segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

FIC URCA 2 – Parte 15- Ingrata




“Todos... os rostos... sorrisos... Não pode ser verdade que eu nem me lembre de ver isso tudo...

Parece que eu estava tão... Feliz...
-Claro, o dia do meu casamento, um sonho meu, como não estaria?

Tudo parece ter sido mais do que eu sonhava... Mais ao mesmo tempo...

É, nunca pensei que eu me casaria com o doutor Claude....

E ele... Nunca olha na mesma direção que eu nas fotos!
Ele estava tão... Lindo...
E meu pai... Pelo menos esse sonho ele realizou... Me levou ao altar da igreja...

Só não sei se para o homem que eu amava...

Mas... Como eu poderia não amá-lo?

Ele parece que me ama tanto...

E... Ele é tão... Amável...



Amável.

O doutor ‘barra’(/) chato Claude é amável.

É acho que acordei na dimensão paralela à que eu costumava viver.

Está tudo ao contrário!

Pelo que eu vejo, o Claude é perfeito, e eu a malvada da história.

Ingrata.

 Eu acho que estou sendo ingrata.
Como eu poderia...

Como eu posso agir como antes se eu não me lembro como eu agia antes?

Como eu era?

O que eu fazia?

Meu Deus... Que confusão...”

C- Foi um dos nossos dias favoritos, sabia?-

Claude a surpreende, sentando-se ao seu lado, apontando uma das fotografias Rosa dá um riso nervoso-

R- E... Qual foram os outros?...-

Ela o encara. Ele continua com os olhos fitos no álbum-

C- Hum... Non sei se devo te dizer....-Ele finalmente a olha

-Talvez... Você vá gostar mais de lembrar por conta própria, non?

R- Claude... E se isso não acontecer?-  ela fecha o álbum.

Claude suspira. “Mon Dieu... O que eu falo?”

C-Shiii....-Ele toma o álbum e o coloca de lado-
Non precisa se preocupar tanto, hã?...-engole em seco, tentando acertar um tom convincente-

Son... Coisas que já passaram, son passado...-Acaricia o rosto dela-

Foram.... Acontecimentos muito bonitos mas...

R- Claude... Eu sei o que está tentando fazer. E eu agradeço muito. Obrigada mas...
Eu queria muito lembrar... Poder... Saber o que eu senti..Qual foi a sensação de vestir este vestido...A voz do meu pai me abençoando...Se o dia estava quente ou frio demais...

Se meu cabelo não ficou como eu queria... e...

C- Todas as imperfeições que te provem que tudo era real.-

 Claude sorri, segurando a mão dela, que agora estava particularmente gelada-

R- Viu só? É disso que eu estou falando! Eu não me lembro de como foi que eu te disse isso...

C- Isso o que?

R- Isso... e tudo o mais que você sabe sobre mim... e ... o que você me disse sobre você... como...

como tudo aconteceu... até...

C- Agente chegar nesse dia das fotos?

R- É...- Rosa suspira esgotada.

C- Rosa... Olha pra mim?...-

Ela se vira cuidadosamente-

Eu... também quero que você lembre...E se quiser, eu te conto algumas coisas mas...Eu tenho certeza que non será  a mesma coisa.

Eu vou estar te contando o meu ponto de vista. E você provavelmente vai ficar ton frustrada como agora...E eu também vou estar angustiado se você estiver.

Por isso... Eu quero que agente siga os conselhos do doutor Carlos, indo com calma...

Aos poucos, tudo vai se estabelecer você vai ver!

Rosa sorri mais seus olhos ainda dão mostra de sua inquietação, marejados pela angustiante ansiedade.

R- Obrigada...-

 Ela abafa a voz contra o peito dele. Claude se ajeita melhor no sofá, para acomodar Rosa em seu abraço.

Ele esperou muito pra que ela estivesse ali novamente.

Ela estava bem....

VIVA!

 Isso importava. E muito.

(...)



C- Tudo bem, hã? Foi assim... Esta foto eu tirei depois do casamento... E estava um pouco calor mesmo enton...

Desconfortável ficar de terno non?


Eu estava suando como louco... –

Ele percebe que Rosa parara de observar a foto e agora o analisava. Ele sentiu certa inquietação com isso-

Bem.. Depois,- ele aponta outra fotografia-

 Depois de voltarmos de Paris... Nós...

R- Espera... A gente foi pra Paris?!

C- Oui... Mas non pelo tanto de tempo que a gente queria, porque... Nós tivemos que voltar depois de duas semanas pra ajudar Frason na empresa já que... Ah, deixa que depois eu explico...

R- Não. Agora que começou termine.

C- Nessa época... A gente estava  recebendo, novos...investimentos e... eu tinha o doutor Egidio como engenheiro chefe,non? Enton.. Depois que ele... saiu... ficou um buraco administrativo no projeto....

R- Saiu?

C- Rosa... Você...Non sabe... O doutor Egidio faleceu...

R-  Quando?!

C- Bem... Mon Dieu... Rosa, quantas perguntas difíceis... O doutor Egidio, assim como Nara, sempre implicou com você enton, você deve se lembrar de que você igualmente non simpatizava com eles, non?

E... Depois... Nós tivemos prova do quão mal caráter ele era....

R- O que aconteceu?

C- Num dia em que a casa caiu pra ele, quando ele já tinha um mandado de prisão às portas, ele rendeu a nós dois dentro do escritório, e depois resolveu fugir te levando como refém...

R- Meu Deus! E ai?

C- E ai que depois de uma perseguição, ele te levou pro terraço de um prédio, visando improvisar um heliporto e assim fugir do pais. Ele non contava com o atraso do tal helicóptero e enton, nós chegamos antes e eu tomei a arma dele, só que a arma foi parar na beirada lá do prédio, e ele louco como estava, tendo até... um ataque fulminante tentou se abaixar pra pegar a arma de volta e....-

Claude se vira pra verificar a expressão de Rosa, ela tinha os olhos esbugalhados-

Foi isso...-

Ela suspira, cruza os braços como se sentisse frio.-

Tudo bem?

R- Tá sim..só que.. Ai, mesmo ele sendo quem era... Coitado...

C- Faz muitos anos Rosa... Todos já superaram...

R- hum... e .. Sabe que eu ainda não acredito que a Terezinha tenha casado com o Beto?Meu Deus, que loucura essa minha vida!

C- Non foi tão estranho assim... Eles se gostaram desde o primeiro momento em que se viram...

R- Eu acho... que não foi o nosso caso, né?

C- Bom... Elementar, eu diria... Já que a verdade, nós sempre fomos igualmente turrões e orgulhosos.

R- É... Mais orgulhoso que eu era o senhor, né?

C- Oui, admito! Mas mais turrona que eu era a senhora!

R- E... Como foi?

C- Non sei... Talvez já tinha sido. A gente que non tinha percebido ainda...
-Rosa sente um frio na barriga de repente-
Acho até... que quando agente se deu conta, agente estava se cumprimentando no altar, prontos pra se ajoelhar na frente do padre!

R- Nossa... É surreal!

C- Eu também non acreditei no que... Aconteceu a inicio... Bem, você sabe logicamente como sempre foi a nossa... relaçon, nada de... anormal... amizade agente sempre teve mas...

R- Eu entendi. O que você quis dizer é que, como eu sei, ou até onde a minha afetada memória guarda, o senhor se quer me via como... como uma mulher, já que o seu padrão era...

C- Rosa... Você non sabe non. O que eu quis dizer é que... –suspiro-

eu nunca pensei que a mulher perfeita estivesse a tanto tempo do meu lado, perto de mim e eu...procurava ela assim...

em lugares nos quais ninguém tinha noticia de que existisse alguém com.. tantas qualidades, que só você possuía Rosa.

 Me perdoe... De novo... Eu peço perdon por que... Eu sei o troglodita que eu era...Só que toda a frustraçon que eu tinha...
foi substituída pelo amor que você me proporcionou viver e que a cada dia se tornou a minha vida!

R- Eu... Eu sinto isso... Sinto que... a minha vida se baseou nesse casamento esses anos que eu esqueci, e... Que você também se tornou a minha vida... Sinto muito não me lembrar!

C- Rosa... Você está aqui comigo. E é isso o que mais me importa. Poder olhar pra você, e dizer que eu te amo, tendo a certeza de que você está ouvindo, isso sim é maravilhoso!

Eu tive a maior das angustias de te ter na minha frente e mesmo assim te ver ton... distante... Você non podia me ver... e agora eu tenho a certeza de que você non me ouvia também. Eu non te culpo. Muito pelo contrário, eu me culpo!

Tudo o que eu mais quero nessa vida é fazer você sorrir! E jamais chorar!Eu estou feliz Rosa. Talvez...Essa seja uma oportunidade pra que eu te conquiste de novo...e com esforço! Sei que eu nunca vou te merecer mas...
eu quero te provar que você sim é um sonho pra mim!








domingo, 30 de janeiro de 2011

FIC URCA2 – Parte 14- Os Medos e as dúvidas..





A pequena mãozinha move o pino sobre o tabuleiro colorido


- Um, dois, três, quatro...

G- Não Henri!!! Não vale! Você tirou três! Não me engana não!- Gil protesta

H- Tá eu só me distrai.- Henri arqueia as sombracelhas em provocação, voltando uma casa.

G- Hum, sei.- Gil pega o dado e se prepara para jogá-lo.

Frasão alisa o queixo.

Olhando fixamente as duas crianças brincarem no tapete a sua frente.

Uma canela sobre o joelho oposto. Parece estar distante...

Acabara de voltar da cidade onde a pequena ruivinha fora supostamente registrada.

Parece que não ocorreu tudo conforme o planejado...

(...)

“ Meu coração não me responde mais.

Eu bem que tentei pedir pra que ele batesse mais discretamente, pois a impressão que se tem é a que ele quer ser visto.

 Sim, ele parece querer saltar do meu peito.

Que simplesmente se portava como se eu tivesse feito a maratona da São Silvestre inteira.


Depois de terminar de dizer o quanto me amava e efetivamente me convencer

(disso ele não sabe ainda, eu ainda não disse uma palavra. Não inteira.)

ele continua me olhando ‘daquele jeito’.

Talvez ele esteja esperando por uma resposta de minha parte.

 Acho que pelo tempo que eu estou aqui muda, ele deve achar que eu vou dizer que odeio ele.

 E eu odeio.

Sim, odeio.

Como posso não odiar?

 E.eu não sei quase nada sobre ele

( pelo menos não sobre o ‘ele de agora’)

 e ele está em infinita vantagem sobre mim.

Possivelmente ele deve saber no que eu estou pensando agora.

 Que eu estou tentando clarear minha mente, pois ele deve saber bem que ele sabe como mexer comigo.

Cretino!

 Ele sabe!

Claro que sabe!

Eu estou casada com ele há dez anos!

Não é justo!

Eu não sei se ele está falando a verdade!

Não está?

Meu Deus!

Eu não sei o que pensar!!!”

Dádi entra no quarto, eles não se deram conta de que a porta ficara aberta.

Dádi nem percebe o momento crítico entre os dois,

já que aparentemente eles só estão sentados na beira da cama encarando-se sérios e mudos.

 Talvez eles estavam em uma longa guerra de olhares.

Dádi não poderia ver que os olhos dos dois berravam.

Estavam totalmente extasiados.

Sim. Queriam se fechar. Encerrar por ali.

Não agüentavam mais tanto tempo sem piscar.

O barulho de Dádi depositando a maleta de medicamentos de Rosa sobre a penteadeira fez com que os dois acordassem do transe.

 Rosa piscava freneticamente.

Claude apenas abaixa os olhos e mira a mão dela que ele ainda mantinha sob sua posse.


D- Olha dona Rosa, dentro dessa maletinha estão tudo o que a senhora pode precisar caso o machucado da senhora volte assim, a infeccionar né. –

Dádi se mantém a distancia. O suficiente pra que eles nem se movessem para encará-la. Claude busca os olhos de Rosa, que também encontra os seus. Ele mantém o silêncio-

Apesar de que ele não parece que vá nem doer mais né? Mais sabe como é frescura de enfermeira, né?  É um tal de as bactérias do ar...

Claude se levanta, sorrindo para Dádi.

C- Dádi, obrigado por trazer.

Afinal cuidado nunca é demais non é?

- Ele volta a olhar Rosa-

Rosa, eu e Dádi queremos saber se você desce pro almoço ou prefere almoçar aqui no quarto mesmo.

 O que a madame vai preferir?

R- A...-

 Ela olha pra Dádi, que a encara de olhos arregalados-


Eu...

Não sei...

O que vocês acharem melhor, eu não me importo...


Dádi faz menção de dizer algo, mais Claude dispara-


C- Dádi acha que você ía querer ficar aqui no quarto o dia todo.

Mais eu acho que ia te fazer bem andar um pouco, mesmo que pela casa..,

O que acha?

R- Hã..

- Dádi a olha espantada-

Eu, eu acho que vou querer mesmo a segunda opção, então!

- ela sorri, e Claude estende a mão, ajudando-a a se levantar.

Claude a pega nos braços.

Dádi, abre a boca-

D- Do...dotor Claudes...

C- As muletas por favor Dádi....

Diz Claude passando pela porta.

Dádi mesmo perplexa pega as muletas e os segue.

(...)

“Devo mesmo estar com cara de idiota, assim, tombando a cabeça de um lado pro outro, que nem cachorro, enquanto faço uma ‘análise profunda’ do prato posto na minha frente.

 Etiqueta...

 Me lembro de ter estudado um pouco, mais...

Não...

Ah! Devia ter ficado lá no quarto.

E ter trancado bem a porta, pra que ninguém me visse comendo.

 Ai! Que vergonha!”

 As mãos dela permaneciam em espera,  

paradas ‘no ar’, sobre o prato e todos os talheres paralelos a ele.

Claude também ainda não tocara na comida.

 A olhava de baixo, e sem perceber, arqueou uma sombracelha.

O que a deixava mais nervosa.

“ Mon Dieu!

Como eu sou estúpido!

 Ela non deve se lembrar nem como se portar na frente de uma mesa assim...

 Mas que bola fora, non?! Ou será que...”

C- Rosa?...

– ele pergunta como quem não quer nada-

 Me desculpe, ...

Você...


Não gostou que Dádi tenha posto a mesa assim, non é?

R- Não...

Tudo bem.

É que eu não tenho certeza se...

- as mãos dela finalmente se movem, e surpreendentemente escolhem os talheres certos pra serem usados naquele prato ‘em questão’.  

Ela apenas sorri timidamente e Claude pisca num sorriso aliviado.


(...)

-É como o eu te expliquei, meu caro.

 Ela pode não se lembrar de fatos, mais certamente se lembrará de coisas mais simples,

como coordenações motoras etc.

É como...

 a fala.

 Muitos pacientes com amnésia podem esquecer a família, a infância,

até o próprio nome.

Mais não esquecem de como falar,

 como escrever e logicamente como andar.

 As regras de etiqueta tem sido usadas por ela nos últimos anos de forma cotidiana,

simples.

Ela já estava acostumada.

Por tanto,

 é evidente que isso justifique ela ter se lembrado espontaneamente delas.

C- Você acha, doutor?

- Mais é claro, meu amigo!

C- Eu... pensei que ela tinha começado a se lembrar...

- Não dá pra ter certeza!

Calma que talvez...

 ela pode sim estar progredindo...

Afinal, ela só acordou a uma semana!

C- Tem Razon...

 Eu estou mesmo muito ansioso...

O brigado mais uma vez.

- Imagine,

sempre que quiser,

 pode ligar, sem problemas.

Se o senhor quiser eu posso adiantar a visita e ir ai hoje mesmo...

C- Non precisa.

 Obrigado mesmo assim.

 Até mais. Tchau.

Claude desliga o telefone e se senta novamente na poltrona.

Observa Rosa através do bar da casa.

Ela está sentada no sofá, um enorme álbum de fotografias no colo.

Ela observa tão criticamente como se estivesse lendo um livro de suspense.



Os olhos percorrem cada rosto, procurando detalhes...

sábado, 29 de janeiro de 2011

FIC URCA 2- Parte 13- Questionamentos profundos





“Queria não estar assustada.

Mas não seria sincero de minha parte.

Queria me lembrar.

Mais não dá.

Não queria lembrar.

Aliás, queria que nada disso estivesse acontecendo.

Cadê meu pai?

E o Julio, onde está?

Hoje cedo, no hospital, era a Nara?

A dona Nara Paranhos de Vasconcelos me pedindo perdão?

E eu perdoei?

Meu Deus. E o doutor Claude! O Claude.

Ele... Como ele se atreve?!

A ser tão... Petulantemente encantador?

Aquele não é o doutor Claude que eu conheci.

Que gritava comigo toda vez que me distraía.

Que era estúpido diversas vezes. Batia a porta, desligava o telefone sem dizer  nem tchau, vê lá obrigado.”

Que achava que ela não tinha mais nada de importante pra fazer do que resolver os problemas dele.

Sim... Ela estava acostumada a aturá-lo.
Mas agora era diferente.

Ela não tinha que aturá-lo.

Simplesmente, ele vinha, se abaixava até a altura em que pudesse olhá-la firmemente nos olhos e perguntava se estava tudo bem. O que ela estava sentindo.

 Se interessava pelo que ela estava achando. Este Claude, ela ainda não tivera a honra de conhecer.

“Meu Deus! Como ele pode ser tão... bonito?!”

Essa era uma pergunta que ela fazia constantemente mesmo antes, referindo-se ao “velho” Claude. Rosa se irritava por que tinha que admitir, que aquele francês apesar de rabugento, era muito bonito.

Na verdade, era difícil pra ela comparar ele e Julio.

Apesar de estar muito apaixonada pelo noivo, ela sabia que não dava pra comparar.

Julio não era rude como Claude. Eram raros os momentos de nervosismo dele. Mas Claude, em contraste, quase nunca estava calmo.

Era perturbador ele ser tão rude e tão encantador ao mesmo tempo.

“Como ele pode? Como ele pôde ser assim por tanto tempo e de repente virar quem sabe outra pessoa?”

Ele a olhava de um jeito diferente, ela sabia. Nem para Nara, a mulher que até então ele levara mais a sério, aponto de noivar, ele olhava como olhou pra ela.

Sim.

A mesma Rosa, aquela, que era chamada sem a menor delicadeza de corticeira, cafoninha, serviçal.

A mesma mulher que Nara Paranhos de Vasconcelos tratava com tão pouco caso, que ela humilhava como se dissesse ‘oi’. Como se os insultos fossem a única maneira que ela conhecesse para “saudar” Rosa.

Sim. A mesma. A mesma Serafina Rosa, agora era a

“senhora Geraldy. Serafina- Rosa – Petroni- ...Ge-ral-dy.”


Ela se deixa cair sentada na cama fofa.

Esta vestida apenas com um roupão e tem uma toalha na cabeça.

Ela olha em volta. O lugar parece ter saído das páginas de revista de decoração e arquitetura.

“Minha cama...”

ela alisa a fronha de linho. Volta a apalpar o edredom macio...

“Minha só não... Ah!”

 Começa a secar o cabelo, ali mesmo, sentada na cama.

Depois decide criar coragem.

Se apóia numa das muletas e abre a porta do armário.

Estranha. Dentro só tem caixas, alguns chapéus, gavetas...

Se dá conta de que a porta paralela ao do banheiro devia explicar.

“Closet! Meu Deus! Nem sonhava que um dia teria um closet!”

Ela abre a porta, meio que se apoiando na maçaneta, entra devagar, como se tivesse medo que o

 “terrível monstro do armário” estivesse lá dentro.

 Está escuro.
Não está mais. Ela encontrara o interruptor.

As luzes a fizeram piscar, mas logo ela se adapta a claridade.

É enorme. Quase do mesmo tamanho do quarto. Armários sem porta de todos os lados. A porta atrás de si, completava a parede espelhada.

 Ela começa a passar a mão pelos cabides...

“Essas roupas devem custar uma fortuna!” Sentia os tecidos com os dedos, nesse armário, havia apenas ternos. Não resistiu em sentir-lhe o cheiro. Mais para seu desapontamento(!) não tinham o perfume dele.

Então, ela se dirige ao ultimo e mais encantador armário. Nele jaziam os seus supostos sapatos.

“Um para cada dia do ano, eu suponho!” Ela estava vislumbrada com tudo aquilo mais não deixava de se sentir estranha.

 Talvez a Rosa “do futuro”, a que ela se esquecera de como ser, fosse fútil.

Uma madame consumista e fútil.

Começava agora uma guerra em sua mente. Será que após ser abandonada no altar por Julio, ela desacredita no amor e seduz o patrão por dinheiro?

Ela seria mesmo capaz?

“Não. Pelo menos essa  Rosa aqui, de dez anos atrás como dizem, nunca faria tal coisa.”

Ela examinava as roupas, segurando-as pelo cabide, à altura do peito, mirando a própria imagem no enorme espelho de corpo inteiro.

“Meu Deus! Olhe pra mim? Quem é essa? Sou eu?”

Rosa agora se encontrava espantada com a própria figura. O cabelo dela nunca fora tão claro, ela pensa.

Está como de costume (ao menos de costume pra ela, a de dez anos atrás) No rosto, surpreendentemente não encontrara nenhuma ruga nova. (agora ela tinha 37!)

Claude também não mudara muito, ela sabia. Ele tinha sete anos a mais que ela, e não aparentava ter mais que quarenta.

Ela afasta passando os dedos no sentido ao alto da cabeça a enorme franja que lhe crescera nesse tempo em que ela estava “dormindo”.          
As pontas tocavam-lhe os lábios.

Ela então pode ver a enorme verga que sua testa fazia enquanto ela permanecia imóvel, se criticando com os olhos.

Talvez procurasse o que Claude viu nela para olhá-la ‘daquela maneira’. Os olhos dele eram de quem vê a Angelina Jolie ao vivo pela primeira vez. Mais não.

 Ela não se parecia com a Angelina Jolie. Talvez ele achasse. Mas ela não via semelhanças.

“O que Deus do céu, o doutor Claude... o Claude. O que ele viu em mim? Ele era cobiçado pelas mais variadas peruas socialites que pareciam ter saído de capa de grife, e então, ele vai na igreja da Aquerupita, e se casa comigo?”

Rosa ainda não engolira esta história.

Não parecia convincente.

Não a julgar pelo relacionamento que eles tinham até onde ela se lembrava.

“Grandes coisas.”

Lembranças que de nada lhe valia. Sua vida estava de pernas pro ar.

“Mais me valeria ter esquecido até meu nome”

Ela se arrependeu de pensar isso. Pois não gostaria de esquecer de sua família. Não mesmo.

(...)


Rosa se senta na beira da cama, tentando ajustar a bota que está tão frouxa que parece que vai se soltar. Os cabelos lhe cobrem o rosto completamente.

Alguém os afasta, e ela levanta a cabeça rapidamente, meio assustada.

E sim. É exatamente quem ela previu que fosse. Claude. E aquele sorriso dele.

“Ah, não! O sorriso não!”

Ele a olhava tranquilamente. Mais por dentro sentia-se tão intimidado quanto ela.

“Mon Dieu! O que eu faço... O que qui eu tenho que fazer pra ela não me olhar assim?”

Ele se agachara na frente dela, e com facilidade e rapidez, fez o que ela tentava a muito. Deixou a bota perfeitamente ajustada. Ela sobe o olhar e se depara com os olhos dele,

C- Ficou bom?- as mãos dele estavam nos joelhos dela, o que a fazia ficar meio desnorteada-

R- Ficou. Ficou sim. Está ótimo. Obrigada!- Ela tenta sorrir. Mais ele ainda percebe o quão assustada ela está pela sua simples presença. Ele toma suas mãos, que apertavam o acolchoado da cama com força.

 Ela ainda nervosa, seus olhos parecem apreensivos. É certo que não viam a hora dele sair, ou de mais alguém entrar.

C- Rosa...- ele olhava as mãos dela, o anel de noivado na mão esquerda, em lugar da aliança, as mãos dela estavam tão brancas...- Eu... eu percebi que você non se sente confortável na minha presença...- Ele a encara, os olhos dela fogem-

R- Claude...

C- Eu sei que você ainda non me conhece... – ele a olha por baixo, de uma forma divertida, ela cora tenta soltar as mãos mas desiste- Mas eu te conheço. – ele sorri- Eu conheço muito bem cada olhar seu, cada sorriso, cada risada...

Rosa aspira, finalmente solta suas mãos. Ele a olha “daquele jeito” de novo. E novamente, as orelhas dela pegam fogo-

R- É, eu sei.- “E é disso mesmo que eu tenho medo” ela pensa nervosa com aquela situação. Silêncio. Ele umedece os lábios-

C- Non é justo, né?- ele sorri, se levantando-

Ela apenas suspira. Ele se senta ao lado dela. Ela evita olhá-lo.

R- Eu sei que não é justo... Mas principalmente pra você. Não é justo que...

Ele a faz encará-lo gentilmente lhe guiando pelo queixo. Ela ruboriza-

C- Eu te ame... e... você....- ela volta o rosto pro outro lado- Eu entendo Rosa... É claro que eu entendo. Nunca faria nada que você non queira. Não precisa ter esse medo todo de mim... Non sou o bicho papom...

Ela sorri e o encara-

R- Não é? Dadi me disse que...

C- Tá bom... Non ligue pra o que Dadi diz, hã?- Eles param de rir, e entram em mais um silêncio. Só que desta vez, podiam descrever cada linha da Iris um do outro.

Claude não percebe seu impulso, e a beija nos lábios.

Um beijo macio e delicado. Um simples tocar de lábios.

Mas o suficiente pra que Rosa se assustasse ainda mais. Apesar de imóvel, seu corpo formigava violentamente. Ela pisca e ele se afasta. Percebeu seu equivoco.

C- Desculpe.- Ele disse engolindo em seco. Abaixando os olhos, como se tivesse cometido um crime.

R- Eu sei que não tem que me pedir desculpas, Claude.- Ela disse ainda assustada, porém sua voz soou calma-

C- Non. Tenho sim. Não foi cavalheirismo de minha parte.

R- Beijar sua esposa?

C- Mesmo sabendo que ela esta assustada e que non se recorda de mim. Eu fui um imbecil, Rosa, me perdoe.- Ele faz menção de se levantar, mas ela põe sua mão sobre a dele-

R- Claude, espera! Eu preciso te perguntar uma coisa.

C- E O que é?- ele diz aparentemente calmo mais por dentro seu sangue borbulha. Ela se lembrou de algo?

R- Eu... quero saber... por que você casou comigo... tendo tantas mulheres melhores e loucas por você no mundo...

Ele sorri, ela sobe o olhar da aliança dele para seus lábios, que esboçavam um largo sorriso-

C- Rosa! Por que eu me apaixonei por você! Por que você non era igual às outras mulheres lindas, por que você também é linda, mais que qualquer outra, e você....

- Ele levanta o rosto dela com o indicador no queixo dela novamente-

é linda non apenas por fora, mas por dentro também! Você é linda, por dentro, e por fora.

Ouviu? Non te troco por nenhuma outra nesse mundo.

Você é a minha Serafina.

 Minha “anja” Serafina.

E eu vou sempre me lembrar de agradecer à Deus por você ter entrado na minha vida. VOCÊ,  foi a melhor coisa que me aconteceu, Rosa!

Ela tem os olhos tão marejados quanto os dele. Mais a primeira lágrima a escorrer, é a dela.

Ele então a enxuga com as costas da mão, mas também deixa uma não, mais duas grossas lágrimas caírem de cada um de seus olhos, quando não resiste e pisca pra que possa enxergar o rosto de Rosa e não água.

Ela sorri, mesmo contendo-se para não soluçar.

 E em mais um ímpeto (aos quais Claude amava na esposa) ela lhe toma o rosto com as duas mãos, e começa a beijar-lhe o rosto com energia.

Beijos estalados em cada uma das bochechas molhadas dele, em seguida na testa, no queixo e então ela pausa, o encara de novo, os dois sérios e mudos.

E desafiadoramente muito próximos.

Ela toma coragem, ainda segurando lhe as orelhas, e o beija a boca, fechando os olhos com força. Ele nem acredita. Sente o corpo aquecer de felicidade e contentamento.

Seus pensamentos voam nesse segundo... Apenas um segundo. E ela dá em si. Se afasta.

Ele abaixa a cabeça.

C- Me desculpe. Eu non devia...

R- Claude! Eu te beijei. E eu quis. Não foi nada que você fez.

C- Engraçado...- Ele sorri pensativo-

R- Eu sei no que está pensando, que nós somos casados há dez anos e que agora mais parecemos duas crianças...

Ele surpreendeu-se com o que ela disse-

C- Uau! Non pensei que diria isso.

R- Dez anos mais imatura- ela balança a cabeça, divertida-

C- Talvez... Mais ainda sim, igualmente encantadora!- ele beija-lhe a mão.

R- Claude...- ele ainda mantém os lábios na mão dela- Você.... Me ama?

A voz dela saiu mais incrédula do que ela planejava-

C- Tem dúvidas? –

Ele a olha docemente-

Non me importa nada nesse mundo, cherri, a única certeza que tenho além da morte é essa: Eu te amo pra sempre! Pra sempre!

- ele acomoda gentilmente uma mecha do cabelo dela atrás da orelha.-

 E ontem eu te amava,hoje eu te amo, amanhã eu vou continuar te amando... Todos os dias, sempre, mais e mais... E hoje, eu tenho certeza, nunca vou deixar de te amar.

O mundo parou de girar.

Parou.

Ela jura que parou.

 Tudo parou.

As luzes se ofuscaram, os carros pararam as vozes e os sons do mundo se calaram, só pra ouvir o que ele disse.

Sim.

ELE disse.

Claude Antoine Geraldy disse: sim.

Disse eu te amo pra sempre Serafina Rosa. Pra Sempre!

“Ele disse. Meu Deus ele disse!” Não que ela não esperasse que ele dissesse, mais não que isso fosse mexer assim com ela. Violentamente.

O mundo girava de novo. Só que rápido demais. Ela se sentia não dez anos mais imatura.

Mas sentia ser adolescente de novo. Daquelas loucas.

Que se convencem de que ama um e depois vê que amava mesmo o utro. Meu Deus e Julio?

Ela sabia o que ele tinha feito, algo sem volta. Mais e ela? Não seria indigno da parte dela dizer que amava outro assim “tão depressa”? Sim, dez anos passaram.

Mais e a consciência dela? Ela não se lembrava de ter chorado o “luto” por ser abandonada pelo “amor de sua vida” o que dizer? O que fazer?

 E a vontade que ela tinha diante daquele olhar tão... Pertubardor... Tão...

Penetrante de seu legitimo marido.

Sim.

Legitimo.

Ele merecia que ela dissesse que o amava. Ele merecia que ela o fizesse cafuné.

Não Julio.

 Não o que ela achava ser seu melhor amigo, a paixão de sua vida.

 Mas Amor....

Amor?

Dizem que amar mesmo é só uma vez... E agora?