quinta-feira, 10 de abril de 2014

Capitulo 56- De onde vem os bebês






Le Eternel Amour

Tulipe Rouge




Quanto amor pode caber em um só coração? E quanta dor? 
Acredito que as duas medidas são dadas ao infinito. Não se mede dor ou amor. Ou dói ou não. Ou se ama ou não se ama.
Mas sensações se medem. Por isso as pessoas dizem: Muito amor, pouca dor. Mas para mim, são coisas absolutas. Ou estão lá, ou não estão.

Vendo os olhos tristes e o sorriso fadigado no lindo rosto de Rosa,  me dou conta de que cabe um universo inteiro em mim. Porque mesmo com toda a dor que estou sentindo, o imenso e imensurável amor que tenho por ela está bem aqui. Sempre esteve. 


-Você quer mais suco? - Rosa bagunça os cabelos de Caleb carinhosamente, enquanto fita os olhos dele de forma tão doce que chego a me encher de ternura só em observá-los

-Não mamam.. Merci.

- Então faça o seguinte: Suba, tome um banho e pode jogar videogame. Oque acha?

-Hm... Em vés de jogar, eu posso tocar o piano? - o menino tristonho deixa transparecer um brilho nos olhos, enquanto me encara ansioso

- Claro que pode, filho. - digo em tom firme e calmo. Mas a forma com que Rosa me inquire me deixa um tanto sem jeito

-Está tudo bem, Claude?

- Está sim. Pode ir Caleb. - sorrio para Caleb que apenas balança a cabeça e sobe as escadas correndo.

Rosa se senta no braço do sofá ainda me olhando com uma expressão questionadora

-Oque foi?

- É que... essa foi a primeira vez que você chamou o Caleb de filho. Pelo menos na minha frente, e diretamente pra ele.- ela suspira

-hm.. E... Há algo... Errado em eu chamar Caleb de filho? Você... se incomoda?

-Eu.. não sei Claude. Eu... Ainda não me acostumei com isso sabe.. Eu... Caleb nunca teve um pai. Não um pai vivo, que interagisse com.. a nossa rotina.

- Com seus comandos.. - sorrio e a puxo para meu colo. 

- Éé!- ela sorri manhosa e me abraça

- Mas é oque ele é. Non seja ton possessiva, cherri. - a olho de esgelha- non sabia que era ton ciumenta, hã.

-Eu sei... mas é que..

-Eu poderia dizer que você non fez ele sozinha.. Mas non posso, né? Tudo bem que eu tive participaçón...

-Claude! Eu vou te matar!- ela bate no meu ombro sorrindo enquanto seu rosto se converte em carmim

- Non pode me matar non. - sussurro em sua orelha - Non antes disso.

Beijo Rosa com todo o amor que sinto. Com toda a vida que ela me trouxe, dou tudo a ela.
E digo que a amo quantas vezes quanto posso repetir. Até ela se cansar de ouvir. 
Espero que ela consiga entender o quanto a amo. O quanto ela significa pra mim.

Caminho pelo corredor, seguindo o som melodramático vindo do sótão. O antigo mini estúdio de Rachel. As lembranças me fazem ter calafrios.
- Eu sei que está cedo, mas acho melhor você ir pra cama, Caleb. - sugiro calmamente, o observando da porta tocar o piano como se fosse a melhor coisa a se fazer no mundo. Estremeço só de pensar que ele é igualzinho a mim. E tocar piano está para escape, não para diversão.

- Mas porque? Se ainda é cedo?- ele dá os ombros e continua tocando


- Porque está vindo uma tempestade assustadora. E aqui em Marselle fazemos assim quando há tempestades. Além de quê, essa música está muito melancólica, Caleb. Você está. - digo delicadamente, não quero magoá-lo. Sento ao lado dele no banco. 

-Tem razão. - ele suspira cabisbaixo.

-Mas será que antes, você não aceita tocar em dueto?

- Quer mesmo tocar comigo? Eu não sou muito bom... Você estava ouvindo, sabe do que estou falando.

- Claro que é, Caleb. Você é meu filho, está no sangue, hã. - pisco pra ele, que acaba cedendo em um sorriso

- Está bem.


Tocamos Dream Lover de Bob Darin, em meio a risos e toda a cumplicidade que nossa recente relação de pai e filho nos permite. 
Eu tenho tentado ser o melhor pai possível. Não posso reparar o passado. Mas posso construir o futuro elaborando o presente.




Rosa


Andar por Marselle é sem dúvidas uma delícia. E tem o cheiro de maresia, que para alguém acostumada com cidade grande, é um perfume sem igual!

Olhando uma barraca de flores, o vendedor me oferece um boquê de tulipas vermelhas insessantemente, me dizendo que estão pagas. Chego a imaginar serem de Claude e as recebo, só parando para ler o cartão quando chego ao cais. 

Sento num banco e abro o cartão.


>> Antes de tudo, meus parabéns! Você irá se casar! 
Pena não poder desejar felicidades, já que, como sabe, nessa história, ninguém sai ganhando.

Me assusto e procuro entre as flores um possível segundo bilhete. Encontro uma folha de caderno enrolada:


Aceite se casar com ele. E se case com ele.
Mas atenção: Você terá 24 horas após o casamento para partir da França. E não diga a NINGUÉM para onde vai , a não ser para mim. E o garoto fica com o padastro amoroso! Ele é um Geraldy, filho do gêmeo idiota, eu já sei. Vai ficar a ver navios, literalmente. 

Não se atreva a me desobedecer, você não sabe onde, como ou quando, mas sabe que vai acontecer. E agora, touchê! Dois Geraldys, Três Geraldys, se eu contar a futura nora de meu papai querido além de claro, minha cunhada.

Até o pôr-do-sol, aceite na mesma hora. 

Vai ser melhor assim, querida.
                                                 Carlo.


Jogo as flores, a carta, tudo no chão. E fico olhando como quem espera ser atacada de repente. Mas nada acontece. Eu continuo estática no banco, apenas ouvindo a maresia e sentindo o vento no rosto. O coração disparado, e aquela angústia cortante.

A crise de choro vêm em seguida, e dura até o sol se pôr completamente, e as luzes da rua se acenderem.

Não há luar.





Caleb




Hum... Que acha de tulipas vermelhas?


- Oui! Muito bom, hã! Significam...- Claude estreita os olhos para ler o artigo no computador- Amor eterno! Mas ... acha que ela vai.. gostar?


-Não sei. Só que o importante é a intensão.

-E ela aceitar, é claro. - ele dá um sorriso cansado. Mas os olhos marejam, e quase acho que ele está prestes a chorar


- Ela vai sim. - digo distraidamente, fechando o site "tudo sobre flores e casamentos". -Tudo tão piegas e meloso!

-Espere até se apaixonar.- sentencia ele. o meu.. pai.

-Claude... Você... eu sei que já perguntei isso mas..

-Desenrole, Caleb.

-alors, você é mesmo o meu pai? Quero dizer, eu sei como eu nasci, e em quais circunstâncias. Sei de onde vêm os bebês...

-Mon Dieu!- ele esconde o rosto com as mãos, contendo uma gargalhada

-É que é estranho ser como um.. filho adotivo sem ser. Você é meu pai biológico e eu nunca soube antes. Só que não me abandonou ou nada do tipo. Você mal conheceu a minha mãe, nunca.. vocês não me.. "fizeram". E no entanto, eu sou filho de vocês. Como pode ser?

-Quantas perguntas! Escute, petit garçon. É claro que sou teu pai, hã. E eu queria ter tido a oportunidade de estar perto de você antes.. Eu amo você! Você é meu filho! E eu amo sua mãe. Eu a amei desde o primeiro segundo! E quando eu soube que havia alguém no mundo que era a expressón de todo o amor que eu sentia por ela.. Ah!

-Mas então.. porque vocês não fizeram.. como o tio Sérgio e a tia Janete? Não se casaram e..

-Espere, garçon. Eu amava Rosa. Era louco por ela. Mas havia seu "outro pai", hã? Rosa amava meu irmón. E eu não podia simplesmente me declarar a ela. Ele a amava também. Jean tinha muitos problemas, além de sua doença carnal. Havia um grande lado obscuro por trás de todos aqueles sorrisos. Ele tinha medo de machuca-la. Tinha medo de que não pudesse suprir tudo oque ela precisava. Meu irmón sabia que não duraria muito, e a Rosa caberia seus cuidados e não o contrário. Por isso ele fez de tudo para que ela o esquecesse. Ele sofria por ela mais do que pelo câncer.

- E você? Porque não disse a ele.. acho que ele entenderia!

-Eu non precisei dizer, petit. Ele sabia. - um sorriso passa pelo rosto de Claude como uma sombra de saudade - Ele sempre soube.

- E oque foi que ele disse?

- Ele non disse. Ele me fazia vê-la tanto quanto podia. Nos juntava. Mas nunca dizia nada. Acho que ele esperava que Rosa me notasse como homem. Mas isso nunca aconteceu. Não enquanto ele estava vivo. Para ela.

-Como assim? Vivo..para ela?

- Eu ainda non sei , filho. Você sabe, ela ainda ama Jean. Sempre amará. Só me resta torcer para que seja com amor fraterno. Ou eu jamais a terei por completo!


-Você ouviu isso?

-Oquê?- ele se levanta

-Um trovão.

-A tempestade está chegando. Vamos ver se sua mãe já voltou. Vem!- Claude me estende a mão, como se eu não pudesse me levantar sem ela. Eu apenas sorrio.


-Pena que vocês não poderão se livrar de mim hoje.

-Caleb! - ele me repreende, ainda que gargalhando.
































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