sábado, 7 de junho de 2014
Crônicas de U.R.C.A- Espelhos
Havia um certo rapaz, que vivia reclamando de tudo em sua vida. Reclamava de como estava sempre nublado, das risadinhas fora de hora, e até das moças demasiadamente atiradas.
Ele porém, não era lá má pessoa. Presava a modéstia, as delicadezas e também a música. Se encantava pelas pessoas simples e sinceras, apesar de jamais admitir tais coisas.
Ele precisava parecer forte e inalcançável em todos os momentos, caso contrário, ele estaria decepcionando os pais. E isso não o poderia suportar. Sentia-se profundamente angustiado e abalado quando a mais leve brisa soprava sobre sua reputação de herdeiro perfeito e competente. As empresas e todo o império que sua antiquissima família construíra ficaria em suas mãos! Fora nascido e criado para isso.
Então ele passava seus dias contando os próprios passos, sendo cuidadoso com tudo oque fazia. Mas tamanhos cuidados nem sempre eram o suficiente. O que mais poderia fazer?
Era como um ímã de confusões! Batera o carro do pai, perdera uma joia de família num jogo de pôquer -no qual estava toda sua reputação como melhor em tudo.
E até sua namorada da faculdade, que ele julgava ser a garota ideal, o fez passar por maus bocados. Ela era a mais bonita e a mais popular, mas não a mais confiável.
Assim era sua vida, repleta de tensões por todos os lados. Como um rio corrente no qual ele tentava desesperadamente nadar, mas a correnteza sempre o deixava exausto. Sendo assim, quando o chamavam -aos sussurros e risadinhas irritantes- de carrancudo e de 'poderoso chefão', sentia-se injustiçado e demonstrava isso aumentando o grau de sua rudeza.
Até que seu tio, irmão de sua mãe, disse-lhe algo que o inquietou até a alma. Disse que se ele não houvera nascido tão bem, jamais conseguiria chegar num nível tão alto na sociedade. Seu tio o apontou como um homem comum e sem qualidades marcantes. Seu pai estaria estremecendo no túmulo por deixá-lo pôr todo o império da família em ruínas!
Então, assim que conclui seus estudos até o nível de doutorado, decidiu passar um tempo na América, para então se instalar em algum país promissor, e ali expandir o império de sua família, fazendo com que seu querido tio engolisse cada palavra vexatória que lhe aplicara.
-Por favor, eu preciso de um táxi. - Claude pede ao recepcionista do hotel novaiorquino, no qual ele tinha passado toda sua estadia na cidade, contabilizando quase um mês.
-Sim, claro. Só um minuto senhor. - uma voz feminina responde, oque o faz estranhar. Não se chamava Rogério o recepcionista da tarde?
-Tudo bem...- ele então reparou na moça. Uns vinte e poucos anos, no máximo vinte e seis. Estatura média baixa e um pouco magricela, ele achou. Mas tinha olhos brilhantes, mãos delicadas e um sorriso arrebatador.
-Senhor? - A entonação na voz da moça denunciava que ele estivera perdido em pensamentos, enquanto ainda olhava fixamente para os lábios sorridentes dela.
-Oui? - Claude decide franzir a testa e voltar a usar sua fatal indiferença de sempre.
-O táxi que o senhor pediu chega em cinco minutos. Deseja algo mais?
-Oui... Non.. - Ele sacode a cabeça percebendo a própria confusão. Concentra-se em pronunciar o inglês na mais perfeita forma possível
-Não desejo não, obrigado. Aliás, moça, me desculpe a pergunta mas é que eu estava habituado com o Rogério, onde ele está?
-Ah o Rogério... - ela tamborila com os dedos no balcão, de olhos baixos- Ele... Ele me pediu para cobri-lo hoje.
-Oh. Mas está tudo bem ? Simpatizo bastante com ele.
-Sim! - ela disse tão depressa que o surpreendeu e ela logo percebeu- Quero dizer, bem, acho que teve de visitar um parente doente, algo assim... - ela dá os ombros ainda com os olhos um pouco arregalados.
-Então, espero que fique tudo bem. - ele se vira para sair, sentindo que algo estranho pairava no ar, apesar de não conseguir entender o porquê. -Obrigado, e desculpe o incômodo.
Ele acena e sai o mais normalmente que consegue. Havia algo diferente naquela moça, ele tinha certeza. Ela não era de todo incomum, mas ele não podia negar que naqueles olhos ocultavam-se alguns muitos segredos, ou mistérios. A baixinha era como uma daquelas paisagens, que ao se olhar de relance nada sobressai, mas quando se observa bem, perde-se o fôlego.
Mesmo em meio a tanta correria, Claude não pôde evitar que certa moça tomasse seus pensamentos. Porquê? Ele não sabia explicar a si mesmo ou apontar um só motivo para tanto alvoroço. Ela era, como já havia assegurado para si mesmo, comum e simples. E depois da segunda frase, aquela moça ficara um pouco constrangida em olhar em seus olhos. O que roubou-lhe um pequeno sorriso disfarçado.
Era um caçador, apesar de saber não necessitar. Ainda que não se apresentasse, algo nele denunciava que era alguém poderoso, no mínimo influente. Claude não sabia disso porque tentava sempre provar tal coisa para o mundo. Queria bastar a si mesmo, mas não podia. As palavras de seu tio Pablo lhe asseguravam isso.
A noite chegou, e ele decidiu jantar num lugar mais descontraído do que os super restaurantes onde “pessoas como ele” estariam por todos os lados. Estava cansado de cumprimentar bajuladores ou esnobadores. Queria ser uma pessoa normal- ou quase. Queria voltar a ser aquele garoto da faculdade que ele costumava ser. Então, encontrou uma cantina italiana bem animada, onde algumas crianças faziam birra, adolescentes comiam pizza e bebês se lambuzavam com molho. Alguns casais conversavam de tão perto que custava a se identificar que se tratavam de duas pessoas, e o cheiro delicioso da comida emanava de todos os lados.
Com um suspiro, ele se sentou numa das mesas e esperou o garçom, que não chegou. Só que ele estava faminto demais para esperar e decidiu ir até o balcão, onde encontrou a moça que passara o dia inteiro se intrometendo em suas reuniões e embaralhando seu inglês.
Claude tentou sorrir. Tentou. Apesar de estar furioso consigo mesmo por sentir aquilo, aquele frio na barriga aquela vertigem... Oque era? Uma garotinha de seis anos? Iria enrubescer? Gaguejar? Ele só vira a moça sorridente uma vez, por menos de cinco minutos. Nem sabia seu nome!
-Rosa! Que bom que veio! Estava mesmo falando a seu respeito com meu irmão!- uma garçonete loirinha e rexonxuda sorria para a moça de quem Claude mal podia tirar os olhos- Disse a ele que precisa te conhecer! Ele precisa!
-Donna, que coisa! Eu já disse que não quero conhecer ninguém por agora! Estou focada em minha carreira! E além do mais, vou voltar a meu país na semana que vem.
-Não me diga! - A voz grave parece ter estremecido até os ossos da jovem Rosa, porque foi tremendo que ela reparou na figura do “hospede bonitão” como sua amiga havia lhe descrito o senhor do quarto 508. Ela admitia que ele era bonito, mas não admitia que ele era bom para ela. Ou talvez ela não fosse boa o suficiente para ele.
-O..oi. -gaguejou a moça, se mexendo de maneira estranha no banco do balcão. O movimento de seus olhos denunciam que ela pensara em fugir dali.
-Desculpe se a assustei, senhora. - Claude continuava a encará-la, sem perceber. Ouviu uma voz meio longínqua que assumiu como a da loirinha, se desculpando e saindo de perto dos dois.
-Senhorita.- ela o corrigiu de maneira natural, em voz baixa e sem mudar de expressão. Séria.
-Tudo bem se eu conversar um pouco com você?- ele perguntou de maneira sutil, mudando um
pouco o tom de voz. Talvez tivesse finalmente percebido que a olhava como um predador à presa!
-Tu.tudo.- ela se virou para o balcão. Mas podia ouvir a respiração do estranho, apesar do restaurante estar lotado.
-Você... me daria a honra de me acompanhar numa refeição? Não tenho amigos aqui e é tão ruim comer sozinho!
-Eu estava...- ela parecia constrangida, Claude pensou. Mas não podia resistir à curiosidade crescente sobre ela.
-Ela estava aí justamente esperando uma mesa, senhor! - A loirinha reaparece com uma bandeja de pratos sujos, e pisca para ele- E está lamentavelmente desacompanhada, tenho certeza de que ficará lisonjeada com sua companhia!
Rosa suspira derrotada, meneando a cabeça em direção à Donna. Claude sorriu imaginando que ela estivesse xingando a amiga em pensamento.
-Então.. Vamos? Eu tenho uma mesa e... ali!- ele apontou a mesa vazia, e Rosa sorriu forçadamente com os lábios e se sentou. - Eu ia puxar a cadeira para você, mas foi mais rápida.
-Puxar minha cadeira? Para quê? Eu iria cair!- ela disse de forma séria, quase indignada. Claude não resistiu e caiu na risada.- Está rindo?
-Desculpe moça, nem nos apresentamos. Meu nome é Claude, e o seu?
-Serafina Rosa...- respondeu desconfiada.
-Que bonito nome! Então Rosa, é que eu iria puxar a cadeira para que você se acomodasse nela. Não era para você cair não. Sou um cavalheiro, hã?- Claude arruma a gola da camisa.
-Ah, entendi. Então, o senhor me desculpe.
-Não me chame de senhor, por favor! Acha que sou tão velho assim? Que idade me dá?- ele sorri
-Hum... uns trinta.. trinta e cinco...- ela meneou a cabeça e um garçom serviu vinho tinto aos dois.
-Tenho trinta e dois. Viu só, não estou tão velho para ser chamado de senhor, é?
-Desculpe. Mas é que eu o conheci enquanto estava em expediente de trabalho. E é por educação mesmo, se-nhor. - ela sorriu pela primeira vez na noite, e algo neste gesto trouxe Claude para a vida.
-Então, se é assim, tudo bem. - ele devolve o sorriso a ela.
Logo eles estavam conversando animadamente, como se conhecessem há muito tempo. Ele comentava sobre como gostava da culinária italiana, e Rosa agradecia, por ser de ascendência italiana. Disse que sentia-se elogiada.
-Entendo que aqui há uma colônia considerável não é?
-Sim, sim. Mas de onde eu venho é ainda maior.
-Se perdoa a pergunta, de onde você veio?
-De São Paulo, Brasil.
-Hã... Por isso disse que iria voltar a seu país?- ele sorri e ela cruza os braços.
-Estava ouvindo minha conversa?!- ela sorri estupefata.
-Não pude evitar, hã? Me desculpe, outra vez.
-Tudo bem. - acena - Mas então, e você, de onde veio? Louisiana? - ela o olha de esguelha e ele ri-
Vai ficar bastante tempo aqui?
-Sou da França. Mas pra falar a verdade, ainda não sei. Tenho esta semana para decidir, e ver o que vou fazer da vida. - Claude observa o vinho dentro da taça e os dedos de Rosa.
-E sua família? Talvez ajude na decisão.
-Meus pais morreram ano passado.
-Oh, sinto muito.
-Obrigado.- ele levou a mão ao peito. E ela queria que ele parasse de a olhar daquele jeito, mas o moço ignorava o fato.
-Não tem... mulher?filhos?.. - ele negou com a cabeça- Uma namorada?
-Non.
-Um cachorro?
-Non.- ele deu um sorriso cansado e ela quase teve pena dele.
-Então... Oque te move?
-Não sei. Eu estou procurando um bom lugar para montar uma empresa e então criar uma vida.
-Isso parece importante. - ela afirmou pensativa.
-Realmente. Acho que minha vida depende disto. Não quer me ajudar?
-Eu?- Rosa riu- Como eu poderia ajudar o senhor?- ela apontou para o fraque que ele vestia.
-Oque quer dizer?
-Como alguém tão... arrumadinho e certinho poderia ter algum bom conselho da parte de alguém tão..
-Tão?- ele suspendeu uma sobrancelha e a analisava com os olhos. O que fez Rosa estremecer.
-Quer parar de me olhar assim?!
-Assim como?
-Assim, como se eu fosse uma aplicação de mercado!
-Ah então você é analista?
-Oquê?
-Porque não me disse logo, eu preciso mesmo de um analista!
-Psicológico?- ela zombou
-Financeiro! Não mude o assunto. Me conte, porque estava na recepção do meu hotel?
-Ah, quantas perguntas!- Rosa suspirou segurando a cabeça numa mão.
-Mas eu só fiz uma..
-Eu sei. Mas é que você irá fazer, quando eu responder essa.
-Viu só.- ele apontou para ela- Analista. São todos iguaizinhos. Você parece ser boa. Por favor, prossiga.
Então Rosa contou que estava nos Estados Unidos há um ano e meio, fazendo seu MBA e estagiando numa empresa que atuava no setor imobiliário e hoteleiro. E que Rogério, o recepcionista do Londres Tow, o hotel em que Claude a conhecera, era seu colega na faculdade, na turma de inglês intensivo, onde complementava os estudos. Rogério era mexicano, Claude já sabia.
Eles terminaram a noite rindo e fazendo planos absurdos, como construir uma cidade inteira para crianças e comprar dois ônibus espaciais. Mas isso era efeito do vinho, só podia ser. Combinaram de almoçar juntos na quarta-feira, para que Rosa explicasse um pouco mais sobre o mercado imobiliário brasileiro, pelo qual Claude se interessou muito.
O lugar escolhido era bem aconchegante, porém nada barato. Rosa reclamou do fato, mas Claude insistiu em pagar a conta de ambos.
-Eu acho que seria ótimo exercitar meu português, hã?
-Ah meu Deus, você fala português?! - Eles conversavam agora neste idioma, apesar do sotaque inegavelmente francês de Claude sempre a desconcentrar e ele precisar fazer uma pausa para que Rosa se recuperasse dos ataques de riso.
-Porquê é tão engraçado?- ele a olhava de forma séria, e ela se forçou a encará-lo com a mesma compostura de antes.
-O seu inglês é perfeito. Tão britânico que achei que você fosse um lorde galês
-Obrigado.
-Não finja que gostou. Sei que como francês você odeia o U.K.
-Não quando estou com você. - ele deixou escapar. Mas não se decidia se fora de propósito ou não. Sentia-se exposto por que não estava mentindo. Ele não odiava nada quando estava com ela. E oque dissera era a mais pura verdade. Não era uma frase de efeito, mas sim uma espécie de confidência.
-Oque quer dizer?- ela parou de rir e o encarava de forma doce. Claude estava convencido de que era uma armadilha. Rosa certamente era acostumada a receber cantadas e essa era tão ridícula que ele preparou-se para o ataque dela. Fingiu que estava só brincando, deu os ombros e sorriu.
-Mas me diz, o que achou do Brasil?
-Promissor. Estou tentado a ir até lá conferir.
-Tenho certeza de que não iria se arrepender.
-Que tal se me ajudasse?
-Eu?
-Oui. Você é analista de mercado. E você é brasileira...
-Mas estou no começo da carreira.. Não sei se posso ser boa o suficiente para conduzí-lo por bom caminho neste negócio.
-Non estou pedindo que faça tudo sozinha. Tenho um amigo que me dará o parecer jurídico, e posso contratar engenheiros e arquitetos para ver a parte prática da empresa. Mas você poderia me assessorar na parte seguratória e financeira. Seria como uma secretária executiva, a priori.
-Claude...- ela protestou, parecendo desconfortável
-Você tem algum emprego em vista? Digo, concretamente?
-Não, mas...
-Tudo bem, acho que já entendi.- ele tomou todo o conteúdo da taça. Rosa o encarou
-Entendeu oquê?
-Você non quer trabalhar comigo.
-Não é isso! É o contrário disso. Você parece muito legal e responsável, não merece uma principiante como eu em sua equipe.
-Espere! Você..
-Sei quem você é. Dono de uma multinacional daquelas.. - ela assoviou meneando a cabeça, permanecendo séria.
-E que mal há nisso? Non seria bom para o seu.. curriculo?
-Claude se eu falhar com você, meu curriculo estará arruinado para sempre!
-Medrosa!
-Não sou não! Eu só não quero dar um passo maior que a perna e quebrar a cara!
-Eu estou pedindo por favor!- ele segurou as mãos dela.
-Mas e porque?!
-Porque é a melhor chance em vista para mim e para você também, hã?
-Você não precisa de mim.
-É claro que eu preciso.
-Não ponha essa entonação romântica, Claude. - ela tirou a mão dele da sua e ele riu.
-Tudo bem. Mas enton, pela nossa ton forte e pura amizade de três dias.- ela o fulminava- Por favorzinho?
-Oh justo por algo tão concreto?- ela revirou os olhos. Ele matinha-se sorrindo
-Vamos ganhar dinheiro, petit! - Claude estalou os dedos- Non seja ton melosa.
Rosa lhe deu um safanão na cabeça e, apesar do jeito explosivo , ele simpatizava cada vez mais com ela.
Já no Brasil, Claude propôs uma espécie de sociedade com ela, até que ele estivesse mais estabilizado. Rosa aceitou, depois de muita negociação, registrar a empresa em seu nome, visto que Claude
teria muito mais dificuldade por ser estrangeiro. Frazão veio correndo ou melhor, voando da França para ajudar o amigo, e viu em Rosa tudo oque faltava em Claude.
A empresa vingara, e por dois anos os três trabalharam a finco, fazendo com que a Construtora Geraldy se estabelecesse forte e crescente no mercado. Rosa mostrava-se ainda mais competente do que Claude a julgava ser, muito além do que ela mesma admitia ser. Conseguira vários investidores e abria várias sociedades com imobiliárias e lojas do setor.
A amizade entre ela Frazão e Claude, parecia cada vez mais arraigada. Especialmente entre ela e Claude, que ficaram tão próximos como se fossem amigos desde a infância.
Um dia no escritório Frazão põe a mão de lado na boca e sussurra:
-Ela é como eu, de saias. - eles observavam Rosa caminhar pela sala enquanto falava ao telefone.- Ou melhor.
-Deixa só ela escutar isso, você será degolado, hã?- Claude sorriu ainda sem tirar os olhos dela.
-Eu digo o mesmo quanto ao seu olhar de cão pidão pra ela.
-Cala a boca Frazón.- ele ralhou com o amigo, ainda que sem deixar de observar Rosa sair da sala.
-Claude porque você não convida ela pra jantar hoje, só os dois?
-De novo esse assunto?
-Ela é a mulher perfeita pra você e você sabe. Porque não conta isso a ela?
-Porque eu a perderia no mesmo instante.
-Francês, faz quanto tempo que ela não sai com alguém?
-Eu também non saio com ninguém faz tempo. E non tem nada demais nisso.
-Ha, mas isso é diretamente ligado a ela. Se ela sai, você sai. No mesmo dia, e para o mesmo lugar!- o advogado da os ombros.
-Frazon... - Claude rolou os olhos de forma entediada.
-Eu sei que você a ouviu reclamar de relacionamentos, e que você também detesta este assunto por causa da sua ex noiva...
-Quer falar mais baixo? Daqui a pouco Rosa volta...
-Vocês são superamigos Claude. Sabem tanto um sobre o outro. Porque não se dão uma chance?
-Chance que pode pôr tudo isso a perder, hã?
-Ei cadê o meu amigo do tudo ou nada?
-Eu non sou mais assim, Frazon.
-Quando está com ela, é sim.- Frazão sai da sala, deixando Claude pensativo.
Os dias se passaram e a angústia cortante crescia: o possível contrato com uma investidora americana de grande renome no meio empresarial. Mas havia um outro problema a ser resolvido, do qual dependia a negociação com a empresa americana.
Claude precisava de cidadania brasileira não apenas para permanecer no país, como também para poder receber o investimento diretamente. Por mais que confiasse sua vida e sua empresa à Rosa, miss Elizabeth, representante da Smith's Corporation, o conhecia por dono e diretor geral da empresa e ele não poderia desmentir, tão pouco ela entenderia se ele explicasse.
-É melhor assim, Claude. Eu prefiro, por favor.
-Como quiser, cherri.- ele suspirou, sentindo-se posto contra a parede.
-Não me chame de cherri! - ela gesticulou nervosa- Droga, droga!
-Que foi? - ele puxou a cadeira para que ela sentasse antes que a visse desabar.
-Eu estou muito ansiosa!- ela se abanava.
-Calma. Frazon já já chega com a papelada.- sorri entregando um copo com água a ela que revira os olhos.
- Ou.. Há algo que queira me contar?
-Claude, eu já te disse o quanto é gentil? - ela pisca e ele entende que está prestes a anunciar uma catástrofe. Era sempre assim.
-Diga logo, dona Serafina Rosa.- Claude se senta a frente dela.
-Eu acho... Assim, só de leve, - ela falava como que cantarolando, e ele se pôs ainda mais nervoso.
-Que?...
-A papelada não vai chegar a tempo.
-Mas Frazon está lá na portaria! Olha, ele acabou de mandar mensagem.- falou mostrando o visor do celular.
-Claude, te sabotaram. O seu arqui-inimigo quatro olhos. O Coutinho, aquele que você demitiu mês passado. Ele está na concorrência e tá incendiando tudo por lá contra você.
-Oque?!
-É. Ele deu um jeito de levantar um motim contra a sua pessoa. Só os figurão. E... Eu tenho uma amiga na embaixada, ela é secretária lá e, bom.. pedi a ela que me adiantasse algumas informações .. seu pedido de permanência foi negado. - Ela diz tudo de uma vez.
-Como é?!!- Claude dá um salto da cadeira e Rosa se levanta também.
-Mas porquê? Eu non sonego impostos. - ele a encara pensativo- Sonego?
-Não!- Rosa nega de olhos arregalados, gesticulando com as mãos, um tanto desesperada.
-Enton?!
-Mas a papelada que chegou da França não te deu muito crédito por aqui. Você tem pendências por lá.
-Como pendências?!- ele se senta novamente.
-Algo como impostos atrasados, multas de trânsito..
-Mon Dieu, mas como se eu non vou lá faz uns cinco anos hã?
-E vendeu todas as propriedades?
-Non, na verdade non vendi nada. Ficou tudo lá, como sempre. Nunca precisei cuidar dessas coisas.. Sempre tive um contador para realizar esse tipo de pagamento... Mas como pode uma multa de trânsito se eu nunca fui multado, hã?
-Nem na época de faculdade?
-Frazon!- Claude ralha e Frazao que entrara na sala com um enorme envelope pardo e cara de poucos amigos se assusta.
-Não fui eu! Seja lá oque for... Eu não fiz nada! juro.
-A culpa é toda sua!
-Minha? Mas por que? De quê?
-A multa Frazon! Que você levou com meu carro no dia da maldita formatura! Eu disse pra non estacionar na porta da delegacia, hã?
-Claude, era uma emergência! E que culpa eu tenho se aquele policial troglodita não tinha senso de humor?
-Por sua culpa tive de esconder a multa do meu pai e do contador e me esqueci de pagar!
-Mas que importância isso tem agora? Isso vai fazer no mínimo uns 8 anos...
-Por causa dessa maldita multa não consegui o visto!
-Eu nem abri o envelope ainda! - Frazão franze o cenho- Não seja tão pessimista.
-Enquanto você vai com a manteiga, Rosa vem com o fubá.
-Milho, fubá. Fubá, bolo. Claude, tá tudo errado.
-Que seja Frazon, que seja. Rosa já descobriu o que está ai nesse envelope, mesmo sem abrí-lo.
-E Rosa agora é vidente?- Frazão ri saudando Rosa
-Isso non vem ao caso.
-Me dá aqui esse envelope Frazão, esse francês é muito mau humorado.
Rosa abre o envelope e expõe a todos o que ela já sabia. Claude tem o prazo de 15 dias para sair do país e só poderá voltar depois do intervalo de dois anos com determinação judicial e tudo legalizado. Sabendo-se que o sistema burocrático francês consegue deixar o brasileiro no chinelo, de alguma forma...
Claude se contorceu na cadeira.
-De quê adiantou tudo isso? Vou perder o negócio, a empresa vai falir!- Claude põe a mão na testa
-Não vai não!- Frazão ralha com Claude, com ar entediado
-E o quê a gente faz, senhor advogado?
-Eu não sei... Mas acho que existe uma brecha.- Frazão da um sorriso de lado.
-Onde? A constituiçón brasileira foi remendada até non poder mais!
-Sim, sim. Mas existe uma lei que nunca muda, caro amigo.
-E que lei seria essa?- Rosa pergunta totalmente desanimada, com a cabeça jogada na mesa de reuniões.
-A lei de Deus, caríssimos. A lei de Deus.
-Que que é Frazon? Vai me chamar um exorcista é? Porque é só oque me falta! Vai ver estou mesmo precisando. - Claude esconde o rosto nas mãos.
-Quê isso, Claude. A autoridade religiosa é opcional. Mas eu se fosse você, me sentiria
abençoado.
-Abençoado? Eu? Haha que grande piada sem graça Frazon! Quer saber, é melhor eu ir pra casa fazer as malas!- Claude se levanta mas Rosa gesticula para que ele volte a se sentar e acalma os ânimos dos dois amigos.
-Agora desembucha, Frazão! Qual é o plano?
-O Claude precisa se casar com uma brasileira!
-Oque?!
-Calma, amigo. Você casa, e tcharam! É cidadão brasileiro no ato.
-Mas a burocracia Frazon. Son no mínimo um mês de antecedência. E eu tenho quinze dias!
-Isso aí eu resolvo. Dá-lhe casamento em extremis. Não se preocupe, está resolvido!
-Ai que lindo, vocês vão se casar!- Rosa ri
-Oque?!- Claude quase cospe a água que estava tomando de volta no copo
-Claro que não, Rosa querida. Imagina se minha musa africana iria aceitar uma coisa dessas. Acabei de ficar noivo dela não tem um mês! Case você com ele.
-Eu?! - Rosa pula da cadeira e fulmina Frazão- Desnecessário. Se ele sair na esquina ali, ou mesmo aqui na secretaria da construtora e pedir qualquer uma em casamento, ela aceita.
-Só por que sou rico?- Claude suspira se largando no encosto da cadeira, desanimado.
-Isso também.
-Enton, porquê mais?- ele a encara desdenhoso.
-Porque você... é... bonito. E... é francês. As mulheres acham isso bonitinho.- ela levanta os
ombros
-Bonitinho? - ele franze o cenho- Bonitinho, sinônimo de … meigo?
-É. - ela respondeu nervosa, sentindo que falara demais. Mas ele apenas ficou pensativo.
-Rosa, a gente só confia em você!- Frazão implorou
-A gente?- Rosa cruza os braços.
-Eu confio. - Claude a surpreendeu, aparecendo em sua frente de supetão. Frazão saiu da sala sem ser notado, adivertindo aos secretários que aquele que entrasse naquela sala seria demitido no mesmo momento.
-Você pode... se … afastar um pouco, por favor?- Rosa tenta empurrá-lo mas não consegue mais do que diminuir a distância entre eles.
-Non posso. Tenho de persudí-la primeiro.- ele sussurrou.
-Ah, é mesmo. - ela bufou, olhando a sala em volta, que parecia ficar menor a cada segundo.
-Casa comigo?
-Oquê? Não! Claude, você sabe oque penso sobre casamento. Sobre...
-Non é um relacionamento romântico de verdade, Rosa. - ele baixou a cabeça. Parecia triste- Son só... negócios. Lembra?
-Mas..
-Por favor?- ele a encarou de novo, e ela suspendeu a respiração por um segundo. Claude era bonito demais para ela ficar totalmente indiferente. Mas era só isso, ela sempre jurava para si mesma.
-Por favor?- ela repertiu debilmente. Esperava que ele percebesse a loucura que estava propondo.
-Por nossa amizade. Por nossa empresa. Por tudo oque construímos aqui, juntos.
-Nós não, Claude. Você.
-Mas nossa amizade non se fez sozinha. Ela non significa nada pra você? Achei que gostasse pelo menos um pouquinho de mim.
-É claro que significa! Claro que você significa muito pra mim! Mais do que eu gostaria.- Rosa estagnou depois da última frase. Se arrependera de tê-la dito. A comprometera, de alguma forma. E quando olhou para Claude, ele estava a fitando da mesma forma que as vezes ela o surpreendia fitando. Daquela forma desconcertante para ambos.
-Casa comigo? Peço até pelo Frazón, se for necessário.
Eles ficaram se olhando em silêncio por dois minutos, pelo menos. Claro que para eles, pareceram horas.
-Tudo bem. Mas só se me prometer que isso não muda nada aqui na empresa e nem...
-E nem?... - Ele temia a próxima frase. Mas ele sabia que ela diria.
-E nem na nossa amizade.- ela suspirou.
-Claro que non. E por que mudaria?- Claude parecia distraído. Então olhou de novo para ela, e beijou-lhe a testa.
-Espere, para onde vai?- Rosa o observou sair da sala sem obter resposta.
Frazão deu entrada no casamento que seria em extremis, num hospital. Rosa foi maquiada e vestida como noiva, oque ela detestou. A cadeira de rodas, a grinalda de flores e as damas de honra da ala pediátrica ela gostou. Da cara de bobo de Claude ao vê-la ela também gostou, mesmo que não confessasse isso nem sob tortura. E ele estava muito bonito de noivinho de bolo. Mas ele não achou graça de ser chamado assim.
Fizeram um jantar com comida comprada pelo telefone, porque não estavam com ânimo de comer
num restaurante. Rosa bebera vinho demais, e corriqueiramente, dormiu no sofá de Claude. Frazão a levou para um dos quartos da imensa cobertura, enquanto Claude continuava andando de um lado para o outro pela sala.
-Você deve estar se divertindo com isso tudo, non é Frazon?
-Eu? Mas como é que você me diz uma coisa dessas? A Rosa não merecia um casamento assim. A gente sabe que ela foi abandonada no dia do casamento. Sabe que o pai dela morreu sem antes ver a filha feliz de verdade, sabe que ela se fechou... Porquê eu faria isso com ela para me divertir? Ou com você?
-Faria porquê enfiou na cabeça que é o melhor pra nós dois. Você queria que eu me casasse de
qualquer jeito.
-Isso não é verdade. Eu quero que você seja feliz. Que a Rosa seja feliz. Vocês merecem isso. Mas sentem medo.
-Frazon, entenda uma coisa. Rosa non é apaixonada por mim. Ela gosta de mim, somos grandes
amigos, e tudo mais. Mas é só.
-E você não pode dar um jeito de fazer ela se apaixonar?- Frazão sacode a cabeça, com desdém.
-Ah claro. é simples assim?- Claude revirou os olhos, em tom irônico.
-É claro que é! Você mesmo ouviu ela dizer, “qualquer mulher diria sim para o Claude”. isso significa que, ainda que inconscientemente, ela tem uma queda por você.
-Você acha?- ele sorri discretamente, pensativo.
-Dã! Eu tenho certeza!
Os dias subsequentes foram de muito maquinar de Claude. Ele ensaiava oque dizer, mas nunca dizia. Rosa agia como se já soubesse do que ele pensava, e fazia de tudo para evitar que ele dissesse algo sobre o assunto do casamento. Até que uma pilha de documentos chegaram.
-Oque é isso Frazão?
-Seus novos documentos. Dei um jeito de mudá-los para você, sem que tivesse de se preocupar com detalhes.
-Mas e pra quê eu... Petroni … - Claude entra na sala e ela o fulmina- Geraldy?
-Oque tem eu? - Claude senta ao lado de Rosa que lhe entrega os documentos, cruzando os braços em seguida.
-Cherri você adotou meu sobrenome? Ah que meigo!
-Cala a boca Claude se não arranco sua língua.
-Vocês são tão melosos que é perigoso dar diabetes só em estar perto. Com licença.
-Volta aqui Frazão!- Rosa joga um peso de papel na direção que o vulto do amigo desapareceu.
-Porque ficou ton brava, senhora Geraldy?
-Claude … - Rosa o ameaçou só com o tom de voz, que era mais que o suficiente para ele se calar em um riso contido.
Se ela soubesse que quando estava aborrecida parecia ainda mais bonita! E que ele queria a abraçar e cobrir de beijos! E que se sentia um covarde por não fazê-lo. Por que sabia que ela não admitiria tal coisa. E ele tinha medo que, da mesma forma inadvertida que Rosa entrara em sua vida, ela desaparecesse!
A noite de ambos fora sem sonhos. Acordaram quase ao mesmo tempo, a pesar de não saberem disso. Leram e-mails, tomaram café. Simultaneamente.
Xingaram o atraso do elevador, e desceram ao estacionamento, cada um em seu prédio, mas ao mesmo tempo. Entraram pela portaria ao mesmo tempo, sorriram de maneira desamimada para o porteiro e se depararam um com o outro de forma estranha.
-Bom dia.
-Bom dia. - Claude respondeu num bocejo ao que Rosa levantou uma sobrancelha.
-Ah, bom dia, doctor Geraldy!- A voz espalhafatosa da senhora Smith fez ambos arregalarem os olhos e forçarem um sorriso ao se voltarem para a americana.
-Bom dia!
-Soube que o senhor se casou! - a senhora loura e baixinha sacudia um jornal e Claude fez cara de medo, ainda que sem perceber. Rosa o acotovelou discretamente
-Ah, é mesmo?
-Sim! Porque no me contou que estava noivo?! - a americana olhava fixamente para Rosa
-Nós... já nos conhecemos, não é? - Rosa perguntou delicadamente a senhora que lhe abriu um sorriso enorme
-Claro, darling. Você é Serafina Rosa, sócia da construtora, melhor amiga e agora esposa de Claude Geraldy.
Claude deu um tapa nas costas de Rosa, por que percebeu que ela estava engasgada com alguma coisa que a impedia de respirar.
-Tudo bem, cherri?
-Tá sim. - Rosa se endireitou, pois os ombros estavam curvados- Vamos entrar! - ela ofereceu o braço à americana, olhando de esguelha para Claude, sussurrando “eu vou te matar e ser uma viúva multi-milionária”.
-Somos os três mosqueteiros! - Frazão brindou com o copo de plástico cheio de café, após contar a história da empresa para a americana.
-Que coisa mais bonita. Esse projeto é a consumação de todo o sonho idealista desta empresa de vocês.
-É sim, miss Smith.- Claude sorriu e olhou para Rosa, que por algum motivo, estremeceu.
-Eu acho que gostaria de conhecer os outros projetos, os que já estão em andamento.
-Seria uma honra mostrar à senhora. - Frazão faz uma reverência.
-Mas estou aqui sozinha. Meu marido não pôde vir.. Nossa empresa tem muitos compromissos em America esse ano. Eu estar aqui já é um tremendo contratempo!
-Eu imagino, miss Smith.
-Claude, porque não convida a miss Smith para passar umas semanas em sua casa? Ela poderia permanecer mais e conhecer melhor a empresa! Tenho certeza que se for como sua convidada, ela não poderá negar-se!
-Excelente ideia, Frazão!
-Rosa... - Claude gostaria de poder dizer a Rosa que havia um imenso problema com o plano de Frazao, mas limitou-se a sorrir- Claro. Por favor, misses Smith, dê-me essa honra, por favor?
-Oh, doctor Claude, tenho de fazer umas ligações. Mas confesso que a ideia pareceu uma excelente ideia. Meu marido no se oporia se eu tivesse companhia para ficar aqui, e sua esposa parece uma excelente companhia!
Foi então que Rosa percebera em que armadilha se metera. Claude segurou-lhe a mão e ela meneou a cabeça sorrindo para a americana, que no fim, concordara em passar duas semanas na casa “dos Geraldy”.
-Mas que droga, Frazão! - Rosa joga a bolsa no sofá
-Eu sei, eu sei. Mas na hora eu não tinha pensado nisso, eu juro!
-Quer mesmo que a gente acredite?
-Claude, eu juro! E além do mais, eu quase me esqueci que vocês estão casados. Eu juro!
-E o jornal?- Rosa aponta um jornal que estava sobre a mesinha de centro
-Juro que não foi eu. Mas eu sei quem foi.
-Quem?
-Uma jornalista, amiga de Alabá e de umas secretárias da construtora.
-Quais? Vou demiti-las.
-De todas, caro amigo. Você não pode demitir todo mundo, ficaria ainda pior.
-Mas como e porquê ela divulgou isso?
-De certo alguma das secretárias achou alguma cópia de documento com o nome de Rosa e..
-Tudo sua culpa. O meu nome estava muito bem sem o Geraldy...
-Rosa!- Claude protestou
-Tá, tá bem. Não falo mais nada. Onde eu vou ficar?
-Como onde? No meu quarto, horas.
-E você?
-Rosa, se a americana pensa que estamos casados, onde acha que eu vou ficar?
Fizeram um jantar em recepção à hospede. Não precisaram mudar muita coisa na casa, já haviam fotos do casal por que eram melhores amigos. Rosa já estava em toda parte, porque Claude a via em toda a parte. A queria em toda parte.
-Vai dormir na banheira. -ela lixava as unhas, e ele acabara de sair do banho.
-Oque?
-Ou no closet. Você escolhe.- Rosa atirou um travesseiro para ele.
-De maneira nenhuma. Não existe o menor problema em dividirmos a cama. Ela é enorme Rosa, non seja ton individualista. - ele deu os ombros, se sentando ao lado dela.
-Ah tá. Agora eu sou a egoísta? Claude se não fosse por mim...
-Eu non estaria aqui, non teria provado a meu tio que sou competente nem teria a esposa mais linda e teimosa que poderia ter.
Rosa parou de respirar por alguns segundos, suspirou e se deitou na cama novamente, virada para o outro lado.
-Eu disse que você é linda... - lembrou a ela, num tom persistente. - Posso ficar aqui? Non seja malvada...
-Está bem. - Rosa suspirou - Mas se se mexer demais, te expulso por justa causa.
Ele sorriu e desligou o abajur.
No outro dia na empresa, Rosa estava passando fax de uma pilha de documentos. A sala era retangular e bastante apertada, havia espaço para no máximo duas pessoas lado a lado em frente as máquinas, mas apenas para uma sair pela porta por vez.
-Você está aqui, hã?- Claude entra e fecha a porta
-Eu já estou termindando. Lúcia está em horário de almoço, e isso é urgente... - Rosa decide se virar na direção dele assim que sente o sopro de sua respiração na orelha.
-Eu tenho uma coisa para você.
-É mesmo?- ela pigarreou para tentar afastar a tensão que se formara, buscando ar numa arfada.
-Não dava para esperar eu terminar? Aqui é tão abafado... - Rosa se abana. - Temos de colocar um exaustor aqui... - Ela fingia não perceber o olhar firme dele em sua direção, mas ele já estava acostumado para se intimidar. Então, sem mais perder tempo, ele se ajoelhou diante dela e colocou um anel com um enorme diamante no dedo dela.
-Oquê?.. - Rosa olhava o anel
-Eu non tive coragem de te dar antes... Mas eu sempre quis que fosse seu. Por favor, aceite. Fique com ele...
-Mas Claude... isso é muito caro, não é?- ela franziu a testa. Nunca gostara de jóias caras.
-Ela vale mais para mim, do que para qualquer ourives no mundo. Era de minha mãe, e de minha vó antes dela. Está em minha família há muito muito tempo.
-Então, aí está. Dê para alguém que mereça o seu amor.- ela tentou tirar o anel mas Claude segurou sua mão e beijou seus dedos.
-Não há ninguém que o mereça mais do que você.- ele se levantou e a beijou de surpresa. Rosa correspondeu por julgar ser apenas um devaneio, como muitos que ela já teve. Mas ao sentir a pressão da parede em suas costas, teve a certeza de que era real. Antes que tentasse empurrá-lo, alguém abriu a porta e conteve um grito , seguido de uma sussessão de gargalhadas depois que a porta foi fechada. Rosa ainda olhava para a porta, e demorou a perceber que Claude a mantinha encostada na parede.
-Quer me soltar por favor?- disse como se nada tivesse acontecido. Para ela fora assim. Tinha de ser assim.
-Só se me deixar beijá-la de novo.
-Claude!- franziu a testa e golpeou o peito dele, indignada.
-Sabe que eu queria fazer isso desde o dia em que a conheci!
-Mas não está certo!
-Somos casados! Não me deixou beijá-la nem no “aceito”!
-Somos amigos! Quando o casamento acabar, acaba nossa amizade. É isso que você quer?
-Porque você tem tanta certeza de que nosso casamento vai acabar?
-Ora porque... Porque estipulamos o tempo para o divórcio!
-Você estipulou!- ele segurou mais firme a cintura dela, e ela virou o rosto para esconder que seus
olhos estavam marejados
-Claude nós dois fomos feridos, desiludidos! Como poderíamos? Porque seria diferente entre nós?
-Porque eu te amo!
Ele não disse isso, ela poderia jurar. Mas os gritinhos vindos de fora da sala denunciava que havia alguém ouvindo de trás da porta, e ela jurava ter ouvido a voz de Alabá.
-Eu também te amo. Você é meu melhor amigo. Só que esta história de casamento está estragando tudo isso.
-Você non sente nada a mais do que amizade por mim? - ele a encarou. Difícil responder com ele tão perto, ela pensou. Mas juntou todas as forças que pôde e respondeu:
-Não. - suspirou. E ele a apertou ainda mais.
-Mentirosa. - ele sorriu
-Eu não estou mentindo.- o encarou, mas seu olho esquerdo parecia fora de controle. Ela podia ouvir o próprio coração descompassado.
-Quando você mente, te dá um tique no olho. - ele tapou os olhos dela com uma mão, e a beijou novamente, e desta vez, a resistência dela minou até o último suspiro.
-Nós só poderemos ser felizes juntos, Rosa...
Tudo oque ela fez foi escapar dos braços dele e correr para o banheiro, onde se trancou por meia hora.
Passaram-se algumas semanas, e Rosa não permitia que se tocasse no assunto novamente. A americana a amava, de alguma forma. Eram como duas grandes amigas, e Claude ficou orgulhoso. Mas ele queria que as coisas fossem diferentes entre os dois. Queria que Rosa aceitasse o seu amor. Desejava que ela compreendesse que se não fosse com ela, ele não seria feliz com mais ninguém. E, desesperadamente, ele queria que ela sentisse o mesmo.
Não que algo tenha mudado entre eles, foram só alguns beijos roubados aqui e ali. Mas Claude sabia até onde poderia ir, e tinha medo de ultrapassar e perdê-la para sempre. A conhecia bem o suficiente para saber que conduzí-la ou persuadí-la nunca fora tarefa fácil. Não havia vantagem na amizade deles, neste caso. Da mesma forma que ele a conhecia, ela o conhecia. Sabia de todos seus trejeitos e artimanhas. Nunca conseguia mentir para ela!
-Você sabe, nosso casamento não é real. Não temos um relacionamento assim, de qualquer forma.
-Non temos relacionamento nenhum, você quis dizer. - Claude olhava o teto, e ela também. Os dois tinham as mãos na barriga.
-Como quiser.
-Rosa, qual é o seu problema, hã?
-Meu problema se chama Claude Antoine Geraldy. Que por algum acaso maluco, é meu marido idiota.
-Non sou idiota, e nem posso ser considerado seu marido.
-É idiota sim. E é meu marido, infelizmente.
-E baseada em quê você afirma que sou teu marido?
-Ah , tenho muitas hipóteses. A primeira e principal se diz respeito a meu nome. Meu pai se chamava Giovanni Petroni. De onde veio aquele Geraldy no final? Muito estranho!
-É, parece misterioso.
-E tem também o fato de eu ter dois anéis novos, e nenhum centavo a menos no banco. Eu nem gosto de jóias, você sabe! Um solitário enooorme, diga-se de passagem. E uma aliança de ouro branco que eu jamais compraria porque é uma afronta à pobreza.
-Muito nobre de sua parte.
-Vou doá-los aos necessitados.
-Nem brinque. - ele ameaça.
-Ah e tem outra pista! Essa é bem forte.
-Diga, enton.
-O fato de eu estar na sua casa, no seu quarto, na sua cama... com o seu pijama!
-Esse pijama non é meu non, eu nem gosto de laranja. Non me favorece. - segue-se uma pausa dramática. Ou cômica. - Viu só? Você perdeu.
-Viu só?! Isso prova que você é meu marido idiota.
-Non. - Claude a surpreende prendendo os braços dela- Isso prova.
E o que aconteceu, ela jurou que jamais aconteceria. Ele perdera o medo, finalmente. Seja como for, estava decidido. Não havia como retroceder.
O dia seguinte foi bastante quente e ensolarado. Rosa o acordara aos berros e batia nele, o acusando de todos os seus problemas. E ele realmente era o culpado da maioria das acusações. Mas depois de alguns minutos discutindo, ou de Claude a ouvir gritar , caíram ambos da cama, e começaram a gargalhar pelo dobro de tempo.
Apesar de não conseguir exatamente o relacionamento que queria, ele estava contente. Ela era dele, e isso é que importava. E era só dele, como jamais fora ou iria ser de mais ninguém. Ainda que ela não admitisse, ela também estava feliz. Ele era um príncipe em todas as atitudes, e ela não poderia ter pedido alguém que a entendesse melhor. Mas o problema é que Rosa sentia-se exposta. Por mais que ela tentasse ocultar seus pensamentos dele, ela não conseguia! Ele a conhecia o suficiente para isso.
-Claude, temos um problema.
-Oque foi Frazon?
-Rosa acabou de ligar. Ela estava no hospital.
-No hospital?! Mas ela esta bem?
-Ela sim. Alabá que foi se consultar.
-Alabá estava mesmo meio abatatida... Oque ela tem?
-Ela não, amigo. Nós.
-Nós? Nós, eu e você?
-Ai, Claude, como você é lerdo!- Rosa entra na sala.
-Cherri! - Ele sorri e ela retribui o sorriso- E então?
-Eles vão ter um bebê!- Rosa espreme as bochechas com as mãos, de forma tão graciosa que Claude desatou a rir. Frazão sai da sala afrouxando a gravata.
-Mon dieu!- Claude ainda ria e Rosa sentou-se na mesa à frente dele. Quando ele percebeu que a moça o encarava, recompôs-se rápido- Que foi?
-Claude... - mordeu os lábios, como se receasse prosseguir.
-Diga.. - ele a olhava por baixo, e parecia divertido com o jeito dela.
-Ai! É que.. - ela pôs a mão no rosto
-Rosa?... - Claude chamou e ela finalmente levantou a cabeça. O olhava de forma enigmática
-É que eu queria... - ela parecia um tanto intimidada, e Claude estava se deliciando disso já que esse papel era dele, na maior parte das vezes.
-O que você queria, cherri?- Segurou-se para não rir. Mas o próximo ato dela o fez arregalar os olhos de surpresa. Rosa sentou-se em seu colo e o olhou no fundo dos olhos
-Eu quero um bebê, Claude. Você tem que me dar um.
O tom grave dela quase o fez cair na gargalhada novamente. Ela parecia convencida de que devia pedir a ele. Como se ele não quisesse! Ter um filho com ela seria uma forma de manter a ligação entre os dois, ainda que ela decidisse separar-se dele. Seria um pequeno trunfo da parte dele. Além da própria criança, é claro.
-E a senhora acha, dona Serafina, que não é o que eu mais quero na vida? Mas diga-me, você quer um bebê por...
-Eu quero um filho seu!- ela sorriu, mas seus olhos choravam. E os lábios de Claude os consolaram.
-Eu te amo.
-Eu também te amo, Rosa. - agora ele é quem chorava. Não esperava ouvir algo assim dela, e de uma só vez. Nem mesmo em suas fantasias bobinhas, como ele dizia.
-Eu te amo tanto!- ela acariciava o rosto dele. - e eu sempre tive tanto medo de te perder! Ou de que você não fosse real...
-Você me surpreende, cherri. Nunca pensei que fossemos ton iguais, a esse nível! - ele sorri e ela o beija.
-Acho que entendo o que quer dizer. É como se nosso modo de agir e pensar fosse tão parecido, que olhássemos através de um espelho um para o outro... Faz sentido?
-Claro que sim. Eu ia dizer o mesmo. - os dois dão risada.
-Isso pareceu tão narcisista!
-É. Muito.
-Mas acho que não chega a ser assim. Só acho que temos uma afinidade assustadora.
-Sim, sim.
-Ah e também não podemos dizer isso de nossas contas bancárias.
-Rosa!
-Ah é. Somos casados. Agora é tudo meu.
-Oquê?!
-Calma, eu estava brincando!- Rosa cai na gargalhada por causa da cara de assustado de Claude
-Oh mon Dieu...
-Não faça essa cara. Não leve a sério, amour.- ela faz carinho no rosto dele, que a olha desconfiado.
-Diga de novo.
-Eu estava brincando.
-Non, non. A outra parte.
-Não leve a sério, senhor Geraldy?- Rosa faz biquinho e Claude a abraça
-Non, senhora Geraldy. Me refiro a parte em que a senhora me chamou de "amour". Recorda-se?
-Ah, sim. Vagamente. - os dois se olham e caem na risada outra vez.
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Lindo, amei
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Linda, Holly! Parabéns... Vc escreve tão bem que, consigo imaginar cada detalhe, consigo até sentir os sentimentos que há entre os personagens. Obrigada por me fazer sentir que há esperança para o amor, amor verdadeiro.
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