segunda-feira, 18 de abril de 2011

Capitulo 25- Botão



Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


Eu estava lá, naquele dia tão bonito! Ele estava de pé, em cima de uma cadeira. Me sorria como só ele sabia, e desfazendo o nó da gravata, desmanchou a tal borboleta. O gramado, o cinza do colégio, os alunos e seus canudos. Que bela festa! Tony recitava poesias, depois agarrou o sax que tinha em volta do pescoço, e tocava melodias alegres.
Aquele dia foi deveras o mais bonito naquele colégio. Naquele dia, estive pensando em jamais deixar Verrieres, abrir uma loja de flores e viver por ali pra sempre. Depois daquele dia, só teve outro parecido, aquele em Londres, mas foi tão breve que nem deu-me tantas lembranças. 
Não sei se como eu era por ele, o Tony já foi apaixonado por mim. Mas gosto de pensar que sim. E que depois do tempo, agente ficar junto não fazia tanto sentido, porque, depois da duradoura amizade, o medo de não dar certo, de termos que nos separar e nunca mais nos ver. Sendo amigos isso provavelmente jamais aconteceria...

- Rosa?- ouço a doçura na voz de Janete, minha irmã postiça, que me abraçava. Semi-abro os olhos, levantando a cabeça do ombro dela

- ...

- Acho que está na hora de irmos...- inspiro e olho ao redor

- Jane...- percebo que não foi sonho, estou no hospital, no meu pulso gelado uma agulha dando-me soro

- Eu sei oque está pensando, mas o médico achou melhor te reidratar, já que você não come desde ontem...

-... Onde ele está?

- Está na mesma ainda... - Janete diz, a enfermeira “libera” meu pulso

- Co...coma...- suspiro,

- Vamos no restaurante, hã? Vamos! – eu apenas ignoro a sugestão

- Jane... Acha que ele vai... -

- Vamos!- Janete pula, me puxando

Aquele cheiro... hospital tem cheiro singular. Não sei definir... até o pequeno-grande restaurante era estranho, pelo simples fato de ser em frente ao hospital... Freqüentadores vip? Médicos, enfermeiros, familiares dos pacientes... Pode-se dizer que mais parecia um clube... quase todos de branco!

- Como é que é?!- Janete quase engasga com o café- Ele o chamou de capitão?Isso quer dizer que..

- Confundiram ele com o Claude.- meneio a cabeça, desanimadamente

- Deus do céu!

-E o pai dele já sabe?

- sim, o Sérgio ligou pro Frasão que ligou pro pai do Tony... – diz me olhando intensamente- Rosa?

- hum?- tomo um gole do café

- E quem era... Você conhecia?

- Não tenho certeza mas... Lembra da primeira vez que vimos o Claude?

-... na.. passeata?

- Antes! Lembra! No restaurante!

- Aaah, lembro.

- Então... ele estava com mais dois homens, o comandante dele e outro cabo como ele na época.

- É mesmo... o homem era até bonito... mas dava medo daquela carranca... Espera!

- Acho que era ele!

- Nossa... mas...

- Não tenho prova, eu sei.- dou os ombros- Mas nunca vou me esquecer daquela fuça!


Claude


- Un... Deux... Trois!!!- gritamos enquanto empurramos a ultima maca pra dentro do avião, uma pesada mulher queimada sobre ela.
Rumo à Berlim, coração na mão. Meu irmão estava no leito de um hospital, e eu já sabia: a culpa era TODA minha.
É duro dizer isso mais, eu sabia que cedo ou tarde ele pagaria pelos meus erros. Eu jamais deveria ter deixado o desgraçado do Carlos se safar. Não sei oque me deu pra não jogá-lo numa prisão militar! Mas não, eu apenas exigi sua expulsão... idiota! Agora EU colho o que plantei! Desgraça! Pura desgraça! Mas oque demais eu fiz à aquele ordinário? Oque?

Nara... a vadia me confessou que namorava Carlos antes de me conhecer... Que seu pai praticamente a obrigou a desmanchar com ele por minha causa... Disse que o pai dela queria minha herança... Que ele não esperava que Nara fosse gostar tanto de mim aponto de não se aprofundar no golpe, apenas me namorando e decidida a casar... Oque nem aconteceu. E nem vai acontecer.
Por causa de uma ave numa das minhas turbinas, a volta foi brevemente adiada.

Onde bolas está o celular do Frasão? O miserável não atende nem que o aparelho soltasse fogos anunciando minha chamada! Estou nervoso e irritado como jamais estive... Começo a pensar que este é o meu limite! O quarto de hotel semi luxuoso me deixa ainda mais instigado à render-me à loucura. Essa fadiga que não me abandona!

A melhor forma de se recobrar o fôlego é forçando-o a funcionar. Essa frase é precisamente de Tony. Sigo-o mais uma vez, e saio em meio à rua movimentada, até encontrar à madrugada, tento diminuir o ritmo de minhas arfadas, porém não desanimo no ritmo de meus pés.


Só poderei ver Tony lá pelas tantas da tarde. A rua agora é deserta e  gelada. O sono não me acompanhou, deixou-me há muito, ao que acredito. Olho pro prédio que havia deixado há algumas horas, o letreiro piscando. Subo até a cobertura, sento no parapeito. Vista bela essa de Berlim. Amanhecendo...


Rosa

Subitamente, me ergo da cadeira, decidida a entrar na UTI. Onde bolas está o enfermeiro imbecil que me aplicou calmante?! Quero dar-lhe uma bela bofetada, cretino! Tiro os sapatos na tentativa de não acordar Sérgio que a contra gosto, ficou comigo aqui.

Depois do escândalo que armei pra permanecer de plantão, ele não tinha escolha. Finalmente acho a tal sala onde meu anjo descansava, aparelhos o cercavam. Mal pouso a mão em seus cabelos e sou surpreendida por uma leve pressão em meu ombro. Viro-me e uma enfermeira me lançava um olhar de compaixão, olhos marejados. Ela silenciosamente me abraçou, e eu sem entender apenas chorei em meus incontrolados soluços.

O pai do Tony chegaria dali a algumas horas. Ele decidiria oque fazer... Os aparelhos estavam lá, ligados à sua espera. Teria coragem de apertar um botão e desligar seu próprio filho desta vida?




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