemas pessoais, se resume naquele furacon de 1, 50 de altura que
passou aqui há uns 40 minutos atrás, é isso?
-Se você não
acredita, tem uma ideia melhor do que acreditar no seu amigo aqui,
que sempre te ajudou, então não posso fazer nada.
Frazão sai da sala
para procurar Rosa. Claude começa a chorar assim que se vê sozinho
na sala.
-Porquê, mon Dieu,
porquê? Eu sou mesmo um imbecil, um idiota de acreditar em papai
noel, coelhinho da páscoa! Como eu sou idiota! Ela é como todas as
outras, nada demais! Como eu poderia esperar outra coisa? Mais uma
interesseira no meu caminho, porque todas as mulheres son assim!
Ele andava de um lado
pro outro, bufando de raiva, e chorando ao mesmo tempo. De repente
ele se sentia fraco, vazio, sozinho. Não havia mais volta. Ele tinha
se apaixonado feio. Ainda pior do que quando conhecera Camila. Camila
não era como Rosa. Camila era alta, magrela é verdade, mas ele
entendia que para ser top model, ela precisava ser. Camila tinha
cabelo curto, o rosto perfeito. Rosto que sempre disprendia uma
risada sarcástica, um ar superior. O jeito menina malvada deixava o
francês sempre intrigado, fascinado por ela. Até que a maldade dela
o atingiu em cheio. E agora, ele percebia, o contraste entre Rosa e
sua ex não era tão forte assim, porque ambas lhe fizeram de bobo.
-Eu tentei, amigo, eu
tentei. - Frazao suspira, entrando na sala. - ela está muito nervosa
e quer voltar pra casa. Me ofereci para levá-la então, não me
espere.
-Oque?! Oque quer dizer
com issi?- Claude ficara vermelho, o maxilar tenso que indicavam sua
raiva prestes a explodir
-Olha, francês, fica
de boa aí. É lógico que não vou fazer nada demais. Vou tentar
acalmá-la, oferecer um salário maior, não sei... na hora eu vejo
oque invento. Pedi a Janete que me conseguisse o telefone dos pais da
Rosa, quem sabe descubro algo mais que nos ajude.
-Frazon não consigo
entender o porque do seu desespero em manter essa... essa
mulherzinha, aqui!
-Claude confia em mim,
só dessa vez, ok? Eu vou levar a moça em casa... e você vê se não
pira. Pense melhor no que você fez... tenho certeza de que vai se
dar conta..
-me dar conta de quê,
Frazon? De que eu sou um imbecil? Isso eu já sei. Non devia ter
esperado tanto de uma mulher. Ela é bonita, boa de conversa e de...
bom, estou satisfeito. O fato de ser uma interesseira mentirosa e
dissimulada vem no pacote. Por isso, já tomei uma decison.
-que decisão, oque
francês? Tá maluco? Você não está em posição nem em condição
de decidir nada! Não com toda essa raiva, tá quase espumando!
-Eu vou me casar com
Nara, pra valer.
-Oque?!
-É. me casar com ela é
o melhor pra mim, Frazon. Eu sei que non tem muita química e tudo
mais... mas pelo menos nós dois vamos nos distrair por um tempo...
viajar quem sabe... e depois, nós podemos até viver como agora..
meio juntos, meio separados. Cada um na sua.
-Claude, você está
delirando, ou oque? Já sei. Bebeu aqueles calmantes com conhaque
outra vez, não foi?
-Non! Eu estou falando
sério!
-Você se casar com
Nara pra fugir de qualquer outro relacionamento sólido, não adianta
de nada, cara. E além do mais, você tem de admitir, francês, você
não poderá fugir de se apaixonar só por se casar, já que não
ama a noiva que tem. Até porquê, você já está apaixonado por
outra.
-Apaixonado? Eu? Hahaha
faça-me o favor!
-Está sim! Antes de
saber que a baixinha e a sua nova secretária eram a mesma pessoa,
você estava planejando terminar com Nara! E pra que?
-Pra que, oque, Frazon?
-Pra ficar com ela! Com
a Rosa! Pra investir na baixinha! Quem sabe até se casar com ela!
-Non! Non é verdade! -
Claude fecha os olhos. Era verdade, ele sabia que era. Mas isso agora
doía ainda mais. Seus planos soavam em seus ouvidos, e isso não
parecia bom, já que agora ele sabia que era tudo a mais genuína
ilusão.
-Eu non estava pensando
em terminar só por causa de Rosa non.
-Ah, não?
-Non. - Claude se
levanta- Eu só estava pensando em me livrar de Nara. Mas agora vejo
que isso non é ton bom. E também, você tem de me perdoar, era só
um delírio. Este relacionamento é importante pra construtora,
Frazon, e importante pra mim também.
-Você está tentando
enganar quem, Claude? A você mesmo, não é? Porque a mim você não
engana. Eu te conheço, meu amigo!
-Chega Frazon, chega! -
ele se senta novamente e tampa os olhos – pela mor de Deus.. eu tô
a ponto de ter um enfarte com esse seu discursim barato aí.
-Pense bem se quer
mesmo mandar a sua felicidade embora de sua vida. Porque é o que a
Rosa é, Claude. É o mais próximo de felicidade que eu já vi você
experimentar. E não me venha dizer que ela não é importante, que
ela não é tudo isso... porque a verdade é que você nunca tinha
estado com alguém como ela, que te fez mudar o humor de um dia pro
outro, que te fez sentar aí com cara de bobo em menos de uma semana,
e me dizer que ia terminar com Nara, finalmente terminar com a mulher
que você não tinha coragem de se casar, ou de abandonar. Por isso
eu te digo francês, ela é importante pra você sim, porque se não
fosse, você não teria tratado ela daquela forma, perdido o
controle, tremido, suado frio... e nem dito tantas coisas!
-Frazon... - Claude
rosna... a raiva na verdade era fingida.. ele estava prestes a chorar
novamente, mas dessa vez seria pior, seu amigo iria presenciar algo
que ele escondia desde que Camila o deixou. Seu lado frágil, seu
lado angustiado. Um lado que Claude fingia não possuir. Ele era o
magnata solitário, frio, distante, inatingível. E era isso oque ele
precisava acreditar ser, fazer acreditar ser.
-Ela te fez chorar sem
nem ter dito nada... - Frazão entrega um lenço a Claude, que recebe
com uma carranca. Como o advogado que era, nem mesmo o melhor ator
poderia lhe esconder uma emoção se quer, e conhecendo o amigo como
conhecia, nem todo o esforço do francês o faria menos transparente
aos olhos de Frazão . Um segundo de silêncio
- ela não disse nada
do que a Camila disse, e vocês só se encontraram duas vezes! Claude
ela é sim a mulher da tua vida, cara!
Frazão suspira e sai.
Ele ainda tinha a difícil missão de tentar fazer Rosa permanecer na
empresa. Tentar convencê-la da falta de juízo e coerência de
Claude. Quem sabe ela não estaria no mesmo estado que o francês
quando dissera que o odiava e que não queria nunca mais voltar a
vê-lo.
Rosa permanecia lá,
mãos nos joelhos, imóvel. O olhar parado se concentrava numa única
rosa dentro de um jarro sobre a mesa a sua frente. Sempre que ela
ouvia algo que parecia uma pergunta, balançava a cabeça levemente
pra cima e pra baixo. Raras vezes levantava os olhos para o
interlocutor que estava cada vez mais insistente por sua atenção.
- Por favor, dona
Rosa.. eu imploro! Não deixa a gente agora, na mão! O projeto será
lançado daqui uns quinze dias... estou mesmo desesperado!
-doutor Frazão... eu
não entendo o porque dessa insistência toda... eu nem sou tão
preparada assim! Eu sei que a minha experiência profissional é
interessante pra vocês, mas não vejo motivo realmente relevante
pra o senhor dizer que estaria perdido sem mim. Tanta gente boa aí,
dando sopa no mercado... alguns até cursando universidade e tudo!
Esperando pela chance de entrar numa vaga como essa...
-Eu sei dona Rosa, mas
acontece que em nossa situação, a construtora precisa de alguém
totalmente capacitado e também experiente. Ou seja, a construtora
precisa de você!
-Mas...
-Hoje mesmo eu estava
falando com um dos acionistas.. nós temos muito trabalho acumulado e
a cada dia a pilha cresce... não estamos dando conta! Olha.. porque
não fazemos assim: como já te contratei na CLT, você fica conosco
por uns trinta dias cumprindo “aviso”, e então, depois, decide
se quer mesmo sair.
-Não é simples assim,
doutor. Eu não estou saindo simplesmente por não querer o emprego,
eu até quero e preciso. Também não quero “queimar minha
carteira”, mas eu preciso ficar longe do doutor Claude... nós...
nós nos envolvemos e depois, bom... o senhor sabe.
-hum, hum! - Frazão
limpa a garganta, e mexe nos papéis... como se aquilo o desse tempo.
Ou talvez tentasse manter o foco. - chegamos ao ponto, não é mesmo?
Não serei hipócrita aqui, não vou fingir que não sei oque rolou
entre vocês. Também não vou defender aquele francês mau humorado,
mas tenho que dizer, dona Rosa, dá um desconto. Tente entender... o
Claude... o Claude é um amargurado.. oque mais eu posso dizer? Ele
está fechado numa concha faz mais de cinco anos.. desde que... ah,
duvido que não saiba..
-O... toco.. que ele
levou, não é mesmo? Mas.. foi tão feio assim? Quero dizer, ele
realmente.... amava a mulher que o largou?
-Sim. Como nunca amou
nenhuma outra, além da mãe dele. Claude era um mauricinho que vivia
trancafiado numa mansão na França, isso até os dezoito anos.
Depois que pôde sair, morou uns dez anos em Milão, onde se formou e
conheceu uma modelo brasileira por lá. Eles passaram a viver juntos
e quando a moça decidiu voltar pra casa, pra perto da família, ele
veio junto com ela ao Brasil. Começou a trabalhar na North White,
onde ficou por dois anos. Nisso a moça o largou por um industrial da
moda com quem é casada hoje em dia.
-Mas.. como foi isso,
eles brigavam, ela não o amava?
-Bom... o Claude acha
que na verdade ela não o amava. Mas ela o amava sim, o que é mais
triste. Só que ela não suportava a situação em que ele a colocou.
Meu amigo nunca se abriu, nunca foi sincero com ela e achava que a
namorada dele é quem estava errada, que cobrava demais dele.
-Que estranho... - Rosa
se endireitou na cadeira, com expressão confusa
-Oque foi?
-Ele.. me pareceu o
contrário disso que você me descreveu. Ele me pareceu tão...
sincero, aberto, desencanado. Magoado, é verdade, mas totalmente...
Rosa parou. Ali estava
ela, prestes a concordar que não odiava aquele homem. Que talvez até
estivesse apaixonada por ele. Sim, porque para ela, confessar tudo
aquilo seria como..
-Não me olhe assim,
com esse risinho nos lábios, doutor! - Rosa ficara vermelha- Não
estou defendendo o seu amigo! Ele é mais um milionário metido a
besta, é isso oque ele é! E eu jamais me apaixonaria por alguém
como ele!
-Camila, a ex noiva
dele também disse a mesma coisa, quando o deixou. - disse Frazão,
calmamente. - a mesma descrição que você usou, foi a que quebrou o
coração dele. E agora, ele acredita que é exatamente assim como
você disse.
-Me desculpe... - Rosa
abaixou a cabeça. Se sentia atordoada, de repente. Entrara nessa
sala odiando Claude Geraldy. Mas depois de meia hora ouvindo sobre a
vida daquele homem, tinha vontade de levantar dali e ir procurá-lo
para se desculpar, e não para exigir que ele fizesse tal coisa.
-Não se desculpe, dona
Rosa. O francês mereceu tudo isso. Ele é muito atrapalhado com as
mulheres, não sabe lidar com o lado feminino dele. O fato é que..
bem, por ter crescido nas mãos de um “curador” por assim dizer,
já que o advogado de seu falecido pai o tratava como um “bem”,
uma objeto de arte, qualquer coisa, menos como um pupilo, ele cresceu
sem saber oque sentimentos significam, de verdade. Sem ter tido... o
afeto de uma mãe, a compreensão de um irmão ou algo do gênero...
meu amigo.. perdeu bela parte da vida apenas calculando a vida que
tinha e não vivendo de fato. Por isso posso dizer com pesar que ele
é apenas um garotinho assustado por dentro e , que ele não me ouça,
mas aquele francês é um velho chato de galocha. Desses que sentam
na praça com uma garrafa de conhaque dentro de um saco de pão, e
que chutam os pombos e espantam as criancinhas.
-O senhor quer dizer...
-O mesmo que disse
desde o começo. Ele é um amargurado. Mas eu sei quem ele é por
dentro. E pelo que vejo em seus olhos, você também sabe. Eu
gostaria de poder pedir que não desistisse dele, que não se
afastasse assim tão depressa. Que desse uma chance pro lance de
vocês, porque eu sei que ainda não terminou. Mas... sei que não
seria justo eu pedir isso. Isso fica com vocês dois. Ele é um
turrão e você... bom, é uma semi-desconhecida pra ele, como ele é
pra você. Mas insisto em acreditar que os dois funcionariam bem
juntos, Rosa.
-Doutor... - Rosa
ficara vermelha outra vez. Se lembrava de adorar pensar ou arranjar
pretextos pra falar sobre Claude. Só que agora isso a estava matando
por dentro.
-Eu sei, não precisa
falar nada que não queira, ou que não tenha certeza.
A moça levanta a
cabeça lentamente e o encara. Frazão lhe pisca
-Não se vá... - ele
cantarola e Rosa ri
-Eu já não posso
suportar essa minha vida de amargura. - ela replica, revirando os
olhos sorrindo
-Olha moça, eu
prometo, e eu sempre cumpro oque prometo, que se você ficar, não
vou deixar que ninguém a importune, nem mesmo o Claude. Nós
precisamos de você, não só o Claude, mas a empresa. Os cinquenta
funcionários fixos e os duzentos terceirizados também.. será que
não percebe?
-Eu.. fico. Mas só se
não deixar que o … doutor Claude me insulte, e se me contar o
resto da história...
-Não vai querer... um
aumento? - Frazão ergue uma sombra celha
-Bom, já que insiste!
-Oh obrigado Rosaaa!
Você é minha heroína!
-Não é pra tanto,
doutor. Até porque, é só até o senhor encontrar outra pessoa, ou
seja, não vai demorar. Ou até o doutor Clau... Geraldy, me
expulsar. Oque vai ser mais rápido ainda.
-Rosa, eu queria pedir
desculpas de novo. Sei que você conhece das historias que rolam
nessa empresa sobre o Claude... mas ele é só um cara que não
desenvolveu certas partes do caréter dele, pra ele ser mais calmo e
se abrir seria parecer fraco. E você sabe oque isso significa pra um
homem, especialmente um homem como ele? Que está sempre na mira de
pessoas mal intecionadas, alpinistas sociais, estelionatários....
Frazão deixa Rosa
pensativa, e sai sorrindo. Ele não poderia deixar a felicidade do
amigo sair correndo daquele jeito. Não quando a sua própria estaria
comprometida, já que era como irmão de Claude, e jamais o
abandonaria numa amargura terrível como a que ele sabia estar
próxima. Cada vez mais próxima. Os anos que passaram , desde a
decepção que Claude sofrera, invés de servir de remédio e
antídoto, pareceram envenenar e isolar o francês mais e mais. Ele
achou que outro amor pudesse curá-lo e tentou se apegar em outra
pessoa, na pessoa errada. Frazão não permitiria que tudo se
repetisse. Além do mais, depois dum incidente onde ele vira o amigo
com uma garrafa de uísque numa mão, e um revólver na outra, prestes
a disparar contra si próprio, ele teve a certeza que não era só
dor de cotovelo oque Claude tinha.
Eu sei. O papai tinha
razão em dar todos aqueles sermões. Tá certo, tá certo, eu
entendi.
-Terezinha, não fica
com essa cara.
As duas se encaram e
voltam a chorar juntas.
-É Fina, não sei quem
está pior.
-Pelo menos ele não te
disse nada.
-Fina se você mesma
não tivesse me contado, jamais teria acertado quem era o teu
“namorado”
-Ele nunca foi meu
namorado... oque é ainda mais feio pra mim. Bem, eu já vou. Apesar
de não querer, eu ainda preciso do emprego... E você, nada de
perder a hora, ein?
-Vai despreocupada. Eu
só entro no serviço daqui duas horas, maninha!
Muito legal essa cronica adorei estou esperando a outra parte bjs.Holy
ResponderExcluirAdoro suas crônicas, ansiosa esperando continuação <3
ResponderExcluirTa maravilha ansiosa pela outra parte
ResponderExcluirAdoro suas fics!!!! vc é muito criativa!!! tem talento, linda!!!! Por favorzim continua a crônica, vai?!!!! Nós fãs estamos ansiosíssimas pela continuação!!!! Sou sua fã! hehehe Abraços,Lari ;-)
ResponderExcluirOI HOLY ESTAMOS COM SAUDADES DA PARTE 2 POSTA LOGO NO AGUARDO OK.
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