sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Capitulo 2- "Uma Atração Impérdivel"



Le Eternel Amour
Tulipe Rouge

- Bel !!! Bel !!! Você precisa ver isso !!!- A voz de Sérgio rompe o quase silêncio(já que mesmo que do lado de fora, era possível ouvir o barulho da casa cheia, música, risadas). Ele põe a cabeça na porta
- Vem logo!- acena pra que eu entre. Eu dou os ombros e Janete sorri, se levantando-

- Vamos lá ver Bel! Talvez seja divertido!- eu me levanto dos degraus também-

- É. Com certeza vai ser divertido. Pra você!- Ela pressiona os lábios, talvez numa tentativa de amenizar o riso.

Eu amarro o avental no pescoço outra vez(estava preso apenas pela cintura) e subo a bandana pelo cabelo, afim de esconder a franja.
- Vamos! – a voz de Janete se mistura ao barulho do salão, que estava lotado. Som de risos talheres se arranhando, copos se chocando em “tim-tins”.
Mais a frente, perto da entrada do restaurante, meu pai com a acordeom e uma roda de pessoas ao redor-

- Oh não!- eu resmungo, tapando os olhos enquanto Sérgio me empurra pela cintura

- Ora Bel, vai dizer que ele não está particularmente afinado hoje?

- Ai Sérgio não acredito que me trouxe aqui só pra ver isso!

- Não, maninha, não é só pelo show do pai. Olha ali!- ele segura minhas bochechas me forçando a olhar pro lado
- Naquela mesa ali, está sentado uma atração realmente imperdível!- ele solta meu rosto (provavelmente deixou marcas vermelhas) mas eu nem consigo reclamar, pois o que vejo na mesa é realmente instigante demais e toma toda minha atenção.

- Oque é?! Oque é?! Eu também quero ver!- Janete faz uma pequena pressão em meus ombros, tentando ver o que me deixou naquele estado de choque (estávamos entre duas mesas cheias e o espaço não era suficiente pra que as duas andássemos lado a lado).
Ela empurra uma cadeira que acabara de ser abandonada por uma criança e se põe ao meu lado, igualmente estática.

- Mon Dieu!- ela exclama quase me derrubando, pois ao tentar dar mais um passo, seu salto engancha na toalha da mesa bagunçada.
Eu nem me importo, continuo ali, com cara de paisagem.

- E ai, valeu ou não valeu?- Havia me esquecido até da presença de Sérgio, que continuava na minha frente, rindo
- Eu bem que avisei que era imperdível!

- Aquele é... Quem eu acho que é?- Janete diz desenhando pequenos círculos no ar com o indicador

- Aí não sei né... Que eu saiba aqueles ali são militares... Se alguém ai sabe como se infiltrar no meio deles da noite pro dia me avisem...-
 Sérgio dá leves batidinhas no meu ombro, e dá meia volta, indo pro balcão.

- Infiltrar? É assim que se entra no exército? Se “infiltrando”?- Janete me olha questionando.

- A...- Eu puxo o ar, tentando encontrar uma resposta rápida- Janete. Que. Que pergunta mais sem... – eu volto a olhar a mesa

 -Nexo...- pondero. O homem sorri para o senhor a sua frente, igualmente fardado em seu casaco verde escuro. O sorriso não é verdadeiro ao que parece, muito forçado. Sei lá, frio talvez.
Reparo no cabelo dele. Muito curto. E com uns caminhos (feitos à maquina, acredito) que marcam os lados um pouco acima das orelhas.
Ele olha pra cima, (um garçom acaba de chegar com um livrinho fino e preto, que reconheço como o nosso cardápio).
 Percebo o movimento extremamente leve da mão do senhor (que tinha cabelos grisalhos e uma aparência bastante intimidadora) ao pegar o cardápio.
Para minha decepção, era o troco juntamente com as notas do jantar que visivelmente fora consumido por eles.
Corro os olhos pelos pratos já vazios e miro a garrafa de vinho tinto, (a apenas três dedos de se tornar apenas um frasco vazio) sinto olhos me fuzilarem, levanto um pouco a cabeça e vejo outro homem (igualmente fardado) bem na minha reta, largado na cadeira, ombros relaxados, me observando por baixo (e de cima a baixo também) como que questionando o “porque” de uma garota (tudo bem, uma garçonete) estava parada a mais de dois minutos os observando sem nem piscar.
Me pergunto se ele desconfia que eu seja sei lá, uma terrorista. Rio sem querer, mas acordo não só por que o garçom (o mesmo que os atendeu) me pede passagem, mas também por que eles se levantam, prontos pra ir embora.

Eu tento me encolher, negando-me a sair de onde estava (na verdade, eu queria ir até a mesa, ver se deixaram alguma pista(como um cartão, por exemplo) ou sei lá, sair atrás deles. Loucura, claro. Pura estupidez.

 Mas o garçom não tem tempo pra meus devaneios, ele precisa voltar ao trabalho, e me empurra um pouco, num sorriso fingido:
- Oh, Matmosele, pardon,  mais j’ai besoin de travailler !- ele se inclina sobre mim, (eu estava encostada numa mesa) para pegar uma bandeja vazia do que seriam camarões, eu acho.
Ele sai e eu volto a olhar para a mesa ao lado da entrada (e saída também) os adesivos do vidro me atrapalha a visão da rua, mas consigo ver os três homens andarem (tamanha a dureza de seus passos, julgo “marcharem”) até um carro preto.
 Corro até a porta e fico ali parada, observando o carro desaparecer no meio dos outros.
....

Voltemos a falar da época da escola, então.

Em “Le Perroult Plume”, não havia muita diversão, (não que nos satisfizesse) por isso, nós sempre dávamos um jeitinho de “escapar”, principalmente nos fins de semana.
Na primavera as vezes fazia calor, e era a melhor época pra se ir até a vila e pra nadar no rio.
Tomávamos bicicletas e as vezes até os cavalos e corríamos felizes pelas estradas quase desertas( Verrières é uma cidade muito pequena, mas muito linda, construída ao redor de um imenso castelo).
 As pétalas secando ao sol no chão, caídas das magníficas arvores floridas, voando à nossa passagem...
Num desses maravilhosos domingos, conseguimos permissão pra ir até a vila, acompanhados de um dos nossos monitores, além de uma professora( a mais doidinha que já tive, ela era Holandesa, dava aulas de artes).

À metade do caminho, já havíamos tirado as jaquetas e afrouxado as gravatas.
Eu amarrei minha gravata nos cabelos, como se fosse uma faixa ( só que na testa), a jaqueta presa à cintura, as  mangas cumpridas quase tocando o chão e as rodas da bicicleta (estava na garupa de Sérgio). Admirava a paisagem, enquanto segurava o casaco de Sérgio e a base do celim.
Assim que chegamos à ponte, abandonamos as bicicletas e a maioria de nossas roupas no gramado que tinha e nos esparramamos debaixo das deliciosas sombras que as arvores nos proporcionava. Não entrávamos no rio não só por que a água era extremamente congelante, mas também por que o monitor nunca mais nos traria se o fizéssemos.

Mesmo com o calor, não tive coragem de tirar o pulôver (bem, a camisa branca era bastante transparente). Apenas desabotoei as mangas da camisa e as puxei pros cotovelos. Tirei os sapatos e as grossas meias três quartos, sentindo o alívio e o prazer do contato com a grama.

Fizemos um piquenique em meio a brincadeiras e conversas descontraídas. Estávamos em uma turma de mais ou menos treze alunos e os dois adultos (a professora e o monitor).

Frasão como sempre, iniciou uma guerra de água, se emergindo até os joelhos no rio (arreara as calças, os suspensórios soltos e ameaçando tocarem na água) Lembro de ouvir os gritos do monitor, o riso do grupo, e lembro do susto que eu levei com a aparição repentina do Tony.

- Uh-lá-lá! Veja o que eu encontrei!- me mostra uma margarida (ele estava inclinado atrás de mim, eu apoiada nas palmas e sentada no chão, sobre meu casaco)
- Ai que susto, Jean!- eu rio nervosa, pegando a flor. Ele estende o casaco no chão e senta a meu lado- Que foi?- pergunto ao perceber que ele estava muito sério, parecia triste.

- Non, non é nada. – ele responde depois de uns segundos olhando o nada mais a frente. Eu procuro um possível argumento na paisagem-

- Não. Se você disse que não é nada é por que é uma coisa. Não o “nada”.

- O que quer dizer?- ele me olha, cenho franzido-
- Como oque quer dizer? Se tem alguém aqui por dizer algo, esse alguém é você.
- Ow, Rosa!... – ele se chacoalha, revirando os olhos- Non começa de novo, hã?

- Tá. Mas toda vez que eu te pergunto alguma coisa sobre você, você muda de assunto!- eu puxo os meus pés e os junto, amontoando o tecido da saia entre as pernas- Me diz, o que tem demais em contar sobre você? Ou de onde você veio?!

- Rosa, entenda... É complicado...

- Tony. Complicado?!- umedeço os lábios-  Complicado? É algo... Mais vergonhoso do que ser garçonete no verão? Mais vergonhoso do que ter morado num beco em Paris? Tony, quantos aqui vieram de um cortiço como eu?

- Rosa... - Sabia o quanto isso o constrangia, já que ele sabia de toda minha história, mas ele nunca me contava a dele!-

- Mais... Constrangedor do que se chamar Serafina Rosa?

- Eu adoro o seu nome.- ele rebate.

- Ser não tão nova rica assim e estrangeira no meio de um colégio tradicional?

- Non faz diferença.- retruca.

Eu desloco meu queixo até o peito, o fulmino-

- Não faz diferença? Não faz diferença pra quem?
 Quero dizer, não é como se eu tivesse sido acolhida entre os descolados ou menos perseguida pelos professores que duvidam que qualquer ocidental possa ter Q.I equivalente a um “nobríssimo francês nato”.

 Ou qualquer europeu. – abano a cabeça, voltando a olhar os outros alunos correrem pela margem do rio.

- Mas espere! – ele exclama de repente, eu arregalo os olhos, imaginando o que poderia vir a seguir
- "Qualquer europeu"? Fala como se fosse indígena! Até onde me lembro, nasceu no Brasil, mais seu sangue é puramente italiano, mocinha!-
 ele puxa meu pulso e o chacoalha rindo-
Non tem como negar que é tão européia quanto moi! – eu recolho meu braço, balançando a cabeça

- Ah,  cala a boca! Nem é a mesma coisa, você sabe!

O Tony  era estranho, ok. Mas admito que esse mistério todo sempre foi o que mais me chamou a atenção nele. Eu procurava de todas as formas, respostas sobre a origem dele.
Pouco a pouco, me vi obrigada a desistir, e esperar que ele mesmo me contasse, visto que não obtive sucesso em minhas “pesquisas”(bisbilhotando  as coisas dele), que no fim, só pioravam as coisas, já que ele ficava muito bravo e não falava comigo direito por um bom tempo.

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6 comentários:

  1. Eita, fique cafusa agora. kkkkkkkkkkkkkkkk

    Quero so saber onde Claude vai entrar nessa historia.

    Quero saber o que tinha entre aqueles militares que deixou todo mundo de boca aberta.

    Maisssss

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  2. o karol eles são jovens ou é uma historia q começa no passado e vem vindo até dias atuais? e eu qero claude tá

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  3. é uma narrativa feita pela Rosa de hoje, contando o passado dela.
    e o Claude vai ser "esclarecido" jájá...
    e inclusive, vou encrementar (mais pra frente) com ele narrando a visão dele também.
    essa estória tá super dificil de escrever, é que na verdade, é bem dramática, por isso estou tentando suavisar através do ponto de vista da Rosa...
    bem,espero que pelo menos dê pra entender...
    bejus

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  4. Continuo aqui,sei que quando
    ñ entender nadinha de nada vc
    vai esclarecer kkkkkkkk

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Hoolly só vc explicando mesmo por que lerdinh do jeito que eu sou amiga só vc desenhando pra eu entender...kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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