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Le Eternel Amour
Tulipe Rouge
- Ainda não acredito. – Janete fala sem nem retirar o canudo da boca- E você nem falou com ele...
- Jane, falar o que? – a encaro.“Oi, como vai? – volto a limpar a madeira do balcão- Sei que parece meio estranho perguntar assim mais, você por acaso não lembra de mim? Se não lembra, é por que a minha suspeita de que você é sósia de uma pessoa que jamais esqueceria de me contar que entrou pro serviço militar é verdadeira!” Janete! Pelo amor de Deus! Eu não tinha o que falar! -
-Ah, mais podia ser ele, agente nem conversou com ele ainda... Vai que... Ele cortou o cabelo?
Suspiro e olho pro salão vazio, as cadeiras viradas sobre as mesas, as portas trancadas. Janete arqueia as sombracelhas, sentada num banco alto, enquanto me encara e bebe o Milk –Shake que obrigara Sérgio buscar na sorveteria do outro lado da rua.
- Ah, e claro, entrou pro exército. – ela pondera, como se fizesse todo sentido.
- Aeronáutica. – Sérgio diz, passando pelo balcão (por aquele pedaço do balcão que se “dobra”) ele fecha a “tampa” do balcão e fica parado, nos olhando divertido.
- Aeronáutica?- Janete o olha, franzindo a testa e levantando uma sombracelha- Como pode ter tanta certeza assim?
- Rá-rá!- ele tira um folheto do bolso, que eu tomo de suas mãos prontamente.
- Apresentação da escola militar da aeronáutica nesta terça às 15:00 horas...- Eu leio com ânsia cada linha- ...ensaio... Formatura de cadetes... a... Mas , oque tem a ver?- eu volto a encarar Sérgio, que apenas dá os ombros, comendo salgadinho-
- Ah, tem que foi isto o que o Hélio conseguiu com eles.
- Como assim? Quem é Hélio?- Janete pergunta, franzindo a testa-
- É o garçom que atendeu eles,- respondo rapidamente- mas Sérgio, o que esse folheto prova?
- Que eles vieram pra cidade pra um desfile militar, ué!-
Eu arranco a bandana da cabeça, e a jogo no balcão, ainda fulminando o meu irmão espertinho-
- Dá pra você desembuchar de vez?- ponho a mão na cintura, ele revira os olhos
- Ah, mais o que mais você quer saber? Não leu tudo ai, hã? Ou desaprendeu?
- Sérgio, o que mais o Hélio disse sobre eles?- pergunto me apoiando no balcão.
- Nada Bel, ele só me contou do desfile.
- Gente, tive uma idéia!- Janete sorri, afastando o pote vazio de Mil-Shake.
Eu arqueio as sombracelhas, esperando a “brilhante idéia” que com certeza estava por vir.
- E se agente for assistir o desfile?- Eu suspiro, revirando os olhos- Ah, mais e se agente encontra ele de novo? Agente ia poder falar com ele!- eu pego o pote e jogo no lixo
- Jane não viaja!- eu a encaro, e desamarro o avental- Não vamos nunca achar ele no meio do mundo de gente que com certeza vai lotar a praça e não vamos nunca conseguir trocar uma palavra sequer com ele!- lanço o avental no balcão, ele cai diretamente na frente de Janete-
- Vai, Rosaaaa!- ela faz cara de súplica, apertando meu avental nas mãos- Por favor vai ser tão...- ela inclina a cabeça, procurando um adjetivo motivador
- Humilhante!- eu completo, passando por baixo do tampo do balcão
-Ow...- ela lamenta. Eu me ponho em pé novemente
- Cons-tran-ge-dor – acrescento, ela franze o cenho
- Bel!!!- chora- Por favor! Os militares são tão.... Bonitos...- Eu suspiro, miro o teto-
- Ah, então esse é o real motivo de você estar tão interessada nesse desfile!...- rio nervosa- Janete!
- Bel, pensa, se agente não achar ele, pelo menos, vai ter um montão de cadetes fortões, fardados, musculosos, ui!- ela suspira, revirando os olhos e rindo- Ah, Bel vamos, perfavore!
- Ain! – Eu reclamo- Que coisa! Já disse! Sem chance!
Sempre fui assim. Raramente me deixava convencer por ninguém. A não ser que eu decidisse (depois de um longo papo comigo mesma) sozinha.
....
- É, vamos sim!- Eu levanto de repente, no meio da noite. Assustando Janete, que estava deitada na minha cama (eu estava num colchão no chão)
- Onde?- Ela pisca à tímida luz do abajur que eu acabo de acender. Parece uma criança, imóvel, coberta até o pescoço, de barriga pra cima e uma cara de assustada.
- Amanhã. No desfile. Vamos sim, eu decidi que pode mesmo ser interessante!- sorrio e Janete se senta-
- Hum... Sabia que iria reconsiderar!- ela ri, me jogando uma almofada.
É. Não sei se foi de tudo, boa idéia. Mas não fosse esse dia, talvez, tudo teria sido muito mais estranho. Ao menos pra mim.
- Não devíamos entrar aqui, Rosa olha aquela faixa que agente saltou era exatamente a divisa de área restrita!- Janete continuava a tagarelar, enquanto dava curtos mais acelerados passos pra me alcançar (a saia do vestido dela não era nada prática). Saltamos mais umas faixas listradas e chegamos ao lugar que eu julgava ser o ideal pra procurar o “meu alvo”.
Era uma área onde os ônibus estavam estacionados em fileiras, e onde os alunos da escola da aeronáutica estavam amontoados entre eles, em grupos. Todos de azul. Eram realmente muito bonitos. Bebiam suas garrafas (acredito que de água) e riam alto.
Em meio aos murmúrios nós nos escondemos atrás de um dos ônibus. Tentei ver o que continha um deles, mas logo desci correndo, pois Janete jurou ter ouvido passos.
Como não havia mais como sair (eles se espalharam por toda parte) resolvemos esperar que o desfile começasse, e eles “liberassem” nossa passagem.
Encostamos-nos na lata do ônibus e ficamos observando todas aquelas fardas “dançarem” de um lado pro outro. Até que elas começaram a se alinhar.
- O que está acontecendo?- Janete pergunta se levantando (esperamos tanto que acabamos nos agachando junto à roda)
- Acho que vai começar o grande espetáculo deles... - Respondo enquanto procuro reconhecer algum deles em vão (estavam longe e minha vista de detrás do ônibus não era nada privilegiada)
- Poxa Bel olha ali! – Janete da uns passos a frente, o sol lhe fazendo estreitar os olhos- Olha! É o meu primo!
- Quem o Gurgel?- Eu a sigo, mas percebo que o local nos “expõe” à vista dos “militares”
- Não! Meu outro primo, o Freitas!- ela ri, visto que Gurgel era... Sensível demais para a carreira militar
- Freitas? Mas ele é seu primo de que grau? – Encosto no ônibus de novo, apenas a cabeça voltada pros cadetes que agora batiam continência a um senhor bastante alto, que andava de um lado a outro na frente do “pelotão”, as mãos cruzadas nas costas.
- Quinto grau. – Janete responde ainda sem tirar os olhos do “primo”.
- Quinto grau? Como fez essa conta?- Eu a puxo, mas ela continua imóvel, parece hipnotizada.
- Ele é filho do primo da minha tia. Filho do meio irmão do primo dela. Mas isso não faz diferença.- ela abana a cabeça
- Jane, vem pra cá!- eu sussurro, quando avisto um dos “fardados” se encaminharem direto pra nossa direção. – Jane!... Jane!- eu aceno, mais ela já estava longe (ao menos da distancia “segura” do ônibus)
Eu estava muito nervosa. Agente tinha invadido área privativa. E olha de quem! Do exército! (tá, aeronáutica) A Janete não foi pega. Mais eu fui.
Me viro bruscamente ao sentir uma presença atrás de mim (dera a volta no ônibus) colido com um tecido grosso e cheio de broches metálicos. Levanto a cabeça e deslumbro feições bastante familiares. As daquele senhor, que foi no restaurante. Ele segura meus pulsos e me encara de cenho franzido:
- Fille, ce domaine est limitée, pas vous ? (Moça, esta zona é restrita, não sabia?)
- Hã... – Eu fico sem respostas, olhos esbugalhados, até que sinto que alguém está à dois passos de minhas costas. Me encolho (involuntariamente) e ouço uma voz dizer:
- Seigneur, pardonne-moi, ce sont mes... (senhor, perdoe-me, estas são...)
Pela cara que o senhor fez, acredito que “irmãs” não foi o complemento da frase na cabeça dele. Mas não importava, ele me soltou. E quando me viro para agradecer (pensava que era Freitas) eu me deparo com Janete sorrindo e dando saltinhos eufóricos, enquanto que o rapaz a seu lado mantinha um perturbador semblante “vazio”, sem qualquer expressão.
- Tony?!- exclamo, me preparando pra abraçá-lo.
- Non! Você também acha que sou o Tony, é? – ele responde apático, e eu me encolho novamente.
- Ué... Mas...- eu murmuro, porém constato que aquele não era mesmo meu amigo Tony. Não apenas por parecer “maior” e ter o cabelo curto, mas também por que o tom de voz dele era um tanto grave, baixo e seco.
E seus olhos, pareciam tão desinteressados em responder-me que eu apenas suspiro
- Poxa, é a cara dele!- digo entre os dentes, mirando o peito dele, onde notei um broche de pequenas “asas” prateadas.
- Poxa, é a cara dele!- digo entre os dentes, mirando o peito dele, onde notei um broche de pequenas “asas” prateadas.
- Tudo bem, venham! Non tenho muito tempo!- ele revira os olhos, me puxando pelo braço. Olho questionando Janete, que apenas dá os ombros e nos segue, rindo.
Passamos pelos “guardas” e pelas faixas. Ele estava nos levando para a praça outra vez. Pude avistar ao longe, Julho e Sérgio, sentados na escadaria. Passamos por eles, e Sérgio ergue o queixo, questionando. Janete sorri pra ele e eu consigo perceber a cara de desconfiado de Julio.
Saímos da muvuca, e finalmente ele para. Solto meu pulso, que latejava um pouco.
- Então?! Vai me dizer quem é você afinal?!- pergunto irritada.
- Como?! Quem é você! Eu non conheço vocês! Eu só ajudei a escaparem do meu comandante!...
- ele responde igualmente alterado,
- Mas... E por que? Digo, se não nos conhece porque nos ajudou?- Eu o olho instigada. Janete, que assistia a cada expressão, se vira pra ele, e nós duas arqueamos as sombracelhas, encarando-o.
- Por que vocês conhecem o Tony...- ele balança a cabeça, como se o que afirmava era um fato mais do que óbvio.
- Você também conhece o Tony?- Janete se põe no peito do pé, se inclinando um pouco pra frente. Eu a olho e rapidamente me volto pro sósia do Tony, que dispara abrindo os braços e revirando os olhos:
- O Tony é meu irmon! Irmon Gêmeo, se non notaram! E ele me deve muito por eu ter ajudado vocês! Agora, queiram me perdoar mais eu preciso voltar!
- Tá legal, esquentadinho, não precisa se irritar tanto assim!- Janete o olha por baixo. Ele abana a cabeça e gira nos calcanhares
- Espera!- eu o faço parar.- Obrigada.
O meu nome é Serafina Rosa! – estendo a mão pra ele, que se vira e fica me olhando até que eu aceno com a cabeça pra que termine o cumprimento. Ele então pega minha mão-
O meu nome é Serafina Rosa! – estendo a mão pra ele, que se vira e fica me olhando até que eu aceno com a cabeça pra que termine o cumprimento. Ele então pega minha mão-
- Claude Antoine, muito prazer!- ele diz entre os dentes, seus olhos profundos me examinando em rápidos movimentos. Eu sorrio e ele pressiona os lábios, solta minha mão e pega a de Janete,
- Janete Boulevart, prazer! Ah, e pode chamar minha amiga aqui de Belina, é assim que ela é mundialmente conhecida!- ela ri, mas ele ainda permanece com seu leve arqueado no canto da boca, nos olha pela ultima vez e volta a desaparecer na multidão.
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Nossa
ResponderExcluirto passada
Não me conformo com uma coisa dessa!
ResponderExcluirTanta gente necessitada e a Rosa com dois do Claude
que isso meu?!
haha
zueira
Nossaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, choquei *-*
ResponderExcluiradorei...kkkkkkkkkkk um irmão gemeo...uiiiii
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