sábado, 30 de abril de 2011

Capitulo 30- Reecontro

 


Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


Fecho a porta do carro, e dou mais uma olhada na casa. Aparentemente, está igual a que eu deixei há muitos anos atrás. Caminho a passo firme, carregando Raquel nos braços, porque, apesar de minha insistência, ela se recusou a despertar. Subo os degraus com o máximo cuidado para não assustá-la... os criados começam a aparecer e me olhar como se estivessem vendo uma assombração. Entro na sala, e deposito minha pequena num sofá. E parto a procura de meu pai.

Ainda que pra mim possa ter parecido uma eternidade, sei que nossa conversa foi deveras curta pra uma reconciliação ou mesmo um acordo de paz. Apenas... permanecemos indiferentes. Disse a ele que minha filha estava na sala, que ele TINHA que conhecê-la. Pensei em usar o ênfase de que era pra segurança dela mas... Achei que isso sim faria surgir mais outro problema.

Qual não foi a minha surpresa ao vê-lo sorrir e abraçar Raquel! E ainda chamá-la de neta? Eu tentei corrigi-lo, advertindo inutilmente aquilo que ele já sabe: Raquel não possui laços sanguíneos comigo, logo, com ele também não. Mas ele pareceu tão indiferente quanto eu nesse quesito. Nem por um momento fez menção de jogar isso na cara. Não quer dizer que algo tenha mudado, entre mim e ele. Mas por Raquel, prometi que a traria novamente.

- é muito bom ter um outro avô!- ela sorria. Mas eu sabia que meu pai não era muito melhor do que ter Egidio como avô.

Rosa

-Ora, mas isso não é justo!- choro como uma criança manhosa, enquanto Janete punha o toque final em mim: a boina.

- Nada disso. Agente combinou lembra? Primeiro você vai lá.. prepara o território, depois...

- aaaii... Eu estou muito insegura!- tapo os olhos com os dedos, e ela me dá a volta, colocando um cachecol em meu pescoço

- Olha eu sei que você não gosta tanto do outono como do verão... Mas pensa, esse com certeza vai ficar pra história!

- Janete para de tentar me distrair! Eu não me acalmei e não vou conseguir ficar calma nunca desse jeito!

-hm...- ela para na minha frente, me estudando com os olhos- é....- ela me força a dar uma volta- é... está ótimo. Você está muito bonita! Agora vai! Vai se não quem perde a paciência aqui é eu!

Saio batendo os pés, como criança birrenta. E me dirijo aquela rua novamente. Aquela onde as casas parecem abandonadas, sem vizinhança. Aquela onde um homem com feições muito mais que familiares mora. Onde a pessoa que com certeza foi mais amada pelo Tony do que eu mora. Onde ele ainda vive...

Como da outra vez, toco o interfone, mas pra minha surpresa, ninguém responde. Um visinho(!) me informa de que saíram todos, os três. Que provavelmente passariam o dia inteiro fora.

- Uh-lah-lah!- rio, usando essa expressão ao que acredito pela primeira vez na vida- Era tudo oque eu precisava! A desculpa perfeita! Merci!- viro-me rindo, e o ancião permanece estagnado, provavelmente tentando traduzir (ou não) as minhas palavras e explosão eufórica...

Mas,
 para enfatizar a frase:... “tristeza não tem fim  felicidade sim....”

Claude


- Não acredito ainda...- ela diz pela milésima vez. Eu suspiro, virando a ultima esquina

-Tudo bem Dadi, chegamos...- abaixo um pouco a cabeça, olhando pra cima, como se fosse a primeira vez que visse minha casa. Solto o cinto e Dadi abre a porta, já com Raquel no colo. Eu ponho o capuz em suas costas

- Acho que não teve uma vez que ela não dormiu! Pelo menos ela não enjoa né...

-Ai sim ia ser um problema.- me enfio no carro, agarro a abandonada bolsa vermelha de Raquel. Mas então, ao me virar deparo com um par de olhos esbugalhados fitando-me- ...

Antes que um de nós pudesse pensar numa única palavra, Dadi se vira,

- Eu vou subindo que é pra por ela na cama tá? – e o seu Pierre pega as malas ao meu lado, como se eu fosse incapaz de me mover ( naquele momento, eu era) e sobe atrás de Dadi.

- Olá...- ela diz, deixando os braços soltos do lado do corpo, com o tom mais casual que já ouvi dela

- Sallut.- digo, fechando a porta atrás de mim.

- Eu... Preciso ter..uma palavrinha com você... Pode ser?

-Hã... Claro, claro que pode! Hm... Gostaria... De subir?- aponto as escadas ainda expostas pela porta aberta

-Na verdade...Não. Eu... – ela junta as mãos, se balançando como quem pede algo realmente embaraçoso

- Gostaria de conversar em um lugar... mais privativo...- balanço a cabeça - quero dizer, onde possamos conversar a sós.- não adiantou, ainda havia um perturbador constrangimento no ar

- É mais ou menos isso. Eu só..- ela fecha os olhos aspirando o ar de vagar- quero que agente tenha uma conversa de verdade, uma...

...


- Tá falando sério?- pergunto, enquanto ela sorri, segurando o sanduíche, eu mordo o meu e mastigo-o pensando no que viria a seguir

- Eu sei que você pode achar que eu seja um tanto maluca mais... sei lá. Audiência foi o primeiro nome que me veio a mente!-ri

- Tudo bem... Enton... Você me trouxe ao...

- Mac Donald’s

- Mac Donalds... - tento permanecer sério, mas é impossível mas me lembro da recente visita que fiz junto com Raquel- oui... e... me propõe uma “audiência”....- enfatizo essa ultima palavra, já portando um sorriso

- Não... –abana a cabeça- você TEM CERTEZA DE QUE EU SOU UMA MALUCA!- ela ri, e eu a acompanho

- Mais alors, você... quer falar do que?

- Eu... eu queria falar com você sobre...

- Jean Antoine Geraldy, acertei?

- Sim. Você acertou- e ainda que possa me achar mórbida eu... queria falar por ele.

- Falar... por ele?- franzo o cenho, perguntando-me se por acaso ela..

- Não nada disso! –sorri- eu apenas fiquei...  Digamos... Encarregada de uns... Assuntos ai.. Mas eu preciso que você me ajude por que ele não me contou tudo.

- hã? Mas como assim... Do que você esta falando?

- De assuntos pendentes envolvendo a família Geraldy.

- Rosa... Por favor, isso...

- É assunto seu e não é da minha conta, isso eu já sei. Mas acontece que seu irmão não compreendeu bem isso. E.. -ela abaixa os olhos, sinto alguma tristeza em sua voz- da mesma forma que ele entrou na minha vida como que caído de pára-quedas... eu vou entrar na sua... Mas ó, a culpa é dele viu? É a ele que você deve odiar!- ela ri, mas eu estremeço

- Eu nunca o odiaria.

- Não tenho tanta certeza.- ela diz rapidamente e num tom quase inaudível- Mas, então, podemos... começar por você!

- Por mim?

- Sim! Eu queria saber um pouco mais sobre você...

- Como assim? Isso agora é um..

- Interrogatório? É, quase.- ela sorri, meneando a cabeça

- hm...
- Primeira pergunta que eu tenho é... você tem uma filha né? E como é a relação entre ela e seu pai?

- bom Rosa...


- Ah na na não! Desculpa! Nossa! Eu estou muito ansiosa estou indo depressa de mais!... Ah!- eu me espanto com essa nova euforia, de repente ela levanta e fica ao meu lado, estendendo a mão. Levanto também- vamos fingir que não nos conhecemos e que hoje estamos nos vendo pela primeira vez na vida, hã?

- Rosa...

- Esse é o meu nome! Prazer! E o seu é?...- ela sorri, mas eu reviro os olhos cedendo ao comprimento

- Claude Antoine Geraldy... Rosa! –protesto, e ela dispara

- Posso me sentar aqui?- eu aponto a cadeira, os dois sentamos.

- Rosa isso non vai dar certo... Olha, primeiro, me explica oque..

-Eu estou pretendendo e porque eu não deixo você terminar uma única frase...eu sei...- ela se sacudia como se estivesse com muito frio, apesar do calor do ambiente ter nos feito deixar os casacos sobre o encosto das cadeiras

- Desculpe.

- Pelo que?

- Porque pelo que eu entendi, você está constrangido por....

- Rosa non...

- Tudo bem. Eu vou te contar. É o seguinte Claude... o Tony, - suspiro- o Tony deixou algumas hã... recomendações pra mim sabe... ele... Queria que... tudo ficasse bem.- ela me olha profundamente, e eu sinto uma sensação a qual sou incapaz de descrever

- Sei... ele era assim.- abaixo a cabeça- sempre se preocupou muito mais com os outros do que com si próprio.

- Não é oque ele achava. Na verdade, ele se sentia muito culpado...

- Eu sei.

-  E eu sei que você sabe. Quero dizer, o porquê dessa culpa.- ela meneia a cabeça, e eu franzo o cenho, já desnorteado com a conversa. Ela suspira

- E...ainda que eu esteja me passando por idiota com essa conversa aparentemente sem sentido, Claude, eu vou fazer oque ele me pediu.

- E...oque foi que ele pediu?

- Pra que cuidasse muito bem de tudo.

- De tudo?- repito o eco em minha mente, oque poderia caber nesse tudo?

- Sim Claude, de tudo. Mas pra isso, eu preciso saber exatamente o que aconteceu.

- Olha...- me inclino pra trás, e olho em volta- Eu sei que você non vai desistir mesmo enton... quero te pedir pra que agente converse sobre isso uma outra hora sabe...

- Tudo bem, eu entendo. Afinal, é o nosso primeiro encontro!- ela ri,

- E oque mais?- pergunto, pressentindo que existia algo muito maior por trás disso

- Você vai saber. E eu não sei como vai reagir então... Espero que me conte tudo antes.

- Antes de me contar a sua parte?

- É. A minha parte. - ela repete minha colocação pausadamente, enquanto os olhos pareciam poder enxergar minha alma






quarta-feira, 27 de abril de 2011

Capitulo 29- Foi Coragem?

 
Le Eternel Amour
Tulipe Rouge




- Que foi Rosa?

- Nada... é que... eu... Silvia!- de repente grito

- Oi!- ela responde como quem diz: ei, está me vendo aqui na sua frente?

- Ah é que... eu queria te pedir uma coisa...

- Já sei oque é.

- Sabe?

- Claro. Quer ir pra algum lugar antes de voltar pra casa hoje... não se preocupe, eu cuido de tudo!

- Obrigada amiga!- sorrio


O vento sussurrava enquanto agitava as folhas nas calhas, os telhados ressoavam o eco da rua vazia. Olho pro alto. Uma bela sacada... minhas frágeis luvas de lã lilás me fazem sentir ainda mais criança, enquanto aperto o botão do interfone e penso em sair correndo. Mas não saio. Aguardo a resposta, aperto o envelope no peito. Uma mulher atende. Conversamos em francês, penso que pode ser Dádi. Apresento-me e ela exclama: Deus do céu, é você menina?!
Sinto meio sem graça mas nem tenho tempo pra responder, ouço os passos apressados descendo os degraus que se revelaram atrás da porta assim que ela a abriu com um sorriso. Ela me abraçou como se nos conhecêssemos há longa data, e aquele fosse um reencontro não um encontro. Ela me pega pela mão e me faz subir, antes que eu diga qualquer coisa além de “oh!”

- E... Onde está...

- O doutor Claudes?- ela pergunta arqueando as sombracelhas, inclinando a cabeça de lado

- a...- sorrio de leve, porque ela me parece um tanto cômica. Era ela que ajudara Tony a se tornar o único parisiense com senso
de humor?- é... o doutor... Claude.

-Sei que você não chama ele de  doutor!- ela abana com a mão- mas espere ai, que eu vou buscar um chá pra senhora, viu?

- Senhorita...- protesto, já falando sozinha, abandonada sobre um sofá fofo. Numa sala pastel... uma mesinha de centro a minha frente, de madeira caramelo, com alguns livros sobre ela. Arrebato um: Petter Rabbit. Sorrio fascinada, pois tinha um exemplar idêntico em casa. Mas ainda sim, ajo como se não o soubesse inteiro de cor!

- Dona Rosa... o doutor Claudes deu uma saidinha sabe... Levou a filha no parque mas ela passou mal e ai ele está com ela no hospital... Nada grave sabe...

- Oh, entendo... Mas não faz mal... Apenas... Vim trazer isso... - levanto-me, estendendo o envelope.

- Ele chega já já... não quer esperar?

- Ah não... eu.. –pigarreio- Eu preciso mesmo ir.... Foi um prazer Dádi...

- O prazer é todo meu... sei que você é uma menina muito especial, Dona Belina!- ela sorri

- Sabe meu nome secreto.. - rio, balançando a cabeça enquanto fito a figura mais convidativa e fraternal que já encontrei numa babá

- As coisas correm...

- Hã?- franzo o cenho, mas ela apenas abana a mão, pondo o envelope sobre um aparador, eu ando até a porta por qual entrei a minutos atrás

- Tchau Dádi... – inclino-me a fim de beijar-lhe a face, ela faz o mesmo, e me abraça

- Espero te ver em breve!

- Eu também espero.- respondo, olhando-a pela ultima vez, antes de sair porta a fora.

Suspiro antes de virar e seguir a marcha. Quando chego à esquina, olho pra trás, e avisto a varanda outra vez. em um lapso lembro dela: da ruiva fumante. Seus olhos manchados de rímel... Aquela expressão vazia... Pergunto-me o que terá sido feito de Nara... A mulher pela qual tive compaixão, quando muitos julgavam-na invejavel. Eu sabia que algo muito triste estava debaixo de seus olhos, tão escondido e maquiado como sua alma.

Claude

- Alors... comment vous sentez-vous?

- Bem... Estou bem melhor papai.- ela responde, fechando os olhos- Pode contar o resto da história agora?

- Claire...- rio, alcançando o livro na cabeceira. Ela permanecia imóvel, os brilhantes cabelos refletindo a luz do abajur, esparramados pelo travesseiro.

- E sabe.. desta vez não vou demorar a dormir papai. Porque já sei toda ela... e nem vou precisar ver os desenhos... já vi todos.- ela diz, em um sorriso apreciável.

- Oh... e... non vai nem mesmo perguntar o significado de nenhuma palavra?

- Ah não exagera!- ela abre apenas um olho, mas logo o fecha. Eu rio e ela continua- Mas não se preocupe, quando aprender a ler, o primeiro livro que vou ler é o dicionário!

- E você sabe pra que serve o dicionário?

- Mas claro que sei! Serve pra dizer oque as palavras significam...- eu rio pela irritação dela, e pela maneira como ela colocou as palavras

- Mas vai ler qual? O em português ou em francês?

- Vou ler os dois ao mesmo tempo.

- Ao mesmo tempo?

- Sim... Mas agora começa a história, papai! Porque se não, o senhor me enrola no papo e não lê pra mim!- ela chuta os cobertores, e eu abro o livro

Deus... Rosa esteve aqui hoje! E o que será que ela me diria?... Não consigo abrir a carta de Tony... Não tenho forças ou coragem.... mas porque raios ele deu pra ela entregar? E porque só agora?

À Claude- Fecho novamente a carta, e por um momento aspiro o ar, como se pudesse sugar a essência daquilo.

Ler a letra dele me causa estranhos arrepios. É como se ali estivesse a voz dele, me gritando, como se oque estivesse dizendo fosse de estrema urgência...
E de fato é. Quer que eu leve Raquel até meu pai. E pelo meu amado irmão, parte de mim, vou fazer isso. E não penso no que meu pai dirá. Se receberá a mim e minha filha. Mas sei que é meu dever fazer isto, e farei.
Imediatamente, peço a Dádi ajuda com as malas. E começo a preparar meu espírito pra esse encontro... dez anos sem falar com alguem, pode te deixar muito sem assunto, ao contrário do que se pensa.

Rosa


-Não! – ela agarra a xícara, deixando-a frente a boca

- É eu sei...eu fui uma medrosa, uma covarde!- digo, enquanto mexo o  liquido com a colherinha

- Rosa!...

- Ai Janete, para de me olhar assim!- protesto, e bebo um gole exagerado da bebida quente

- Rosa... Eu estou... Eu estou estagnada... Meu Deus... Quero dizer... Oque posso te dizer?!

- Tá... Eu sei, a culpa é minha também... Afinal... Eu deveria ter feito isso a muito tempo e...

- Rosa! você... Você foi corajosa!

- hã?- sento-me na cadeira

- Claro que foi! Porque... Eu, no seu lugar, não iria não!- ela diz, antes que o vapor do chá embace minha visão

- Eu sei que eu fui é burra! Uma idiota! Ainda bem que ele não estava em casa...

- Nada disso! Acho que está mais do que na hora de você contar pra ele!

- Não! Isso não! - salto

- Com a mesma Coragem que você teve de ir até lá, você volta, ah volta!






segunda-feira, 25 de abril de 2011

Capitulo 28- Desconjuro, cruz credo!


 
Le Eternel Amour
Tulipe Rouge



Insisto em não ceder. Não ceder ao sono. Preciso terminar a história. Ou ela nunca me deixará em paz. Todas as vezes que eu pauso um pouco pra mais um bocejo, ela grita: Hey! Papai! . Em outras ocasiões eu odiaria isto. Mas não hoje porque, apesar do cansaço, é meu primeiro aniversário dela. Passamos o dia inteiro andando, levei-a ao bendito Euro Disney e vimos o tal Mickey Mouse que ela tanto queria ver. E até compramos a tiara com as orelhas. E tudo oque comi pode se resumir em carboidratos e muita gordura saturada, além de corantes, é claro. Ao vê-la assim tão feliz em estar comigo, penso se alguma vez terei coragem de lhe negar algo, oque pra mim, parece ser impossível.

- Doutor Claudes?- sinto o temeroso toque de Dádi em meu ombro. Pergunto-me se ela tem medo de eu acordar como um urso,

- Oque Dádi?- então me volto e dou conta de que está bastante tarde, Rachel dormindo em meus braços, o livro aberto em sua frente, pisco

- É... Achei que o senhor não esteja assim, confortável né... Por isso eu vim te acordar pro senhor...

- Ok Dadi, obrigado, já acordei, hã?- sento e passo a mão no rosto. Dádi acena e sai. Rachel continuava embalada em seu sono. Beijo sua testa e despeço-me, apagando o abajur.


....

- Hum!- ouço o espanto de Dádi- Doutor Claudes... como... pra que o senhor pendurou esse.. esse troço ai, no meio do quarto ein?

- Olha Dádi esse “troço” é o meu saco de bater hã? Eu preciso dele.

- No meio do quarto?

-Onde eu achar conveniente Dadi, e o quarto é meu.

-Tudo bem... e... Essa roupa ai? É pós banho é?

-Non Dadi, é um quimono.

-aaa... igual aquele que o senhor usava quando era pequeno né...

-Oui.- chuto o saco, sacudindo-me enquanto pulo no mesmo lugar

-Ah quer saber?Eu é que desisto. -Dadi sai fechando a porta atrás de si- a propósito, o jantar está servido!

Odeio quando ela faz isso. Nunca deixei de considerar Dadi como uma segunda mãe... ela tem que fazer eu me sentir péssimo!

-Entendo. Afinal, de uma maneira ou de outra, nisso você continua parecido com o imortal Tony...- ele revira os olhos, erguendo seu uísque

- Non... non podemos ser comparados... o Tony era… genial. Mas eu... sou só...

- Oh, um “Cloune”.- ele ri, e eu bufo

- Tá, maus aí pela infâmia, amigo!- tenta se corrigir, batendo em meu ombro

- Amigo... você? Haha

-Claude... Você sabe que é meu amigo do peito, né?

- hum... sei.

- Olha... Você também não precisa se sentir obrigado à minha presença... se quiser, eu saio..- ele faz menção de levantar, eu ponho a mão em seu ombro

- Tudo bem.. já entendi... desculpa enton- digo, ele se ajeita sorrindo

- Desculpas aceitas! Agora tenho que te dar os parabéns, sua Rachel é linda!

- Merci!

- Apesar que eu sei que isso se deve ao fato de ela NÃO ter nenhum grau de parentesco contigo né...- ele gargalha e eu bato no peito dele rangendo os dentes

- Meça suas palavras, hã?

- Claro, medirei.- ele abre os braços

- Rachel é minha filha. E ela non pode nem sonhar com algo que lhe faça pensar que é adotiva, entendeu? Non por enquanto


Rosa



“Esquece todos os poemas que fizestes. Que cada poema seja o numero um. Mario Quintana.”



Rosa querida,
Meu eternel amour, estou aqui escrevendo, enquanto você não volta com a baguete pro nosso chá. A tua irmã postiça me olha como se eu estivesse escrevendo uma carta de amor, me encarando com a mão no queixo e os olhos esbugalhados me faiscando sua “verdura”.(obs, não tenho certeza de que essa palavra exista, nem que tenha esse significado, mas sei que me entendeu, é isso). Estou arriscando escrever em português, porque você sabe, falo bem porque vivi no meio de vocês, meus amados amigos brasileiros por um bom tempo... Mas não sei bem como usar os verbos todos e as coisas difíceis da gramática que você me ensinou tão paciente.
Rosa, o que quero falar por meio desta mensagem é que..Bem, a essa altura, certamente não estarei mais ai do seu lado...(me perdoe eu mesmo se estiver) e queria te pedir:
 Por favor, procure meu irmão. Sei que pensa coisas sobre ele que... não são tão verdade. Ele pode ser meio rude as vezes mas... ele só não tinha muita referencia sobre como ser amável com as pessoas, sabe?
E hoje recebi um telefonema dele... ele vai ter um filho! Mas acontece que o filho não tem o sangue dele... mas continua sendo dele. E nem é pela noiva(agora ex) , é por que ele sempre sonhou em ser pai... mas o ponto é que, apesar de Dádi(vai conhecê-la!) estar com ele, sei que ele não vai conseguir se virar direito então... por favor, vai até lá! E dê umas dicas... de repente, aconselha ele a promover um encontro entre meu pai e esse novo... “membro’ da família... Rosa... queria poder fazer isso, mas não posso, portanto, conto com você minha flor!

Lembra que te quero bem... Pour toujours!

Limpo a insistente lágrima que teimou em escorrer por minha bochecha, e escondo a carta outra vez na gaveta. Tento voltar ao trabalho. Não posso estar mesmo pensando em fazer isso, logo agora e... Quase cinco anos depois!
Estou muito feliz com meu trabalho... Finalmente consegui reconhecimento e meu sucesso está cada dia maior! Estou trabalhando principalmente com o pessoal do market e estamos entrando numa fase incrível... a Le Cordier está sendo prestigiada por todo o mundo...
Mas ainda sinto falta dele... Falta de ouvir sua voz... sua risada... é difícil esquecer assim. Aquela noite, ele soluçando em meus braços, arfando a vida... as vezes aparecem estas imagens de súbito... e de repente, parece que estou lá de novo... E além de tudo... queria poder contar com ele... contar a ele sobre tudo. Queria que ele estivesse aqui pra agente rir do dia louco juntos... como nos velhos tempos...

- Estou ficando velha...- Silvia solta essa perola, justo na hora em que olho no espelho, conferindo o estrago que as lagrimas me fizeram. Ela bate um copo plástico de capuchino em minha mesa, e se senta a meu lado- estive pensando... trinta e um... eu tenho agora. Até conhecer, trinta e dois, pra casar trinta e...

- Conta ai, cinqüenta e quatro, querida!- Alzira diz, batendo de leve no ombro de Silvia, e sumindo no corredor em seguida. Estranho... já até me acostumei em ver a madrasta do Tony todas as semanas...

- Acha que vai demorar tanto assim?- Silvia se vira pra mim, de cenho franzido

- Sil... Para de pensar nisso!

- aaa Rosa! Vai dizer que  você não pensa?

- Sabe que não? Ando tão ocupada...

- Ocupada, sei... Mas me diz, e se acontecer de você se apaixonar de verdade, assim, loucamente?- ela abre um sorriso que chega a ser assustador, como se ela fosse fazer isso. Como se ela fosse fazer... sei lá, uma mandinga pra acontecer

- Desconjuro, cruz credo!- faço o sinal da cruz e gargalho- Ai! Me deu um arrepio!

- Arrepio né... deve ser corrente de ar... vou fechar a janela!


quinta-feira, 21 de abril de 2011

Capitulo 27-“Pra que servem os pais?”


 

Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


Tento abrir a porta com minha chave (esta que  guardei pensando neste glorioso dia) mas me parece que trocaram a fechadura. Bato na porta freneticamente, por conta da ansiosidade e nervosismo. Dádi abre a porta, e imediatamente me aperta num abraço com direito a uma tentativa(frustrada) de me balançar pros lados. Mas entro ainda muito impulsionado, meus olhos procurando pela sala. E encontro oque parecia um pequeno ser dormindo, sob uma manta vermelha. Na poltrona ao lado Nara me olhando fixamente, como se pudesse me fuzilar com o olhar. Aponto a criança, questionando. Ela balança a cabeça sem nenhum entusiasmo. Então, (surpreendentemente) me aproximo devagar. Agacho-me ao lado do sofá, e puxo de leve a manta, que era segurada pelas mãozinhas. Revela-se um pequenino anjo: pele branquinha, cabelos escuros. Tão pequena e frágil...

- Raquel... – pronuncio o nome ao qual ela responderia. Demorei quatro anos e meio pra poder dizer o nome dela olhando de fato pra ela!

- Amanhã é aniversário dela... o senhor vai levá-la pra ver seu...- antes que Dádi termine a frase, sinto a cólera

- Non Dádi- respondo rispidamente- nem considere esta hipótese.., e meu pai non vai querer me ver non...

- Nem a neta?- eu apenas olho e Dádi certamente me entende, ficando vermelha- bom, vou guardar suas malas e preparar seu banho, excuse-muá
Tento esquecer o incômodo de pensar em meu pai, e me concentro à tarefa de afagar os cabelos de minha filha. Nara suspira

- Espero que ela esteja a seu agrado, AMO.- Ela tenta me tirar do sério, mas não consegue, continuo calado, ignorando sua pronuncia

- Vou tomar meu banho e depois volto, sim?- sussurro, como se Rachel pudesse me ouvir. Mas talvez eu apenas quisesse garantir que ela ficaria bem.

Entro no banho e simplesmente me esqueço de mim, acabo cochilando, e olhando o relógio, vejo que por duas horas e meia! Levanto-me de imediato, e parto como um foguete de volta a sala. Tudo quieto. A manta abandonada no sofá. A televisão ligada. A porta da cozinha aberta. Vou até lá, chamo sem resposta. Volto à sala, entro no corredor. Ouço o som de água derramando vindo do quarto de Nara. Bato e ninguém responde. Decido verificar a maçaneta, trancada. Preparo-me pra arrombar. E faço-o. Encontrando o carpete ensopado, a porta do banheiro aberta.

 A banheira trasbordara, e Nara estava nela, submersa, os punhos em hemorragia estendidos pra fora d’água, pendendo dos lados. Tento reanimá-la. Em vão.
Arrasto o corpo pra fora da banheira, e tento tirar a água de seus pulmões, tento estancar o sangue, mas à essa altura, parecia tarde demais. Corro até a sala em busca do telefone, encontro Dádi que acabara de chagar do mercado com Raquel, que me olhava espantada.
Aceno e Dádi solta um grito, correndo em direção ao quarto,  deixando a pequena sentada no sofá, seus pés nem alcançavam o chão.

Ligo pra emergência, e ainda ofego, totalmente perturbado com a cena que roda em minha cabeça. Ela havia conseguido. Nara havia conseguido!

- ...Pa...- finalmente Raquel diz algo- Papai?

-hm...- me volto surpreso- Você... está bem querida?

- Você.... é o meu pai?- ela pergunta, ainda sentada, mãos nos joelhos

- Claro que sou!- Sorrio, indo agachar a sua frente. Finalmente posso olhar seus olhinhos verdes de perto!

- É... Nana me disse.- ela aponta um retrato em que estou eu e Nara, sorrindo, sob o sol num parque da cidade

- Nana?- pergunto, mas me repreendo, visto que esse era o nome por qual Nara seria chamada por ela- Bem... está contente em me ver?

-Oh, Estou...

- Que bom.- sorrio- Porque eu estou muitíssimo feliz em ver-te!

-Oque é “muitíssimo”?

- É mais que muito, é muito mesmo.- rio pela situação, quase me esquecendo oque estava acontecendo. Mas é que... nunca havia tido essa experiência, uma criança me perguntando assim... senti uma alegria boba... em pensar que teríamos muitas conversas semelhantes. Mas rapidamente caio em mim, ouvindo as sirenes.

...

-Oque fazem os pais?- Rachel surpreende-me, enquanto alimentamos os pombos, ainda vestidos de preto, vejo seus sapatinhos se agitarem, pra frente e pra trás, aproveitando o espaço que faltava pra que alcançasse o chão

- Os pais... como assim pais?

- Pais... Como você é meu pai. Pra que serve pai?- ela estreita os olhos, e eu sinto meu coração apertar. Não gosto muito de lembrar da figura de meu pai. Mas tentarei

- Um pai serve pra... Te proteger. Pra te cuidar. Pra ensinar... pra..

- Como uma mamãe?

- Sim. -suspiro- Serei mãe entom. - Dou um meio sorriso cansado, pensando que a pobre não tem noção do que acaba de acontecer. Enterrou a mãe, e nem se deu conta. Quando isso aconteceu comigo, estava tão aborrecido e triste... mas não tive um momento parecido com este com meu pai... Na verdade, naquela noite eu fugi pela fazenda, e acabei dormindo no estábulo, junto aos cavalos

- Vai ser legal ter um pai. -ela sorri, jogando mais pipoca aos pombos


Rosa

-Mais pra direita!- sinalizo o lugar


- Ah Rosa assim não dá! Minhas costas estão...


- Ai! Ai!- grito, e ele larga o sofá. Eu foco um retrato com as mãos, e vejo se está bem centralizado.- Está ótimo Sergio! Obrigada!

- Oque nessa vida não faço por ti, hã?- ele se joga no sofá- pensei que você nunca iria se decidir em que lado deixaria o bendito sofá

- Ai... mais é que eu queria só... só mudar um pouco sabe? Esse apartamento andava muito igual...

- Rosa...- ele balança a cabeça- Você e essa sua inquietude...


-Hiperatividade!- Completa Jane, vindo do quarto com mais uma caixa

- haha... não tem jeito!- dou os ombros- Faz parte da minha natureza!

-Então... aqui achei mais outra Rosa... caixas antiiigas e empoeiradas!

- Deixa eu ver...- ao abrir a tampa empoeirada, meu coração tamborila

- Nossa... tou precisando fazer uma faxina geral destas lá em casa...- ri Janete, apontando todo o lixo que “extraímos” dentre as velharias que eu guardava ha anos.eu olho Sérgio, que fazia careta

- Essa... essa – pigarreio- Deixa que depois eu.... Eu olho com mais cuidado.

-hum... mas oque tem ai ein?- Jane se aproxima ameaçadoramente, sorrindo, tentando pegar a caixa

- Na..não! essa aqui é coisa minha! Depois te mostro com calma.- tento me desvencilhar dela

-Hum...-ela se afasta, olhando de relance pra Sérgio, penso que ela ache que seria algo que eu não queira mostrar a meu irmão


Então sorrio, pra que ela se acalme com isto. Mas na verdade, eu apenas quero esquecer que aquelas cartas existem. As cartas de Tony. Cartas que continham sugestões dele pra mim. Mas como eu poderia seguir seus conselhos assim tão... Tardiamente?




terça-feira, 19 de abril de 2011

Capitulo 26- Presente


Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


“— Acordei e soube que ele se fora. Soube imediatamente que ele se fora. Quando amamos alguém, sabemos essas coisas.
David Almond, Skellig


Não estava. Não estava!
- Onde está? Onde está?- gritava freneticamente, enquanto corria pelo hospital.- Não é justo! Não é justo! Eu mato aquele desgraçado! Eu mato!- Puf! Esbarro(sou barrada) no abraço de Sérgio, que toma meus cabelos, e me diz que não foi assim. Que aconteceu de repente. Como de súbito. Ele estava lá na hora, em frente ao quarto, como eu o fiz prometer, porque ele me obrigara a sair dali, e ir tomar banho em casa. Mas quando voltei, duas horinhas depois, não havia mais nada lá. O anjo havia ido! Ele havia me deixado!
Falência múltipla... EU  é que estava tendo uma. Falência múltipla das vontades de viver. Dos motivos pra viver. Nada. Nada me faria sorrir. Meus gemidos de dor ecoando pelos corredores gelados

- Hey! Espera!- ouço uma voz bastante longe, viro-me e avisto Silvia sacudindo um envelope no ar. So... Sorrindo?!

Claude

Seis e meia da manhã. Estava ainda no para peito no ultimo andar do prédio, olhando a cidade acordar, mas de repente sinto necessidade de sair dali. Mal pouso os pés no chão novamente e sinto uma dor subir por meus pulmões. Cuspo sangue. Caio de joelhos.
Três e meia da tarde, pousando em Paris, vestido em negro.

Folhas voando... Avermelhadas em sua maioria. Muitas flores à frente da lapide. Poucos presentes naquele momento triste. Eu os observei chorar de longe. Meu pai pressionava os lábios como sempre fazia, mãos juntas a frente. Óculos escondiam os olhos de todos ali. Menos de um alguém, que ergue os olhos devagar, e me olha tão intensamente, que penso sentir o calor de seus olhos. Sinto que eles me acusam. Acusam? Não tenho certeza. Talvez me pareça apenas com um fantasma.
Ando pelo cemitério... Pra o lado oposto onde tudo acontecia. Não apenas por ser muito doloroso pra mim mas também pelo incômodo da presença de meu pai. Pois não queria prosa alguma com ele. Suspiro, encontro um banco e descido sentar,mesmo ele estando um tanto úmido. O céu revelava que a chuva havia passado brevemente por ali...  e o cheiro de terra molhada circulava através das correntes de ar, que sopravam de maneira desordenada, fazendo as folhas ,ainda que  úmidas, se agitarem em pequenos redemoinhos. Bocejo pela noite não dormida, enterrando as mãos nos bolsos do sobretudo negro. Parece um sonho. Não, pesadelo.

Vejo  ela se afastar do então “grupo”. Caminhar até o portão do lugar que mais parece um simples parque sem balanço. A grama verde certamente sendo castigada por suas botas. Não ouço o som de seus passos, mas ela surpreende-me, sentando a meu lado sem em silêncio. Eu suspiro, não a encaro, apenas abaixo os olhos, e vejo suas mãos segurarem firme seus joelhos. Nas mãos as luvas que mamãe me deu em nosso aniversário, mas que perdi há alguns anos atrás pra Tony, numa aposta regada a muito uísque. Reconheço as luvas pelas inscrições, gravadas nas bordas que circundam o pulso, e pelo botão negro que as tornam únicas. Poderiam ser estanhas para uma moça, mas nela caem perfeitamente.

- Ele me disse. Eram suas não é?- ela me tira do transe, me mostrando as mãos
Eu balanço a cabeça em resposta, ela continua

- Mas ele ganhou a aposta. Você não cumpriu o desafio...-diz com o braço esticado à sua frente,girando o punho como se analisasse a luva.E ela falava num tom tão... gostoso de se ouvir, sua voz soava tão... doce...

- Non foi justo. Oque ele me pediu era muito... bem era .. um desafio como só ele sabia desafiar.- dou um sorriso(amarelo)

- é... imagino... e eu as ganhei a troco de nada...- ela volta a olhar pras luvas. De repente tira uma- então, melhor devolver ao dono por direito!- ela se prepara pra puxar a outra mas eu seguro sua mão,

- Non, que isso! A dona por direito aqui é você! Afinal de contas, era dele, e se ele te deu, son suas!

- Tudo bem...- ela balança a cabeça, eu chacoalho as pernas num gesto nervoso- Você deve estar se perguntando oque eu vim fazer aqui né... mas eu...

- Non! Claro que non! Eu sei que..- rosa dispara antes que eu termine a frase:

- Olha eu podia ser a viúva do Tony ein?- ela me pega desprevenido

-Hã? Rosa... Oque você quis dizer com isso?- pergunto um tanto confuso

- É que agente quase se casou... Mas ai agente desistiu.- ela diz, olhando as folhas em seus redemoinhos, os cabelos voando e mostrando sua face

-Rosa... Vocês estavam noivos? Mas porque Tony non me...

- Ele ia contar! Mas acontece que não deu certo e ... Agente decidiu que o melhor era sermos só amigos.

- Ok. Ok eu...

- Não precisa dizer nada. É que eu sou uma boba e... desculpa ter vindo aqui!- Rosa se levanta agitada, e passa na minha frente quase correndo, sendo recebida por seus parentes no portão, ela da uma ultima olhada pra trás, e eu me sinto cada vez mais atordoado

Rosa

Atordoada...eu estou e muito. Pode ser que enlouqueça assim, de repente. Mas a verdade é que pode ser que isso tudo vá se resolver... eu só preciso encontrar forças pra continuar a viver... Pra continuar a lutar. E essa força, acredito estar toda dentro de mim
- Você tem certeza?- Janete pergunta, enquanto me serve de café

- Não.... eu nunca tenho certeza, Jane! – agarro a enorme xícara

- Acho melhor desistir dessa loucura. Afinal, o seu querido quase-sogro já deve saber.- Jane senta a minha frente

- Mas como?

- Ué, do mesmo jeito que você! Correio!

- Hum..- suspiro, temerosa

- Olha, não se preocupa tanto assim, Rosa! Eu tenho certeza que ele não vai te obrigar a nada!

- Eu sei, Janete. mas eu não temo apenas por mim, entende?

- Não- se- preocupe! – ela fala pausadamente, segurando minha mão- eu sei que você é forte amiga! Sempre foi e agora mais que nunca vai ser!

Respondo com um meio sorriso. Faz duas semanas que ele se foi... e nem soube. Mas ele disse algo durante nosso ultimo jantar juntos, que me deixou curiosa. Ele disse que em seu apartamento havia uma surpresa pra mim, mas que eu teria de encontrá-la sozinha...
Então, mais do que de pressa, me levanto e ponho o casaco, indo em direção ao prédio do Tony.
Caminho a passos largos, vendo as janelas trancadas por causa do vento. Salvo uma única aberta, onde uma mulher se debruçava na sacada, tinha os cabelos meio vermelhos, e não parece se importar com mais nada além de seu cigarro. Pude ver que está grávida, a barriga é saliente sob a roupa... Deus!

Abraço-me como se o vento pudesse atravessar meu corpo, continuo meu percurso. Entro no apartamento, acendo as luzes, mas abro as cortinas em seguida. Ainda podia sentir o cheiro dele aqui... avisto seu casaco em cima do sofá, um bocal do sax jogado na mesinha de centro... começo a vasculhar a casa, em busca do meu “presente”... até que encontro a caixa, aquela mesma que ele usava pra carregar seus remédios...

Claude

Mesmo sendo um tanto difícil pra mim, voltei pra casa, mimei meu bebê, que infelizmente ainda é carregado por uma mulher louca e desequilibrada, prometi que voltaria o mais rápido possível, e voltei ao aeroporto. E de lá, pro campo outra vez. essa missão pode ser gratificante, mas oque antes era sonho pra mim se tornou um peso e tanto: gostaria de estar presente pra receber ele ou quem sabe ela ao mundo!


Bem, assim tudo se passou... Quatro anos e meio se passaram.
Tony se foi... e nem mesmo se despediu de mim... desgraçado. Por causa dele não resisti, ao contrário do que faria, e atendi aos pedidos de meus colegas, toquei piano em público! Oque aliás, foi o próprio que me ensinou...

Depois da celebração pelo dever cumprido, preparo-me pra aterrissar em Paris... E desta vez não sou eu quem está pilotando! É tão estranho ser um mero passageiro...


segunda-feira, 18 de abril de 2011

Capitulo 25- Botão



Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


Eu estava lá, naquele dia tão bonito! Ele estava de pé, em cima de uma cadeira. Me sorria como só ele sabia, e desfazendo o nó da gravata, desmanchou a tal borboleta. O gramado, o cinza do colégio, os alunos e seus canudos. Que bela festa! Tony recitava poesias, depois agarrou o sax que tinha em volta do pescoço, e tocava melodias alegres.
Aquele dia foi deveras o mais bonito naquele colégio. Naquele dia, estive pensando em jamais deixar Verrieres, abrir uma loja de flores e viver por ali pra sempre. Depois daquele dia, só teve outro parecido, aquele em Londres, mas foi tão breve que nem deu-me tantas lembranças. 
Não sei se como eu era por ele, o Tony já foi apaixonado por mim. Mas gosto de pensar que sim. E que depois do tempo, agente ficar junto não fazia tanto sentido, porque, depois da duradoura amizade, o medo de não dar certo, de termos que nos separar e nunca mais nos ver. Sendo amigos isso provavelmente jamais aconteceria...

- Rosa?- ouço a doçura na voz de Janete, minha irmã postiça, que me abraçava. Semi-abro os olhos, levantando a cabeça do ombro dela

- ...

- Acho que está na hora de irmos...- inspiro e olho ao redor

- Jane...- percebo que não foi sonho, estou no hospital, no meu pulso gelado uma agulha dando-me soro

- Eu sei oque está pensando, mas o médico achou melhor te reidratar, já que você não come desde ontem...

-... Onde ele está?

- Está na mesma ainda... - Janete diz, a enfermeira “libera” meu pulso

- Co...coma...- suspiro,

- Vamos no restaurante, hã? Vamos! – eu apenas ignoro a sugestão

- Jane... Acha que ele vai... -

- Vamos!- Janete pula, me puxando

Aquele cheiro... hospital tem cheiro singular. Não sei definir... até o pequeno-grande restaurante era estranho, pelo simples fato de ser em frente ao hospital... Freqüentadores vip? Médicos, enfermeiros, familiares dos pacientes... Pode-se dizer que mais parecia um clube... quase todos de branco!

- Como é que é?!- Janete quase engasga com o café- Ele o chamou de capitão?Isso quer dizer que..

- Confundiram ele com o Claude.- meneio a cabeça, desanimadamente

- Deus do céu!

-E o pai dele já sabe?

- sim, o Sérgio ligou pro Frasão que ligou pro pai do Tony... – diz me olhando intensamente- Rosa?

- hum?- tomo um gole do café

- E quem era... Você conhecia?

- Não tenho certeza mas... Lembra da primeira vez que vimos o Claude?

-... na.. passeata?

- Antes! Lembra! No restaurante!

- Aaah, lembro.

- Então... ele estava com mais dois homens, o comandante dele e outro cabo como ele na época.

- É mesmo... o homem era até bonito... mas dava medo daquela carranca... Espera!

- Acho que era ele!

- Nossa... mas...

- Não tenho prova, eu sei.- dou os ombros- Mas nunca vou me esquecer daquela fuça!


Claude


- Un... Deux... Trois!!!- gritamos enquanto empurramos a ultima maca pra dentro do avião, uma pesada mulher queimada sobre ela.
Rumo à Berlim, coração na mão. Meu irmão estava no leito de um hospital, e eu já sabia: a culpa era TODA minha.
É duro dizer isso mais, eu sabia que cedo ou tarde ele pagaria pelos meus erros. Eu jamais deveria ter deixado o desgraçado do Carlos se safar. Não sei oque me deu pra não jogá-lo numa prisão militar! Mas não, eu apenas exigi sua expulsão... idiota! Agora EU colho o que plantei! Desgraça! Pura desgraça! Mas oque demais eu fiz à aquele ordinário? Oque?

Nara... a vadia me confessou que namorava Carlos antes de me conhecer... Que seu pai praticamente a obrigou a desmanchar com ele por minha causa... Disse que o pai dela queria minha herança... Que ele não esperava que Nara fosse gostar tanto de mim aponto de não se aprofundar no golpe, apenas me namorando e decidida a casar... Oque nem aconteceu. E nem vai acontecer.
Por causa de uma ave numa das minhas turbinas, a volta foi brevemente adiada.

Onde bolas está o celular do Frasão? O miserável não atende nem que o aparelho soltasse fogos anunciando minha chamada! Estou nervoso e irritado como jamais estive... Começo a pensar que este é o meu limite! O quarto de hotel semi luxuoso me deixa ainda mais instigado à render-me à loucura. Essa fadiga que não me abandona!

A melhor forma de se recobrar o fôlego é forçando-o a funcionar. Essa frase é precisamente de Tony. Sigo-o mais uma vez, e saio em meio à rua movimentada, até encontrar à madrugada, tento diminuir o ritmo de minhas arfadas, porém não desanimo no ritmo de meus pés.


Só poderei ver Tony lá pelas tantas da tarde. A rua agora é deserta e  gelada. O sono não me acompanhou, deixou-me há muito, ao que acredito. Olho pro prédio que havia deixado há algumas horas, o letreiro piscando. Subo até a cobertura, sento no parapeito. Vista bela essa de Berlim. Amanhecendo...


Rosa

Subitamente, me ergo da cadeira, decidida a entrar na UTI. Onde bolas está o enfermeiro imbecil que me aplicou calmante?! Quero dar-lhe uma bela bofetada, cretino! Tiro os sapatos na tentativa de não acordar Sérgio que a contra gosto, ficou comigo aqui.

Depois do escândalo que armei pra permanecer de plantão, ele não tinha escolha. Finalmente acho a tal sala onde meu anjo descansava, aparelhos o cercavam. Mal pouso a mão em seus cabelos e sou surpreendida por uma leve pressão em meu ombro. Viro-me e uma enfermeira me lançava um olhar de compaixão, olhos marejados. Ela silenciosamente me abraçou, e eu sem entender apenas chorei em meus incontrolados soluços.

O pai do Tony chegaria dali a algumas horas. Ele decidiria oque fazer... Os aparelhos estavam lá, ligados à sua espera. Teria coragem de apertar um botão e desligar seu próprio filho desta vida?