quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

FIC URCA- by holly- Parte 9: Noite do sorvete.




“É... É oficial! Essa casa está um tédio! E eu nem posso sair pra ver minha família que pensa que eu estou longe, lá no interior... Ou meus amigos da construtora que também acham que eu sai de férias... O Claude saiu pra trabalhar... Aquele francês abusado! Ainda não acredito no que ele fez! Minha cabeça dói... dói.... Mas eu acho que tenho uma idéia...Claro que eu tenho que consultar meu “marido querido” pra saber se ele me deixa ao menos visitar a Roberta... Pelo menos lá eu vejo o Sérgio e ele me conta como vão as coisas lá em casa...” –
pensa Rosa esparramada no sofá, com uma “revista de futilidades de madame” no colo, a qual ela nem deu atenção, agora lhe serve mesmo é pra tampar a claridade no rosto, já que sua dor de cabeça não lhe permite passar muito tempo de olhos abertos.
O telefone toca, e como Dadi estava na lavanderia e Socorro no andar de cima ela atende... Nara fica espantada com a prova de que havia de fato uma “coisinha” habitando a casa do seu “baú do tesouro” francês. Rosa fica ainda mais irritada com os insultos e provocações de Nara, ela ainda não acredita que esteja suportando tamanho aborrecimento só pra ajudar Claude. “Ele nem liga...” ela pensa frustrada por perceber que a vontade que ela não tinha era a de deixá-lo.

“O Claude não almoça em casa, então... Acho que vou ficar aqui a tarde toda curtindo a ressaca sozinha, enfim!...” – se vira de lado- “pelo menos isso, com ele aqui, eu não ia sarar nunca...” –Rosa estica a mão e fica admirando a aliança reluzindo a claridade do dia, que apesar de meio frio não deixa de ser bem claro. “Nem sei se tem sol...” pensa enquanto volta a fechar os olhos.

Chega o fim do expediente. Claude está dentro do elevador de seu prédio, observa uma senhora acompanhada de um menino de uns doze anos. Ele acha estranho o risinho do garoto e o olha, este por sua vez o convida a abaixar-se para ouvir algo que ele quer dizer-lhe ao ouvido:
Menino- Senhor, é melhor o senhor amarrar os cadarços se não pode cair feito Golias...  Claude franze a testa ao se lembrar que não usava tênis e por tanto não podia ter cadarços pra amarrar, ele levanta e olha o garoto que sai do elevador com um risinho que deu até medo no francês.

Ao entrar em casa Claude se surpreende ao ver que a mesa estava posta, Rosa estava sentada no sofá, pernas cruzadas, um livro no colo, parecia que nem o vira entrar.

Observa que ela prendera a franja com uma presilha no alto da cabeça, e o restante das madeixas descia em volumosos caracóis até a altura da cintura. Ela o vê e se levanta em prontidão e o encara séria:

R- Eu estava te esperando pro jantar. – Claude parece surpreso com o comentário, mais apenas acena com a cabeça. Abaixa o olhar e meio que sem perceber a analisa da cabeça aos pés. – Está tudo bem?- Diz Rosa incomodada com o silêncio e com o gesto  dele.

C- Está, está sim...

R- É que você está tão quieto... – ele olha a calça azul marinho dela, repara a aliança no dedo, sorri discretamente.

C- Eu vou subir...  Depois volto pra jantar... Você me espera?

R- Claro. Claro, espero sim. – senta de novo no sofá, pegando o livro outra vez.
Claude toma banho e quando começa a pentear o cabelo...

C- Ah, moleque filho da mãe!- percebe que acaba de encontrar o real motivo do riso maléfico do garoto do elevador- Chiclete? Coman... Como eu faço pra desgrudar isso?...
Ele desce e Rosa percebe a irritação dele de longe

R-Como se fosse novidade ele estar de mau humor! – fala baixo consigo mesma enquanto finge alinhar a blusa de seda vermelha que veste, afim de esconder o riso.

C- Rosa?... Onde está Dádi?

R- Ah, ela lá atrás na cozinha, mas por quê? Você parece nervoso?...

C- É que um moleque grudou chiclete no meu cabelo lá no elevador, e eu non sei como tirar!...- mostra o grude cor-de-rosa preso as madeixas. Rosa não segura a gargalhada:

R- Mais como assim? Deixa eu ver, vem cá!- diz se aproximando e pondo a mão nos cabelos de Claude, que fica nervoso com a situação, ela meche um pouco, e depois o encara sorrindo- ih, sinto muito, mais vai ter que cortar!- ele arregala os olhos- é
Claude, cortar, só a mecha onde o chiclete grudou!- ele senta no sofá, de braços cruzados:

C- Non, non acredito, non!...- fica mais emburrado ainda. Rosa pede a Dádi uma boa tesoura, e rindo da irritação do francês corta a mecha grudada com chiclete, Claude reclama ao mínimo puxãozinho que Rosa sem querer dá ao desgrudar a meleca dos cabelos dele.

R- Pronto! – ela sorri, ele diz ainda contrariado, alisando o local-

C- Merci... – emburrado. Rosa acha muito engraçada a cara de bebezão dele e meio sem pensar começa a lhe afagar os cabelos,

R- Mais que drama, hein?...- Claude suspira, e começa a rir também.

C- Sabe que você é a primeira pessoa que fecha um negócio comigo e depois me faz cafuné?- diz num tom brincalhão. Rosa cora e tira a mão do cabelo dele, constrangida.

R- Bom... Você tinha um acordo com a Nara e ela lhe fazia cafuné, não é?-
 Agora é Claude que se sente constrangido, mais se esforça pra não demonstrar. Nara não lhe fazia cafuné daquela maneira, tão delicada, tão visceral... ele não percebe que franze a testa ao pensar sobre isso, Rosa o encara intrigada pensando que talvez ele não era de fato acarinhado assim de parte de Nara Paranhos de Vasconcelos...”Ela não me parece ser do tipo dócil...”

Os dois parecem constrangidos, silêncio...

D- Vocês não vem jantar, minha gente?- acorda os dois que sorriem por ter se esquecido do jantar. Jantaram em meio as brincadeiras que Dadi fez sobre a manha do doutor Claudes, a incrível capacidade de iniciar uma discussão que possuía o casal... Dádi ficou surpresa ao ver que os dois sorriam um pro outro de forma tão singular...

Mais tarde, Rosa subiu após breve debate sobre ela infiltrar os americanos na casa, ...as boas razões que ela teve em fazer tal coisa, que nada mais seria do que estratégia pra convencer os estrangeiros de que eles eram um casal normal e feliz, feliz... Claude continuou emburrado com o comentário

C- Feliz, feliz... Normal e feliz....- repete a ultima frase de Rosa com despeito. Sozinho sob a meia luz da sala ele começa a perceber que aquela era uma noite fria além do normal... Conseguia ver até o ar quente resultava dos seus pulmões. Fica ali recostado no sofá, pensando nas loucuras que andavam acontecendo em sua vida, que aliás, o deixavam frustrado por perceber que seu plano de deixar a vida de inconseqüente e virar um homem sério e respeitado ia bueiro abaixo junto com a água da chuva que banhava São Paulo naquela noite. “Minha reputaçón mal lavada... Como dizia um certo amigo da onça...”

Rosa resolve que aquela poderia ser uma ótima hora em tentar aborrecer o francês. É rindo que ela então toma um edredom como “capa” e sai casa a fora com o edredom nas costas, rindo da travessura. Claude a essas horas esta lá, emburrado no sofá, ela desce e finge não dar conta de sua presença.
Vai até a cozinha e pega um pote de sorvete, uma colher de sopa e volta ás escadas, sorrindo como criança travessa. Claude não crê no que seus olhos vêem. Ele levanta do seu cômodo lugar, mesmo sentindo muito frio e anda até Rosa, sentada nas escadas, e que a essa altura abria o pote de sorvete, como se fosse muito natural da parte dela. Ele a olha questionando tudo aquilo, ela lhe dá um sorriso cínico:

R- O senhor aceita sorvete?- ele arregala os olhos.
- Desculpa o mau jeito ai doutor Claudes.... Mas a verdade é que essa foi a idéia mais bizarra que me ocorreu...- ele levanta uma sombracelha, ela para com a colher junto a boca- naturalmente para irritá-lo. – ela termina a colherada sorrindo.
Ele então se senta ao lado dela, agora também sorrindo.
C- É... Boa tentativa... Me assustou... – ele a olha, ela faz aquela carinha meiga

R- Aceita sorvete?

C- Hã...- olha pra cozinha escura- Está muito frio pra eu ir lá...

R- Eu divido a colher, - ela ri- mas só se me provar que não tem sapinho!- gargalha. Ele ri também, e numa careta põe a língua de fora

C- Barra limpa, hã?- os dois dão risada, ela então lhe dá a colher, passando também o pote. Ele da uma colherada, e põe o pote entre os dois. Ela sorri e oferece uma ponta do edredom, com a qual ele também se cobre. – Mas como você é maluca, non?

R- Ah, olha o sujo falando do mal lavado! Você também não tem idéias menos originais que as minhas, não é verdade?

C- É... tem razon, eu tenho que admitir, hã? – lhe da a colher. – Mais é tudo muito diferente pra mim, eu non sei explicar, é como... – Rosa o observa atenta- é como se eu non pudesse fugir, é uma situaçon ton controvérsia aos meus planos e...

R- Mais de que parte da empreitada o senhor esta falando?- Claude paralisa. Tenta escolher as palavras certas:

C- De todas... Da “empreitada” inteira, desde o começo, hã?

R- Até o fim?- devolve a colher- Claude sente um arrepio com a pergunta-

C- É muito cedo, ainda non temos certeza de qual será o fim.- outra colherada, Rosa tenta examinar bem sua expressão, tentando ler o que esta passando em seus pensamentos-

R- E qual é a sua aposta?
Claude suspira, entrega a colher e tentando fixar num ponto qualquer os olhos diz arqueando as sombracelhas:

C- Non quero e nesse momento non posso ser pessimista, non? Mas eu diria que assim como você eu tenho lá minhas dúvidas...- Rosa levanta levemente as sombracelhas, enfiando a colher na boca- Mas... Que dê tudo certo, hã?- dá um sorriso nervoso. Rosa devolve a colher, com sorriso provocante:

R- Você não respondeu a pergunta.

C- Respondi- colherada.

R- Não senhor!- sorri- Não disfarça, responde!- Claude pede pausa. Suspira.

C- Eu non respondi por que nem eu tenho resposta que me convença. Satisfeita, hã? Conseguiu o que queria? Admiti pronto! – Rosa sorri- Mas e você qual é a sua aposta?- ela fica séria de repente, a colher em espera junto a boca-

R- Minha aposta é que o senhor fecha o contrato, se separa de mim e casa com Nara- colherada- Claude abaixa os olhos- Simples assim, tudo como no seu plano...

C- E... Você acha que o meu plano,- ela lhe estende a colher, ele segura e os olhares se encontram- ...é um bom plano?

Rosa sente um calafrio com a pergunta, mais faz força e pensa que essa deveria ser mais uma tática do francês para manipulá-la. Ela engole em seco e responde:

R- Fantoches como eu não tem direito a palpite, - finca a colher no pote- só segue as ordens, doutor. Boa noite.- Sobe as escadas deixando o edredom com Claude, que apesar disso ainda sente um frio tremendo:

C- Que fria, non?- Diz se apoderando do pote de sorvete, - Mas também... Que cabeça a minha...- se cala devorando o sorvete.

(...)

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