sexta-feira, 18 de julho de 2014

Capítulo 62- Paix



Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


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É realmente a melhor escolha. Perdoar é a melhor escolha. Até porque, o rancor que se guarda é como um veneno que se toma esperando que outrem morra.

-Entendo. Mas o senhor acha que é fácil? Simples assim?

-De maneira alguma, filho. Certamente perdoar nos dói muitíssimo. Porque significa cortar um laço que nos une a outra pessoa. Um laço de ódio. Você consegue entender isso?

-Acho que sim..
..
-Não é apenas um simples palavriado. Perdoar é libertador. Para você, para o ser agressor..

-Tenho tanto a fazer. Por onde começar?

-Por onde sempre se começa. Pelos mais próximos.

Sinto um calafrio percorrer todo meu corpo. Uma espécie de ansiedade me acelera o coração e me faz ofegar, suar frio. Mal dormi. Mal comi. Mas percebo que durante anos, eu mal vivi.
Tudo por carregar tamanha carga e tantas maledicências, que chego a repensar seriamente as culpas de minha vida. Seria então minha culpa tanta desgraça me cercar?
Como eu poderia não sofrer?
Mas hoje eu vou me entregar. Apresentarei minhas causas diante dAquele que julga a todos. E então, terei paz.







Janete


Eu confesso que se eu não tivesse visto com meus próprios olhos, não teria acreditado.
Claude e Henry Geraldy, abraçados, sorrindo. Onde se veria tal cena?
O velho Henry já havia desistido de fazer as pases com o filho. Muitas tragédias aconteceram, mas nenhuma delas havia sido suficiente para que o perdão mútuo fosse liberado.
Mas o que era necessário acontecer não era uma mudança externa, e sim uma interna. Em ambos.

Passaram-se três meses desde o casamento de Rosa e Claude. Três meses desde q ue um imenso abismo se abrira em nossas vidas e mentes. Um filho sem mãe, um marido sem esposa, e eu sem minha melhor amiga.
A conhecendo como conheço, presumo que ela esteja tão mal quanto eu. Ela nunca mais ligou desde aquele dia, há dois meses. E talvez seja tudo por minha culpa. Ou não.

Espero que não.

-Amor, você não acha que o Claude parece melhor, depois que voltou a falar com o pai?

-Realmente. É como se parte do peso que ele carregava nas costas tivesse desaparecido. Só que ele ainda não parece bem. Apesar de que tenho de reconhecer, ele parece mais lúcido.

-Eu diria, mais calmo.

-Sim! Como se soubesse de algo que nós não sabemos.

Olho pela vidraça e lá está ele: Claude sentando numa das mesas do restaurante de seu Giovanni com Caleb. O pequeno faz o dever de casa, e ele como bom pai, observa atentamente e ajuda em caso de dúvida. Sorrio.







-Acho que o Caleb é parte importante nessa serenidade.

-Com toda a certeza.


Rosa


Acho que hoje finalmente eu conseguirei alcançar meu objetivo:
Fugir da cola deste marginalzinho de araque que vem me perseguindo desde que liguei pra Janete. Acontece que na época eu não me liguei no óbvio:
Sabendo o número do meu quarto de hotel, claro que o telefone estaria grampeado.
Fui tão burra!

Mas agora que já sei que estou sendo vigiada, montei meu esquema para sair por pelo menos algumas horas da vista dos bandidos de Carlo.


-Por favor, senhora, estes aqui.- aponto os doces. Os melhores do mundo! Como pelo menos um todas as tardes. As vezes às manhãs também.

E o céu sempre azul. Pelo menos é assim que o vejo. Azul e infinito. Gostaria de ser um pássaro e voar para bem longe. Para onde minha família está. Onde meu coração está.

Se eu conseguir despistar os meus guarda-costas... Posso até fugir do alcance de Carlo..
E talvez até consiga fazer com que Claude me encontre...


Nem quero sonhar muito com isso, pois me dá calafrios. Tenho medo de que ele não me perdoe, que ele não me aceite de volta! Ou que algo dê errado!

Há tanto a se perder! Mas caso dê tudo certo, oque se ganha vale tanto que posso dizer que vale toda a minha vida!

É exatamente isto. Seria como respirar novamente....





Claude



.-Papa..? - escuto logo atrás de mim, a vozinha mais linda do mundo. Fecho os olhos só para esperar ouvir outra vez- Papa?

-Oui filho? -sorrio, me virando para encará-lo.

-Podemos ir no vovô Henry hoje à noite para o jantar? Ele nos convidou faz uma semana e hoje ele me ligou pedindo para insistir com o senhor! -Caleb sorri meio encabulado, por medo de que eu o repreenda.

-Podemos sim, Caleb. Vá se aprontar. Papa tem de ler uns e-mails.. mas já vou também.

Ele alarga o sorriso em resposta, acentindo com a cabeça. E então, o vejo girar nos calcanhares e correr para o quarto.
Me volto aos e-mails, maioria enviados por Frazão, a respeito de minha empresa em Marseille. O deixei como responsável pelos contratos e por vistoriar a locadora de quando em quando.

Mas então um e-mail me saltou aos olhos:

Assunto: Tulipe Rouge.
Remetente: Senhora flor.


Ainda que correndo o risco de ser um vírus, abri o documento, assim como o anexo. Na imagem um a foto do porto de Lisboa, era o que se lia na descrião da imagem. No texto, um pedido de socorro.

Je ne suis riem, sans toi”


Na mesma hora, todo o meu sangue ferveu. Meus olhos choraram, o mundo girou mais rápido do que nunca. E se ela estiver lá? E o que sou eu sem ela?

Para então novamente eu entrar em desespero. E se for uma armadilha?

Deus me ajude!
Não posso deixar Caleb. Se fosse só por mim eu iria sem dúvidas, no mesmo instante!
Senhor me dê um sinal...


Ne crains rien, car je suis avec toi; Ne promène pas des regards inquiets, car je suis ton Dieu; Je te fortifie, je viens à ton secours, Je te soutiens de ma droite triomphante.

Isaías 41: 10




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