quinta-feira, 7 de abril de 2011

Capitulo 21- Vai-se a neve... De volta à luz



Le Eternel Amour
Tulipe Rouge

- Onde ela está?

- Ainda dormindo doutor Claudes.

- Enton Dadi, você entendeu tudo, non entendeu?

- Sim doutor Claudes pode ir sossegado que eu vou cuidar de tudo enquanto o senhor estiver fora.

- Ótimo. Confio em você Dádi!

Fecho a porta e saio em meio à lama da rua. A neve que derreteu forma poças horríveis, que aos poucos, vão sumindo... e dando lugar a uma paisagem um tanto desértica... Do alto tudo parece pequeno...

Mas meus problemas continuam iguais... Enormes e o pior: muito reais!
Pelo menos três anos sem voltar a pôr os pés na França. Não vou estar lá pra ver o bebê nascer... mas verei tudo graças a tecnologia da internet e todos os meios de comunicação disponíveis que encontrar. Não quero perder nada... E Dadi vai me ajudar com isso.
Não sei se teria coragem de tomar a criança de vez de Nara... Apesar de que se ela se mostrar uma “ameaça” ou mesmo a abandonar, oque é muito provável, eu não vou pensar duas vezes em fazer com que ela nunca mais a veja. Eu vou garantir que nunca falte nada a essa criança, inclusive proteção. Proteção essa que não me foi dada, mas que eu darei ao meu filho. Ou filha. Na verdade, ao contrário de meu pai, nunca rejeitaria nenhum filho. E mesmo esse não tendo o meu sangue, é meu por que eu o escolhi. Um filho de sangue às vezes é ingrato: Diz que sente se rejeitado por que o pai não escolheu que ele nascesse. Um filho adotivo é diferente, ELE foi escolhido. Isso faz toda a diferença.

Não vejo a hora deste tempo passar... Vou servir no campo de refugiados da guerra no Oriente Médio e depois vou voltar literalmente voando... sei que depois vou precisar voltar de novo... Mas no regresso, me lembrarei: desta vez tem alguém me esperando em terra. E sempre vai me esperar. Por que o laço de pais e filhos não é como o de conjugues, que acaba por qualquer coisa. Pais e filhos nunca se separam, porque estão marcados uns pelos outros. Os pais jamais esquecerão dos filhos e os filhos, querendo ou não, jamais esquecerão quem foram seus pais. No meu caso, isso não é exatamente uma bela filosofia, não me soa bem. Mas é verdade; ainda que eu queira, nenhum segundo pude me esquecer de onde eu vim...


Rosa




 Um dia após o outro... Olhando todas essas caixas, nem acredito que já estou voltando! Deus! Eu mal ajeitei a estante e já estou embalando tudo outra vez? Mas... Às vezes é necessário se jogar... Mesmo que pareça insano. Preciso tentar radicalizar... É exatamente o que eu busquei sempre e nunca tive a coragem suficiente. Mas agora é tudo ou nada.

Silvia não vem agora, mas daqui dois meses ela está pousando em Paris. Vou precisar muito dela, aconteça oque acontecer, pois, apesar da minha família toda estar lá, não vou recorrer a eles caso necessite, porque sei que provavelmente não me darão muito apoio... mesmo que dessem, acho que não o aceitaria...

Estou indo quase que no rebote do Jean... Porque faz só quatro dias que ele deixou Montreal rumo à Londres com o pai... Nem sei como tudo vai funcionar a principio, mas acredito que essa “ponte” em Londres seja pra que eu me instale em Paris antes de levantar muitas suspeitas ao Tony. Basicamente, vou fazer pose no espelho até achar que ensaiei o suficiente uma desculpa que não deixara de ser esfarrapada a todos os meus conhecidos... Nem eu me convenço ! REVIRAVOLTA é essa a palavra.


- Sim babbo, isso mesmo... Não... Eu vou trabalhar ai babbo, mas não vou voltar pra sua aba, não se preocupe... - digo num tom distraído, mas aperto o telefone como se ele fosse um peixe que pudesse escorregar pra água novamente- É... Eu sei mas eu.. Quero ter minha vida pai. Será que o senhor pode entender? Olha, são só doze horas até agente poder conversar pessoalmente... preciso desligar, se trata de um telefone publico e... ok. Também te amo pai.- devolvo o telefone ao gancho e me escoro na parede- ufa!

- Rosa... Meu Deus... Oque ele vai dizer...

- Silvia não se preocupe com isso, com meu pai eu me acerto. Mas eu quero saber... Você está mesmo disposta a largar tudo e voltar pra França?

- Estou. Até porque, oque eu tenho aqui pra largar? – ela mostra as palmas, revirando os olhos- Rosa... Montreal não passou de um sonho... Mas sei que aparecerão outros... E enquanto isso não acontecer, eu estarei com você minha amiga, como nos velhos tempos!

- Ah, Sil... Obrigada mesmo!- abraço minha querida amiga... ela foi uma das primeiras e mais verdadeiras que tive. E que ainda tenho e terei ao que me consta.



A viagem passou mais rápida do que nunca... Acordei já em Paris. A primeira coisa que vi foi minhas próprias mãos, as luvas que Tony me renunciara. Pra minha estranheza, não havia uma só alma viva me esperando... Fiquei intrigada, mas depois me lembrei que o vôo que peguei estava muitas horas atrasado e por isso não havia mais ninguém no frio aeroporto...

Encontrei um telefone público, pedi pra que Sérgio viesse me buscar...

- Engraçado isso.

- Isso oque?

- Você ter vindo e não ele.

- Ah, pois é Rosa. Ta vendo como são as coisas? Agente que pega pra criar e eles enchem a boca pra dizer que o cabeça são eles! Que cuidam que mandam em tudo!- Janete sacode a cabeça rindo, suas mãos pálidas seguram o volante com a mesma leveza de sempre...

- haha... Jane... Estava mesmo com saudade daqui... – observo as luzes fugindo na janela, os prédios, os postes... Esta é a minha Paris...

- Tem certeza de que não quer ligar pra ele?

- Tenho. Ah ele já deve estar dormindo... a Joana vai ficar louca comigo se eu interromper o ‘sono de beleza’ dela...

- Está com o endereço?

- Estou. Mas obviamente só vou lá amanhã a tarde.

-Hoje a tarde você quis dizer pois já passam das duas da manhã, Bel.

- Esquece esse Bel, por favor!- rio

- Tá bem então, Fina!

- Fina? Fina Janete?! Quer mesmo me matar!

- Como você disse que o tal jornal lá se chama?

- Não é um jornal, Jane, é uma revista. E chama-se Le-  Cor-di-er... – Pronuncio pausadamente, num suspiro...

- Eu sei no que está pensando.

- Ah sabe?

- Claro que sei. Você esta nervosa.  Poxa amiga, você vai ser editora!     

- Eu sei... esse era meu sonho né...

- Era? Ué... Não é mais?

- Nem sei...

- Entendi... Acho que é porque quando se realiza um sonho, agente sonha outro, pra que não pare de sonhar.

- Janete.... - sorrio- Você me conhece mesmo amiga. Mas estou tão cansada...

- Chegamos. Vou ver se minha cria desce e carrega suas malas lá pra cima! – ela abre a porta, eu me estico pra espiar o prédio, bege, como todos os outros  da rua...



Encho o copo até a borda, me preparo pra virar de uma só vez

- Não devia fazer isso... - Sérgio me adverte em vão, sinto minha laringe queimar

- Oque mais ele disse? – Janete senta a meu lado, cheira a talco..- escutei até “ non ci posso credere!” e ai Alice começou seu show.

- Onde ela está?

- Ah com a babá. Mas não fique você achando que sou uma mãe desalmada,  afinal, dois quarteirões e eu já estou louca para ligar pra saber se está tudo bem, se já acordou... Mas então, você vai mesmo se mudar?

- Estou decidida Janete. Eu preciso fazer meu pai entender de vez que quem cuida da minha vida sou eu!

- Genitore civeta... Querendo manter sempre debaixo das asas... Eu que sou só enteado e ainda por cima sou casado e recebo bronca até hoje!

- Sérgio, tenho certeza que você mereceu.- rio, Janete mostra-me o polegar

- Concordo plenamente!

- Mas então, quer que eu te leve lá?

- Ah Sérgio, quero sim mano. Estou muito nervosa... recebi um e-mail dizendo que eu começo na Cordier amanhã!

- Amanhã? Nossa! Mas que rápido!

- Nem me fale... mas por isso mesmo é melhor irmos logo, ver esse tal apartamento, ajeitar as coisas por lá...

- E... Quando você vai... Você sabe, se encontrar com ele?

- Não sei. Nem sei se eu vou falar diretamente com ele... mas sei que o Tony não pode desconfiar de nada por enquanto.

- Recebi um e-mail do Frasão.

- É mesmo Sérgio?

- É... Parece que ele está de volta na cidade. Não sei se você ficou sabendo, ele estava no Brasil, a negócios da empresa em que ele trabalha.

- Nossa... Brasil, que máximo! Mas e ai?

- Ele vai vir aqui em casa amanhã. Pena que você não vai estar!

- É pena mesmo... Mas eu preciso mesmo ir lá, conhecer tudo... me adaptar...

- Quem é o editor chefe você sabe?

- Não Jane... Mas parece que é uma mulher...

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