Penumbra- Capítulo 63

Le Etenel Amour

Tulipe Rouge

Pode até ser que tudo acabe bem. Claro. Vai ficar tudo bem. Tenho apenas de confiar. Não pensando se minha vida dependesse disto: esperança. Mas sabendo que minha vida depende disso. Eu sei, eu dependo.



Rosa


Queria apenas acordar e não me sentir assim, como se estivesse sempre caindo. Aquele frio na barriga, o enjoo que não é gravidisse.
 É o frio do medo e da incerteza. Tento não esperá-lo. Seria mais fácil deixar de pensar nele e criar expectativas.
De qualquer modo, tenho certeza de que agora ele me odeia. O lado bom da história nesse caso, simplesmente é inexistente.

-Por favor, eu quero uma caixa de calmantes. Será que pelo menos a dormir tenho direitos?

-Lamento, senhora. Não estou autorizado a interagir com a senhora mais do que o necessário. Queira me perdoar.

-Mas eles cortaram meu telefone! Eu preciso dormir sabia?!

-Posso pedir um chá de camomila, o que acha?

-Eu quero os comprimidos! Você diz que não pode interagir comigo! Ah!- esbravejo. Logo depois, vejo apenas que fui transportada para a cama do aposento, e largada lá, e ouço a porta ser trancada.

“Andou se comportando de má vontade, senhora. O patrão pediu que ficasse de repouso... Por três dias pelo menos. Então, senhora permanecerá no hotel.”


Claude


Rosa... Porque você foi aparecer em minha vida? Porque tão intensa? Tão cativante, tão...

Agora, de fato, oque eu poderia esperar de mais emocionante em minha vida? Quando eu tive e perdi o maior presente de meus dias? Oque mais de novo esperarei?

E agora, de fato, uma força me guia até você. Me puxa até você... Mesmo nos céus, pelos ares, atravessando o continente... De um lado a outro, nas ruas...
E em fim, o céu azul de Lisboa. Uma esperança. Uma rosa.. a minha flor. Antes dela, quase-vida. Mas depois dela...


-Senhor, por favor, sabe me dizer onde fica este lugar? O ponto exato onde a foto foi tirada, na verdade.





Olho através do vidro do taxi. Um calçadão e pessoas andando de um lado pro outro. Cachecóis esvoaçantes. Nuvens escuras vindas do mar. Chuva forte na certa.


Alguns de meus velhos amigos que serviam por essas bandas, me deram todas as dicas de que precisava. E lá estava o velho hotel três estrelas, onde muito provavelmente Rosa estaria. O dono, pelo que eu soube, é um dos comparsas de Carlo, bem como um vendedor de drogas ilícitas.



A feição das pessoas pelos arredores já me confirmaram- ali era o lugar, sem dúvidas. Mas eu não poderia simplesmente me apresentar e pedir um quarto. Precisaria de um disfarce, ou de pelo menos livre acesso ao local.

Esperar anoitecer é ainda mais vantajoso...

- Você ficou maluco, Claude?!- E tenho de afastar o telefone da orelha, com o grito de Frazão.

-Frazon... Eu precisava vir, hã? Se ela non estiver aqui eu..

-E se for uma armadilha?

-Non. Eu confio em Deus. E além do mais..

-Além do mais oque, Claude? Rosa foi sequestrada e...

-Non Frazon. Rosa foi chantageada. Mas eu vou levá-la pra casa.

-Claude você é maluco, esses bandidos vão...

-Non vão non, Frazon.

-Como você pode ter tanta certeza assim?

-Deus me deu um sonho Frazon. E eu sei que é verdade o que Ele me mostrou, hã? E eu sei que preciso estar aqui agora. Não posso esperar! Ou vou perder um tempo que non volta mais. E non vou perder isso de novo!



Rosa


Estou agora presa aqui dentro há umas duas horas. Consegui roubar o revólver reserva de meu guarda costas, quando ele me carregou até aqui. O closet é meio apertado, mas pelo menos ainda não vi nenhum inseto. Ainda.

A única luz existente vem da janela, da rua até aqui, onde chega em pequenos raios que atravessam as frestas do armário onde estou. Não há qualquer ruído..

Até que um estrondo me faz levantar de súbito. Passos. Tudo oque vejo ainda é o breu da noite. Meus olhos giram nas orbitas em pânico.

Deus não quero morrer, não ainda!

Um solavanco e a porta é aberta. Dou um passo atrás, vendo uma figura masculina se formar a minha frente.

“Ele se cansou e veio acabar comigo. Está satisfeito e agora tudo acabou para mim.. Porque iria me manter por muito mais tempo?”

Aponto a arma para a sombra, mais ou menos onde parece ser a cabeça

-Não se mexa! Eu juro que não exitarei em meter uma dúzia de balas na sua cabeça, seu desgraçado!


Vejo que meu oponente há muito me mantinha em sua mira. 'Estou morta', pensei. Não tenho a menor chance. Por mais estérica que eu estivesse, a arma não parecia uma possibilidade real. E mesmo que fosse, eu nunca atirei em toda minha vida!


-Saia daqui, mas que droga! - mantínhamos um impasse, apenas o som de pulmões nervosos em busca de ar.

-Non posso. Eu nunca mais vou sair de perto de você, chérie.- a voz era trêmula, chorosa. Mas tão cheia de verdade e de pesar, que sem pensar, eu dei um grunhido.

-Você me odeia! Veio me matar!- pisco freneticamente, sentindo algo escorrer por minhas bochechas e apontando a arma para aquela sombra que agora parecia brilhar na penumbra

-Non! Rosa, non! Je t'aime! Eu te amo! Eu te amo com toda minha vida! Abaixa essa arma, vamos!

-Não! Abaixe a arma você!


Claude


Então, novamente, era como estar caindo. Um abismo infindável se abriu sob mim.

Ela me olhava como se não me conhecesse. Ou como se eu não a conhecesse.


-Está bem. - abaixo a arma. E ela, ainda apontando tremulamente para mim, dá dois passos a frente e liga a luz do ambiente.

Me encarou por dois minutos, com os olhos vertendo água e então, sacudiu a arma para longe, vindo correndo para meus braços.

Choramos  um no abraço do outro.

-Não podemos ficar aqui! Claude eu...

-Shiii, calma. Está tudo bem. Pelo menos pelos próximos 40 minutos. Mas temos que sair silenciosamente, non podemos dar alarde e...

-Não.

-Non?

-Eu não posso ir com você.

-Mas e porque?!

-Eles vão matá-lo! Eu não suportaria! eu..

-Shii.. Rosa, temos de ir. Se você quer ir ou non, pouco importa! Meu filho non vai ficar longe de mim mais nem um segundo!

-Oque? Mas cadê o Caleb?- Arrasto Rosa pelo corredor escuro, até a escadaria.

-Está em Paris com o avô.

-Então porquê disse que...

-Shiii.. Há alguém no corredor.- fecho a porta. - Non podemos ascender as luzes. Então vamos descer de vagar.


-Está bem... - Rosa concordou debilmente. Ainda parecia abalada demais. Porém a viagem era mais do que necessária. Era urgente.