quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Capítulo 53- Être








Le Eternel Amour

Tulipe Rouge








Num dia tão cinzento, como pode haver tanta claridade? Parece que há luzes vindo de todos os lados, entrando por cada vidraça, se arrastando pelo ar em todas as direções. A luz esbranquiçada parece alcançar cada mínimo pedaço de mim, me expondo a alma completamente!

E de alma exposta, me lembro de que todos me especularão sobre... sobre isso. Sobre como eu pude me relacionar com o irmão do meu quase marido morto. Como eu pude permitir envolver com meu... quase cunhado. Com o "tio" do Caleb. E mesmo que saibam da biologia dos dois, que importa? Como eu rebaterei os argumentos sugerindo que eu mal o conheço, quando é verdade?
Oh sim. Poderia ser qualquer um. Poderia ser um cara numa danceteria. Poderia ser o vizinho viúvo e atraente do andar de baixo. Mas é ele. É o Claude. O herdeiro Geraldy. E, se antes haviam dúvidas sobre a minha índole, hoje tem-se certeza de que tudo oque eu pretendia junto aos Geraldy, era extrair-lhes cada centavo das posses milionárias.

Como seria se eu tivesse entendido as intenções de Tony, e me aproximado de Claude desde que li a carta, ou desde quando ele me pediu que eu falasse com ele, que o entendesse?

Bom, de qualquer forma, eu terei de passar por isso. Terei de arcar com a responsabilidade de que eu sabia desde o dia em que pedi para procurar as meninas, naquele dia em Marseille. No instante em que ele me pediu que pernoitasse em sua casa.
Como eu poderia resistir a ele? Aos olhares, aos gestos tão apropriados e aos mesmo tempo tão cálidos...
Não me arrependo. Mas eu quero que isso tudo tenha mais motivos do que os métodos de sedução do senhor Geraldy. E que signifique algo mais do que uma paixonite para mim.
Contudo, me dei conta de que sempre quis estar com ele... Observá-lo é realmente um deleite! Suas mãos, seus sorrisos, o modo como toca o pescoço... Sempre quis apenas, sem avisos, recostar a cabeça em seu ombro, cheirar seu pescoço, tocar seu braço. Sem perguntas, ou exigências. Sem sobrenomes, apenas, nós.
O que acontece é que eu nunca pensei que ele sentisse o mesmo por mim. E foi tudo tão confuso e aterrador... Eu sei que o meu amor por Tony existiu e ainda existe. Só que eu sei também que ainda que Tony estivesse aqui, a probabilidade de a gente estar juntos como um casal beira à zero.

Amor melancólico, que só se realiza nos simples prazeres e não sobreviveria a uma paixão que fosse. Deixamos o nosso amor de molho por tanto tempo que ele passou do amadurecimento direto à fase de flor seca dentro do livro da nossa história. Tony e eu sempre fomos tão estranhos nesse aspecto de nosso afeto que chego a pensar que jamais poderíamos reverter isso.

Mas com o Claude, é totalmente diferente. A tensão sempre está no ar enquanto estamos perto. Percebi essa tensão mesmo naquele dia no Perrault, com ele vestido de conde Fersen e me olhando de modo tão felino. Éramos atraídos por uma força qualquer, mas repelidos por todas as outras forças de nossas vidas. E Tony certamente sempre foi a força resultante das somas dos vetores todos. Ele nos unia, e nos separava, com a mesma intensidade. Alheio a sua intenção, mas era isso que Tony representava para nós.

Além da lembrança constante de sua identidade estampada em sua face , Claude também trazia toda a fraqueza e toda as amarguras de Jean -Tony, com Claude vieram todos as respostas aos  mistérios que eu nunca deveria ter questionado. Com Claude veio toda a dor.. E a morte de Jean Antoine Geraldy. A quem confundiram com ele próprio.



- Ça va? - ele me pergunta, me olhando de esguelha, tentando tocar minha mão por baixo da mesa

-Ça va. Estou só um pouco... Não sei. Mas está tudo bem, não se preocupe. - respondo sem olhá-lo muito nos olhos. Ele apenas sorri e segura meus dedos em sua palma da mão.

O almoço termina, e Janete me conta do desmaio de Rachel, o que me deixa chocada e muito preocupada.


-Vamos leva-la daqui a pouco, farei todo o possível para assegurar que ela está bem.

-Obrigada Jane. - seguro sua mão

- Sei que ela também vem significando muito pra você, Rosa.

-Quase como se fosse minha. - me abraço enquanto sinto meus olhos lacrimejarem

-Hey, oque foi? - Janete me abraça- Eu disse, não se preocupe, não é nada!

-Tudo bem. Eu só estou nervosa.






Rachel


Talheres de prata e pratos de porcelana portuguesa. Saudades dos almoços com o vovô Henry.
Olhando esse vestido vermelho com laços de fita na barra, me sinto uma dessas garotinhas mimadas por suas mães de bochecha rosada. Mas não tenho uma mãe. Talvez chegue a ter uma madrasta, a madrasta que me deu o vestido com laços de fita.

-Está sem fome, petit?- papai me olha com seus grandes olhos que sempre me fazem querer pular em seu colo e pedir que me conte uma história bonita, que me faça esquecer que contos de fada não existem.

-A comida está ruim, Rach? - Rosa pergunta sorrindo, mas seus olhos denunciam que ela está prestes a entrar em uma crise de choro. Oque me confunde muito, já que papai parece feliz

- Non! Est délicieux! - Dou uma garfada mínima e sorrio com os lábios. ou tento.

-Penso que ela quer se tornar uma modelo de revista, como a mãe dela foi. Por isso que mal come!

-Cale-se, Caleb. - Rosa repreende o filho por entre os dentes, medita de olhos fechados por um segundo - Desculpe-o, querida, acho que ele ainda está enciumado de sua presença.

-Oh, - me levanto de supetão - Neste caso, peço licença, não quero atrapalhar a família.

-Rachel. - Papai chama meu nome com a autoridade que só ele tem soada em sua voz. - Asseyez-vous dès maintenant et terminer votre repas!

-Oui, pa. - sento a contra gosto. e ele me estende o garfo de prata

-être.

-Pardon. - me desculpo sem olhar os olhos que me encaram perplexos.

-Não precisava fazer isso, Claude. Eu deveria ter escolhido melhor as palavras. - a voz suave de Rosa me perturba tanto quanto seus longos dedos perfeitos tocando o braço que meu pai manteve estendido em minha direção nos últimos cinco minutos de sua bem contida fúria.

- D'acord. Mas non disseste nada que fosse ofensivo, Serafina. Rachel esta assim por causa de Caleb. Os dois non eston muito de acordo.

-E porque, Caleb?- Rosa franze o cenho olhando para Caleb que mantinha os olhos mortos em mim

-Ela me irritou, como de costume. Não há nada mais interessante para se fazer do que me irritar, não é mesmo, Rach? - a ironia entrecortada e acentuada em meu apelido ao fim da frase me fez estremecer de raiva. Mas papai me olhava de forma tão percistente que simplesmente abaixei a cabeça

-Imbecil... - sussurro

-Rachel! Vocês dois! Parem já com isso! Não tem porque vocês brigarem! Já estão bem crescidos para isso!

-Pardon, monsignor. - Caleb abaixa os olhos mortos em direção ao prato quase vazio dele

-Pardon papa. - me ajeito na cadeira. Mal termino de falar e Caleb se levanta

-Estou satisfeito, mamãe, obrigado. Com licença.



Caleb

 

 

 

 

Ando descompassadamente até o quarto que era meu, arranco os dardos do alvo que Claude me deu, e lanço em todas as direções. Chuto os sapatos brancos de menininha perfeita de Rachel pra debaixo da cama, arranco as etiquetas que ela colou nas gavetas do meu armário e me jogo na cama.

-AH! - e caio em um choro profundo pela segunda vez nesse maldito dia.




Maldiction!!







 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





















 
















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