quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Capítulo 64- Non regretter


Le Eternel Amour
Tulipe Rouge








Rosa respira profundamente, e a sinto mais pesada a cada momento.

-Me põe no chão, Claude!

-Non, non me chame de Claude. Non assim. Está irritada comigo? - a deposito no chão de vagar

-Ah, é claro que não, meu amor! - ela me beija – Só … me tira desse prédio.

-Nós já vamos sair. Só que temos de sair em segurança, hã?- toco em seu braço. Rosa estremece de impaciência.

-Mas será que esse farabuto não vai sair desse corredor nunca?

-Rosa, son 3 da madrugada. Daqui a pouco ele dorme. Só precisamos ser pacientes.

-Ai, amor, tem aranhas aqui! - diz ela apontando pra as teias que riscavam o pequeno cômodo. - Não sei como pode chamar isso de sala da limpeza!

-É irônico, non? - rio pensando na placa que havia na porta.

-Estou me sentindo uma claustrofóbica. Acho que vou desmaiar!

-Non, amour. Se concentra, hã?

-Em quê? Nas aranhas subindo as paredes?

-Que tal se concentrar em mim, hã? Estou com saudades...

domingo, 14 de setembro de 2014

Dejavu - Crônicas de U.R.CA Parte || - Final


Dejavu

Crônicas de U.R.CA
Parte ||















-Hoje ele me levou num shopping, e compramos tantas coisas pro bebê, Janetee! - Rosa sorri, olhando o sol pela janela do futuro quarto do filho

-Sério? Ah quero tanto ver!- A amiga se empolga, do outro lado do telefone

-Vem pra cá amanhã! Por favor... Eu sei que você vai estar de folga! Você pode me ajudar a escolher os móveis do quarto..  Dar ideias, essas coisas.

-Tudo bem, amiga! Eu vou adorar ver coisas de bebê...

-Oque foi? Sua voz tá meio estranha...

-É que eu estou no escritório. Não posso dar muita bandeira que a ligação é pessoal né, Rosa?!

-Ah meu Deus! - Rosa cai na gargalhada.

-Mas e aí, falou sobre.. -Janete abafa a voz- aquele assunto, com ele?

-Falei sim.

-E então? Ele disse se vai me demitir agora ou só na próxima quinzena?

-Jane! - Rosa ri- Você é muito exagerada, que coisa!

-Ele te contou tudo?

-Acho que sim. Está triste demais, como você sabe. Até chorou!

-Diz logo que você chorou junto, vai. Admite!-Janete faz a voz soar entediada, e em seguida, as duas riem

-Você tinha razão quanto a ele, Jane.

-Sobre?...

-Eu o amo mesmo.

-Ah qual a novidade?!- a amiga ri

-A novidade é que ele também me ama. Essa é a novidade. Só que eu não entendo! - Rosa andava pelo quarto- Como assim eu me casei com esse homem? Eu?!

-É. Tenho de admitir. Na época, foi um espanto. Todo mundo ficou de cara com seu casamento, amiga!- Janete sorri com as lembranças.

-De cara?...

-Estupefatos! Rosa, Rosa... Rosa e sua mania de falar difícil.... Me sinto redigindo um contrato, conversando com você!

-Imagino que foi a pior das surpresas para dona Nara. - Rosa suspira

-Nem me lembre! Aquela mulher me dá calafrios!

-Oque houve com ela, Janete? Onde ela está? Se casou?

-Olha Rosa, ela casou sim. Com um velho magnata. Desses de filme, sabe?

-Sério?

-Muito mais velho! E ainda por cima, alemão. Só fala em cerveja!  E tem uma pança enorme! -As duas riem- E duvido que ela entenda o resto do que ele diz!


Rosa se senta na sala, lendo um livro que encontrou no escritório da casa. “ A mulher tem o poder” ,  escrito capa. Folheou algumas páginas, e até o achou bem humorado. Mas sentiu-se inquieta, quase como se aquele livro lhe fosse lembrar algo. Algo que, ao que parece, ela preferiu esquecer.

-Tón entretida, nem me viu chegar! - Claude a abraça pelos ombros, por trás do sofá.

-Assim você me mata do coração! - ela ri, porque teve um mini ataque pela surpresa.

-Nem brinque com isso, preciso de você bem vivinha, hã?-  beija sua bochecha

-Que foi? Chegou cedo... - ela o observa sentar a seu lado

-Eu quis fazer uma surpresa. - Claude pisca um olho para ela, que sorri.

-E fez! - a moça se arrepia ao sentir Claude beijar-lhe os dedos.

-Que tal vermos Frazón hoje?

-Jura? Você vai me levar pra vê-lo?

-Vou sim, meu amor. Prometi, non? E eu sempre cumpro oque prometo. - sorri

-Acha que ele vai gostar de me ver?

-Claro que vai! -  Claude a abraça – Na verdade, ele vem cobrando sua visita faz um tempo...

-É sério? Mas eu nem sou tão próxima dele...

-Amour, Frazón é meu irmón do coraçón!

-Irmón do coraçón. - ela o imita sorrindo e lhe aperta as bochechas

-E a senhora, italianinha, é como se fosse cunhada dele, hã?

-Hum.. Então, que hora vamos? Quer ir agora? Por isso veio mais cedo pra casa? - Claude nega com a cabeça

-Vamos jantar com ele. Eu vim mais cedo porque non quis te deixar “ tão sozinha..” -  a imita

-Claude!- Rosa ri.

-Tudo bem. Mas admite que estava com saudades, hã?

-Nem morta! -  cruza os braços.

-Non gostou de me ver, é?- ele se faz de magoado

-Eu.. - Rosa põe os braços em volta do pescoço dele – amei te ver mais cedo!

-Hum.. Tem certeza?- aperta os olhos, a olhando fixamente

-Pensando melhor... - Rosa sorri e Claude a beija repetidas vezes.



Os dois saem de casa deixando uma Dádi “inquieta” como Rosa a descreveu. A governanta estava muito séria, coisa atípica de sua personalidade. Claude disfarçou pigarreando e informou que iriam se atrasar se demorassem discutindo o humor de Dádi.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Penumbra- Capítulo 63



Le Etenel Amour
Tulipe Rouge





Pode até ser que tudo acabe bem. Claro. Vai ficar tudo bem. Tenho apenas de confiar. Não pensando se minha vida dependesse disto: esperança. Mas sabendo que minha vida depende disso. Eu sei, eu dependo.



Rosa


Queria apenas acordar e não me sentir assim, como se estivesse sempre caindo. Aquele frio na barriga, o enjoo que não é gravidisse.
 É o frio do medo e da incerteza. Tento não esperá-lo. Seria mais fácil deixar de pensar nele e criar expectativas.
De qualquer modo, tenho certeza de que agora ele me odeia. O lado bom da história nesse caso, simplesmente é inexistente.

-Por favor, eu quero uma caixa de calmantes. Será que pelo menos a dormir tenho direitos?

-Lamento, senhora. Não estou autorizado a interagir com a senhora mais do que o necessário. Queira me perdoar.

-Mas eles cortaram meu telefone! Eu preciso dormir sabia?!

-Posso pedir um chá de camomila, o que acha?

-Eu quero os comprimidos! Você diz que não pode interagir comigo! Ah!- esbravejo. Logo depois, vejo apenas que fui transportada para a cama do aposento, e largada lá, e ouço a porta ser trancada.

“Andou se comportando de má vontade, senhora. O patrão pediu que ficasse de repouso... Por três dias pelo menos. Então, senhora permanecerá no hotel.”


Claude


Rosa... Porque você foi aparecer em minha vida? Porque tão intensa? Tão cativante, tão...

Agora, de fato, oque eu poderia esperar de mais emocionante em minha vida? Quando eu tive e perdi o maior presente de meus dias? Oque mais de novo esperarei?

E agora, de fato, uma força me guia até você. Me puxa até você... Mesmo nos céus, pelos ares, atravessando o continente... De um lado a outro, nas ruas...
E em fim, o céu azul de Lisboa. Uma esperança. Uma rosa.. a minha flor. Antes dela, quase-vida. Mas depois dela...


-Senhor, por favor, sabe me dizer onde fica este lugar? O ponto exato onde a foto foi tirada, na verdade.





Olho através do vidro do taxi. Um calçadão e pessoas andando de um lado pro outro. Cachecóis esvoaçantes. Nuvens escuras vindas do mar. Chuva forte na certa.


Alguns de meus velhos amigos que serviam por essas bandas, me deram todas as dicas de que precisava. E lá estava o velho hotel três estrelas, onde muito provavelmente Rosa estaria. O dono, pelo que eu soube, é um dos comparsas de Carlo, bem como um vendedor de drogas ilícitas.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Capítulo 62- Paix



Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


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É realmente a melhor escolha. Perdoar é a melhor escolha. Até porque, o rancor que se guarda é como um veneno que se toma esperando que outrem morra.

-Entendo. Mas o senhor acha que é fácil? Simples assim?

-De maneira alguma, filho. Certamente perdoar nos dói muitíssimo. Porque significa cortar um laço que nos une a outra pessoa. Um laço de ódio. Você consegue entender isso?

-Acho que sim..
..
-Não é apenas um simples palavriado. Perdoar é libertador. Para você, para o ser agressor..

-Tenho tanto a fazer. Por onde começar?

-Por onde sempre se começa. Pelos mais próximos.

Sinto um calafrio percorrer todo meu corpo. Uma espécie de ansiedade me acelera o coração e me faz ofegar, suar frio. Mal dormi. Mal comi. Mas percebo que durante anos, eu mal vivi.
Tudo por carregar tamanha carga e tantas maledicências, que chego a repensar seriamente as culpas de minha vida. Seria então minha culpa tanta desgraça me cercar?
Como eu poderia não sofrer?
Mas hoje eu vou me entregar. Apresentarei minhas causas diante dAquele que julga a todos. E então, terei paz.







Janete


Eu confesso que se eu não tivesse visto com meus próprios olhos, não teria acreditado.
Claude e Henry Geraldy, abraçados, sorrindo. Onde se veria tal cena?
O velho Henry já havia desistido de fazer as pases com o filho. Muitas tragédias aconteceram, mas nenhuma delas havia sido suficiente para que o perdão mútuo fosse liberado.
Mas o que era necessário acontecer não era uma mudança externa, e sim uma interna. Em ambos.

Passaram-se três meses desde o casamento de Rosa e Claude. Três meses desde q ue um imenso abismo se abrira em nossas vidas e mentes. Um filho sem mãe, um marido sem esposa, e eu sem minha melhor amiga.
A conhecendo como conheço, presumo que ela esteja tão mal quanto eu. Ela nunca mais ligou desde aquele dia, há dois meses. E talvez seja tudo por minha culpa. Ou não.

Espero que não.

-Amor, você não acha que o Claude parece melhor, depois que voltou a falar com o pai?

-Realmente. É como se parte do peso que ele carregava nas costas tivesse desaparecido. Só que ele ainda não parece bem. Apesar de que tenho de reconhecer, ele parece mais lúcido.

-Eu diria, mais calmo.

-Sim! Como se soubesse de algo que nós não sabemos.

Olho pela vidraça e lá está ele: Claude sentando numa das mesas do restaurante de seu Giovanni com Caleb. O pequeno faz o dever de casa, e ele como bom pai, observa atentamente e ajuda em caso de dúvida. Sorrio.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Crônicas de U.R.C.A - Dejavu ( | de ||)

Crônicas de U.R.C.A



Rosa abriu os olhos, mas parecia que ainda os mantinha fechados. A cegueira, porém, era branca e intimidadora. Ela então piscara muitas vezes, até desistir e fechar os olhos novamente, desanimada.
Se encontrava deitada de costas numa cama meio dura, mas o travesseiro era bem macio. Talvez macio demais. Rosa se contorcia tentando pensar em alguma coisa lógica, como onde estava e como fora parar ali. Ou onde estaria sua mãe.

-Rosa? - uma voz a chamou. Era voz de homem. Meio grossa, então era um homem de meia idade, talvez um tanto velho.
Pausa.
-Rosa?- a voz insistiu, e ela teve a impressão de que conhecia essa voz. Mas não dava pra ter certeza. Então, ainda que a contragosto, abriu os olhos. E oque ela não esperava era enxergar claramente. Um quarto de hospital, uma cadeira acolchoada, uma mesinha com um buquê de flores dentro de um vaso e um estranho a observando atentamente. Um belíssimo estranho, para ser mais justa.

-Rosa!- o estranho sorriu. E ela o achou meio efeminado, porque ele a olhava com uma cara boba, com olhos marejados e aquele sorrisinho de quem olha para um bebê.

-Quê?- ela finalmente respondeu,  mais áspera do que pretendia.

-Você... está se sentindo bem?- o estranho parecia um pouco ansioso e aflito.

-Eu... não sei. Acho que não devo estar muito bem, porque... isso aqui é um hospital não é?- Rosa olhou para a janela. O movimento da rua lá em baixo era calmo. - Ué... - ela se voltou para o homem novamente- E quanto ao senhor?

-Oque?

-O senhor. Trabalha neste hospital? É meu médico?

-Non... non sou seu médico non.- ele ficou estranho e vermelho. As mãos largadas ao redor do corpo. Parecia assustado.

-Oque faz aqui então?- Rosa perguntou um tanto alterada.

-Você.. quer saber oque eu faço ..aqui?- a voz do estranho quase sumiu, e ela chegou a pensar que ele estava em ponto de chorar.

-Com licença! - uma voz desconhecida rompe o silencio que se formara como uma nuvem ao pela sala. Um senhor simpático entra pela porta, sorrindo.

-Olá doutor Rian. - O desconhecido disse ao médico, que lhe apertou a mão.

-E então, a dorminhoca já acordou? - dr. Rian sorriu para Rosa. - Como estamos?

-Eu... não sei bem. Quando acordei não conseguia enxergar. E.. me sinto confusa. Oque foi que me aconteceu?

-Você levou um susto, eu diria. Um acidente. Rolou por uma escada inteira.

-Oh meu Deus!- Rosa leva a mão à testa. Estava quente e doía.

-Imagino que esteja com dor. Mas não se preocupe. Por enquanto não há evidências de fraturas sérias. Nem mesmo um coágulo.

-Acho que ela perdeu a memória doutor. - o homem cochichou, mas Rosa ouviu.

-Não perdi coisa nenhuma. Eu só não entendo oque esse senhor está fazendo aqui. Nem mesmo o conheço!

-Não me conhece?!- o estranho parecia furioso, mesmo que tentasse manter um tom de voz “aceitável ao ambiente”

-E se ele disse que me conhece... Não é verdade!

-Rosa!

-Espere, Rosa... Não fique tão agitada. Agora me conte do que exatamente se lembra.

-Eu.. ah doutor! Eu acho que não me lembro de nada em especial.

-Ok. Vamos pelo básico. - o médico pegou a caneta e começou a anotar na prancheta- Qual é o seu nome completo?

-Serafina Rosa Petroni. - ela respondeu rapidamente. E olhou para o estranho, que deu um suspiro, parecendo morder a língua.

-O nome de sua mãe?

-Amália Petroni.

-De seu pai?...

-Giovanni Petroni.

-Tem irmãos? Quais seus nomes?

-Dois irmãos. Tereza e Dionísio.

-Onde você nasceu? E onde mora?

-São Paulo, capital.- Rosa respondia e o médico anotava tudo, sem a olhar.

-Quantos anos têm?

-Tenho... ah. Eu não sei. Acho que menos que trinta. Ou trinta.

-Tudo bem. E... onde e com quem mora?- dr. Rian olhou para ela e ela para o estranho que observava os próprios pés.

-Não tenho certeza. Mas acho que moro sozinha. Mas não sei onde.

-Ok.

-Como assim, ok?! Alô! -Rosa estava estérica- Eu estou aqui, com uma baita dor de cabeça , uma possível amnésia e um estra.. espera!

-Rosa, já disse para se manter calma,  lembra? - o médico se aproximou dela.

-Eu sei quem você é!- Rosa olhou para o homem que permanecia estagnado ao pé da cama. Ele levantou rápido a cabeça e a encarou.

-E.. quem eu sou?- ele meneou a cabeça.

-Você... É.. - Rosa apertou os olhos e o homem quase sorriu- Claude Geraldy!

-Oui! - ele sorriu. - Lembra-se de mim, non?

-Na verdade.. Não muito. Você.. estava na capa de uma revista outro dia.. eu acho.

-Rosa..

-Claude, espere. Deixe ela falar. Lembra-se de mais alguma coisa, Rosa?

-Não doutor. Acho que não.. Ah! Mas que coisa! Quero sair daqui! - ela tenta se levantar, mas a cabeça não deixa. Parecia imensa e pesava muito, quase como se estivesse cheia d'agua.

-Rosa! Já disse para não se exaltar. Não fará bem a seu bebê.

-Bebê?! Mas que bebê?- ela se põe sentada, com as mãos no rosto.

-O nosso bebê.




sexta-feira, 27 de junho de 2014

Capítulo 61- Um longo tempo







Le Eternel Amour
Tulipe Rouge







Nada se compara ao céu de lisboa!- É o que dizia todo lisboeta que eu já encontrei, sempre cheios de saudosismo.

-É realmente lindo. A lembrança mais nítida do pouco tempo em que morei aqui, ainda na infância.

Sorrio para a senhora de brincos de pérola. Os olhos dela tão verdinhos como eram os de Rachel. Abaixo a cabeça, tentando disfarçar a vontade de chorar.

-Vejo que a moça tem uma melancolia no rosto, algo como de um amor perdido pelo mundo. Não correspondido, talvez?

-Tenho um amor perdido sim. Correspondido, mas impossível, desde sua concepção.

-Ah mas não creio que seja de tudo desta maneira, ora. Se é caso de um amor correspondido, então não é impossível coisa nenhuma. O que acontece neste caso, é a falta de unidade entre o casal.

-A senhora é uma daquelas …?- pergunto sentindo uma imensa curiosidade.

-Casamenteira? - ela me olha com quem já esperava a pergunta- Sou sim. Com todo o orgulho. E aconselho essa gente toda que senta aqui neste banco nessa mesma hora todos os dias, só para me ouvir. E se a moça não sabia, então mesmo assim vou aconselhá-la.

-Sua sabedoria será muito bem vinda. - sorrio e olho para o mar mais uma vez.

-A coisa toda é muito simples. Uma boa conversa franca já resolve quase tudo. O que se precisa é escolher as melhores palavras, as certeiras. E no demais, se houver unidade entre o casal, as adversidades são só adversidades. Substancialmente, ainda serão um casal. E neste caso, somente Deus é que separa.

Então chorei por pelo menos quinze minutos.

-Menina, acho que tu sabes exatamente oque tens a fazer. Vá e faça. Chega de chorar, chega de ter medo. Tens é de enfrentar. Até um pinto sai do ovo às bicadas, porque na vida haverias de estagnar?

-Agradeço muitíssimo por sua atenção, senhora. Deus a abençoe. - abraço a senhora, que permaneceu sempre calma e sorridente na maior parte do tempo.

Me levanto e ando pelas ruas de uma das cidades mais belas do mundo. E chego a conclusão de que devo mesmo dar umas bicadas em minha casca. Estou aqui faz mais de um mês, e mesmo assim, nunca tive coragem de ligar para casa. Não faço a mínima ideia de como estão todos. Principalmente, como estão Caleb e Claude. Onde estão... Será que estão ainda perto de meu pai, ou foram para Marseile?
Oh Deus, peço que estejam bem.

-Alô? - A voz distraída de Janete já me foi suficiente para desatar o choro.

-Janete... - minha voz saiu num fiozinho que se desmanchou em lágrimas

-Rosa?!! Meu Deus!

-Você está no consultório, não é?- perguntei receosa


sábado, 7 de junho de 2014

Crônicas de U.R.C.A- Espelhos












Havia um certo rapaz, que vivia reclamando de tudo em sua vida. Reclamava de como estava sempre nublado, das risadinhas fora de hora, e até das moças demasiadamente atiradas.
 Ele porém, não era lá má pessoa. Presava a modéstia, as delicadezas e também a música. Se encantava pelas pessoas simples e sinceras, apesar de jamais admitir tais coisas.

Ele precisava parecer forte e inalcançável em todos os momentos, caso contrário, ele estaria decepcionando os pais. E isso não o poderia suportar. Sentia-se profundamente angustiado e abalado quando a mais leve brisa soprava sobre sua reputação de herdeiro perfeito e competente. As empresas e todo o império que sua antiquissima família construíra ficaria em suas mãos! Fora nascido e criado para isso.
Então ele passava seus dias contando os próprios passos, sendo cuidadoso com tudo oque fazia. Mas tamanhos cuidados nem sempre eram o suficiente. O que mais poderia fazer?
 Era como um ímã de confusões! Batera o carro do pai, perdera uma joia de família num jogo de pôquer -no qual estava toda sua reputação como melhor em tudo.
E até sua namorada da faculdade, que ele julgava ser a garota ideal, o fez passar por maus bocados. Ela era a mais bonita e a mais popular, mas não a mais confiável.

Assim era sua vida, repleta de tensões por todos os lados. Como um rio corrente no qual ele tentava desesperadamente nadar, mas a correnteza sempre o deixava exausto. Sendo assim, quando o chamavam -aos sussurros e risadinhas irritantes- de carrancudo e de 'poderoso chefão', sentia-se injustiçado e demonstrava isso aumentando o grau de sua rudeza.

Até que seu tio, irmão de sua mãe, disse-lhe algo que o inquietou até a alma. Disse que se ele não houvera nascido tão bem, jamais conseguiria chegar num nível tão alto na sociedade. Seu tio o apontou como um homem comum e sem qualidades marcantes. Seu pai estaria estremecendo no túmulo por deixá-lo pôr todo o império da família em ruínas!

Então, assim que conclui seus estudos até o nível de doutorado, decidiu passar um tempo na América, para então se instalar em algum país promissor, e ali expandir o império de sua família, fazendo com que seu querido tio engolisse cada palavra vexatória que lhe aplicara.


-Por favor, eu preciso de um táxi. - Claude pede ao recepcionista do hotel novaiorquino, no qual ele tinha passado toda sua estadia na cidade, contabilizando quase um mês.

-Sim, claro. Só um minuto senhor. - uma voz feminina responde, oque o faz estranhar. Não se chamava Rogério o recepcionista da tarde?

-Tudo bem...- ele então reparou na moça. Uns vinte e poucos anos, no máximo vinte e seis. Estatura média baixa e um pouco magricela, ele achou. Mas tinha olhos brilhantes, mãos delicadas e um sorriso arrebatador.

-Senhor? - A entonação na voz da moça denunciava que ele estivera perdido em pensamentos, enquanto ainda olhava fixamente para os lábios sorridentes dela.

-Oui? - Claude decide franzir a testa e voltar a usar sua fatal indiferença de sempre.

-O táxi que o senhor pediu chega em cinco minutos. Deseja algo mais?

-Oui... Non.. - Ele sacode a cabeça percebendo a própria confusão. Concentra-se em pronunciar o inglês na mais perfeita forma possível

-Não desejo não, obrigado. Aliás, moça, me desculpe a pergunta mas é que eu estava habituado  com o Rogério, onde ele está?

-Ah o Rogério... - ela tamborila com os dedos no balcão, de olhos baixos- Ele... Ele me pediu para cobri-lo hoje.

-Oh. Mas está tudo bem ? Simpatizo bastante com ele.

-Sim! - ela disse tão depressa que o surpreendeu e ela logo percebeu- Quero dizer, bem, acho que teve de visitar um parente doente, algo assim... - ela dá os ombros ainda com os olhos um pouco arregalados.

-Então, espero que fique tudo bem. - ele se vira para sair, sentindo que algo estranho pairava no ar, apesar de não conseguir entender o porquê. -Obrigado, e desculpe o incômodo.

Ele acena e sai o mais normalmente que consegue. Havia algo diferente naquela moça, ele tinha certeza. Ela não era de todo incomum, mas ele não podia negar que naqueles olhos ocultavam-se alguns muitos segredos, ou mistérios. A baixinha era como uma daquelas paisagens, que ao se olhar de relance nada sobressai, mas quando se observa bem, perde-se o fôlego.

Mesmo em meio a tanta correria, Claude não pôde evitar que certa moça tomasse seus pensamentos. Porquê? Ele não sabia explicar a si mesmo ou apontar um só motivo para tanto alvoroço. Ela era, como já havia assegurado para si mesmo, comum e simples. E depois da segunda frase, aquela moça ficara um pouco constrangida em olhar em seus olhos. O que roubou-lhe um pequeno sorriso disfarçado.

Era um caçador, apesar de saber não necessitar. Ainda que não se apresentasse, algo nele denunciava que era alguém poderoso, no mínimo influente. Claude não sabia disso  porque tentava sempre provar tal coisa para o mundo. Queria  bastar a si mesmo, mas não podia. As palavras de seu tio Pablo lhe asseguravam isso.
A noite chegou, e ele decidiu jantar num lugar mais descontraído do que os super restaurantes onde “pessoas como ele” estariam por todos os lados. Estava cansado de cumprimentar bajuladores ou esnobadores. Queria ser uma pessoa normal- ou quase. Queria voltar a ser aquele garoto da faculdade que ele costumava ser.  Então, encontrou uma cantina italiana bem animada, onde algumas crianças faziam birra, adolescentes comiam pizza e bebês se lambuzavam com molho. Alguns casais conversavam de tão perto que custava a se identificar que se tratavam de duas pessoas, e o cheiro delicioso da comida emanava de todos os lados.

Com um suspiro, ele se sentou numa das mesas e esperou o garçom, que não chegou. Só que ele estava faminto demais para esperar e decidiu ir até o balcão, onde encontrou a moça que passara o dia inteiro se intrometendo em suas reuniões e embaralhando seu inglês.
Claude tentou sorrir. Tentou. Apesar de estar furioso consigo mesmo por sentir aquilo, aquele frio na barriga aquela vertigem... Oque era? Uma garotinha de seis anos? Iria enrubescer? Gaguejar? Ele só  vira a moça sorridente uma vez, por menos de cinco minutos. Nem sabia seu nome!

-Rosa! Que bom que veio! Estava mesmo falando a seu respeito com meu irmão!- uma garçonete loirinha e rexonxuda sorria para  a moça de quem Claude mal podia tirar os olhos- Disse a ele que precisa te conhecer! Ele precisa!

-Donna, que coisa! Eu já disse que não quero conhecer ninguém por agora! Estou focada em minha carreira! E além do mais, vou voltar a meu país na semana que vem.

-Não me diga! - A voz grave parece ter estremecido até os ossos da jovem Rosa, porque foi tremendo que ela reparou na figura do “hospede bonitão” como sua amiga havia lhe descrito o senhor do quarto 508. Ela admitia que ele era bonito, mas não admitia que ele era bom para ela. Ou talvez ela não fosse boa o suficiente para ele.

-O..oi. -gaguejou a moça, se mexendo de maneira estranha no banco do balcão. O movimento de seus olhos denunciam que ela pensara em fugir dali.

-Desculpe se a assustei, senhora. - Claude continuava a encará-la, sem perceber. Ouviu uma voz meio longínqua que assumiu como a da loirinha, se desculpando e saindo de perto dos dois.

-Senhorita.- ela o corrigiu de maneira natural, em voz baixa e sem mudar de expressão. Séria.




-Tudo bem se eu conversar um pouco com você?- ele perguntou de maneira sutil, mudando um
pouco o tom de voz. Talvez tivesse finalmente percebido que a olhava como um predador à presa!

-Tu.tudo.- ela se virou para o balcão. Mas podia ouvir a respiração do estranho, apesar do restaurante estar lotado.

-Você... me daria a honra de me acompanhar numa refeição? Não tenho amigos aqui e é tão ruim comer sozinho!

-Eu estava...- ela parecia constrangida, Claude pensou. Mas não podia resistir à curiosidade crescente sobre ela.

-Ela estava aí justamente esperando uma mesa, senhor! - A loirinha reaparece com uma bandeja de pratos sujos, e pisca para ele- E está lamentavelmente desacompanhada, tenho certeza de que ficará lisonjeada com sua companhia!

Rosa suspira derrotada, meneando a cabeça em direção à Donna. Claude sorriu imaginando que ela estivesse xingando a amiga em pensamento.

-Então.. Vamos? Eu tenho uma mesa e... ali!- ele apontou a mesa vazia, e Rosa sorriu forçadamente com os lábios e se sentou. - Eu ia puxar a cadeira para você, mas foi mais rápida.

-Puxar minha cadeira? Para quê? Eu iria cair!- ela disse de forma séria, quase indignada. Claude não resistiu e caiu na risada.- Está rindo?

-Desculpe moça, nem nos apresentamos. Meu nome é Claude, e o seu?

-Serafina Rosa...- respondeu desconfiada.

-Que bonito nome! Então Rosa, é que eu iria puxar a cadeira para que você se acomodasse nela. Não era para você cair não. Sou um cavalheiro, hã?- Claude arruma a gola da camisa.

domingo, 1 de junho de 2014

Capítulo 60- Senhora

Le Eternel Amour
Tulipe Rouge






Belo dia de outono, céu avermelhado, folhas esvoaçantes dançando pelo ar... O que vejo pela vidraça embaçada da janela parece mais um quadro.
Aquela sensação de estar sempre caindo permanece e reina sobre meus sentidos. Estou sempre enjoada, sempre pareço estar prestes a chorar, a perder a razão.
Agora entendo as cartas de Jean, aquelas que eu nunca consegui entender totalmente antes...



    -Você está tão tão tão linda, mamãe!- vejo a figura estoanteante de Caleb, segurando uma margarida e sorrindo da forma mais maravilhosa que alguém pode sorrir, como só ele sabe. Contenho minhas lamúrias, por saber que daqui a algumas horas o verei pela última vez no prazo que me foi dado, 5 anos.

    -Estou mesmo, filho?
     
    -Está sim!


    -A noiva mais linda de toda a Paris!- Jane piscou para Caleb. A vejo pelo espelho, pedindo ao pequeno que nos deixe a sós.

-Você parece exausta, Rosa. - o tom sério dela me põe em estado de alerta.Seus intimidadores olhos  me analisam e os braços se cruzam num gesto impaciente.

-Então cadê a noiva mais linda de toda Paris?...- resmungo, ao que Janete levanta uma sombracelha. Me viro para encará-la.

-Vai fugir, não vai?

-O quê?! - Busco apoio no espelho, evitando uma queda de dramática teatral.

-Não finja indignação!- o tom  era frio e impassível.

-Quem é você e oque fez com minha cunhada doce e meiga?

-Serafina Rosa... -ela evoca de forma persistente- Trate de me confessar!

-Eu estou bem! E perplexa com essas suas ideias!

-A-RÁ! - Ela estica o dedo indicador para mim e meus olhos saltam- Viu só? É disso que eu estou falando! Você não sabe mentir. Não para mim!

-Janete, quer parar com … - sento no banco no qual dantes me equilibrava em pé. Por precaução.

-Eu não estou blefando, Rosa. Você precisa me contar, ou jamais terá minha confiança novamente. O Claude convive com você a menos de um ano e percebeu que você está diferente, porque eu não perceberia?

-Por favor, não me obrigue a isso! - abaixo a cabeça.

-Obrigue a quê? A dizer a verdade? Eu é que pergunto, cadê a Rosa? A que sempre diz a verdade?

-Não faça isso... - a súplica não era para ela, mas a Deus. Porque tem de ser assim tão grande o meu suplício?

-Você tem quinze minutos até que a cabeleleira chegue aqui para colocar sua grinalda. - abro os olhos e percebo que Janete pendera a cabeça para um lado, ainda de braços cruzados. Ela não iria desistir ainda depois disso!

-A acho desnecessária.- suspiro observando meus próprios pés.

-Mas Joana insistiu que você  usasse. - ela dá os ombros.

-Hum... - a olho de esguelha e ela me encara firmemente.

-Sabe que eu não vou deixar que você se case sem que me conte oque está acontecendo, não sabe?
Então eu suspiro e, de cabeça baixa, faço um gesto com a mão para que Janete se sente no pufe a meu lado.

-Escute, é um segredo de vida ou morte. Por isso quero que você faça oque eu disser, tudo bem? -  digo aos sussurros, com a voz embargada.

-Tá, mas..

-Shiii... - me levanto de supetão por perceber que alguém girava a maçaneta.

-Ah ainda bem! -Joana aparece impecavelmente arrumada- estão aqui!- anuncia da porta para alguém ao longe no corredor. Era cabeleireira, naturalmente.

-Demorei? - Uma cabeça repleta de madeixas vermelhas como o sangue surge na porta, com brilhantes olhos azuis e um sorriso enorme.

-Eu estarei na recepção. - Janete se levanta e anda até a porta. Eu aproveito que Joana e a cabeleireira se ocupam com os produtos de beleza  e corro até a porta.

-Espere! - seguro o braço de Janete- Eu tenho algo para você!

-Oque é?

-É o meu segredo. Não me pergunte nada. No carro eu o entregarei a você, e te explico melhor!

-Tudo bem... - ela me olha ainda desconfiada- Agora vai! Não pode se atrasar muito, o reverendo tem mais dois casamentos depois do seu!

-Tá...- volto a sala e aos preparativos de minha tragicomédia. Só que sem a parte da comédia.



sábado, 10 de maio de 2014

Capítulo 59 - Cabelo Pintado






Le Eternel Amour

Tulipe Rouge










Oh, fique quieta por um instante, querida!

-Por..por favor! - me contorço- Mal posso respirar!

-Conte até dez! Você está muito agitada, é só isso! - Joana gesticula tanto que me faz lembrar de que um dia ela foi atriz. Uma grande atriz. E agora está aqui, me espetando com alfinetes.

-Eu não estou agitada! Estou...-puxo o tecido pela milésima vez- Sufocando!

-Rosa, Rosa! - Janete revira os olhos - Não seja tão dramática! Esta já é a terceira prova. O vestido precisa ficar pronto logo... - ela bate o pé pensativa- Noivas...

-Eu sei. Mas acho que está .. apertado.. demais...- arfo

A costureira oficial chega e ajusta. Não tem como negar, o vestido está perfeito.

-Nunca vi uma noiva mais linda em toda a minha experiência!- a costureira suspira. Aposto que diz isso para todas.

-Aposto que ela diz isso para todas as noivas! - Janete sussurra para Joana, e eu rio discretamente.

-Então, não há mais dúvidas! Está pronto!


Voltamos a pé, conversando como se realmente eu fosse uma noiva feliz e apaixonada. Eu estou mesmo muito apaixonada, meu noivo é perfeito. Mas não estou feliz. Eu tenho um grande problema. Tem um cheiro ácido no ar, e um gosto amargo em minha boca. 

-Adoro este café! Eles tem um cappuccino tão tão delicioso! - o rosto de Jane se contrai, e ela está extasiada com a primeira maravilha gastronômica do mundo, segundo os médicos, é claro.

Eu apenas suspiro. O cheiro no ar é vingança. O gosto na boca não é café, é medo, angústia, insegurança. Tudo misturado, e em concentrações barbáries.


-Acho que a Alice é muito grande para esse vestido, Jane querida. 

-É verdade. - Janete bufa- Eu me esqueço! Para mim, é como se ela ainda fosse uma pequerrucha!

Elas guardam as revistas e me olham, como se esperassem que eu dissesse algo.

-Oque foi?- pergunto surpresa pela atenção

-Nada. 

-Isso mesmo, Rosa! Nada. Você não disse nada desde que chegamos. Ou desde que saímos do ateliê...

-Espere, Janete! Talvez essa distração toda seja saudades!

-Saudades? Hum... Mas ela o viu antes de sair de casa...  

-Parem, vocês duas! - sorrio impaciente- Eu só estou cansada! Essa semana foi tão corrida!

-E você mal teve tempo de estar com seu amor! - Janete pisca os olhos e junta as mãos - Pobrezinha!

-Janete! - me levanto - Quer saber, vou tomar banho!

-Outra vez?  -Joana e Janete se entreolham. Eu reviro os olhos e entro no quarto

-Ei, Rosa! - Janete entra em seguida e fecha a porta.

-Oque foi agora? - pergunto aflita

-Você... está assim desde que chegou... - ela diz pausadamente, me olhando ainda encostada na porta fechada.

-Assim como?- sento na cama e ela se aproxima

-Rosa.. - ela se agacha a minha frente - Você se penteia o tempo inteiro, não deixa um único fio de cabelo fora do lugar... Toma banho de meia em meia hora... 

-Jane! Eu não estou ...

-Desenvolvendo um quadro de transtorno obsessivo compulsivo!

-Claro que não! - levanto

Claude entra no quarto mas quando percebe a presença de Janete dá um passo para trás e gesticula  uma desculpa.

-Nada disso, Claude! Fique! Eu já estava de saída! - diz Janete se levantando- Se precisar, vou estar lá em baixo, no restaurante! - ela me olha de esguelha e eu entendo o recado. Não acabou. 

Suspiro me sentando novamente. Claude vem e ocupa o lugar em que Janete estava, agachando-se a minha frente. Toma minha mão e beija meus dedos bem como a palma.

-Tudo bem, amour? - ele pisca e sorri. Meu coração se derrete

-Está sim! - sorrio de volta. Pena que lágrimas fujonas saltam pelo meu rosto e pingam nas mãos dele, estragando minha tentativa de disfarçar que eu não estou segurando a onda coisa nenhuma.

-Oh, Amour! - Ele me abraça forte- Oque  foi? Porque está chorando? Aconteceu algo?

-Amor! - repito o apelido que jamais sairá da minha mente. Sinto a pele formigar. Imploro com os olhos para que ele não me pergunte nada. Não seria capaz de responder, e nem poderia.

E ele, como sempre, me entende. Basta um olhar para o outro e sabemos o que o outro sente. É como se..

-Está lendo minha alma? - ele sorri. Tenho o encarado desde que abri os olhos, e ele a mim.

-Talvez você esteja lendo a minha. - beijo seu peito. Ele bagunça meus cabelos vagarosamente...

-Eu não sei. -suspira - Mas acho que está angustiada demais.. Nunca a vi desse jeito, Serafina.

-Não me chame assim... 

-Porque? - ele sorri. Eu levanto a cabeça e contraio o canto da boca. - Tudo bem... - me deito em seu peito -Mas gosto como soa... E você non quer me dizer oque a está preocupando...

- Eu não... posso... - rolo a cabeça no travesseiro e ele se sustenta num cotovelo para me olhar 

-Non pode?..

-Não consigo.. - fecho os olhos e ele os beija, segurando meus pulsos que tentaram instintivamente afastá-lo- Não tenho como... - minha voz sai num fiozinho - descre.. ver .. - soluço e ele me abraça e beija novamente. Se ele soubesse!

Ele vai me odiar! Talvez depois entenda, mas ainda sim.. Vai me odiar!


sábado, 3 de maio de 2014

Capítulo 58- Um novo começo

Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


 




Havia um jardim, com muitas cores. O cheiro das flores era algo fresco e doce. O cheiro da terra molhada ainda podia ser sentido.

-Este lugar... É simplesmente...

-Eu queria trazer você aqui a tanto tempo! – ele suspira e finalmente  percebo que tenho sido observada desde que chegamos.

-Pare de me olhar assim! – sorrio nervosa, totalmente encabulada.

- Assim como? – ele pisca com falsa confusão mental, mas seu sorriso no canto dos lábios o denuncia.

- Claude!- escondo o rosto e ele me abraça

-Je T’aime! Je T’aime avec tout mon coeur !

-Eu também te amo de todo o coração. – sorrio segurando as lágrimas. Se ele fosse menos perfeito, ou se eu o amasse menos, talvez não doesse tanto!

-Oh non chore, cherri! Non ainda, hã ? – ele dá um sorriso maroto e meu coração parece querer saltar pela boca

-Vem! – Claude me puxa pelo jardim, até que chegamos num pequeno chafariz . No centro dele, havia um anjinho que soltava água pela ponta da flecha de seu arco empunhado.
Ele me faz sentar na mureta e tento me consolar internamente, me convencendo de que é só um sonho adolescente e infantil. Realmente, por que seria tudo real?

-Serafina Rosa, - os lábios dele tremem, e me dou conta de que para ele, é tudo real

-ah...- tento falar alguma coisa, sem sucesso. Ele está com um joelho no chão, minha mão entre as suas, e os olhos brilham.

- Allez.. allez vous... – ele tosse, como que para tirar o choro da garganta. Eu prendo a respiração

-Voulez vous me marier?


domingo, 27 de abril de 2014

Capítulo 57- Papai



 Le Eternel Amour
Tulipe Rouge




Apanho um guarda-chuva amarelo gema, pertencente a ela. Saio em meio a chuva barulhenta e fria. A aguardo no portão. Ou portinha, para ser mais adequado.
E de repente ela desce do táxi, e quando me vê, dá um pequeno grunhido enquanto corre em minha direção.

- Maluco! O quê está fazendo aqui nessa chuva?!

- Vim te esperar, ué. - sorrio enquanto a puxo para o guarda-chuva. - Vem, vamos entrar.
Ela me abraça e caminhamos até a varanda.

- Demorei muito?- ela sorri, tirando o sobretudo ensopado

- Non. Só a minha vida toda, hã? – dou uma piscadela e a reverencio para que passe pela porta.

-Hum.. – Rosa levanta as sobrancelhas e entra na casa com ar dissimuladamente desconfiado.- Cadê o Caleb?

-Está na cozinha, nos esperando para o jantar. Quer subir? Nós vamos terminar a mesa e te esperamos lá.

-Tá..  – Ela põe a mão no corrimão mas para e me encara- Meu Deus! Desse jeito eu vou ficar mimada!-  dá um sorriso largo e desce um degrau para me dar um beijo, saltando as escadas em seguida.

- Non demore!

Na cozinha encontro Caleb arrumando as talheres, como num jantar de natal. Sorrio.

-Ual, Caleb! Quanta dedicaçón. Você deveria seguir carreira, ficaria rico. Ou mais rico. – pondero abrindo o forno. -Está tudo perfeito!

-Mas eu não sou rico. –  dá os ombros – Você é, e mamãe é também, um pouco. Mas eu não.

-Tá certo, filho. Mas pelo que vejo, será um magnata muito mais influente que todos nós juntos, hã? – bagunço ainda mais os cabelos do pequeno, que me encara com olhos brilhantes.

-Quer saber, deixa pra lá. – Vou chamar mamãe.
Ele sai e eu fico sentado olhando a mesa, com um sorriso de lado, com ideias fervilhando na mente.

-Pronto! Ah, estou muito melhor. Lá fora estava tão frio! – Rosa aparece sorrindo, mas acho a animação dela meio exagerada e nervosa.


-Está bem mesmo, cherri?- pergunto tentando parecer calmo, mas debaixo da mesa minhas pernas tremem.

-Estou, estou sim. –  sorri de um jeito nervoso, com a boca tremendo levemente e os olhos escondendo lágrimas. – Estou animada com a nossa volta à Paris e... – ela para e suspira, e me olha de cabeça curvada- Eu..



quinta-feira, 10 de abril de 2014

Capitulo 56- De onde vem os bebês






Le Eternel Amour

Tulipe Rouge




Quanto amor pode caber em um só coração? E quanta dor? 
Acredito que as duas medidas são dadas ao infinito. Não se mede dor ou amor. Ou dói ou não. Ou se ama ou não se ama.
Mas sensações se medem. Por isso as pessoas dizem: Muito amor, pouca dor. Mas para mim, são coisas absolutas. Ou estão lá, ou não estão.

Vendo os olhos tristes e o sorriso fadigado no lindo rosto de Rosa,  me dou conta de que cabe um universo inteiro em mim. Porque mesmo com toda a dor que estou sentindo, o imenso e imensurável amor que tenho por ela está bem aqui. Sempre esteve. 


-Você quer mais suco? - Rosa bagunça os cabelos de Caleb carinhosamente, enquanto fita os olhos dele de forma tão doce que chego a me encher de ternura só em observá-los

-Não mamam.. Merci.

- Então faça o seguinte: Suba, tome um banho e pode jogar videogame. Oque acha?

-Hm... Em vés de jogar, eu posso tocar o piano? - o menino tristonho deixa transparecer um brilho nos olhos, enquanto me encara ansioso

- Claro que pode, filho. - digo em tom firme e calmo. Mas a forma com que Rosa me inquire me deixa um tanto sem jeito

-Está tudo bem, Claude?

- Está sim. Pode ir Caleb. - sorrio para Caleb que apenas balança a cabeça e sobe as escadas correndo.

Rosa se senta no braço do sofá ainda me olhando com uma expressão questionadora

-Oque foi?

- É que... essa foi a primeira vez que você chamou o Caleb de filho. Pelo menos na minha frente, e diretamente pra ele.- ela suspira

-hm.. E... Há algo... Errado em eu chamar Caleb de filho? Você... se incomoda?

-Eu.. não sei Claude. Eu... Ainda não me acostumei com isso sabe.. Eu... Caleb nunca teve um pai. Não um pai vivo, que interagisse com.. a nossa rotina.

- Com seus comandos.. - sorrio e a puxo para meu colo. 

- Éé!- ela sorri manhosa e me abraça

- Mas é oque ele é. Non seja ton possessiva, cherri. - a olho de esgelha- non sabia que era ton ciumenta, hã.

-Eu sei... mas é que..

-Eu poderia dizer que você non fez ele sozinha.. Mas non posso, né? Tudo bem que eu tive participaçón...

-Claude! Eu vou te matar!- ela bate no meu ombro sorrindo enquanto seu rosto se converte em carmim

- Non pode me matar non. - sussurro em sua orelha - Non antes disso.

Beijo Rosa com todo o amor que sinto. Com toda a vida que ela me trouxe, dou tudo a ela.
E digo que a amo quantas vezes quanto posso repetir. Até ela se cansar de ouvir. 
Espero que ela consiga entender o quanto a amo. O quanto ela significa pra mim.

Caminho pelo corredor, seguindo o som melodramático vindo do sótão. O antigo mini estúdio de Rachel. As lembranças me fazem ter calafrios.
- Eu sei que está cedo, mas acho melhor você ir pra cama, Caleb. - sugiro calmamente, o observando da porta tocar o piano como se fosse a melhor coisa a se fazer no mundo. Estremeço só de pensar que ele é igualzinho a mim. E tocar piano está para escape, não para diversão.

- Mas porque? Se ainda é cedo?- ele dá os ombros e continua tocando

sábado, 18 de janeiro de 2014

Capítulo 55- Chasm





Le Eternel Amour

Tulipe Rouge








Vozes e mais vozes vindo de dentro da sala, mas ninguém chama meu nome.
E embora esteja à beira dum mar de tédio, algo me agita interiormente. Como um mau presságio...
O leve e conhecido taqui cardia e as pernas que se balançam sozinhas..


Fechando os olhos, imagens desfilam em minha mente, como lembretes de que não posso ignorar um aspecto se quer da vida.

Um rosto. Um sorriso. Não um rosto ou um sorriso lindo. Longe disso. Mas meu sinistro irmão. Sua expressão sinistra, seu sorriso sinistro. E então cobriu o rosto com o capuz mais uma vez, para escapar dos flashes e perguntas dos repórteres na entrada do fórum.

Havia algo maligno naquele sorriso. Não parece uma expressão de arrependimento ou algo do gênero. Evidente que se suspeite que ele vá tentar burlar as leis e no final acabar numa clínica psiquiátrica mais parecida com um spa.

Porém  não é sobre se safar, é sobre a vingança que ele jurou contra a família Geraldy. O brilho nos olhos continua o mesmo.
 Sombrio e profundo como um abismo de maledicências...


Rosa



- Droga, droga, droga! Isso não vai acontecer, Rosa, é tudo sandice de sua cabeça!

-Isso! Repete isso e se acalme! Não adianta correr tanto, Rosa!

-Jane, não me deixe mais nervosa do que estou!

-Como se isso fosse realmente possível. Trouxe os super poderes? 

-Oquê?

-Os super poderes! Sim, pois então como pretende salvar o mundo hoje?

-Janete!

-Rosa, acalme-se logo. Você não pode achar que tudo é sua culpa. Seja oque for que acontecer, não depende de você. Acredite maninha!

-Eu sei. Mas talvez eu possa dar um jeito, sei lá!


Mal freio e já sinto o impacto. Não apenas do volante contra o peito, ou o grito agudo de Janete, mas o impacto de saber que o que eu temo pode estar acontecendo nesse mesmo segundo.

Pela hora, possivelmente Claude está lá sentado diante do júri e todas as testemunhas. O senhor Geraldy cabisbaixo numa cadeira de rodas e com uma enfermeira do lado, com um respirador a postos. O próprio filho tentou matá-lo duas vezes. E sequestrou e torturou o irmão. E matou Jean, seu filho predileto. 
E  o réu ,energúmeno, ainda sorri. Sim, pela imagem que um repórter conseguiu capturar, segundos antes de Carlo entrar ao tribunal.

- Olhe Rosa! - Janete me segura pelo braço e aponta para a direção oposta à nós- O carro do sr.Henry Geraldy!

-Rachel!- grito enquanto perco o fôlego por correr

O motorista, que não é Alfred, arregala os olhos e procura uma maneira de virar o carro desesperadamente.
Me ponho à frente e bato no capô

-Deixe ela sair, vamos! Deixe ela sair! Abra a porta! Rachel! Rachel!- Ofego em meio às lágrimas que descem por minhas bochechas, vendo o carro dobrar a esquina em alta velocidade, com Rachel desacordada no banco de trás.

Corro ainda alguns metros, antes de ver a cena mais assombrosa que poderia ver.



Janete


Acabei de sair de um plantão de 20 horas seguidas de U.T.I neo-natal, e meus olhos ardem de sono. Mas não poderia deixar Rosa sair de casa tão agitada, e achando que algo realmente terrível pudesse acontecer. 
Pena que ela estava certa. E pena que não há nada a se fazer a respeito.

O carro do senhor Henry Geraldy disparou em alta velocidade deixando Rosa aos prantos a chamar  por Rachel.  Um carro azul marinho passou como um vulto pelo farol aberto que o motorista do Mercedes de Henry Geraldy na "pressa", ignorou. Os dois carros chocaram-se com tamanha força que um deles, não sei ao certo qual (pois fechei os olhos), rolou por cima do outro. Outro carro se juntou a eles e, embora com menos violência, chocou-se com o mustang azul marinho, ou com o que sobrou dele. 

Rosa estava de joelhos no chão, com as mãos na cabeça como que tapando os ouvidos. Mas duvido que isso tenha impedido que os gritos e buzinas invadissem seus ouvidos. 



Claude





Onde Alfred estaria? Rachel insistiu em visitar meu pai. Mas meu pai, surpreendentemente, também quis comparecer ao julgamento de Carlo. E acomodou-se ao lado do Brigadeiro que eu tanto admirei por toda minha estadia na Aeronáutica da França. Os dois me olhavam igual.
 Uma mistura de aprovação e resignação. Seja como for.

Carlo só ergueu os olhos traiçoeiros ao ouvir o veredicto: "Culpado de todas as acusações". O sorriso ainda estava lá, mais brilhante do que antes.
Ao sair, colocou o gorro, ainda no corredor rumo à porta de saída, algemado e escoltado por dois policiais. Mas parecia que estava indo por conta própria, a passos seguros.


E agora tenho tempo de pensar em muitas tragédias enquanto a demora de Alfred com Rachel me consome.

 Devia ter pedido que a levasse direto pra casa de Rosa, isso sim.
Ou devia simplesmente ter dito não a meu pai. Mas como negar?
Ele tem andado muito persuasivo ultimamente....
E não é a debilidade. São os malditos olhos de vovô, tristes e sempre marejados.
 Devia ser crime!


Rosa


- Rachel, oquê?! - O grito de Claude ecoou em meus ouvidos, e mal percebi que ele me sacolejou com tanta força que seus dedos se imprimiram em minha pele. O tanque da Mercedes explodira. Tudo era fogo, luzes e sirenes.

Desta vez, não houve segundas chances. O abismo estava ao nosso redor. Caímos.









Aquela sensação de estar presa a um pesadelo, onde você apenas vê tudo acontecendo e não pode fazer nada. Não pode mudar nada. Aí você acorda e descobre que não era pesadelo. E que mesmo assim, você ainda não pode fazer nada. E saber ou não que é real, também não conta.
Meus olhos observam as pessoas atravessando o corredor do hospital, jalecos indo e voltando, apressados. E o olhar languido da mãe com a criança chorando nos braços, ou os olhos tristes da senhora esperando no banco à frente.

-Você... Não quer um café?- Janete me pergunta, com tanta cautela, que chego a achar que ela tema que eu avance nela

-Oh, não, obrigada. - respondo.  Os meus olhos parecem mortos, eu sei. Porque ela me olhou piedosamente, igual alguém olhando para um moribundo.


Apesar de que Claude não deve estar olhando com olhos tão bondosos para o irmão bastardo e moribundo dele. Deve estar lá, o fulminando e se perguntando o porque de Carlo ter voado pelo vidro, e ainda sim sobrevivido, quando sua pequenina filha tão amada vitimou-se da vingança e ódio de seu pai biológico.

 É tão confuso saber que Claude era tio de Rachel e Carlo seu pai. E agora, ninguém é mais nada, porque ela é mais um anjinho junto a Deus.

Me culpo tanto! Eu deveria ter insistido mais para que Rachel ficasse conosco em casa!
Mas sei que de nada adianta. O que é pra ser é. E além do mais, não tenho uma máquina do tempo.
Sei que remorsos só me prenderão ainda mais ao passado.


Claude


-Como pode ser? Você entrou na minha vida, só pra matar, roubar e destruir! Parece que estou falando do próprio diabo!


Mas aquela figura estúpida e débil não me responde nem mesmo com uma piscadela. Ele está estático, olhando o teto com olhos arregalados e lacrimejando. A boca treme e os braços se sacodem periodicamente. Não sei se ele recobrou a consciência. O  policial que entrou comigo pigarreia.

-Acho que ele não pode te ouvir, senhor Geraldy.

-D'acordd. -Fecho os olhos por não suportar mais encarar Carlo e não poder discutir com ele, ou apertar-lhe a garganta

-E acho, que o destino já se encarregou de vingá-lo, monsegnor.

-E porque?

-Olhe para ele! É apenas um vegetal. E suponho que ainda que acorde desse  transe, quando se der conta de que é responsável pela morte da própria filha...

-Basta! - Me viro de supetão para o policial- Peço que por favor não repita esse comentário, ouviu? Ela era minha filha, minha! Era minha vida! Meu tesouro! Este ser aqui, é um psicopata que teve coragem de destruir a minha família, e rir por cima dos destroços! Ele atirou no próprio irmão, sequestrou a filha e o próprio pai! Ele não merece a compaixão nem mesmo de um cão!

-Nenhum de nós merecemos, meu caro.- ele põe a mão no meu ombro e sai da sala,  me deixando perplexo a pensar sobre como essas palavras são verdadeiras. 


Deus me deu, e Ele mesmo tirou.





Janete


Se existe uma coisa, na faculdade de medicina, que não ensinam na arte de ser médico, é essa parte em que a pessoa querida morre, e você não é Deus para ressuscitá-la e tem de dizer isso aos parentes. E se tem uma coisa ruim em ser médico, é que você não espera que isso vá acontecer com você, que terá de assinar óbitos. 

A gente sabe que não é Deus, mas sempre sentimos que somos próximos dele. Ajudadores dele como os duendes do papai noel. 

E então, enquanto o coração do paciente bater, e até depois disto, confiamos que tudo dará certo. Mas as vezes Ele tem outros planos, e aí nos damos conta de que as nossas limitações são incontáveis.


Como eu gostaria de trazer Rachel de volta!

A alegria nos olhos de Rosa de volta! Como o mundo pode girar 180 graus assim, sem aviso prévio? Logo agora, quando eu pensei que finalmente, a Bel ia ser amplamente feliz, em anos!
O destino parece se divertir muito conosco. A sensação é de que é isso em que consiste a nossa existência: experimentar uma pitada da felicidade e jantar uma funda tigela de tristezas.

Não é justo!

Eu que sempre fui "a otimista", estou me sentindo uma pessoa cada vez mais melancólica...




Caleb


Tio, fala logo, oque que tá acontecendo, ein?!


- Shiu, Caleb! - a mão dele me segura a testa, para impedir que eu avance no telefone

-Mas eu quero falar com minha mãe, agora! Agora!

-Rosa, depois conversamos, preciso desligar.

-Não tio Sérgio, não! - meu protesto é inútil, ele guarda o celular no bolso e me olha com o rosto inexpressivo. - Oque foi, afinal?

- Sua irmã / prima, morreu.- ele responde simplesmente.

-Q-que-que-quem? - caio de costas sentando no sofá

- Rachel. A Rachel está morta.

-R-Ra-Ra-Rachel?- o nome entala na minha garganta. Os olhos ardem e parece que vou chorar. Ou vomitar. Ou chorar e vomitar, ao mesmo tempo.




Minha mãe chega, abre a porta, e vem correndo me pegar no colo, como se eu ainda tivesse 5 anos. Claude parece um zumbi. Joga as chaves na mesa, e senta no braço do sofá. E não consigo ouvir oque ele e tio Sérgio conversam, porque minha mãe me leva corredor a fora em seus braços. Dificil ver ou raciocinar com essa dor de cabeça, e os olhos jorrando água. Talvez eu ainda tenha mesmo 5 anos de idade.


Vamos para Marseille amanhã de manhã, depois do enterro. Mamãe disse que Rachel vai ficar ao lado da mãe dela, a bailarina ruiva de olhos triste do álbum de capa roxa, o de Jazz.
 Em pensar que ontem nós dois estávamos sentados no carpete da sala, olhando as fotos e as tablaturas de piano. A gente não ria muito, mas estávamos nos dando bem, até. E depois que o Claude veio e falou comigo, contou coisas e alguns segredos, eu me senti melhor sobre ela. Mas agora, me sinto muito mal. É como se eu a tivesse matado, por ter desejado que ela não existisse.


-Não fique assim, amor. Ela vai sempre estar conosco, em nossos corações. - Minha mãe enxuga meus olhos, mas esquece de enxugar os próprios, sorrindo tão de leve que mal se nota- Ela com certeza nos amava como sua família, e nós amamos ela, não é?

-Mas agora ela esta morta. - Digo sem encará-la

-Deus achou melhor recolhê-la. Ela foi uma criança muito boa, e muito amada também.

-Se a senhora tivesse ouvido as coisas horríveis que eu disse à ela, mamãe! - Começo a soluçar novamente. Mamãe me abraça

-Caleb! Caleb! Vocês se davam bem! E vocês se desculparam, não desculparam?

-Sim... Mas o que eu disse...

-Caleb, ela te perdoou. Agora vamos, temos de nos aprontar para o velório. E seu avó está vindo também.

- E... a... a coisa?- pergunto de cabeça baixo, com medo da resposta.

-A... a coisa? A quem se refere? A-a-ao seu pai? Claude é a coisa?- ela me observa atentamente, com mais receio do que eu

-Ah, nã... Não. O Claude não. O... o.. Car..

-Oh! - Ela me abraça como que para me calar- Não filho, não diga o nome dele aqui.

-A coisa mamãe. O que houve com ele? Está... Está morto também?

-Não. - Ela responde depois de uma pausa. - Mas é como se estivesse.