Le Eternel Amour
Tulipe Rouge
E voltamos. Voltamos à Verrières, ao Perrault.
Para o nosso tão desejado último semestre. E nessas condições, tanto a sensação de despedida como a de perda estavam no ar. Toda aquela ânsia pelos anuários, pelas cartas com os sonhados: “admitido” vindas das universidades almejadas...
Mas obviamente, a minha maior ânsia era a de receber uma comprida e detalhada explicação do Tony... Ou ainda melhor, uma biografia completa. Mas eu sabia que era quase impossível...
O Tony tinha um humor incrível! Não apenas pelo sorriso fácil mais também pela fases dramáticas. Era incrivelmente dramático quando queria. Apesar de que nessa época, nunca o tinha visto chorar...
Todos reunidos, refeitório lotado, inspetor parado logo atrás da nossa mesa de braços cruzados(talvez se sentisse a autoridade policial do pedaço, quem se importa?)
A não ser os cochichos de Alabá e Frasão, silêncio entre nós.
Fazia uma semana que as aulas haviam voltado e todos já estávamos no velho clima de estudos intensivos... E fazia uma semana que o Tony mal falava. O detalhe é que a meu pedido, ninguém havia tocado no nome do Claude. Pro Jean, agente nem sonhava com a existência do irmão dele. Quero dizer, até onde nós podíamos saber.
- Ah! Chega! Eu não agüento mais!- Janete estoura, depois de minutos em agonia pelo silêncio perturbador. Ela bate as palmas na mesa- Tony, como vai o seu irmão? Na aeronáutica eles podem conversar? Por que aqui tá mais parecendo regime militar dos bravos!
- Shiiiiii! Janete!- a Alabá tenta conter a exaltação de Janete- Ficou maluca é?- ela olha pros lados, com medo de que alguém tenha notado
- Ah Al! Eu não suporto esse silêncio todo! Pra que esse gelo todo se agente sabe e ele sabe que agente sabe?
- Sabe oque? - Frasão franze o cenho e olha pra Tony, que abaixa os olhos e suspira
- Eu não entendo você Serafina! E muito menos você, senhor Jean Antoine!- Janete continua, mesmo com Alabá insistindo em apertar sua mão- Afinal, Tony, qual é a sua? Me diz, pra quê, pra quê todo esse segredo? O que tem demais você ter família complicada como todo mundo aqui tem?!
- Janete.- eu sussurro, mesmo que no fundo concordasse com tudo.
- Me desculpem, eu não estou mais com apetite, com licença!- essa foi a única frase que Tony disse, antes de sair, como se nada tivesse acontecido.
Não posso dizer: a primeira vez que o vi. Mas posso com certeza descrever “a primeira topada” que me fez olhar pro Jean. Estava irritadíssima pelo fato de que minha professora de história havia me concedido a tarefa de carregar uma enorme pilha de livros até o devido lugar deles, ou seja, a biblioteca, no segundo andar. Andava vacilante, mal enxergando à frente, quando alguém se choca comigo, fazendo os livros desmoronarem.
- Hey! N’a pas de’yeux?! (não tem olhos ?)- grito, sem nem olhar a criatura que continuava imóvel, como que em ‘estado de choque’. – é inacreditável! Parece que o mundo está conspirando contra mim!-múrmuro,me pondo de joelhos e empilhando os livros.
- Pardon, m’a distrait...- a voz responde, as mãos me estendendo um dos livros.
- Bien. – respondo, me levantando já com a pilha nos braços. Finalmente olho em seus olhos.
Bonito, alto, postura elegante.
Mais um exemplar dos mauricinhinhos “leperraultinianos”, pensei. Ele sorri, estendendo a mão para que eu apertasse-
-Jean Antoine.
- Hã... Serafina Rosa! Plaisir!- respondo num sorriso largo e forçado, indo em direção às escadas.
Não tenho certeza, mas acho que ele ficou lá por uns instantes, parado, olhando a garota mais estranha do Le Perrault Plume subir, usando uma bandana vermelha no lugar da gravata.
Um causo interessante foi um dia em que estávamos andando pelo grande “quintal” do colégio, o sol brilhava com força, e nós sentíamos aquela sensação meio boba de felicidade pelo dia bonito. Tirei a gravata do bolso da jaqueta, e comecei a brincar com ela, girando-a no ar. Tony sorriu e arrancou a dele também, e me solicitou a minha. Eu estranhei, mas pelo sorriso dele, sabia que era uma idéia que ele estava a por em prática. Ele então amarrou as duas gravatas pelas pontas, e me estendeu de volta. Eu estreitei os olhos sem entender. Ele sorriu mais uma vez e girou os antebraços pra trás, me fazendo cair a ficha. Eu sorri e comecei a pular corda pelo pátio, enquanto ele me olhava rindo e segurava meu casaco. Louco, sim, ele sempre foi imprevisível.
Depois daquela cena do refeitório, eu fiquei ainda mais certa de que o Tony estava escondendo algo “cabuloso”. Poderia tentar falar com o Claude, perguntar a ele. Mas era impossível. Não só por ele estar do outro lado do país e numa escola militar, mas também porque ele me pareceu muito menos disposto a me contar a vida dele do que o Tony.
O Tony corria. Corria até ficar esgotado. Nunca perguntei se era mero prazer de atleta ou se correr pra ele era uma terapia. Não por falta de coragem, mas por falta de oportunidade. Nunca conseguia alcançá-lo. E quando ele dedica todas as suas energias nas pernas então, nem um maratonista o alcançaria.
Tony corria como louco, pelas redondezas do colégio, quando seus perseguidores oficiais o surpreenderam e resolveram dar-lhe uma lição. Lição do que? Pelo que? Por ser rico bonito e genialmente inteligente?
O dono do sorriso mais bonito do colégio teve o nariz quebrado pelos socos e chutes dados pelos covardes que além de tudo, ainda foram absolvidos de qualquer punição maior do que uma leve advertência.
Agora que eu não podia gritar com ele mesmo. Meu questionário foi guardado para depois.
Ele estava sentado na enfermaria, um enorme curativo em seu nariz, cenho franzido
- Você ficou maluco, Jean?!- pergunto, assim que passei pela enfermeira. Agacho-me na sua frente- Você sabe que eles estavam procurando uma oportunidade de te pegar sozinho, e você sai pra correr à noite?!- seguro sua mão, ele me olha sério
- Non tinha como eu saber que eles estavam na espreita, detrás da fonte, só me esperando!- ele dá os ombros- eu non pude evitar, hoje eu precisava correr.
- Tony!- sento a seu lado- Não me dê um susto desses! Porque não apareceu na aula de artes? – a aula de artes era a única em que nossos horários se cruzavam, já que éramos de turmas diferentes.
- Non estava bem. – responde, olhando pra porta de um jeito distraído.
- Jean, como assim, não estava bem? Você está doente?
- Rosa... Chega de perguntas, hã!- ele franze a testa, me olhando de lado. Eu suspiro-
- Não. Chega de fingir que nada está acontecendo. Tony, quando pretendia me contar sobre ter uma cópia sua andando por Paris dentro de uma farda da aeronáutica, ein?
- Oque?
- Por que não contou sobre a existência do Claude?! Por que nunca me fala da sua vida? Do seu passado? Ou mesmo do seu presente?!- eu levanto e o encaro.
- Non precisa do meu passado pra me conhecer Rosa. E você me conhece, sabe quem sou eu, não sabe?
- As vezes acho que não. – respondo, o fulminando. Ele abaixa a cabeça e suspira
- Só não queria me expor...
- Expor?- franzo o cenho- Expor ao que? Expor o-quê?!- bato os braços dos lados, disposta a ir até o fim- Meu irmão e eu non somos brigados, se é o que pensa. Nós nos damos bem. – ele finalmente fala, sem me encarar- Ele brigou foi com meu pai, pra ir pra aeronáutica, pelo sonho dele, de ser piloto militar...
- e você...
- eu vim pro Perrault, conforme a vontade do meu pai...
- Mas e você, Tony, qual é o seu sonho?
- Sinceramente?- ele dá os ombros- eu não sei. Eu só... quero ser feliz como todo mundo quer sabe? Sem mais preocupações.
- Como, preocupações?- volto a sentar ao lado dele
- Preocupações, estresse, me descabelar por dinheiro como meu pai fez, não é meu sonho de juventude, garanto.
-‘ Sonho de juventude’. Fala como se tivesse oitenta anos!- eu rio, e ele me retribui o sorriso
- Você é uma graça, sabia?!
Simplismente adoro sua redação,
ResponderExcluirvc é ótima.
Parabéns!
uhuuuuuuuuuuuu
ResponderExcluirobrigada ro! valeu!
ResponderExcluire gih, uhuuuuuu!!! pra voce tambem! kkkkk
bjo
Linda vc escreve com maestria. Faz com que sempre a gente refleta. Sempre traz o elemento surpresa. Continue eu adoro o modo de vc escrever.
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