Le Eternel Amour
Tulipe Rouge
“
— O que é isto — disse o leopardo —, tão incrivelmente escuro e, ao mesmo tempo, tão cheio de pedacinhos de luz?
Rudyard Kipling, Como o leopardo adquiriu suas pintas ”
Deliciosas memórias...
Saborear cada momento, cada instante da vida. Sorrir sem receio, ser livre pra validar o dia com uma bela risada. Aquele momento de loucura desenfreada ali presente. Sempre. E sempre estar disponível para felicidade.
- Diga, três coisas apreciáveis no mundo... - digo, mãos na barriga, olhando o céu azul maravilhosamente iluminado pelo sol daquela tarde de outono, quando havia folhas espalhadas por todos os lados e até a nossa adorada arvore preferida junto ao lago estava perfeita para estrelar filme de terror.
O cheiro da chuva que passou ainda estava no ar, aquele aroma da terra, da qual sou filha bastarda, meus cabelos se enchendo de grama, enquanto eu rolo a cabeça levemente de um lado pro outro, sacudindo-me em minha dança da inquietude.
- Só três?...- Tony responde com outra pergunta, me olhando sorrindo. - Deixa eu ver...
- Anda, Tony está demorando muito!- me agito, como de costume, numa ansiosidade pulsante.
- Calma, é que essa seleçón deve ser feita cautelosamente, non?
- Ah, que nada. São apenas três coisas boas que você vê no mundo, que vive. Como no cotidiano sabe?
- Claro que sei... Mais é que gosto de tudo na vida, entende?
- De tudo?- pergunto meio surpresa
- Bom, tudo, tudo, também non sei, non vivi tanto, né? Mas... gosto de fazer muitas coisas...
- Como correr. – disparo, listando cada “mania” dele de que me lembrava- Chupar pastilhas, Tocar músicas antigas, atuar, pintar paisagem com tinta a óleo, rasgar folhas de papel, assoviar...
- Aulas de português, por causa da minha professora!- ele fala, num tom divertido- Pisar em folhas secas só pra ouvir o barulho que elas fazem,
- Ah, rabiscar nos cantos do caderno, encher as bochechas de suco e só depois engolir, Olhar pra trás antes de subir as escadas mesmo quando não tem ninguém por perto...
- Ow, e como saberia que non tem mesmo se non olhasse pra conferir?
- Mas eu quero três apenas. Por hoje, que seja.
- É... já sei oque seleciono entón.
- Pois então diga.
- Em terceiro, atirar pedras no lago, fazer com que elas pulem sobre a água pelo menos umas três vezes antes de afundar...
- Segundo...
- Segundo... o cheiro da terra molhada com o céu claro, a grama bem verde por ter sido regada pela chuva... e...
- Primeiro?- me viro e o encaro, meus dedos brincam com uma erva daninha que se sobressaia junto a meu ombro
- As cores... - ele me olha, num olhar profundo, podia ler neles sua vontade de me descrever “seu mundo”- Todas as cores da tarde de hoje. A cor meio vermelha do teu cabelo... - ele analisa as mechas desgrenhadas que se amontoavam ao redor de minha cabeça- parece mel...
- Mel? –rio, fechando os olhos- Faz tempo que não ouço falar de mel...
Claude
- Nara... Nara! Nara! Abre! La porte, Nara, Abra!- bato insistentemente, já irritado e preocupado pela demora de Nara no toilet, principalmente por não haver resposta a meu insistente chamado.
- Nara se você non abrir, eu vou ter que estragar sua porta. - sem resposta. Então, ameaça dada, ameaça comprida. Farpas de madeira pelo chão. Nara debruçada sobre os joelhos, encolhida, ao lado da pia. – Nara! Mon Dieu! Ei! Ei!
Minha noiva. Minha noiva que eu não entendo. Minha noiva que mal conheço. Amo? Não dá pra definir. Não sei bem como é isso. Sei que o amor deva ser maior e mais forte do que qualquer outra coisa que possa te prender. Mas... Será? Que oque sinto por Nara chega a esse... extremo?
Deposito o corpo adormecido de Nara sobre a cama,seus cabelos exalando cheiro de xampu, molhando o travesseiro. Sinto-o não ter secado, mas usar o secador não é bem uma habilidade minha. Seu roupão não parece o suficiente para aquecê-la, tomo o cobertor, e a cubro.
Não há culpa entre nós. Nunca houve, acredito. Sentávamos na varanda, com um belo litro de vinho e ela com seus cigarros. A rua se esvaziando aos poucos, e a lua subindo céu. Não riamos, não chorávamos. Só observávamos em silêncio a rua de Paris, onde muitos iam e vinham, dum lado que vim, do outro, que me iria. Mas não tinha mesmo curiosidade sobre nada. Por isso, silêncio entre nós.
Ela as vezes perguntava algo. Nada que pudesse estender assunto. E assim ficávamos. Não porque éramos iguais demais, nem muito diferentes. Só... alguma coisa, havia um estranho peso no ar. Como se nada valesse, só o silêncio. Talvez esse nosso desânimo fosse por não conhecer nada novo, ou diferente. Sempre assim. Eu conhecia o mundo, de ângulos extraordinários. Mas pouco conhecia sobre as pessoas. Aprendi academicamente como lidar com elas. Educação, respeito, e astúcia pro caso de gente suspeita. Porém, esse era o limite. Aprendi a falar pouco, sentir pouco. Era essa a relevância em saber se conter nas situações de grande risco, ou de pouca estabilidade.
Tive minha mãe apenas até os meus treze anos, quando então meu mundo desabou de vez. Sem ela, não poderia permanecer naquela casa. Muitos me taxavam como filho rebelde, problemático. Grande contraste com Jean, que sempre foi mais talentoso e culto do que eu. Ele gostava de ler, eu de inventar estórias. Eu gostava de subir em arvores pra colher as frutas. Jean preparava estilingues e engenhocas que lhes poupavam esse trabalho. Ele mirava incomparavelmente. Ele era o melhor em filosofia e gramática, eu em matemática e física. Parecíamos distintos demais pra sermos tão iguais. Mas, em geral, sempre fomos unidos e cúmplices
Fui então felicitado com a admissão na força aérea, deixei a casa de minha infância e fui me preparar pra ser homem. Homem sem muitos sentimentos. Chamam-me frio e calculista. Não por mal, mas por ser mesmo minhas principais características em sociedade. Muitos ainda me questionam, tenho tratado Nara como prima, sendo ela tão bonita e desejável. Mas mais do que fútil luxúria seria muito? Eu queria mesmo cultivar mais do que isso por ela. Apenas consegui dizer-lhe que “sua presença pra mim era, sem dúvidas, formidável”. Nada de “Je t’aime”...
Rosa
- Tony...- chamo,meio preguiçosa, sem mesmo me mover
- Hum?- ele responde, igualmente sonolento
- Você vai ter que dormir aqui na sala, tá? Temos dois dormitórios mais um deles...
- Está totalmente abarrotado de livros e papelada do escritório...- o ouço soprar com a garganta, como quando ri, mas nem me ergo, só observo a fraca luz da TV que vem viajando até nos alcançar nesse ar gelado.- Puxa... Está frio...
- Você sabe que sou bagunceira, né?-rio, me sentando no sofá, olho em volta, o aquecedor parece ter se desligado. – Espere que vou trazer outro cobertor.- me levanto, e sacudo Silvia, que dorme com a cabeça encostada no outro braço do sofá, que faz um L na sala. Ela acorda num meio espasmo, umidece os lábios ,roxos pelo frio, levantando o dorso
- Nossa que horas são? Ui! - ela se encolhe, alisando os braços- Mas oque houve com o aquecedor dessa casa?
- Não faço idéia. Mas levante-se daí ou vai acabar virando picolé.- falo, indo pro quarto buscar cobertores de pêlo pra que Tony sobrevivesse ao frio de minha sala.
Silvia corre e rapidamente se submerge na cama, eu volto à sala, e encontro Tony tirando os sapatos.
- Está bem?- mostro um travesseiro grande e bastante fofo à ele, que acena.
- Obrigado por me deixar ficar, achar hotel sem reserva por aqui nessa época, deve ser mesmo complicado.
- Imagina se comigo aqui eu deixaria você ficar num lugar com estranhos.- confesso meu pensamento. Ele me olha sério, seus olhos brilhando pela luz amarela do abajur. Engole em seco e diz
- Estou acostumado à gente estranha. - ele me olha de um jeito desconcertante
- Oh, claro, me desculpa, não quis dizer isso.
- Tudo bem. - ele sorri mesmo sem vontade, apenas pra me reconfortar. - Eu sei oque quis dizer.
- Tony... –pigarreio, ele senta no sofá, pondo mais um par de meias
- Eu estou bem, Rosa. Na verdade,- se estica na “cama”
- estou ótimo!- ele me sorri, e eu jogo o travesseiro nele, sento junto a sua cabeça, que, invés de estar do lado do braço do sofá, estava do centro, onde o L se forma. Aliso seus cabelos
-Como você pode ser assim tão maluco ein?
- Sendo, oras. Mas acho que poderia ser ainda mais, de desistir assim fácil.
Tenho receio de perguntar de quê, mas ainda digo
- Mesmo que você quisesse, duvido que conseguiria parar.
- Parar?- ele se vira um pouco, procurando meu rosto. Fujo, largando-me no encosto do sofá. – Acho que non dá pra parar de fazer algo que nunca se tentou fazer.
- E oque seria?- franzo o cenho, já não entendendo.
- Hum...- ele se vira, barriga pra cima, olhos abertos mas tão serenos que eu poderia jurar que ele estava sonhando.
- Oque foi?
- acredito que nunca falamos diretamente sobre isso.
- Isso?... Isso oque?- sinto uma leve inquietação pela pausa que ele faz.
- Nós.- ele solta junto com o ar quente de seus pulmões. Vejo esse “nós” sair de sua boca e flutuar com o ar “branco” até desaparecer.
- Nós.- repito, num suspiro, meio confusa.
- Acha que seria possível?- ele sussurra, num tom tão cúmplice como de uma criança. Seus olhos fitam o teto e eu involuntariamente o acompanho e também solto num sussurro
- Não. Acho que é totalmente inviável. Afinal, oque é o tempo?-sorrio
-“O tempo é um cavalo que corre no coração, Um cavalo sem cavaleiro numa estrada à noite A mente fica sentada escutando e ouve-o passar”.- recitamos juntos. Sorrio e ele diz:
- “Todos os prelúdios para a felicidade”... dane-se Wallace Stevens e seu cavaleiro medroso.- ele se vira de bruços, se sustenta nos cotovelos, me olhando- Oque tem demais a noite? Fadiga-se assim durante o dia? Porque se refugia nos sonhos?
- Sabe, meu caro amigo Rimbaud, -rio- aprendi certa vez que mesmo os gênios caem em contradição à sua própria filosofia.
- Rimbaud...- ele bufa, franzindo o cenho
- Haha, ninguém nunca inventa nada, só descobre. Já ouviu essa? Nem lembro de onde li mais...
- Non entendi.
- Nem era pra entender. Oque você ia dizer? Não terminou.- me estico no sofá
- Quero enton te fazer uma pergunta.- ele apóia o queixo nas mãos entrelaçadas sobre o travesseiro.
- Pois faça.- respondo, voltando a olhar o teto.
- Que visón você tinha de mim, antes saber...
- Visão?
- É. Como você me via como pessoa... um amargurado, um suposto trambiqueiro ou...
- Ah, não. Só achava que era gay!- digo séria, mas por dentro gargalho.
- Coman?!- ele se ergue de súbito- Gay?
A essa altura eu perdi o fôlego, não sei se por rir desenfreadamente ou porque até respirar esse ar gelado dói.
- Serafina! Serafina! Quer parar de rir e me explicar essa história, hã?!
Uhhhhhhhhhhhhhhhuuuuuuuuuuuuu First é meuuuuuuuuuuu
ResponderExcluirSecond!
ResponderExcluirlalalalalala
O segundo foi meeu!
E não da Gih!
:P
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir"rabiscar nos cantos do caderno"
ResponderExcluirEu tbm...não só nos cadernos, mas em qualquer papelzim que encontrar por perto.
"Nara debruçada sobre os joelhos, encolhida, ao lado da pia."
Mano será que a Nara tem Bulimia ou outra doença parecida?
hum vai saber né?!
A Karol num fala pra gente!
"Grande contraste com Jean, que sempre foi mais talentoso e culto do que eu."
Inuteu!A gente somos INUTEU
haha zueira
"Chamam-me frio e calculista."
É nóis na fita então Claude!
u-huuuuu meu brother kkkk
"Gay?"
Eu pensava que ele era diabético (nada a ver kkk) mas algumas pessoas(inclusive a Rosa)achavam que ele era gay
hum!
Bem feito!
Ninguém mandou ser tão misterioso
Karol to curiosa!
Posta logo outro capítulo manolo
Mano
ResponderExcluirescrevi um livro!
gay???????
ResponderExcluirnem ele acreditou....
kkkkkkk
teve alguem q chutou q ele era gay... quem foi???
ResponderExcluirqto a comentar
Karol vc é culta...nem comento fia senão passo vergonha...kkkkkkkkkkkkkk
Gih... beista. nada ver manolo. vc é a mestra aqui entre nós. eu sou só curiosa demais. pow!
ResponderExcluiroque um google não faz nessas horas?
haushuashus
beijos