R- Claude! Claude responde! O que você esta sentindo?- Rosa o segura pelos ombros, ele ainda está estagnado, ofegando. Diz baixinho:
C- Rosa eu tenho asma...
R- Asma?! E você tem alguma bombinha, esqueceu de tomar algum remédio?!
C- Non... Eu non tomo nenhum remédio faz tempo... – ele começa a tossir,- minhas costas... Eston doendo...
R- Eu vou ligar pro seu médico!- ela levanta e faz menção de pegar o telefone, ele a convence de que não precisa, vai até o banheiro pra limpar o sangue do nariz , e em mais um ataque de tosse, cospe sangue ao invés de muco. Mais ainda sim não tinha a menor intenção de chamar um médio, há aquela hora... o que os Smith pensariam? Que são investidores de um cara que pode não acordar na próxima segunda feira?! “Non, non...eu estou ótimo!” Pensa pondo creme dental na escova...
Ele volta e percebe que Rosa havia desfeito a “cama dele”, enrolava o colchão inflável que a essa altura se convertera num plástico.
R- Ainda acho melhor o senhor deixar de ser teimoso e me deixar ligar pro médico- ela lhe confere a febre- Ainda bem que não está febril...
C- Rosa... Já disse que non precisa, hã? Amanhã prometo que vou no médico.
R- E eu vou junto!... Não é?...
C- Mas por que você quer ir?... Ah, já sei! Quer que te deixe na casa de Roberta pra ver seu amiguinho?- Rosa fecha a cara:
R- Oque? Eu aqui preocupada e você me taxa de interesseira?
C- Tá, tá... Eu te levo junto... Mas e agora hã? O estrago que foi feito nos meus pulmões podiam ser piores se você me acerta aquele lance, non? Minha sorte é que você é ruim de mira!- diz ajeitando o edredom num dos lados da cama, Rosa senta do outro lado, suspendendo o edredom dela:
R- Se você não estivesse doente, eu praticava a pontaria com o par que ainda me resta!- se enfia na cama e põe um travesseiro entre os dois principais da cabeceira, como se fosse uma divisória.
C- Acha que isso vai me proteger de ser atingido por você durante a noite?
R- Não esteja tão certo disso! Eu comprei o boneco Chuck pra puxar seu pé de madrugada!
C- Non tem medo de Chuck nenhum non, ali no armário eu escondi o meus dois amigos Jason e Fred!- os dois caem na gargalhada.
R-Só não me pede pra sonhar com os serafins, não, hein? Sou traumatizada.- Rosa deitada de lado, os dois estão de costas um pro outro. Ela apaga o abajur
C- A infância as vezes é triste, non?- os dois gargalham- Enton sonhe com os anjos...
R- Menos com os serafins!
C- Só com arcanjos, enton... – Claude adormece. Rosa vê que ele não desligara o abajur, então delicadamente ela passa o travesseiro “divisor” pra seu colo e atravessando o braço por cima de Claude alcança o abajur.
Ela desliga e depois fica ali, sentada, tentando enxergar o ser dono da respiração que ela ouvia naquele escuro.
(...)
Claude sente um incomodo nas costas, decide quase inconscientemente que precisa se mudar de posição. Ele vira pro outro lado na cama, sente um perfume agradável, abre de leve os olhos e depara com uma cabeleira esparramada no travesseiro vizinho, no meio ou sobre eles via algo brilhar, abriu os olhos por completo e viu que se tratava dos dedos de Rosa, que pareciam engalfinhar os cabelos.
O que brilhava era a aliança... A aliança... Essa palavra pareceu despertá-lo. Ele se senta fica um tempo ali... Observando Rosa dormir... Ela permanecia com a face virada pro outro lado, o edredom lhe cobria a partir da altura do umbigo, ele não via o outro braço dela, mais isso porque ele estava igualmente flexionado do outro lado, e tanto sua cabeça como o travesseiro fofo o escondiam.
“É bom acordar na terça! Estive em duvida se sobreviveria à segunda!”
Medico- Você deveria levar mais a sério sua saúde Claude!
R- Eu disse a mesma coisa pra ele ontem doutor mais ele não quis me ouvir não!
Medico- Dona Rosa nós já terminamos com os exames clínicos agora a senhora ajude ao seu marido a vestir novamente a camisa já que suponho que ele não suportará erguer os braços.
C- Mais isso por que doutor, hã?
Medico- Bem, ao que tudo indica, o senhor esta com uma lesão pulmonar. Ainda não sabemos a causa mais o senhor passará por novas radiografias e mais alguns exames laboratoriais que nos darão a resposta, hã?
R- E isso é grave, doutor?
Medico- Como disse, ainda não sabemos, ela pode ser apenas superficial, e seguindo os medicamentos corretamente não me surpreenderá que logo se recupere.
(...)
C- Leson pulmonar.... Donde me aparece essa agora...- os dois caminham pelo corredor do hospital.
R- Claude, o medico disse que pode ter sido algum remédio que você tomou... Tem certeza que aquele dia você tomou um calmante mesmo?
C- Claro que tenho, hã? Acha que eu sou maluco de colocar qualquer comprimido de pó químico na boca... Como criança chupa bala, ein?
R- Tá, eu sei... Mais... E o que você andou bebendo por ai?-
(...)
C- Acha que Nara tem tentado me envenenar? – Claude tenta conter a voz num tom baixo- Tá maluco, Frason?
F- Você que é maluco em desacreditar! Eu te avisei meu irmão! Aquela mulher é perigosa!
C- Non, non, non pode ser...
F- Nara meu querido, é que o mundo chama...Mulher Fatal!- não contem a gargalhada, Claude encara- Ô, Claude, desculpa.
Claude sustenta a cabeça com o cotovelo apoiado no braço da poltrona. Frasão está em pé a sua frente, de braços cruzados na altura do peito. Rosa chega trazendo uma xicara:
R- Vê se toma tudo, viu?- ele recebe o objeto e franze a testa ao perceber que não pode simplesmente virar o conteúdo na boca por que este fumega dentro da xícara.
Frasão e Rosa parecem se divertir com a cena.
Após ouvir os comentários elogiando o cuidado de Rosa com o marido doente, breve conversa sobre o andamento dos projetos, Frasão aconselhando Claude a trabalhar em casa durante uns dias, se encerra “a tragicomédia do meu dia” pensa o francês, enquanto ensaia a melhor maneira de se deitar na cama, sem que uma pontada nas costas o surpreenda.
Rosa abre a porta devagarzinho, observa que Claude já dorme pesadamente. “Deve ter praticamente desmaiado” – ela se tira os sapatos- Pode ser efeito dos calmantes ou mesmo do chá.... – abaixa os olhos pros sapatos aos seus pés no chão. Abaixa e os recolhe nas mãos.
Depois de voltar do closet, Rosa vai até o lado onde dorme Claude, se agacha do lado da cama, fica olhando ele dormir. Resolve puxar o edredom pra cobrir os ombros dele, e o faz de forma leve e pausada. Ele mesmo dormindo sorri. Ela penteia os cabelos pra trás com os dedos, se encosta no criado mudo...suspiro, “ainda tá difícil de acreditar que eu estou aqui!”.....
Claude sente o peito chiar, se põe sentado na cama, pensa em tomar água, mas vê que sua garrafinha está vazia. Levanta e acende a luz do quarto, vê que Rosa dorme, colocara apenas a calça do pijama, permanecendo com a bata que estava vestida.
“Parece que ela está caindo...” ele observa que os cabelos dela estavam amontoados no alto da cabeça, se descobrira e as pernas estavam encolhidas, como se ela estivesse dando um salto. Ele vê que a garrafa dela estava cheia, anda até lá, se agacha com cautela, nessa hora Rosa se meche, esticando as pernas num espasmo. Um braço lhe pende ao lado. Ele pega a mão dela, lhe beija os dedos, e quando ia depositando o braço na cama novamente, ela lhe aperta a mão, ainda dormindo.
Ele vê que ela leva expressão de quem está tendo um pesadelo. Ele permanece ali, ainda segurando sua mão. Ela a aperta com mais força. Ele se senta na beira da cama.
Rosa estava tendo mesmo um pesadelo, nele ela era garçonete numa casa de panquecas, via “a casa cheia”, levava uma bandeja de panquecas, os clientes eram Roberta Vermont e Claude, que se portavam claramente como casal, sorriam, Roberta estava radiante, usava um vestido longo e florido e por cima um sobretudo de linho verde limão. Ela e então começa a lhes servir café preto, então vê que alguém abrira aos chutes a porta do estabelecimento.
Era Sérgio, que entrara bufando até a mesa de Claude e Roberta, aos gritos *S- Roberta! Como você pôde?! – os dois se levantam. Sérgio derruba a mesa. Parte pra cima de Claude, lhe agarra o colarinho.
Nessa hora o cenário some, e Rosa está lá, ainda parada segurando a bandeja vazia por uma ponta. Vê que agora uma parede de tijolos expostos aparece atrás dos dois, Sérgio lança Claude de costas com toda força contra ela.
*R- Para com isso Sérgio! Para! – ele agora tira uma faca do bolso da jaqueta, Claude tenta se levantar com dificuldade *R- Sérgio não! Para com isso!- ele se vira pra ela exibindo a faca com um sorriso sarcástico, põe a mão no peito de Claude, e se agacha na frente dele, empunha a faca e Rosa grita:
R- Não! Não Sérgio! Cuidado com isso! Sérgio não!- Claude percebe que agora Rosa soluçava, sacudindo a cabeça de um lado pro outro como que negando algo. “Fui longe demais...” Pensa Claude, agora agarrando o braço dela:
C- Rosa! Rosa! Acorda! – Ela se senta num pulo, ofegante, olhos arregalados, grossas lágrimas lhe escorrem palas bochechas, Claude a abraça meio sem saber o que fazer- Pronto, pronto, passou... Foi só um pesadelo...- Rosa suspira, deve ter tido esse pesadelo por que ainda não lhe caíra a ficha de que Claude já teve um caso com Roberta Vermont...
(...)
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