Capitulo 35 -Aller Au Parc!

Le Eternel Amour

Tulipe Rouge

Dois... Três... ok. Aqui vou eu.- não acreditava que fosse usar essa frase tantas vezes em minha vida. Ela corre como se seus sapatos tivessem molas, pula pra todos os lados. É muito difícil vê-la quieta, concentrada. 
Mas quando ela está com o sax, é diferente. Ela parece estar em outra dimensão. Onde guardei meus sapatos? Ela não lembra. Onde está as sapatilhas do balé? Ela nem sequer lembra quando são as aulas.

- Agora,  Rachel...- chamo, e ela balança a cabeça, sequer tira os olhos da partitura. – Te espero lá em baixo, hã? – ela balança a cabeça, me sorrindo com os olhos.

- Vá se atrasar que a professora vai te fazer alongar até o teto, ein rachelita?- a voz de dadi sobe as escadas, e nos faz rir.

Desço, encontro os sapatos ao lado das sapatilhas, debaixo da mesa de centro da sala de estar. Rachel então decide descer, pé ante pé

- Lembrou-se de como se lê as horas, petit?

- Dããr...- ela revira os olhos, e pega o casaco que eu estendia a ela.- ah,papai não acredito!

- Está ventando um pouco, hã? E depois você fica ai toda molenga, nariz escorrendo...

- Pai!- ela ri, entrando no carro.

Vejo que se acostumou com Marseille... Acena para praticamente todos na rua. Mas ainda lê cada placa como se fosse a primeira vez que estivesse vendo.

- A idéia era comer isso, não apertar desse jeito.- ela ri, apontando a barra de cereal que Dádi insistiu em me fazer trazer.

- Eu sei.. mas estou tão ansioso!

- Ora ora..eu é quem deveria estar. – ela toma a guloseima de minhas mãos.

- E...Non está?- pergunto sorrindo, e ela balança a cabeça mordendo o chocolate.

E lá foi ela pra mais um teste da pequena peça montada pela professora. E se saiu terrivelmente mal! Mas ao contrário do que se pensa, ela se divertiu muito com toda aquela situação. A mãe dela era bailarina... mas Rachel mal consegue amarrar as sapatilhas...

- Nem queria mesmo ser o cisne que morre... Quero voltar pro judô..

- Ah, non Rachel... e o cisne non morre.

-  Morre. Mas pai... por favoorrr.. eu juro que não dou rasteira em mais ninguém e...

- Tudo bem... hã?- Ela se aquieta, as luzes passando por seus olhos..

- pai?

- hm?

- A festa da Judith é amanhã, vous savez.

- Hum.

- E as Cigales vão usar trança embutida...

- e... - vai,pede logo Rachel! Ela nunca vai direto ao ponto quando quer algo, e confesso que sempre funciona!

-Pode me fazer uma trança embutida pra eu ir na festa da Judith amanhã?

- ah, Rachel você sabe que eu non sei fazer isso non... peça a Dadi.

- Mas acontece que eu não quero que Dadi faça, quero que você faça, papa!

...

O sol brilha soberano lá fora, mais ainda um frio perdura em mim...

-Oque fez da tal bióloga?

- Iris? Ah, nem durou.

-E aquela morena lá... a mexicana?

- Dolores... foi-se embora pra Paris tentar a sorte.

- Nossa.. meus pêsames amigo.

- pêsames? Pêsames pelo quê?

- Por isso ora!- ele abre os braços, me mostrando o recinto vazio.- solidão!

 A sala silenciosa parecia ainda mais fria.estamos junto a janela, na mesinha, jogando xadrez. Jogo esse que detesto tanto quanto à neve. Mais não tem neve, só xadrez. Esse mesmo que jogávamos eu e Jean quando havia neve.

- Que horas ela chega?- a voz dele me faz voltar a esse mundo.

- Daqui meia hora.

- Ah, bem que agente podia fazer algo mais...interessante, ein?

- Interessante? Como assim, que tipo de coisa?

- ah vamos sair, né Claude? Aproveitar ai a orla e beber um pouco rapaz!

- Frazon... você e essa sua imquietaçon...- levanto-me, pensando no quão quieto tenho andado, em contraste com meu passado boêmio,onde a vida fora do quartel era beber e dançar, conhecer belas garotas, curtir essa juventude que parecia nunca ter me saciado em um grama sequer no peso de minhas prioridades na vida.

- Deixa Rachel com Dádi...já ela dorme. Vamos cair na night amigo... vamos! Como nos velhos tempos!

Rosa

O crepúsculo toma conta do céu lentamente, enquanto deixamos quilômetros e mais quilômetros pra trás. Alice dormiu a maior parte do tempo, enquanto Caleb mantêm-se atento a tudo  oque acontece dentro e fora do veiculo que cheira a limpador de vidraça. Um carro espantosamente limpo assim, só mesmo sendo de uma médica. Janete mata o tempo fazendo palavras cruzadas, e eu não tenho muito com oque me concentrar, já que a estrada aqui é tão lisa como carpete e o cenário em base é rural.

- Três letras, sufixo nominal de flâmula?

- Não faço idéia.hm... ula?

-Filtra, três letras.

- Côa.

-hm...

- Ai, Jane!- suspiro

- Que foi?- ela pergunta, sem tirar os olhos da revista

- Não sei sabe... mas estou sentindo o coração apertado- apertado!

- Ah vai var é estresse... sei lá, de repente a Gabriele te diz: vai tirar umas férias, vai! E ai você fica frustrada, de deixar todo aquele trabalho maluco de corre pra cá, corre pra lá... atrás de artistas, de paparazzis competentes e blábláblá..

- Tá e supondo que você esteja certa e eu frustrada, como você pode dizer isso assim pra mim? Ein? E se eu entro em depressão profunda?- rio.

- Bah!- ela abana a mão- Deprimente é eu não ter em mãos um refrigerante diet... sonho de consumo!- ela ri, se abanando. Realmente, já está mais quente, o clima litorâneo nos recebe!

- Olha Alice! Acorda! Acorda!-Caleb provavelmente sacode a prima preguiçosa

- hm...

- é o mar! O mar do sul!

- mar do sul... mamãe, que tem diferente no mar do sul? Não é igual ao do norte?

- nada filha... é igual.

- é salgado?

- sim.

- tem peixes?

- claro que tem!- Janete ri discretamente.

- no mar morto não tem peixe vivo- vejo Alice dar os ombros pelo retrovisor.

- tudo lá é morto.- Caleb diz.

- all is dead.- dizem em coro, num apreciável tom solene. Rio pela forma como os dois se espremem à janela pra ver o “ mar do sul”...

Claude

- Ow...non...

- siiiiim! Por favor papai! Por favor!- ela se ajoelha, como se fosse caso de vida ou morte- Por miiiin?

- Rachel..levante.. hã?

- isso é um...sim?- sorri

- hm...tá. nunca consigo ser durón mesmo...

- Alô? Judith? Oui! Oui! Aller au parc!- ela ri, e eu me abandono no sofá, lendo os jornais. Rachel quer ir a todos os programas infantis da cidade..assim não dá. Ainda que eu não tivesse as costas massacradas e uma dor horrível nos pés... não tenho esse pique todo.

Tardezinha, tomo um café forte e Rachel rouba biscoitos do pote.

- vamos agora?

- non...você non terminou

- o dever já fiz faz tempo. e hoje é sexta pai! Vaaamos!

- ow,mon dieu... tudo bem hã? Vá pegar a mochila.

- Yes! Je t’aime, papa!- ganho um beijo na bochecha

As luzes são vistas desde longe... a roda gigante girando devagar quase parando... sinto sono. Mas Rachel dá saltinhos de alegria, e praticamente arrasta seu velho pai por entre a multidão.

Rosa

- Vamos galera, hoje é dia de festa!- Janete sopra a língua de sogra- afinal, é meu aniversário!

- Quantas velas vai ter no bolo?- Caleb pergunta, esfregando os olhos

- Ora mais do que interessa?- Alice o repreende, Caleb dá os ombros- não sabe que não é educado perguntar a idade de uma dama?

- Aprendeu isso com quem? Senhorita Durbet? A que nunca se casou?

- Caleb...- chamo entre os dentes, sabendo onde isso iria parar

- Não fale dela, ela é minha amiga!

- Mora com sete gatos e dois periquitos...aliás, um, porque outro dia ela estava chorando por que um dos bichanos comeu o outro.

- Caleb!

- Que quer dizer “bichano”? – Alice vira pra Janete, que tentava avistar uma fila menos “gigante”.

- É gato....

-Roda gigante!- Alice aponta sorridente, enquanto arrasta a “corrente” que formamos de mãos dadas naquela direção...