Claude está caído na cama, imóvel. Ao ouvir que alguém ainda insiste em bater na porta tenta abafar os ouvidos com o travesseiro. Tudo o que ele quer e pensa em fazer durante o dia inteiro é dormir.
Dormir muito e quando acordar espera que tudo não tenha passado de um sonho, ou melhor, pesadelo, e que sua mãe venha lhe afagar os cabelos e acalmá-lo com seu sorriso. Ele passara a madrugada em claro após ter tido um sonho no mínimo intrigante...
Ele se via uma espécie de labirinto num jardim, andava as escuras até que percebe o que parecia ser a luz do nascer do sol. Então via vários varais, com lençóis brancos, muito finos. Via o vento castigá-los ferozmente quando ouviu o que parecia um riso feminino. Doce e delicado. Apartando aos poucos os lençóis, viu Rosa sentada num balanço. Ela parecia radiante, o sol a banhava e fazia seu vestido branco de cetim brilhar, ela tinha um livro no colo e sorria muito entretida com a história. Ele parecia ser invisível. De repente ela desfaz o sorriso e levanta num pulo, olhando pra longe, ele não consegue ver nada. Então ele acorda, gritando “Cuidado Serafina!”.
Ele se sente um imbecil, onde já se viu sonhar com Rosa, e ainda mais um sonho tão sem nexo deste... Ela agora tá lá, do outro lado da porta, bufando de raiva da teimosia do francês, que arrancara a bateria do celular, e o telefone do carregador, este então jazia em algum lugar do aposento, estaria debaixo da cama?
Ele não se lembra, o sono parece tê-lo embriagado. Apesar de não estar de fato dormindo, se sente sem a menor disposição pra levantar.
R- Claude! Eu preciso entrar aí!- Rosa continuava batendo. Como não ouvia nenhum barulho, começa a achar estranho e decide mexer na maçaneta, que pra sua surpresa está destrancada- Claude?.... Tô entrando.... – Rosa se preocupa ao ver que ele nem se mexera, coberto da cabeça aos pés. Ela se aproxima, e ele se vira. Descobre apenas a
cabeça mais sem abrir os olhos,fala baixinho:
C- Oque foi, hã? – Rosa senta na beirada da cama
R- “Almoço de sábado”, tá lembrado? Os Smith vem pro nosso almoço de sábado, Claude!- Ela repara que ele continua estagnado, mas tem a impressão de vê-lo tremer.- Claude?...Você está bem?- põe a mão na testa dele e sente-o quente.
C- Ça va aller...- diz num fio de voz.
R- Por que você não toma um banho morno, hã? Pra abaixar essa febre! Não está forte mais é melhor prevenir. Acho que a noite do sorvete não te fez nada bem, né?
C- Non, que isso... Não acho que tenha sido por isso non... É que eu tomei um remédio...
R- Mais... Que remédio?
C- Nada de mais non, foi só um calmante pra dormir... – Rosa o olha preocupada
R- Claude, ficou maluco? Agora vamos, faz um esforço, toma um banho, e desce pra comer alguma coisa!-
C- Tá, tá, eu já vou...- Diz ainda sem levantar. Rosa entra no closet, pega uma muda de roupa e sai. Depois de um tempo Claude toma banho, se troca e desce as escadas, ainda meio zonzo.
Ele senta na mesa, e quando finalmente seus olhos se acostumam com toda aquela claridade do ambiente, vê que diante dele se encontra-se um “café da manhã dos sonhos”, com uma infinidade de guloseimas. Ele então mais uma vez é surpreendido com um toc. Ele percebe que um prato de coockies caseiros lhe fora posto á sua frente.
R- Foi eu quem fez. Espero que esteja a seu agrado.- ele vira o rosto pra encará-la, enquanto ela novamente lhe confere a testa- É, parece que a febre está indo embora...
C- Mais... Mais por que tudo isso, hã?- Diz de testa franzida.
R- Ora, não estou entendendo. Eu te aborreci por que lhe fiz café?
C- Rosa...- agora ela é quem franzia a testa, revoltada.
R- Quer saber, bom proveito!- Ela sai subindo as escadas a saltos.
Claude fica ali parado por um tempo, e depois começa a comer. Dali a um tempinho,
Rosa desce totalmente recomposta. Vai até a cozinha, convida Dádi pra comprar umas coisinhas pro almoço. Claude a observa ainda sem entender. Ela passa por ele e com sorriso de provocação dá-lhe um beijo estalado na testa. Ele a fulmina e engole o que mastigava como se fossem pedras.
Mais tarde, Claude desce novamente, vê que Rosa chegara. Ela prendeu o cabelo num rabo alto, a franja apesar de presa para trás ainda lhe dava um gracioso volume do alto da cabeça. Ela usava um avental branco sobre o vestido amarelo. Claude para ao seu lado, encostado a um móvel. Ela nem o olha, entretida cortando legumes. Mesmo assim ele percebe que ela está muito séria.
C- Ainda brava comigo?- “Infelizmente não”, ela pensa,
R- Estou!...
C- Serafina, me desculpe, hã?...- Rosa para de repente. Ainda de cabeça baixa
R- Tá. Eu desculpo- num tom seco.
C- Me deixa ajudar?
R- Hã?
C- é deixa eu ajudar!
R- Não, Claude, você só vai me atrapalhar toda...
C- Ah, mais que issi, hã? Como bom francês que sou também tenho... hã... dotes, dotes culinários, non?- Rosa ri. Ele pega um avental.
O almoço fica finalmente pronto, não exatamente graças a Claude, que apesar de não atrapalhar Rosa, não fez muito de importante. O casal Smith chega, e são “recebidos calorosamente pelos dois”. Mal os dois sabem que Nara havia envenenado o casal Smith durante um jantar na noite anterior, e que Elisabeth Smith vinha decidida a desmascarar a farsa de casamento com uma idéia cuidadosamente desenvolvida por Nara e Egidio...
Durante o entretido almoço, Miss Smith começa a expor sua grande afinidade com Rosa, que juntamente com Claude, formam a família brasileira com a qual ela inteirava sua lista antropológica, o que aliás era realmente algo pelo qual ela tinha muito carinho.
Disse que de todas as culturas com a qual ela já conviveu, a brasileira lhe parecia ser de valor apreciável, uma vez que era uma cultura livre de fronteiras, que através da junção de várias culturas se tornara assim tão....
R- Bacana, né?
M.S- Darling, bacana é como... Wonderful, hã, formidável, hander stand?
Claude estava desconfiando de todo aquele papo.. E tinha toda razão em temer o que viria a seguir...
E- Mas queuridos, o fato mais engraçado é que parecer que nous conhecemos desde sempre, não ser verdade?
R- É, miss Smith, eu e o Claude já conversamos sobre isso, e achamos a mesma coisa! Parece mesmo que vocês são da família!
E- Rousa, tenho que dizer que eu fico mui feliz com issou. Mas eu queria muito que vocês aceitam uma proposta...
C- Proposta? Desculpe, mas que proposta é essa, miss Smith? Tem haver com o projeto da empresa?
E- Nou táo exatamente... Na verdade ser uma proposta inteiramente em prol de minha satisfaçao pessoal... Entende?- Claude e Rosa arregalam os olhos.
R- E... O que seria?....
E- Eu andei pesquisandou, e soube, que aqui em Brasil, quando as pessoas viajam para algum lugar, havendo ali conhecidos, eles se hospedar em casa de amigos. Sei que isso nou ser apenas aqui em Brasil, mas eu nunca tive a oportunidade de ter esta ecxperiencia, e entao, pensei que vocês topariam nos dar a oportunidade de ver como funciona como ser rotina de quem moura aqui em Brasil... – os dois em estado de choque- então? O que me dizem, hã?- os dois se entreolham perplexos-
M.S- Nós podemos hã.. pagar comou num houtel, se vocês preferirem, Elisabeth ficaria muito feliz se vocês aceitassem,... ela sempre gostar de ficar em casa de amigos uando estamos em viagens...
Claude percebe estar num beco sem saída. Roberta o havia avisado dessa possibilidade. E a certeza de estar sendo testado o deixa sem saber o que fazer. Encontra suas ultimas forças e diz num sorriso aparentemente despreocupado:
C- Claro que aceitamos, será um prazer tê-los aqui conosco, non é cherri? E eu quero que vocês esqueçam despesas, vocês son nossos hóspedes, hã?
Os Smith saem satisfeitos com a resposta e ficou combinado que na segunda feira eles “então seriam acolhidos pelo casal”.
(...)
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