domingo, 14 de setembro de 2014

Dejavu - Crônicas de U.R.CA Parte || - Final


Dejavu

Crônicas de U.R.CA
Parte ||















-Hoje ele me levou num shopping, e compramos tantas coisas pro bebê, Janetee! - Rosa sorri, olhando o sol pela janela do futuro quarto do filho

-Sério? Ah quero tanto ver!- A amiga se empolga, do outro lado do telefone

-Vem pra cá amanhã! Por favor... Eu sei que você vai estar de folga! Você pode me ajudar a escolher os móveis do quarto..  Dar ideias, essas coisas.

-Tudo bem, amiga! Eu vou adorar ver coisas de bebê...

-Oque foi? Sua voz tá meio estranha...

-É que eu estou no escritório. Não posso dar muita bandeira que a ligação é pessoal né, Rosa?!

-Ah meu Deus! - Rosa cai na gargalhada.

-Mas e aí, falou sobre.. -Janete abafa a voz- aquele assunto, com ele?

-Falei sim.

-E então? Ele disse se vai me demitir agora ou só na próxima quinzena?

-Jane! - Rosa ri- Você é muito exagerada, que coisa!

-Ele te contou tudo?

-Acho que sim. Está triste demais, como você sabe. Até chorou!

-Diz logo que você chorou junto, vai. Admite!-Janete faz a voz soar entediada, e em seguida, as duas riem

-Você tinha razão quanto a ele, Jane.

-Sobre?...

-Eu o amo mesmo.

-Ah qual a novidade?!- a amiga ri

-A novidade é que ele também me ama. Essa é a novidade. Só que eu não entendo! - Rosa andava pelo quarto- Como assim eu me casei com esse homem? Eu?!

-É. Tenho de admitir. Na época, foi um espanto. Todo mundo ficou de cara com seu casamento, amiga!- Janete sorri com as lembranças.

-De cara?...

-Estupefatos! Rosa, Rosa... Rosa e sua mania de falar difícil.... Me sinto redigindo um contrato, conversando com você!

-Imagino que foi a pior das surpresas para dona Nara. - Rosa suspira

-Nem me lembre! Aquela mulher me dá calafrios!

-Oque houve com ela, Janete? Onde ela está? Se casou?

-Olha Rosa, ela casou sim. Com um velho magnata. Desses de filme, sabe?

-Sério?

-Muito mais velho! E ainda por cima, alemão. Só fala em cerveja!  E tem uma pança enorme! -As duas riem- E duvido que ela entenda o resto do que ele diz!


Rosa se senta na sala, lendo um livro que encontrou no escritório da casa. “ A mulher tem o poder” ,  escrito capa. Folheou algumas páginas, e até o achou bem humorado. Mas sentiu-se inquieta, quase como se aquele livro lhe fosse lembrar algo. Algo que, ao que parece, ela preferiu esquecer.

-Tón entretida, nem me viu chegar! - Claude a abraça pelos ombros, por trás do sofá.

-Assim você me mata do coração! - ela ri, porque teve um mini ataque pela surpresa.

-Nem brinque com isso, preciso de você bem vivinha, hã?-  beija sua bochecha

-Que foi? Chegou cedo... - ela o observa sentar a seu lado

-Eu quis fazer uma surpresa. - Claude pisca um olho para ela, que sorri.

-E fez! - a moça se arrepia ao sentir Claude beijar-lhe os dedos.

-Que tal vermos Frazón hoje?

-Jura? Você vai me levar pra vê-lo?

-Vou sim, meu amor. Prometi, non? E eu sempre cumpro oque prometo. - sorri

-Acha que ele vai gostar de me ver?

-Claro que vai! -  Claude a abraça – Na verdade, ele vem cobrando sua visita faz um tempo...

-É sério? Mas eu nem sou tão próxima dele...

-Amour, Frazón é meu irmón do coraçón!

-Irmón do coraçón. - ela o imita sorrindo e lhe aperta as bochechas

-E a senhora, italianinha, é como se fosse cunhada dele, hã?

-Hum.. Então, que hora vamos? Quer ir agora? Por isso veio mais cedo pra casa? - Claude nega com a cabeça

-Vamos jantar com ele. Eu vim mais cedo porque non quis te deixar “ tão sozinha..” -  a imita

-Claude!- Rosa ri.

-Tudo bem. Mas admite que estava com saudades, hã?

-Nem morta! -  cruza os braços.

-Non gostou de me ver, é?- ele se faz de magoado

-Eu.. - Rosa põe os braços em volta do pescoço dele – amei te ver mais cedo!

-Hum.. Tem certeza?- aperta os olhos, a olhando fixamente

-Pensando melhor... - Rosa sorri e Claude a beija repetidas vezes.



Os dois saem de casa deixando uma Dádi “inquieta” como Rosa a descreveu. A governanta estava muito séria, coisa atípica de sua personalidade. Claude disfarçou pigarreando e informou que iriam se atrasar se demorassem discutindo o humor de Dádi.



Serafina estava ansiosa para ver o amigo, e Claude estava muito calado, dirigindo como se estivesse sozinho no carro. Então ela preferiu ficar quieta também, não gostava de ter sempre de puxar assunto com ele. E além do mais, passaram a tarde juntos, rindo tanto, que ela pensou que Claude pudesse estar meio cansado dela.

-Chegamos! - suspira.

-É aqui? - Rosa solta o cinto rápido, como querendo saltar do carro.

-Espere aqui um instante, cherie. - Claude sai do carro e Rosa se afunda no banco, achando que ele iria entrar sem ela.

-Venha, senhora Geraldy. - ele sorri, abrindo a porta para ela e estendendo a mão.

-Pensei que iria sem mim. Avisá-lo, sei lá...

-Vejo que quem está inquieta é você, cher. Toda nervosa, a mon gelada..

-Eu estou mesmo, Claude. -  suspira. - Eu não me lembro de ser amiga próxima do Frazão. Nem de ter me casado com você.. Me sinto perdida!

-Shiii.. - ele a abraça- Desculpe amor. Eu sei, hã? Non se preocupe, eu estou aqui com você. Non confia em mim?

-Eu... Confio. Não sei como pode ser mas.. confio. - eles sorriem um para o outro e entram no elevador.

-Você vai adorar o apartamento dele, é tón alegre!

A porta se abre e uma velha amiga os recebe. Alabar estava namorando firme com Frazão. E adorava Rosa. Mas para Rosa, ela era apenas mais uma desconhecida.

-Entrem! Espero que gostem de fetutini, por que é o que tem pra hoje!- A linda modelo sorri, e Rosa pensa que nunca viu dentes tão perfeitos quanto os dela.

A sala a impressionara. Papel de parede, almofadas de cetim... Rosa nunca vira uma casa tão impecável. Parecia até uma foto de revista de decoração.

-Fiquem a vontade, eu vou buscá-lo.

-Merci, Alabar. - Claude sorri e olha para Rosa, para que se sentem.

-Que foi?

-Nada. É que você está muito quietinha.- ele segura as mãos dela.

-Estou um tanto ansiosa, tenho de admitir.

Não demora muito, o anfitrião chega gloriosamente à sala, em uma cadeira de rodas. Serafina sente um arrepio, quase um fio de angústia por dentro.

-Sallut, Geraldys! - Frazão sorri, parecia abatido, mas feliz.

-Viemos pela boca livre, hã? - Claude comprimenta o amigo, ainda segurando a mão de Rosa. Eles não se levantaram, e Rosa se sentia estranha por isso.

-Vamos, o jantar está servido! - Alabar aparece na porta, tão estonteante quanto antes, e desaparece logo em seguida.

-Sou um cara de muita sorte, a senhora Geraldy deve estar pensando. Ela é maravilhosa, não é Rosa?

-É... Sim. Parece ser uma pessoa incrível. Além de ser lindíssima. - Serafina pisca, tentando parecer natural. Mas estava zonza, e Claude percebeu.

-Tudo bem, amour?

-Tá sim, Claude. Eu só estou um pouco tonta, mas acho que foi pela nossa pequena viagem. Talvez esteja  desacustumada a andar de carro.

-É mesmo... - ele sorri.

Os três vão para a sala de jantar e começam a refeição em clima alegre, porém um tanto silencioso.

-Então, Rosa? Como é essa história de esquecimento, minha querida?- Frazão pergunta zombeteiro. Rosa sorri por ver que ele permanecia o mesmo de suas lembraças, sempre alto astral.

-Pois é, doutor Frazão. Eu realmente não me lembro de boa parte de minha vida. Ou pelo menos, de uns três anos para cá.

-Mas tudo isso?- Alabar se espanta- Já aconteceu com um amigo meu, perder a memória recente por causa de um trauma, uma pancada. Só que coisa de dias, ou meses. Nada tão...

-E é permanente? - Frazão volta a perguntar. Rosa e Claude se entreolham

-Não se sabe, Frazon. Talvez sim, talvez non. Na verdade, pode ser que ela esteja apenas em estado de confusão mental, por conta do stress e...

-Espere, Claude! Está insinuando que eu estou fingindo tudo isso novamente?

-Eu? Non!...

-Epa, epa. Acalmem-se. E contem logo. Desembuchem que eu quero  saber, que isso Claude? Desconfiando da Rosa?- Frazão olha feio para Claude que revira os olhos

-Mas eu non estou desconfiando nada, que coisa!

-E então?- Rosa olha para ele também. Alabar observa tudo calada, pela borda de sua taça de vinho branco

-E enton oque?

-Por que disse aquilo? Acha que eu estou fingindo.. Você esta em direito, Claude. Mas precisa me dizer porque acha isso. Eu estou pronta a ouvir, acredite.

-Cherie, non sei de onde você tira essas ideias, hã?

-Claude eu ouvi claramente, e todos aqui também ouviram você dizer que eu estou em estado de “confuson mental” que pode ser tudo por causa do “stress” e tal.

-Serafina.. -ele protesta, mas Frazão o olha como se também esperasse a resposta

-Diz logo pra ela, Claude. Porque você acha isso..

-Está tarde, hã? Nós vamos pra casa. -ele se levanta e Rosa bufa- Vamos, cherri.

A contragosto ela segura a mão de Claude e se levanta. Os dois prometem outra visita em breve e voltam para casa em silêncio.

-Ainda está irritada comigo?- Ele pergunta da porta do quarto. Rosa se preparava para dormir.

-Não o suficiente para dormir aqui sozinha. Estou me sentindo estranha. Gravidez aumenta a carência, eu acho. - ela se senta na cama, meio melancólica.

-Oque foi, amour? Quer que eu peça pardon?- ele se senta ao lado dela, segurando suas mãos

-Não, tudo bem. -ela sorri timidamente- É só que.. eu me senti estranha quando vi o Frazão naquele estado. Ele até parece bem. Mas está.. diferente. Sofrido, mais magro do que eu me lembro..

-Pra falar a verdade, cherri, toda vez que vejo Frazón me espanto com a magreza dele. - Claude ri da própria piada- Desde que o conheço, desde criança.

-É sério!- ela dá um tapa no ombro dele-  Eu me senti.. estranha lá. Gostei muito de estar lá, mas me senti triste por ele estar machucado. Senti como se eu tivesse culpa..- ela abaixa a cabeça e Claude a abraça no mesmo instante

-Non, amour, nada disso. Você non teve culpa de nada, hã?

-Ei. - Rosa se afastou para olhá-lo- Tem mesmo algo que eu preciso saber  a mais não é?

-Oque?

-Você falou de um jeito, que eu posso jurar que esconde algo mais.

-Rosa, para com essa paranoia. - ele disse sério. E ela o encarou do mesmo modo, até algumas lágrimas denunciassem sua fragilidade transbordante. Claude então as secou com os dedos e depois lhe beijou nos lábios.

-Oque há de errado comigo, Claude? E se eu começar a perder mais a memória? E se eu nunca me lembrar de nada?

-Non pense nessas coisas, amor. Se você non se lembrar, non importa. Porque eu estou aqui, hã? E você está segura. Tem amigos e uma família que te ama e que vai sempre te proteger...

-Você contou para minha mãe?

-Sobre oque?

-Sobre.. eu ter me esquecido e.. sobre o bebê.

-Amour! Claro que ela sabe do bebê. Você contou a ela antes de me contar.

-E sobre eu esquecer..- Rosa o observava atentamente. E pelo nervosismo dele, ela sabia que tinha omitido parte importante da história

-Non, eu non contei. Se eu disser que sim você descobre mesmo, non é? -sorri desanimado- Non, non contei.

-E porque?

-Amour, ela está lá, com Dino jogando num time italiano, Terezinha com o marido... Eles eston.. felizes lá. E além do mais...- Claude emudece.

-Além do mais..?- Rosa insiste o olhando por baixo

-Se eles estivessem aqui, você correria para a casa deles e me deixaria. Tenho certeza.

-Oque?- ela fica ainda mais séria

-Eu fiquei com medo de contar e ela vir correndo te levar embora, amor. - Claude tenta se defender. Rosa estremece

-Não acredito, doutor Claude!

-Oh mon Dieu. Doutor de novo. Mas agora ela está brava!- Se não fosse a situação ela teria rido. Porém agora queria esganá-lo

-É por isso que não me deixou ligar pra ela! -Rosa pega o telefone do criado mudo e põe na mão dele

-Oque?

-Liga. Eu quero falar com a minha mãe agora mesmo, bammo!

-Mon Dieu! Rosa! Já é madrugada lá. Quer deixar sua mãe preocupada, hã?- Ele entregou o telefone de volta a ela que o guardou novamente.


-Mas eu estou com saudades!

-Eu sei... - Claude a abraçou.

-Não de você!- ela tentou afastá-lo sem sucesso;

-Está sim, hã.- ele a aconchega ainda mais e ela desiste.

-Que droga, viu. Será que não se pode mais fazer birra em paz?

Claude ri.

-Je t'aime.- ele sussura no ouvido dela que sente um arrepio- Non fique brava comigo non, cherri. Eu estou assustado com isso tudo, hã? Juro que jamais faria nada pra te prejudicar. Eu te amo tanto.. - Claude beija o pescoço de Rosa que estremece num suspiro.

-Eu estou ainda mais assustada... E com todo direito, Claude. Eu não me convenci ainda de que tudo isso aqui é realidade. De alguma forma, dentro de mim, eu também te amo. Mas não me lembro porque. - Ambos se encaram.

-Meu lindos olhos azuis? - ele sorri e tenta agarrá-la mas ela se esquiva e Claude aspira em seu pescoço

-Não tem os olhos azuis, e talvez não fosse bom que tivesse. Você é lindo, Claude. E esse é o maior problema.

-Queria um homem feio, cherri? Eu a desaponto por non parecer com sêo Afrânio?- Rosa desata a rir

-O conheceu?

-Claro que sim. Em sua mais perfeita forma, bêbado como um gambá. Mas ele é uma boa pessoa.

-Você também é.- Ela o encara

-A senhora, dona Rosa, é a melhor pessoa que eu já conheci em toda minha vida.

-E se casou comigo por isso? Porque sou uma boa pessoa?- ela diz desconfiada

-Já falamos sobre isso, Rosa..

-Quando? Quando você me lembrou que eu devia ter te processado por assédio?

-Oque? - Ele sorri marotamente- Acho que está confundindo. Minha intençón foi te lembrar que tínhamos.. uma química, hã?

-Química? -Rosa levanta as sombracelhas.

-Oui. É isso que nos faz arrepiar em estar perto, as pupilas dilatam, o coraçón dispara..

-Pensei que fosse mais criativo, doutor. -Rosa ri

-Você ainda duvida?

-De quê?

-Acha que nós não nos apaixonamos de forma genuína?

-Eu acho a história muito forçada. Como nós começamos o relacionamento?- Rosa diz e Claude abre um imenso sorriso

-Você quer mesmo saber?

-Porque? Acha que eu não ia gostar de saber?

-Non. Non é nada disso. É que..

-Conta logo, vai.- Rosa se levanta e começa a andar de um lado pro outro. Esperava uma história daquelas, com mentiras, traições e jogos de interesse.

-Um dia nós estávamos a sós em minha sala, você estava me ajudando a preecher uma pilha de relatórios de última hora, para um empréstimo com uma financeira. Enton.. depois de muito trabalho, estava cansado e pedi um café.

Rosa ficara vermelha. Sabia que nessas ocasiões,  algo terrível acontecia. Ela sempre derrubava café na mesa, nos papéis, nas pessoas...

-E a senhora me trouxe um maravilhoso capuccino, com tudo oque se tem direito.

Claude  a olhava de um jeito estranho, e Rosa exigiu que ele prosseguisse com a história.

-E … Eu derrubei nos relatórios? Em você? Desliguei o computador sem salvar os arquivos?..

-Non. Eu quis te agradecer e ofereci uma carona para casa.

-E eu aceitei?

-Ficou ton nervosa.. - ele sorri- esbarrou na pilha de papéis e os espalhou pra todos os lados. E..

-E..?

-Eu virei a cadeira giratória para tentar ajudá-la, mas acabei por pegá-la desprevenida.

-Oque isso quer dizer?

-Que você  se desequilibrou e acabou em meu colo.

-Ah meu Deus!- Rosa esconde o rosto nas mãos

-Foi exatamente assim que você reagiu, amor. Ficou ton vermelhinha, que achei que estivesse passando mal.- Ele sorri

-Oque houve depois, Claude? Dona Nara apareceu naquele instante e desmanchou seu noivado?- ela se aproxima dele.

-Quando foi que mencionamos o nome daquela criatura aqui, hã?- Claude permanecia bem humorado, mas Rosa se surpreendera dele falar da ex-noiva com desdém

-Ué..

-Deixe eu terminar, hã? -Claude a puxa para seu colo- Ou melhor, deixe eu demonstrar. .. Sente-se bem, dona Rosa?- sussurrou em sua orelha

-Claude!- ela tenta se soltar, porque ele agora segurava seus braços

-Será que eu poderia fazer algo para que se sinta melhor?- Claude a ignorava e agora beijava seu pescoço.

-Você não fez isso!

-Fique quietinha, Foi assim que você reagiu, naquele dia.- ele a encarou sorrindo e então segurou em sua nuca e a beijou demoradamente.

Rosa saltou de seu colo lançando-lhe um olhar reprovador.

-O senhor me assediou! Que safado!

-Non assediei non, Rosa. E você nunca reclamou de eu ser...

-Nem complete! Como é que eu pude...- ela fica de costas para ele

-Porque está ton brava? Nós nos apaixonamos, foi simples. - Claude a abraça pelas costas.

-Mas você estava noivo...

-Eu non estava noivo, cherri. Eu tinha um relacionamento com uma mulher linda, mas vazia. E era ton longo que eu non sabia como me livrar dele sem que ela me matasse ou as pessoas me apontassem como cafageste, solteiron sei la oque. Seria ruim para minha imagem largá-la, mas non sentia nada por ela.... E depois, descobri que era recíproco.

-E oque eu tinha a ver com essa história?  -suspira - Já sei. Ficando comigo você diria a ela que se apaixonara por outra e então estaria tudo nos conformes.

-Non. - Claude ri sem humor- Você me atormentava, italianinha.

-Eu? Mas eu sempre fui tão profissional. Discreta. Um tanto feiosa e desajeitada..

-Sabe que no fundo um homem non olha primeiro pra maquilagem nem corte de cabelo, hã?

-Eu sei.. mas mesmo assim! Eu era sua secretária feinha. Como pôde me assediar?

-Non foi assédio coisa nenhuma. Nós tinhamos.. um lance. Non sei dizer. Eramos...

-Meio inimigos. Você me detestava, na maior parte do tempo.

-Claro que non! Eu era louco pra desmanchar aqueles seus penteados ton arrumadinhos e esquisitos.

-Claude!- Rosa ri

-Eu  te queria tanto, que as vezes tinha vontade de te estrangular. E nem sei direito por que.

-Porque me odiava!

-Non... Eu estava apaixonado!  Seu sorriso era sempre ton doce, você tinha um jeitinho ton.. meigo. Até sendo  desajeitada era gracioso.. Você tinha um perfume ton suave e eu.. ficava horas me perguntando porque diabos eu tinha uma mulher perfeita aos olhos da sociedade como Nara, e só conseguia pensar em minha secretária de coquinho.

-Isso não é verdade... Como poderia ser?...

-Eu te beijei naquele dia, como se minha vida dependesse daquele beijo. E de certa forma, dependia mesmo. - Claude a virou de frente para ele, e encostou sua testa na dela - Rosa eu non sabia como, mas eu sabia que eu precisava de você, tanto, tanto.. Você era uma mulher de valores e de ética, sempre ton amável e decidida.. E eu estava ton  encantado...

-Não precisa mentir pra mim...

-Porque eu mentiria? Você era minha flor... A que me dava vontade de ser outra pessoa, só pra estar contigo.

-Isso me preocupa. Quem você era e quem você é agora? Eu não conheço nenhum dos dois Claudes! Eu não me conheço!

-Se acalme, italianinha!- Claude afaga os cabelos dela- De qualquer forma, eu estou aqui chérie. Non vou te deixar nem que me peça.

-Como assim?- ela o encara

-Eu sei que você está confusa e assustada, amor. Mas quero que saiba que independente de tudo, eu amo você. Entende?


-Não. Como você pode me amar?

-Non sei. Mas eu amo, e faria de tudo por você, pelo nosso amor.

Ela  suspira. Sentia-se esgotada. Apenas concordou que era hora de dormir.

Ao amanhecer, o sol irradiava pelo ambiente, espalhando-se preguiçosamente no ar. Rosa abre os olhos de uma vez, como que despertando de um cochilo. Silêncio. Ela podia ouvir o próprio coração, além da respiração arrastada do homem a seu lado.

Era inacreditável tê-lo, pensava. Como ela chegara ali? Sua auto-estima costumava ser seu maior peso, que ela levava como um fardo. Dentro de si, num cantinho escondido, alguma Serafina Rosa ainda carregava um apreço pela própria imagem. Mas essa não era ela.
Tudo oque ela fazia era assegurar a ela mesma que estava satisfeita com a vida que levava. A casa, os pais, amigos, o emprego. E até alguns amores platônicos e livros de romance. Sempre foi mais seguro mantêr-se intocável. Porque abriria mão de seu lugar cômodo e confortável?

-Oque foi que você fez pra me convencer, ein?- ela sussurra, olhando para Claude

-A pergunta certa é oque você, Serafina Rosa, fez pra me prender assim, hã?- Ele surpreende-a ainda de olhos fechados, sorrindo.

-Pensei que estivesse dormindo!-  exclama se afastando um pouco.

-Eu durmo como um felino, cherie.- Claude a olha languidamente. Rosa sente o coração disparar.

-Oh céus... -  senta na cama.

-Que foi?

-Nada, só que eu... eu..- gagueja ao ver que ele estava com menos roupa do que se  lembrava.

-Você?.. - ele a puxa de volta

-Eu... - os lábios da moça tremiam, e Claude encarava-a de forma misteriosa.

-Você?...

-Eu.. acho que...- Rosa se punha ainda mais nervosa porque ele agora tinha os lábios em sua orelha.

-Diga que me ama.

-E.e.eu... - eles se encaram novamente - eu..  amo. Muito. Te amo muito. Há mais tempo do que eu consigo me lembrar...

-Certeza?- Claude sorri

-Bom... - Rosa rola os olhos divertida

-Non se atreva, senhora Geraldy!

-Senhora Geraldy!

-Non, cherri. Eu sou senhor Geraldy. - ele sorri marotamente, piscando pra ela, que estava abaixo de si.

-Deixa eu levantar?

-Non.

-Porque você diz tanto “non”?

-Dizem que indica pessimismo. Mas no meu caso acho que é só hábito mesmo.- sorri – Porque eu estou muito otimista, chérie.

-Ah é? E posso saber o porquê?

-Porque hoje eu vou me casar.- ele sussurra no ouvido dela.

-Oque?!- Rosa arregala os olhos, indignada e confusa.

-Nós vamos nos casar, chérie.- Claude sorri pela reação

-Ué mas todo mundo não diz que já somos...

-Shiii... Era pra ser surpresa, mas non ia dar certo mesmo. Enton, quero que fique mais linda hoje, porque vamos casar de novo. Renovaçon dos votos de matrimônio, pra ser mais exato.

-Claude... E se eu...

-Você aceita, non aceita? - ele beija-lhe o pescoço

-Mas eu... - Rosa tenta escapar mais uma vez, mas Claude segura-lhe os braços acima da cabeça, olhando profundamente em seus olhos

-Rosa... Quer casar comigo, de novo?

-Eu...Claro que sim!- falou ela emocionada. E ao olhar em seus olhos, Claude viu lágrimas contidas até então, lágrimas que ela tinha escondido por não conseguir acreditar que o homem que ela tanto amava estava ali, que todo seu sentimento por ele era recíproco.

-Eu te amo, ma petit.


-Je t'aime, meu amor.

-Você acredita em mim?


-Acredito!- ela fecha os olhos sorrindo- Eu acredito...


É como estar muito viva. E muito morta, ao mesmo tempo.- pensava Rosa.
Um vestido branco e todas as pompas... Para o seu casamento...

Não, não.. Como para o seu casamento, Serafina? Que casamento? Acabou o casamento! Não vai mais ter casamento!

Ela lembrava-se da última vez que olhara para o noivo. Júlio Medeiros Casagrande. Um nome bonito, para um homem bonito. E galinha.

Como ela pôde se iludir tanto? Toda aquela mágoa... Um homem livre! Eu quero ser um homem livre! Livre de você, sua maluca!

Rosa o esbofeteara aos prantos, e saíra daquela paróquia, para nunca mais entrar lá. Uma novena, outra...  e sua mãe a levara de volta à congregação. Mas não para casar!

-Está tudo bem, Rosa? - A voz de Alabar a traz de volta, para um presente totalmente confuso.

-Está.. Eu acho.

-Eu adorei o seu cabelo! Essas flores são tão lindas! Você está maravilhosa!

-Obrigada, Alabar. - ela se concentra na amiga, pelo espelho.

-O Claude vai pirar quando te ver assim tão linda. Mas me diz.. Que carinha é essa?

-É que..

-Já sei. Ainda aquela história sobre os seus motivos. Ou os motivos que você acha que tem...

-Sim. Eu não consigo me contentar. Parece que tem algo faltando... eu sinto!

-Rosa, senta aqui comigo. - Alabar estende as mãos e as duas sentam-se em um sofá de bambu e algodão florido.

-Você vai me contar?- pergunta apreensiva. Sentia uma mistura de medo e alegria

-Vou. Eu acho. Mas tem que me prometer que não vai pirar.

-Eu... Eu prometo. Mais pirada do que estou agora, acho que não fico.

-Não deveria te dizer nada, mas... Acho que você tem todo o direito de tirar esse aperto do peito. Você está um tanto vulnerável.. e somos amigas. As melhores! Roberta não esta aqui mas.. Eu sei que ela faria o mesmo por mim. E por você.

-Alabar.. Fala logo!

-Eu vou te contar. E aí você decide se renova os votos com aquele homem de sapatos brancos ou não.- Alabar ri e Rosa deixa escapar uma lágrima em meio a sorrisos

-Eu te agradeço por me dar essa chance, Alabar. Você está me provando uma lealdade que eu não imaginava possuir.

-Que bom! Agora escute, não é nada tão grave. Não da parte do Claude...

- - - - - - -  - - - -



A igreja não estava lá muito cheia. Mas era tradição. Juraram nas bodas de papel. Essa seria a terceira vez que “se casavam”.

Claude sorri lembrando-se de que, para Rosa, seria a primeira vez.

-Acho que ela vai se atrasar um pouco além do normal...

-E porque Frazon?

-Porque Alabar decidiu ter uma conversa séria com ela, antes.

-Oque?!- Claude disfarça, pois dera um berro num momento de silêncio.

-Acalme-se, amigo. Ela está certa, Rosa merece saber o porque desse sentimento dela. Da provável razão de ela estar assim...

-Frazon e se ela não vir? Se ela decidir ir embora?

-Calma, Claude. Ela te ama.

-Eu devia te estrangular. Que amigo, ein?!




Depois de longos minutos se corroendo por dentro, Claude ouve os instrumentistas anunciarem a entrada de sua “noiva”. Ele quase chora ao vê-la tão mais bonita do que se lembrava.

-Você veio!- Ele sussurra a ela, tomando sua mão e levando-a ao altar.



Os olhos de ambos estavam turvos, uma alegria mesclada com uma dor de quase morte. Não era possível amar alguém tanto assim.


-Você veio!- Claude ainda a olhava com a mesma expressão boba, os olhos marejados fitos nos dela, a boca frouxa

-Eu te amo! - ela lhe sussurrou. Mas logo os amigos presentes os separaram para parabenizar pelos votos renovados, “algo tão incomum nos dias de hoje”.


-Ela já sabe?- O noivo bebe um pouco da champanhe que sua madrinha de casamento lhe oferecera.

-Sim Claude. Eu sei que você está bravo comigo mas...- Alabar se surpreende por ele a abraçar

-Obrigado, All. Non sei como eu faria isso sozinho.


Rosa os observa de longe, e quando encontra o olhar de Claude, uma onda de ternura  a envolve.

Eles haviam engravidado e sofreram um aborto espontâneo por duas vezes nos primeiros seis meses de casamento. Rosa estava frustrada e o culpava por deixá-la sempre tão nervosa. Na verdade ela sabia, que tudo oque ele fazia era para agradá-la. E ela queria, de todo o seu ser, dar um filho a ele. Fazia acompanhamento médico, tomava remédios.. Mas não conseguia. Estava deprimida e ansiosa! Queria que sua vida “começasse”.

Casamento sem filhos não é casamento. Você está envelhecendo. Veja como o tempo passa depressa. Nunca vai gerar um filho...

Ela leva a mão ao ventre. Ele estava ali. Seu presente. Deus lhe dera. Mas então porque todo o alvoroço?

Sua pressão poderá subir além do normal. Tenha cuidados redobrados e não se estresse.  - médico maluco. Acaso ele sabe oque é ser a senhora Geraldy? Modelos e mais modelos correndo atrás de seu marido. Socialites enlouquecidas pelo numero de telefone de Claude.  E seu sangue italiano!

Ma che!

Um dia ela encontrara um cartão meio amassado num paletó dele. “Sandra Albuquerque, massagista” Escrito em letras garrafais, um e-mail e telefone em cor-de-rosa. E um beijo de batom no verso, selando um número adicional -à tinta! Era mais do que ela podia ignorar. Ainda mais ele estando tomando um banho daqueles, pra sair para um jantar de negócios sem ela!

Ela esperou ele descer as escadas, ligou para Alabar, para que a encontrasse duas esquinas antes do endereço do spa de “Sandra Albuquerque, vigarista”. Ah mas ela arrancaria os bofes da mocreia! - foi oque Alabar lhe contara hoje mais cedo. Mas algo inesperado acontecera. Frazão decidira interceptá-la antes que chegasse ao destino. E Claude estava no carro, a espera do amigo.

Quando então ela se deu conta de que estava enganada, esquecera de pisar no freio. Frazão foi arremessado metros à frente. Hospitalizado. Talvez perca a perna.

Sua louca! Quero ficar livre de você!

Pensamentos torturantes.. Ele não te ama, tem pena de você!
É culpa sua! E se Frazão morrer?! Se não poder mais andar?!

Por todos esses motivos, ela decidira que Claude deveria odiá-la. Ela não merecia estar com ele. Não engravidara porque Deus jamais confiaria um filho à uma desequilibrada!

- Pare de gritar comigo, Serafina! Ei, espere! Oque está fazendo?!

Ela jogara o notebook de trabalho dele na privada, e apertava o botão de descarga quando ele lhe abraçou pelas costas.

-Oque está tentando provar? Quer me enlouquecer? - ele sussurrou em sua orelha enquanto ela chorava, correspondendo a seu abraço.


O dia em que descobriu que estava grávida novamente foi o mais lindo de todos. Fora correndo à clínica contar para Frazão. Pediu perdão mais uma vez e chorou litros como em todas as visitas.

-Nunca mais vou dirigir. Eu prometo!

Claude a amava tanto. 'Como alguém pode me amar?' Ainda mais se tratando dele...

Mesmo que ela quisesse, não poderia esquecer. Então passara a ter mil neuras, até o dia em que rolou escada a baixo. "Talvez fosse melhor nunca termos nos conhecido de verdade... " fora seu último pensamento consciente. Mas Claude não pensava assim.


Agora ele estava ali, ainda a envolvendo nos braços, celebrando estar com ela..

-Eu sou teu. - ele sorriu enquanto lhe acariciava os cabelos . Os olhos dele dizem isso. E em seu coração ela sabia que dizia a verdade.



- Quase estraguei tudo outra vez, não foi?

-Non. Fui eu. Você acreditava em mentiras e as tinha como verdades. Non foi você que estragou o casamento com Júlio. Foi ele mesmo que se afundou nos vícios dele. Por isso ele está lá onde está hoje. Numa jaula, sozinho.

-Ele disse que...

-Non foi sua culpa, amor. E eu tenho de agradecer por ele non ter sabido aproveitar a chance de se casar com a mulher mais linda do mundo, hã?- Claude a aperta em seus braços e ela sorri

- Mentiroso!

-Tá muito cedo pra me xingar, chérie. E ainda temos convidados.

-Ah! - Rosa fica vermelha

- Agora entende o que eu disse no outro dia? Eu non a deixaria nem que me peça! Você é parte de mim..

-Sou o teu lado descontrolado?- ela pisca e ele sorri

-Oui. Meu furacón...




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Quando se duvida do amor de alguém, não importa quanto esse alguém te ame, se você não acreditar nele, você jamais poderá recebê-lo.
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