Le Eternel Amour
Tulipe Rouge
Entro na sala, tendo sido acompanhada pelo silêncio mantido pelo pai do Tony, e paraliso junto à porta por um instante. Precisava finalmente respirar. Dou os derradeiros passos até meu amigo, que pressionava os lábios e meneava a cabeça, me olhando
- Sabia que nunca desistiria, Belina!- ele dá um sorriso sem graça- Enton, que tal estou?- ele abre os braços, um fino duto de silicone pendendo de seu pulso esquerdo. A enfermeira a seu lado se põe de pé. Ele passa a mão na roda da cadeira, fazendo com que nossa aproximação seja ainda mais imediata.
- Tony!- Agacho, sem saber o que faço com minhas mãos. Resolvo tocar seu rosto.
- Rosa, non se preocupe, essa cadeira é provisória... Eu apenas non estou totalmente acordado ainda... - Ele põe a palma da mão em minha bochecha, em recíproca ao meu gesto.
- O que...- procuro possíveis fraturas em seu corpo, inutilmente, ele aparenta estar ótimo, não fosse a palidez e a notável sonolência.
- Pardon por non ter ido a sua festa, nem comprei presente... - ele diz, mas eu nem sei com que cara pois eu continuo vislumbrando seu pulso.
- Oque aconteceu?- O interrompo, meus olhos denunciando minha aflição. Ele lança um olhar a seu pai, que se retira. Tony suspira.
- Nada demais. Apenas mais uma tentativa.
- Tentativa?- pergunto, me sentando no chão.
- Ow, levante-se, está frio, hã?- ele toca meu ombro, mas eu apenas fecho os olhos e aceno
- Tentativa?- mordo o lábio.
- Tentativa.
- De que Tony?- o encaro, meio temerosa.
- Rosa... – diz, fechando os olhos- Eu sei que você queria saber oque eu guardo na minha caixinha de madeira, non?
- Tony?- chamo-o, como que para sinalizar meu estado desnorteado.
- Pegue-a por favor.- ele aponta a mesa ao lado, às cegas, de olhos fechados.
Eu me estico e alcanço a caixa envernizada. Ele gira a pequena chavinha e me entrega a caixa. Eu o olho, sem saber se saio correndo levando a caixa ou se a abro ali.
Engulo em seco e levanto a tampa. Deparando com um pedaço de veludo carmim. Franzo o cenho e o retiro, revela-se o conteúdo da tão misteriosa caixa de segredos do Tony. Outras pequenas caixas! Eu o encaro, mas ele acaricia o próprio peito com o queixo, e nem me vê derramar a primeira lágrima.
- Glivec, Imatiniba. – eu leio em voz alta o rótulo de uma das caixas, num tom cansado.
- LMC.- ele sussurra. Eu fito seus dedos, que brincam com a fina mangueira de silicone.
- E porque está aqui?- pergunto, como se essa questão não merecesse ser feita a mim.
- Tentativa.- ele dá os ombros- Mas e você? Onde está seu marido?
- Tentativa?...- paro a refletir. Ele não insiste em questionar-me, vendo meu anelar esquerdo nu.
- Transplante de medula. Non reajo a ele. – Tony viaja nos quadros do meu sobretudo vermelho, distante- Nem pergunte quem é meu doador oficial.- balança a cabeça.
- Mas eu não entendo!- me ponho de joelhos.
- Ah entende. – Ele rebate, seco.
- Você sempre pareceu...
- Saudável, e blá blá blá.- ele meneia a cabeça, revirando os olhos- Rosa, agora entende o porque de eu querer adiar essa conversa ao máximo? Ton... Desnecessária ton...
- Pra mim é importante!
- Non Rosa. Importante é que você viva o máximo que puder, o mais feliz que conseguir ser. Non tenha a preocupaçon de saber se está na fase acelerada ou báltica dessa maldita doença. Apenas...
- Shiii- calo-o pondo a palma da mão em sua boca.- Eu entendi. Mas agora me diz, você entende porque eu estou aqui?- Não dou a chance de resposta a ele. Retiro minha mão de sua boca e pressiono meus lábios nos seus, sustentando-me nos braços da cadeira de rodas.
O que vem a seguir é que eu não entendo. Ele fica paralisado por um momento, até que abre os olhos e me encara, aparentemente furioso
- Vá embora Belina! Vá agora! Agora! E por favor, non me martirize! Non me questione! Vá e non me procure!
Ele vacila até alcançar um fio que continha um interruptor. A enfermeira aparece e pede pra que eu me retire.
(...)
Bem, e o que aconteceu pra eu querer me casar com Julio? Nem sei. Decidi aceitar a tal proposta, que a final, nem foi aceita, visto que o deixei no altar.
Depois disso, me preocupei apenas em destrancar minha matricula e voltar à Oxford. Terminar de viver meu sonho. E seja o que tiver que ser.
Sérgio é que estava certo, a vida é mesmo uma caixinha de surpresas! E a minha, tinha varias caixinhas dentro da caixinha principal!
Meu irmão transferiu-se para Moscou, para ficar ao lado da noiva dele. Janete nem acreditou, tudo o que me disse pelo telefone pode resumir-se em: Bel! Agora somos oficialmente irmãs!
Pensei: a Jane será a pediatra mais maluquinha de toda a história! Ela e toda a coleção de casacos de pele que ela trará da Rússia! Me garantiu que são sintéticos, mas igualmente felpudos!
E minha irmã de certa forma ela sempre foi. Nossos risos de madrugada. Nossas brigas em dias ruins.
Nada pode provar-me o contrário, ela, assim como Sérgio, é minha irmã de uma outra mãe!
Assim como de um outro pai, claro. Mas amo-a como minha irmã, sendo ela ou não, esposa do meu mano.
Enfio as mãos nos bolsos, mesmo sem calçar as luvas. E ando alguns quarteirões. Pisco às luzes dos fortes faróis dos carros. Mas aquilo que me cega não é exatamente brilhante assim...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNossa que barra
ResponderExcluirEntão o segredo do Tony era Leucemia Mielóide Crônica (ha que palavrão)
Tadin dele
=(
Mon Die, e eu achando que o cara era boiola kkkkkk
ResponderExcluirMais uma vez parabéns pela sua astúcia, escritora poderosa...