Le Eternel Amour
Tulipe Rouge
Me sentei num banco, e fechei os olhos por um momento. Queria tentar meditar um pouco, mas Tony não demorou a aparecer. Nos abraçamos e começamos a andar pelo gramado, o fraco sol brilhava, mas não aquecia o quanto era de se esperar.
- Rosa, você de branco?- ele ri, lembrando de que minhas roupas sempre foram de cores fortes.
-É... Branco. E sabe, eu vim de branco hoje porque me lembrei daquele dia, mais precisamente aquela tarde que você não foi se despedir de mim, nas férias de verão.
- A rosa branca?
- Oui, e hoje, eu sou a Rosa de branco!- rio
- Non me perguntou o que significava non é?
- Não. Eu acabei deixando pra lá.
- Mas você sabe que naquela ocasion, eu reinventei o significado de se dar uma rosa branca?
- Hum, é mesmo?
- É. Rosa branca é paz, amizade, esperança, ou simplesmente, ignorância ao amor, coração que non ama, essas coisas. Mas eu reinventei. O que eu quis dizer era que simplesmente você era “Rosa”. Non importando a cor, ou o significado. Você poderia escolher a cor que quisesse praquela flor, ou simplesmente, pintar cada pétala de uma cor.- ele sorri
- É, acho que isso sim seria uma boa idéia! Afinal, para quê escolher quando se pode ter todas as cores numa flor só?!- eu rio.
- Sim, e todos os significados também.- ele fica sério.
- Significados... Tudo tem né? Significado... - eu viajo pelas crianças que brincam no parque- Acho que tudo deveria ser revelado de uma vez. Nada de “significado oculto”!
- É. Eu concordo com você.
- Ah concorda? –ele acena com a cabeça.- Não é o que parece. Você sempre esconde as coisas de mim. Eu sempre te contei tudo, mas você não me dizia nada sobre você.
- Eu preferia te ouvir.
- Mas eu também gostaria de ouvir você!
- Me perdoe Rosa, mas acontece que eu non poderia agüentar nem mesmo dizer o que se passa na minha vida.
- E o que é? Eu poderia ter te ajudado!
- Non, você non poderia fazer nada. Apenas... Me veria com outros olhos e nossa amizade estaria acabada.
- Mas como, com “outros olhos”?
- Simplesmente, diria: “pobre do Jean, ton problemático, tadinho!” Eu non suportaria ser visto como sei lá, vitima, coitadinho, ser visto com pena, non! Isso nunca!
- Mas do quê você está falando afinal?!- ergo os ombros, questionando irritada.
- Esqueça Rosa! – ele fecha os olhos, com raiva.
Notei a irritação dele, então decidi me calar. Mas depois de um pouco de silêncio, decidi perguntar:
- Por onde você andou nesses dois anos?
- Com meu pai.
-e seus sonhos? Suas vontades? Onde foram?
- Eu nunca nem tive sonhos, Belina. Apenas vontades passageiras.
- Por que? Por que você não se permitiu sonhar?
- Porque non. Eu vou ajudar meu pai e está de bom tamanho.
- Como de bom tamanho? Você é inteligente, Jean, carismático! Não consigo engolir que não tenha sonhos!
- Queria ter, Rosa. Eu queria mesmo. Mas simplesmente non consigo.
- O anjo da cafeteria.
- Hã?- Nós dois sentamos embaixo de uma árvore.
- Da Suzanne Selfors. Um livro que conta a história duma menina que queria ter um algo a mais em sua vida. Um hobie, um... Uma coisa em que ela realmente fosse boa. Então, um belo dia, ela vê o que parecia ser um mendigo dormindo no chão, na entrada dos fundos da cafeteria de sua avó. Ela sente pena dele e sem que ele veja, lhe dá café, bolos e chocolate. Ela não sabia que ele era um anjo e que por ela ter o ajudado sem interesse, ele iria dar a ela aquilo que ela mais quisesse no mundo. Mas era realmente complicado pro anjo concluir essa “missão”, já que ela não sabia o que ela mais queria.
- Uau...- ele balança a cabeça- Você defnitivamente se tornou uma intelectual.
- Estou na ala critica do jornal.- dou os ombros- Acho que está me enganando. Você não se parece com a garota do livro.
- Com certeza non!- ele ri, meneando a cabeça
- Ela procurava hobies, e não alcançava êxtase em nada. Mas você é o contrario. Me diz... uma única coisa que você tenha tentado fazer e não tenha conseguido?- eu questiono, me lembrando de que o Tony parecia ser capaz de fazer qualquer coisa. Seja esportes, seja falar novas línguas, tocar os mais variados instrumentos.
Ele cantava. Ele dançava maravilhosamente bem. Ele tocava mais de cinco instrumentos até onde sei, e além de tudo, praticava qualquer esporte que se propusesse a ele.
Ele cantava. Ele dançava maravilhosamente bem. Ele tocava mais de cinco instrumentos até onde sei, e além de tudo, praticava qualquer esporte que se propusesse a ele.
Mas ele suspira, abaixando a cabeça.
- Se você soubesse...- ele tira uma garrafa do bolso do blazer, começa a beber.
- O que é isso?
- Água.
- Tony, desculpa mas... Desde a hora que chegamos você não para de tomar água. Nunca foi de beber tanta agua assim, até onde me lembro.- pergunto, desconfiada.
-Mas qual o problema? É só água!
- Me dá um pouco?- estendo a mão, e ele me entrega a garrafinha. E bebo. Água. Decepciono-me.
- Algum problema?
- Tem!- eu fecho a garrafa. – Uma pergunta!
- Faça.- ele dá os ombros, franzindo a testa.
- Tony, por acaso você está usando drogas?!- eu pergunto, como se a pergunta não fosse tão dramática.
- Como?!- Tony estreita os olhos, se inclinando a fim de me ouvir melhor.
- Você ouviu. Está usando drogas? Por que começo a pensar que está!
- Rosa, eu só estou bebendo água!- me aponta a garrafa- Você não viu? Água!
- Bebendo água como um usuário de êxtase! Você esta bebendo água sem parar a duas horas!
- Mas o que tem demais? Isso me taxa como viciado?!
- Jean! O que quer que eu pense? Você não pode estar contando tudo! Você está me escondendo detalhes eu sei!
- Por que?! Por que eu non posso simplesmente non querer me apegar a nada?! Hã?! Me responde!
- Não...- eu escondo o rosto nas mãos, me inclinando pra trás- Não se trata só disso! Eu quero saber de você! O que acha de tudo! O que, por que você não enfrenta seu pai, pelos seus ideais, seus...
- Já disse! Non tenho sonhos! E é só!
Eu suspiro, me jogo na grama.
- Sem sonhos de que vale a vida?- falo, em um tom tão baixo que penso que ele nem ouviu.
- De nada, Bel. – ele responde, se deitando ao meu lado- Non vale nada. Mas e quando...
Ele se cala e não completa a pergunta.
- Quando?... Vai, completa!-eu o encaro.
- Hum... Non, deixa pra lá.
- Espera! Tive uma idéia!- eu me sustento nos cotovelos, e pouso a cabeça no peito dele.
- ei, o que está fazendo?!- ele pergunta, tocando meu ombro.
- assim vão pensar que somos namorados!- digo, ainda imóvel.
- Mas o que você está fazendo?
- Tentando ouvir o seu coração! Talvez ele me diga alguma coisa!- eu o encaro- Me dê uma dica do que você mais deseja no mundo!
Ficamos alguns segundos, nos olhando, em silencio, até que ele diz:
- Por acaso você é o anjo da pizzaria?
- Pizzaria?! – eu bato com meu punho em seu peito
- Restouronte italiano.
- Restaurante.- O corrijo, rindo
- Restoronte.
- Ta! resTaurante!
- Ah! Não consigo!- ele fecha os olhos, virando o rosto.
- Ei! Você disse não!
- Hã?- ele me encara
- É! Não! Você disse não!
- Como?
- Sei lá! Mas você disse: nã-um. Não!
- Nossa nem percebi.- ele me encara, e ficamos novamente em silêncio.
- Vou tentar; hã... Res- tón... Non, droga! Espera! Res- ta- u- rón…
- Não! Taurãã
-hã… Deixa, eu desisto!
Eu coloco o ouvido em seu peito novamente
- Deixa eu ver... Tu-tu. Tu-tu. Tu-tu...- rio
- Tutu? Non é comida brasileira ?
- Hum...- ignoro-o- Tu-tu...
- Non gosto de tutu.
- Correr... tocar sax... chocolate... teatro... não... nada de Shakspeare.... hum...
- Ah, mas tudo isso você já sabe!
Eu o encaro
- É. Mas descobri outra coisa.
- E o que foi?
Suspiro, e volto a encará-lo
- Que seu coração bate rápido demais.- ele engole em seco.- Ou será apenas sua “reação” a minha proximidade a você...- brinco com a gola de sua camisa
- Rosa...
- Vai negar?- o olho séria.
- Eu non posso...
- Não pode oque?
- Ficar. Non posso ficar aqui com você, Rosa, tenho que voltar, preciso encontrar meu pai daqui a duas horas.
- Duas horas. Agora me responde.
- Responder o que?
- Se você ignora o fato de nós dois sermos ligados um ao outro... de forma especial.- olho profundamente em seus olhos, mas ele foge
- Rosa, eu non te mereço, non posso te fazer feliz, entende...- ele se senta.
- Por que não? Como é que você pode saber? Eu acho que já sei qual é o seu problema!
Ele suspira, olhando pro outro lado
- E qual seria?
- Você é um medroso! Sempre foge! Se esconde! Mas porque Tony, me diga porque?! Você é lindo! Por dentro, principalmente! Você, faz as pessoas rirem, você... ajuda a todos que pode, você... é o meu conde Fersen! Você! Você!
- Non... Eu não sou...
Eu abaixo a cabeça.
- Eu vou me casar, Jean. A menos que você me dê um bom motivo pra desistir, talvez eu vá estragar toda minha vida ao lado de uma pessoa que não é o meu anjo.
- E quem é?
- Você não conhece. Mas ele te conhece. Ele mora... Aqui...- toco com o indicador o peito dele- Pena que esteja sufocado, meu pobre anjo. Se ele sair, por favor, peça a ele que vá até Paris, precisamente ao Formaggio nel piato me buscar, e que me leve com ele por onde quer que ele vá.
Tony abaixa a cabeça, e eu cantarolo
- Fly me to the moon, and Let me play, among the stars...
- Non posso te levar a júpiter ou a marte comigo, Bel… Sinto muito. - ele me olha triste.
- Vai me proteger do vento e dos tigres?
- Você tem mais do que três espinhos pra se defender. - ele se levanta, beijando minha testa.
- E você não é louro e nem pequeno, meu príncipe. Mas os vulcões estão à explodir.
- Rezarei pra que caiam rolhas enormes dos céus.- ele pega o blazer, e suspira, me olhando.
- O Julio não vai saber defender-me da saudade.
- Eu também não saberei. – ele vai embora, e eu fico tentando achar uma explicação pra o que ele me disse.