sexta-feira, 15 de abril de 2011

Capitulo 24- Capitaine!




Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


“Deve viajar um saltimbanco, É antiga forma de vida, Por isso soa em seu canto Um certo tom de despedida. Voltarei um dia por sorte? Isso, meu amor, não sei não, As vezes, a pesada mão da morte Apanha a rosa ainda em botão. “
Elimar von Monsterberg, O saltimbanco





Tony


Minha fascinação por flores e poesia não era vista com bons olhos... Muitos chegavam a me excluir, me taxar como homossexual, essas coisas.
Mas quero deixar claro que, na verdade, a “culpa” é toda do papai. Sim, porque  ele foi quem destruiu o orquidário da mamãe naquele dia que veio a ser o mais obscuro da família Geraldy, ao menos, nessa geração. Eu era só um garoto montando minha caixa de formigas, quando ouvi uns ruídos: porcelanas quebrando, vozes alteradas, e depois, até alguns tiros. Corri pros braços de minha mãe, vendo meu pai virar sua garrafa de uísque com uma mão, na outra um rifre, aos pés, um dos enormes vasos partido ao meio.
O orquidário estava destruído, muito mais do que no dia em que sofreu pelo vendaval. Mamãe estava no auge de sua brancura, vestida tão somente por sua camisola, cabelos desgrenhados, vermelhos como carmim. A abracei forte, de encontro a seu colo, e todas as sardas que a deixava ainda mais graciosa. Lembro-me do perfume de minha mãe, ela era mais cheirosa do que todas as flores do jardim. – Porque está chorando mamãe? Não se preocupe! Eu farei um jardim mais bonito que esse, e terá tantas flores que precisaremos de um mapa pra não nos perdemos no meio delas!– essa foi a ultima frase que me lembro de tê-la dito. Depois disso, as flores e as poesias me acompanharam como se fora minha própria mãe, vivendo e me ensinando através delas.

Bem ela e papai já não se entendiam haviam anos. Acho até que eu mesmo criança, já tinha aprendido a lidar com as brigas deles, que chegavam a ser diárias...

O Claude ao contrário de mim, que me mantinha neutro, apesar de sempre estar ao lado de mamãe, enfrentava o nosso pai, o peitava como se pudesse realmente “destroná-lo”. Claude sempre estava disposto a passar tudo à pratos limpos, principalmente depois que descobriu o que papai fazia além de ser um péssimo marido e chefe de família. 
Papai era corrupto, frio e calculista, mas ainda era meu pai, meu só não, nosso pai, apesar de meu irmão ignorar isso até hoje.

O que eu mais gostava de fazer era visitar o asilo em Verrieres, aquele lugar, aqueles senhores... era tudo tão... mágico! As vezes Frasão ía comigo... e até consegui levar a turma de teatro do Perrault pra fazer uma apresentação por lá... eu visitava-os semanalmente, levava flores e doces que comprava na vila, além de meus melhores livros de poesia... aquele parque... era tão inspirador! Ainda mais com pessoas tão... maravilhosas (em sua quase absoluta maioria) e tão sábias. Lá aprendi as poesias mais lindas, e encontrei as flores mais coloridas! Era de lá, a maior parte das flores que entregava à Serafina...

Rosa... Estraguei tudo deixando todo esse tempo passar... passar longe dela! A nossa paixão passou... apagou

Rosa... espero não ter estragado mais a vida dela... Deus e agora?



Rosa

Vup ! Ouço esse som abafado, seguido pelo som das botas se “chocando”, enquanto o homem levava a mão à testa

- Captain!- ele diz, antes de se virar e sumir na penumbra deste beco maldito, onde ainda ecoa o trovão que saiu das mãos do homem, e que penetrou o peito do meu amado anjo. Meu anjo agora rouco, mas ainda de olhos brilhantes.

- Tony?!

- Rosa... espero que não fique brava, mas tenho que te confessar, eu comprei outra flor.- solta em sussurros

- Tony?!

- e... ela tem cor. Ela tem uma cor forte... ES...escura... e... ela é sua. E eu...- nessa hora, sua boca solta uma erupção, como um vulcão solta lava, sua boca expelindo sua essência vermelha...

- Tony?!!

- Escuta-me... – começo a sentir que o ferimento onde pressiono agora pulsava como um coração, Tony parecia estar exausto

- Shiii, quieto!- tento conte-lo, uma senhora aparece numa das sacadas agitando os braços, ao telefone- a ajuda já já chega...- ele começa a sacudir a cabeça, e depois dá um meio sorriso

- Esse você me contou... “O amor eterno... é o amor impossível. Os... amores possíveis... começam a mo...morrer no dia em que se concretizam...” -(Eça de Quiroz) Tony fecha os olhos, começo a me desesperar

- Hey!

- Meu amor por você é eterno Bel... non porque nunca se concretizou, mas porque para sempre estará no ar... –sussurra em tom quase inaudível

Suspiro...

Em mais um daqueles momentos em absurda insanidade mental (se é que pode ser mais absurda que a própria), vejo em minha atordoada mente, o riacho em Verrìeres... e uma das flores mais fascinantes de todas: o dente de leão, que com o vento, esparrama suas “pétalas” pelo ar... Eu não cansava de soprá-las! Sentava na pequena ponte, com dezenas dessas florzinhas dentro duma cestinha, e me dedicava à soprá-las, com todo cuidado... em meio a sussurros, risos: sons de “crianças” felizes, brincando na água...

As imagens são rapidamente substituídas, pela luz da lanterna do bombeiro no meu rosto, sua voz me despertando

- Dame? Dame? Vous bien?

- ... Oui...je.. je suis- pigarreio, ainda um pouco confusa, abaixo os olhos e fito Tony em meu colo. Ele respirava com dificuldade, e sangrava muito

Claude

- Non... non... Nara! Nara, pára com isso já! – Ouço um ruído do outro lado da linha- Nara quem está ai? É Dádi? Passa pra ela, hã?

- Alô!

- Dádi, Dieu! Oque está acontecendo ai, hã?

-  Olha Doutor Claudes, ela simplesmente tá parecendo uma múmia vice? E está fumando! Fumando como uma chaminé!

- Mon Dieu! Mas entom tente impedir que ela fume, Dadi! Esconda o dinheiro, jogue os maços no lixo sei lá!

- Tudo bem Doutor Claudes eu entendi... mas o senhor... vem quando?

- Non sei Dádi... pra ser sincero non sei... vou ver se consigo ser escalado pra transportar umas crianças doentes para a Alemanha... ver se consigo dar uma passadinha relâmpago por Paris na volta... mas isso, se der certo, significa no máximo umas quatro horas na França, e depois... Afeganiston outra vez... afinal, eu non posso correr risco de... ser acusado de desertor pelos meus queridos amigos da onça dentro da corporaçon..

- Ok... Ok Doutor... fica com Deus viu...

- Você também... tchau. – desligo num suspiro. Minhas costas ainda doem pelo peso que carreguei a madrugada inteira... cada bomba d’água parecia ser feita de puro chumbo!

- Ai!- reclamo automaticamente pelo choque da madeira em meu peito. Haviam muitas poças na rua de terra avermelhada, e alguns homens carregavam ripas, para construírem suas barracas, e, para não pisarem na água suja, se amontoaram no único lado da rua que estava seco, no caso, o lado do telefone público, no qual eu estava. Os homens desculparam-se em sua língua (acho) e continuaram o caminho. Eu sentia um desconforto quase insuportável, começo a ofegar. Deus o que será isso? A batida nem foi tão forte...



                          

5 comentários:

  1. Mano eu interpretei direito ou o Claude sentiu o que estava acontecendo com o Tony?
    Será que o Tony vai morrer?
    aff o bebê do Claude ja é fumante desde cedo?!..tadinho dele =(

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  2. O dóoooooooooooooooooo...O Tony nem era o amor da Rosa e ainda vai morrer...

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  3. Continuo 1/2 perdida no "tempo"
    dessa fic....mas tá bom.
    Juliana, tb acho q Claude está tendo
    uma reação ao sofrimento do Tony
    É a famosa sintonia entre gêmeos....

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