Le Eternel Amour
Tulipe Rouge
Fecho a porta do carro, e dou mais uma olhada na casa. Aparentemente, está igual a que eu deixei há muitos anos atrás. Caminho a passo firme, carregando Raquel nos braços, porque, apesar de minha insistência, ela se recusou a despertar. Subo os degraus com o máximo cuidado para não assustá-la... os criados começam a aparecer e me olhar como se estivessem vendo uma assombração. Entro na sala, e deposito minha pequena num sofá. E parto a procura de meu pai.
Ainda que pra mim possa ter parecido uma eternidade, sei que nossa conversa foi deveras curta pra uma reconciliação ou mesmo um acordo de paz. Apenas... permanecemos indiferentes. Disse a ele que minha filha estava na sala, que ele TINHA que conhecê-la. Pensei em usar o ênfase de que era pra segurança dela mas... Achei que isso sim faria surgir mais outro problema.
Qual não foi a minha surpresa ao vê-lo sorrir e abraçar Raquel! E ainda chamá-la de neta? Eu tentei corrigi-lo, advertindo inutilmente aquilo que ele já sabe: Raquel não possui laços sanguíneos comigo, logo, com ele também não. Mas ele pareceu tão indiferente quanto eu nesse quesito. Nem por um momento fez menção de jogar isso na cara. Não quer dizer que algo tenha mudado, entre mim e ele. Mas por Raquel, prometi que a traria novamente.
- é muito bom ter um outro avô!- ela sorria. Mas eu sabia que meu pai não era muito melhor do que ter Egidio como avô.
Rosa
-Ora, mas isso não é justo!- choro como uma criança manhosa, enquanto Janete punha o toque final em mim: a boina.
- Nada disso. Agente combinou lembra? Primeiro você vai lá.. prepara o território, depois...
- aaaii... Eu estou muito insegura!- tapo os olhos com os dedos, e ela me dá a volta, colocando um cachecol em meu pescoço
- Olha eu sei que você não gosta tanto do outono como do verão... Mas pensa, esse com certeza vai ficar pra história!
- Janete para de tentar me distrair! Eu não me acalmei e não vou conseguir ficar calma nunca desse jeito!
-hm...- ela para na minha frente, me estudando com os olhos- é....- ela me força a dar uma volta- é... está ótimo. Você está muito bonita! Agora vai! Vai se não quem perde a paciência aqui é eu!
Saio batendo os pés, como criança birrenta. E me dirijo aquela rua novamente. Aquela onde as casas parecem abandonadas, sem vizinhança. Aquela onde um homem com feições muito mais que familiares mora. Onde a pessoa que com certeza foi mais amada pelo Tony do que eu mora. Onde ele ainda vive...
Como da outra vez, toco o interfone, mas pra minha surpresa, ninguém responde. Um visinho(!) me informa de que saíram todos, os três. Que provavelmente passariam o dia inteiro fora.
- Uh-lah-lah!- rio, usando essa expressão ao que acredito pela primeira vez na vida- Era tudo oque eu precisava! A desculpa perfeita! Merci!- viro-me rindo, e o ancião permanece estagnado, provavelmente tentando traduzir (ou não) as minhas palavras e explosão eufórica...
Mas,
para enfatizar a frase:... “tristeza não tem fim felicidade sim....”
Claude
- Não acredito ainda...- ela diz pela milésima vez. Eu suspiro, virando a ultima esquina
-Tudo bem Dadi, chegamos...- abaixo um pouco a cabeça, olhando pra cima, como se fosse a primeira vez que visse minha casa. Solto o cinto e Dadi abre a porta, já com Raquel no colo. Eu ponho o capuz em suas costas
- Acho que não teve uma vez que ela não dormiu! Pelo menos ela não enjoa né...
-Ai sim ia ser um problema.- me enfio no carro, agarro a abandonada bolsa vermelha de Raquel. Mas então, ao me virar deparo com um par de olhos esbugalhados fitando-me- ...
Antes que um de nós pudesse pensar numa única palavra, Dadi se vira,
- Eu vou subindo que é pra por ela na cama tá? – e o seu Pierre pega as malas ao meu lado, como se eu fosse incapaz de me mover ( naquele momento, eu era) e sobe atrás de Dadi.
- Olá...- ela diz, deixando os braços soltos do lado do corpo, com o tom mais casual que já ouvi dela
- Sallut.- digo, fechando a porta atrás de mim.
- Eu... Preciso ter..uma palavrinha com você... Pode ser?
-Hã... Claro, claro que pode! Hm... Gostaria... De subir?- aponto as escadas ainda expostas pela porta aberta
-Na verdade...Não. Eu... – ela junta as mãos, se balançando como quem pede algo realmente embaraçoso
- Gostaria de conversar em um lugar... mais privativo...- balanço a cabeça - quero dizer, onde possamos conversar a sós.- não adiantou, ainda havia um perturbador constrangimento no ar
- É mais ou menos isso. Eu só..- ela fecha os olhos aspirando o ar de vagar- quero que agente tenha uma conversa de verdade, uma...
...
- Tá falando sério?- pergunto, enquanto ela sorri, segurando o sanduíche, eu mordo o meu e mastigo-o pensando no que viria a seguir
- Eu sei que você pode achar que eu seja um tanto maluca mais... sei lá. Audiência foi o primeiro nome que me veio a mente!-ri
- Tudo bem... Enton... Você me trouxe ao...
- Mac Donald’s
- Mac Donalds... - tento permanecer sério, mas é impossível mas me lembro da recente visita que fiz junto com Raquel- oui... e... me propõe uma “audiência”....- enfatizo essa ultima palavra, já portando um sorriso
- Não... –abana a cabeça- você TEM CERTEZA DE QUE EU SOU UMA MALUCA!- ela ri, e eu a acompanho
- Mais alors, você... quer falar do que?
- Eu... eu queria falar com você sobre...
- Jean Antoine Geraldy, acertei?
- Sim. Você acertou- e ainda que possa me achar mórbida eu... queria falar por ele.
- Falar... por ele?- franzo o cenho, perguntando-me se por acaso ela..
- Não nada disso! –sorri- eu apenas fiquei... Digamos... Encarregada de uns... Assuntos ai.. Mas eu preciso que você me ajude por que ele não me contou tudo.
- hã? Mas como assim... Do que você esta falando?
- De assuntos pendentes envolvendo a família Geraldy.
- Rosa... Por favor, isso...
- É assunto seu e não é da minha conta, isso eu já sei. Mas acontece que seu irmão não compreendeu bem isso. E.. -ela abaixa os olhos, sinto alguma tristeza em sua voz- da mesma forma que ele entrou na minha vida como que caído de pára-quedas... eu vou entrar na sua... Mas ó, a culpa é dele viu? É a ele que você deve odiar!- ela ri, mas eu estremeço
- Eu nunca o odiaria.
- Não tenho tanta certeza.- ela diz rapidamente e num tom quase inaudível- Mas, então, podemos... começar por você!
- Por mim?
- Sim! Eu queria saber um pouco mais sobre você...
- Como assim? Isso agora é um..
- Interrogatório? É, quase.- ela sorri, meneando a cabeça
- hm...
- Primeira pergunta que eu tenho é... você tem uma filha né? E como é a relação entre ela e seu pai?
- bom Rosa...
- Ah na na não! Desculpa! Nossa! Eu estou muito ansiosa estou indo depressa de mais!... Ah!- eu me espanto com essa nova euforia, de repente ela levanta e fica ao meu lado, estendendo a mão. Levanto também- vamos fingir que não nos conhecemos e que hoje estamos nos vendo pela primeira vez na vida, hã?
- Rosa...
- Esse é o meu nome! Prazer! E o seu é?...- ela sorri, mas eu reviro os olhos cedendo ao comprimento
- Claude Antoine Geraldy... Rosa! –protesto, e ela dispara
- Posso me sentar aqui?- eu aponto a cadeira, os dois sentamos.
- Rosa isso non vai dar certo... Olha, primeiro, me explica oque..
-Eu estou pretendendo e porque eu não deixo você terminar uma única frase...eu sei...- ela se sacudia como se estivesse com muito frio, apesar do calor do ambiente ter nos feito deixar os casacos sobre o encosto das cadeiras
- Desculpe.
- Pelo que?
- Porque pelo que eu entendi, você está constrangido por....
- Rosa non...
- Tudo bem. Eu vou te contar. É o seguinte Claude... o Tony, - suspiro- o Tony deixou algumas hã... recomendações pra mim sabe... ele... Queria que... tudo ficasse bem.- ela me olha profundamente, e eu sinto uma sensação a qual sou incapaz de descrever
- Sei... ele era assim.- abaixo a cabeça- sempre se preocupou muito mais com os outros do que com si próprio.
- Não é oque ele achava. Na verdade, ele se sentia muito culpado...
- Eu sei.
- E eu sei que você sabe. Quero dizer, o porquê dessa culpa.- ela meneia a cabeça, e eu franzo o cenho, já desnorteado com a conversa. Ela suspira
- E...ainda que eu esteja me passando por idiota com essa conversa aparentemente sem sentido, Claude, eu vou fazer oque ele me pediu.
- E...oque foi que ele pediu?
- Pra que cuidasse muito bem de tudo.
- De tudo?- repito o eco em minha mente, oque poderia caber nesse tudo?
- Sim Claude, de tudo. Mas pra isso, eu preciso saber exatamente o que aconteceu.
- Olha...- me inclino pra trás, e olho em volta- Eu sei que você non vai desistir mesmo enton... quero te pedir pra que agente converse sobre isso uma outra hora sabe...
- Tudo bem, eu entendo. Afinal, é o nosso primeiro encontro!- ela ri,
- E oque mais?- pergunto, pressentindo que existia algo muito maior por trás disso
- Você vai saber. E eu não sei como vai reagir então... Espero que me conte tudo antes.
- Antes de me contar a sua parte?
- É. A minha parte. - ela repete minha colocação pausadamente, enquanto os olhos pareciam poder enxergar minha alma