Capitulo 1- Apresentação
Bem, é estranho lembrar que na verdade, eu não sou daqui. Esse país, que eu chamo de casa, um dia, não me pareceu tão convidativo assim. Na verdade, seu nome até me provocava tremores.
Antes de embarcar no imenso pássaro de metal que me trouxe pra cá, tudo que sabia era que aqui se falava outra língua. E que não tinha garoa.
Nasci em São Paulo , numa comunidade de imigrantes Italianos, no bairro histórico e ainda assim pobre Bexiga. Lembro de correr pelas escadarias, carregando minha irmãzinha de apenas um ano no colo. Minha mãezinha sofrendo as dores de parto ali mesmo.
Tinha mãe, pai, irmã e depois irmão. Mas depois da fábrica em que meu pai trabalhava falir, ficamos totalmente sem esperanças de melhorar de vida.
Minha mãe, ainda com o Dino de colo, e com Terezinha sem nem saber falar direito, decidiu que o melhor era ela ir pro interior, tentar se arranjar nas fazendas por lá, já que sua parentela inteira vivia assim.
Sob meu protesto e do meu pai, ela embarcou naquele ônibus que a tirou de nós, juntamente com meus tão pequeninos irmãos amados.
Sem mais expectativas e totalmente desnorteado, meu pai hipotecou o casarão, e nós embarcamos pra Europa, onde ele poderia ter uma nova chance.
Nós ficamos aproximadamente um mês em Portugal, depois partimos com um primo do meu pai, que morava em Paris.
Chamo-o de tio, na verdade. E o meu tio Miguel é sem duvida uma das pessoas mais incríveis e maravilhosas além de ser melhor cosinheiro que já conheci.
Ele nos acolheu em seu minúsculo apartamento numa dessas ruas que passam longe não só do metrô, mais também de qualquer sonho de moradia na cidade luz.
Os dois trabalharam duro numa padaria por dois anos. Esse período de adaptação e de mudanças bruscas certamente foi o mais difícil.
Pra completar, eu tinha que ir a escola, onde tudo era em francês e eu mal sabia pronunciar “Bonjour”.
Depois eles montaram um pequeno restaurante, mal localizado tanto quanto nossa casa. Mas a comida deles era tão espetacular (bem, pode-se dizer que o coração deles pulsava molho em vês de sangue!) que eles conseguiram o tão sonhado reconhecimento. Mudamo-nos para uma avenida em pouco tempo. Os negócios corriam de vento em popa.
Aí, a minha madrasta (Joana, uma ex-atriz brasileira de sucesso, viúva de um francês, que a deixara um filho e um gordo testamento), assim que recebeu a fortuna da herança do Sérgio (meu irmão de coração) nos despachou (eu e ele) para o interior, para a cidade de Verrières Le Buisom, onde estudamos até terminar o equivalente ao ensino médio do Brasil.
O detalhe era que o grã “Le Perrault Plume” (internato misto onde estudamos) era cheio de estrangeiros. Mas não sei se isso foi totalmente positivo. Mas lá passei a maior parte da minha vida, no fim das contas.
Conheci meus melhores amigos lá...
Uma coisa sempre me instigava, e ela se chamava “férias”. As de verão, maravilhosas, as de inverno, mágicas.
Hora de botar os livros no armário e embarcar no trem de volta a minha amada Paris. Onde meu pai me esperava de braços abertos.
Onde eu podia usar minhas adoradas bandanas e todas as minhas cores. Nada de uniforme. Nada de... “Desolé, pardom, ne pas se répéter”!(desculpe, me perdoe, não vai se repetir). Onde encontrava meu admirador, meu primo Julio, o filho do tio Miguel.
Julio era sem duvida encantador. Tinha um belo sorriso e sabia tocar o acordeom do meu pai. Me dava anêmonas , que meu amigo Tony me explicou significarem insistência e perseverança. Isso o Julio tinha. Era insistente e perseverante em me conquistar.
O Tony conhecia mesmo muito sobre flores e seus significados. Dele eu recebia várias amostras e conhecia seus mais variados significados.
Lembro do dia que o Tony me deu uma rosa branca. Era verão, e eu estava acomodada no trem, já partindo pra casa.
Estava triste por que ele não havia aparecido pra se despedir, como prometeu. Mas eis que eu ouço um louco gritar em português:
- Hey! Hey! Espera! Rosa! – sabia que era ele, não só pelo idioma mais por que ele era uma das únicas pessoas que me chamavam de Rosa, mais depois eu explico- Ei! Rosa!
Eu abro a janelinha e espio. É ele, de fato! Com uma camisa de quadros azuis e os cabelos desgrenhados-
- Você ficou louco?!- eu grito sorrindo, o trem começando a pegar velocidade-
Por que não apareceu?- ele dá os ombros, ofegante-
- Eu precisava te dar isto.- me estende a rosa, que é tudo que eu consigo como resposta.
O trem segue e deixa Verrières, e meu melhor amigo Tony lá. Com a resposta do que significa rosa branca.
Uma das minhas paixões era ajudar meu pai no restaurante. Adorava me esconder debaixo do balcão e observar as pessoas. E o que elas faziam. O que comiam. Do que gostavam.
Muitos clientes me viram crescer, de certa forma. Me acompanhavam a cada verão. Diziam que sempre parecia mais bela.
Hum, e eu me lembro de como eu fazia pra espantar os “espiões” da aba do meu pai. Eram funcionários dos restaurantes concorrentes que se “infiltravam” no meio da clientela não só pra experimentar a comida mais também pra fazer “a caveira” do nosso “Formaggio nel piato”( ‘O queijo no prato’, restaurante do meu pai). Difamando, colocando insetos nos pratos, reclamando do atendimento, etc.
Bem, e eu sempre armava pra eles também, claro. Mas foi enchendo o café de um destes infames de sal que consegui um belo castigo. Ficaria sem celular por uma semana. Muito pra quem tinha apenas um mês de férias. E muito mais ainda pra quem só tinha o celular pra falar com meus amigos que se espalhavam pela França durante as férias. E o Tony não me explicou “rosa branca”.
Mas eu tinha um plano. Confiscaram meu celular, mas não o do Sérgio. Eu terminei de lavar as louças e raptei o aparelho dele de cima do caixa. Me escondi debaixo do passa prato e digitei uma mensagem pro Tony.
Aguardava a resposta, ai me lembrei que a Janete estava na casa da tia em Paris também, e então, chamei-a pra encontrar-se comigo.
Tio Miguel passa na minha frente e me assusta, colocando um chapéu de chef sobre a minha bandana vermelha. Levo a mão à cabeça, ajeito o chapéu e sorrio pra ele. De repente, Sérgio aparece e se agacha a meu lado (eu estava sentada no chão)
- Hey, Belina!- eu ponho a mão no peito, pelo susto- Melhor você voltar logo, minha mãe acaba de perguntar por você! - Eu tento esconder o celular no avental, mas ele agarra meu pulso e ri
- Ahá! Eu estava procurando por isso!
- Sérgio, eu só peguei emprestado! Pra ligar pra Janete!
- Oh, claro. Não se preocupe maninha!- ele empurra pra cima o chapéu de chef que me encobria o rosto- Ah, e manda lembranças ao Tony!- ele levanta, beija minha testa e volta ao trabalho. E eu fico boquiaberta-
- To...Tony?...- repito sozinha. O Sérgio não caiu na história de Janete.
O Tony era meu melhor amigo, como eu disse. Mas assim como Paris, eu não me acostumei com ele de uma hora pra outra. Eu fui ter “contato” com ele, só na aula de teatro, e isso, por que nós fomos escolhidos como protagonistas de uma peça. Fizemos Romeu e Julieta, do Shakespeare.
Foi durante os ensaios que eu tive uma visão menos apática e menos “ele se acha” do Jean Antoine, ou o Tony.
Descobri que ele falava minha língua num dia em que o Sérgio atravessou o auditório vazio do salão de teatro e subiu no palco berrando:
- Rosa! Rosa! Seu carneiro! Seu carneiro tá dando a luz!
A professora nos olha espantada-
- Ow, est Faune, mes brebis ! – (é Faune, minha ovelha) eu explico enquanto abandono o livro e saio correndo atrás de Sérgio.
A Faune era meu mascote, da aula de biologia. Por isso do nome Belina, que quer dizer carneirinho. E era o que ela estava pondo no mundo.
Saí correndo até o estábulo, onde encontrei Faune, gemendo enquanto expelia um filhotinho. Eu fico sem saber o que fazer, mas ai o Tony aparece, e diz-
- Posso ajudar?- ele sorri, mas eu nem sei mais falar, só abano a cabeça. Ele se ajoelha na esteira onde Faune jazia deitada e a ajuda dar cria. Sei lá como. E eu também não sabia como ele falava minha língua. Ou se eu me confundi. Afinal, eu já me acostumava até a pensar em francês, nem tanto mais em português. Então ele me aponta o cordeirinho e sorri:
- Ele nasceu perfeito!
- Você... Falou na minha língua?- digo imóvel, sem tirar os olhos dele, que apenas assente- Co... Como?
- Non se preocupe com isso agora, acho que precisamos chamar o veterinário, non?
O sotaque dele confirmou o que eu obviamente já sabia: ele não era brasileiro. Nem português. E definitivamente não era angolano. Ele era francês, ao que me consta. E enquanto ele sai pra procurar o tratador dos animais eu acaricio Faune, que lambe o filhotinho marrom.
Saber o porque de ele falar português era o que eu mais queria. E fui querendo por um bom tempo, já que ele demorou a me contar que ele teve uma babá brasileira e que as vezes passava as férias no Brasil. Senti inveja disso. Brasil. Mal me lembrava de lá...
Curiosa convicta, queria saber pra onde ele ia no Brasil. “Som Paulo” ele respondeu meio a contra gosto. Ele não parecia gostar de passar as férias por lá. Mais isso eu não perguntei. Embora tivesse quase certeza de que a resposta seria “non, eu non gosto, mas agora será que você pode parar com o interrogatório e voltar a passár os textos, hã?”
Era engraçado vê-lo bravo. Ele ficava todo esquisito e se contorcia um pouco. A boca ia parar de um lado, o nariz de outro. E quando eu ria ele ficava mais esquisito ainda, começava a ficar vermelho. Eu adorava isso!
Bem, voltando aos meus outros amigos, inclui ai Janete, franco-brasileira e filhinha da mamãe, Silvia, brasileira e filha dos zeladores da escola, Frasão, amigo do Tony, não tinha certeza se ele era brasileiro, mais a pronuncia dele era perfeita no português, Alabá, africana e filha de empresários muuuito ricos. Ai de quem mechesse com a “Musa” como o Frasão chamava ela(Eles namoravam desde o primário, eu acredito).
Todos estávamos muito ansiosos pra deixar a escola e ingressar na universidade. A maioria dos alunos iria pra Clemont Ferrat, ou pra Paris.
Janete iria estudar medicina na Rússia, Frasão iria estudar direito em Londres, Alabá faria moda em Paris...
Eu não fazia idéia do que eu queria... Pensei em fazer gastronomia... História da Arte...
Ah, e a propósito, o Tony também não tinha idéia. Aliás, até tinha. Idéias demais: Medicina, Engenharia Mecânica, Engenharia Química (ih, a julgar pelos experimentos que ele fazia, essa não ia dar certo mesmo!), Antropologia (sonhaaa) , Relações Internacionais, Direito e Engenharia Civil.
Mas como ele NUNCA se decidia, agente disse pra ele que melhor era fazer “esquerdo”, já que “direito” o Frasão faria.
Na escola agente não era um grupo nada popular. Na verdade, um grupo formado basicamente por estrangeiros não poderia ser menos perseguido.
Tinha os casaizinhos, os descolados, os malandros, os pivetes, os nerds, os jogadores e finalmente os estrangeiros, que era nossa classificação.
Agente se divertia muito com a cara feia que os descolados faziam quando agente começava a discutir uma possível resposta à provocação deles, visto que eles não entendiam nada de português.
O Tony era o mais perseguido, pelo simples fato de ele fazer teatro e gostar do Frank Sinatra.Diziam que ele era sensível demais, calado demais.
Sei que as insinuações deles não eram verdadeiras. E apesar dele nunca me olhar com segundas intenções, sabia que ele não era “delicado”, como eles diziam.
O Tony era admirador secreto de uma menina chamada Gabriele, que era filha de um industrial Belga muito rico. A menina era branca como papel, os cabelos cor de trigo dela eram tão poucos quanto suas palavras. Ela tinha um sorriso tímido e encantava a todos por sua meiguice.
Acho que ela era exatamente o meu oposto. Eu era de subir em arvores, seqüestrar os cavalos do estábulo de madrugada, tocar country rock no violino durante as aulas de musica (clássica), e eu odiava as tranças que faziam no meu cabelo e usava bandanas escondido(no pescoço, no pulso), criava uma ovelha e seu filhote e não era esquelética como a maioria das outras alunas (anoréxicas).
Mas não sei se foi por isso que eu não chamava a atenção do Tony. Mas eu contava do Julio pra ele, só por precaução. Sei lá, ele podia demonstrar ciúmes...
Voltando a aquela noite em Paris, eu ainda estava esperando a resposta da mensagem, só que ajudando na cozinha, o celular no bolso do avental. Quando finalmente terminei, ia me virando quando “toub”! Alguém esbarra em mim, era meu pai, que vinha me dispensar. Só que eu não deixei de reparar no aparelho afundando no meio do molho borbulhante.
Sorrio pro meu pai e assim que ele deu as costas comecei a resgatar o celular, passando a colher de pau pelo fundo da panela gigante. Pesco o aparelho de volta e o enfio num pano de prato, saio correndo pros fundos.
Sento na escada e começo a limpar todo aquele creme vermelho da tela. O cheiro de tempero sobe dele de forma nítida. Penso que o Sérgio sem duvidas ia me matar, quando vejo uma figura familiar atravessar a rua. Estreito os olhos e consigo compará-lo ao Tony. Só que andava de um outro jeito e se mexia de outra forma.
....
- Não, você é que está encucada demais com o misterioso Jean Antoine!- Janete revira os olhos, as mãos sobre os joelhos desnudos, uma enorme pena negra na presilha em seu cabelo- Ai, Bel, para com essa paranóia! O Tony tá com o Frasão em Barcelona, ele mesmo disse!
- Não, você é que está encucada demais com o misterioso Jean Antoine!- Janete revira os olhos, as mãos sobre os joelhos desnudos, uma enorme pena negra na presilha em seu cabelo- Ai, Bel, para com essa paranóia! O Tony tá com o Frasão em Barcelona, ele mesmo disse!
- Eu sei que isso explicaria o celular fora de área mais... Não sei! Era muito igual!
- Que nada amiga, se ele estivesse aqui em Paris, o primeiro lugar que ele viria chama-se “Formaggio nel piato” a melhor macarronada de toda França!- ela ri, e eu balanço a cabeça,
- Tá! Tavez eu tenha me confundido... Mas nunca se sabe, eu vou tentar o e-mail.
Nunca desistir. Esse era meu lema. Com minha curiosidade como combustível, minha carreira de jornalista já estava mesmo garantida.
bem gente, espero que gostem dessa fic, eu tenho um montão de idéias pra ela...
ResponderExcluirmas sem vcs não adianta né?
por isso deixo aqui meu recadim pra avisar que estou ansiooosa pela reação de vocês...
beijo
PERFEITO!!!!!
ResponderExcluirCom certeza deve continuar...
Nossa!
ResponderExcluirTony ser Claude?
acho que não
Aff..
viajei geral agora kkkk
Opa, adorei a historia.
ResponderExcluirJa vi que ficarei grudada aqui. *-*
Ja tem mais uma leitora.
eu quero q o tony seja claude,nada de jean...kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirmas já lendo em... adoro!!! e nem vem enganar a gent com letra grande...
ai gih!!! abafa!!!
ResponderExcluiré que eu formtei no word (antes eu ajustava no bloger mesmo) e ai ficou assim ENORMEMENTE ENORME mas não foi de propósito... é que fikei com preguicinha de editar Tuuuuddooo né...
(minha net tá uma *****)
Jean. Não é Claude(ele existe também, tá)
eita. Fiz assimilação do obvio: Jean. Claude. Vandame!!!kkkkkk
não foi de propósito,juro! hauhauhsu
Calma q vcs já vão sacar a do Claude nessa estória...
bejim
OI HOLLY ESTA FICA TÁ PROMETENDO!
ResponderExcluirSEI QUE VAI SER UM SUCESSO COMO
VERSON 2.
JÁ ESTOU ACOMPANHANDO...
que baum que gostastes Ro!
ResponderExcluirfico muito feliz que esteja adcompanhando!
beijus