domingo, 13 de março de 2011

Capitulo 14- Natal em família?





Le Eternel Amour
Tulipe Rouge

Claude

-Non! Non! Ficou maluco? A...- estou prestes a lançar o telefone fora, não agüento mais essa ladainha- Non Jean, fora de cogitaçón! Na... non adianta você non vai me convencer, hã?- me sento novamente, tendo feito um rito digno dos cães, rodeando o assento até enfim se repousar ali- Ok. Enton até... tchau.
Desligamos. Ambos os lados da linha se desconectam. Mas nós ainda somos ligados. Ligados pela cara. Somos tão iguais que alguns cadetes batem continência pra Jean quando o vêem. Claro que isso não foi sempre. Quero dizer, era, e depois não era mais. E agora é de novo. E tem sido assim a cada melhora e piora dele. Nunca estive tão feliz em saber que ele está igualzinho a mim novamente! Na verdade, eu estou ainda mais a ele, que deixei o cabelo crescer alguns centímetros.

Hoje é o nosso aniversário, 17 de outubro. Ele me deu os parabéns, até cantou pra mim, ele sabe que eu odeio quando ele faz isso. Quero dizer, odiava. 
Hoje estranhamente foi reconfortante ouvi-lo cantar.
 Parece ate que estava aqui, posso quase sentir aquela energia estranha que a pessoa deixa atrás de si, logo após se retirar de um recinto. Parece que meu irmão estava aqui, sentado à minha frente, tamborilando os dedos ao longo do maldito saxofone que eu lhe dei quando tínhamos 16 anos. 
Quando eu estava no meu auge de energia e animação com o futuro e ele totalmente o contrário.

Ele me deu uma boina azul marinho, um cachecol xadrez e mais uma caixa de charutos que tinha roubado do papai. Nunca os fumei. Mas alguém o fez. 
E seu nome, para todo caso, é 32. O maluco hiper-ativo que dividia a beliche comigo. Mas essa é uma história que me irrita de mais, prefiro não aprofundá-la. 
Eu e 32 somos o que se pode chamar de o contrário de amigos. Eu me promovi e ele caiu. Tanto a se falar, nada a se dizer. Revoltado, frustrado, sei lá mais oque, nisso se resume o 32. E ele viu em mim, o retrato perfeito para se descontar toda sua raiva do mundo. Nenhuma trapaça que ele me aprontou foi suficiente para me impedir de chegar onde cheguei.
Contudo, foi suficiente pra conseguir  tirá-lo de serviço, além da confiscação de sua licença pra pilotar. Desde então, tem me cultivado ódio mortal. 
Mortal mesmo.

Nem que eu fosse louco eu entraria num avião ou em qualquer meio de transporte rumo à meu pai. Aqui do lado, em Toronto, ou no outro lado do mundo! Se meu pai querido não teve consideração suficiente para comigo pra me dar um simples joyeux anniversaire , não seria eu a pedi-lo ou a impor minha presença. 
Não gostaria que ele fizesse isso, na verdade.

Como chegamos a esse ponto? Não tenho certeza, mas acho que somos assim desde o meu nascimento. O meu, pois Jean veio primeiro, e pro meu pai, eu parecia ser mais uma sobra, copia barata. Quando descobriu a doença que atingia seu brilhante primogênito, ele viu em mim o culpado. 
Vivemos como  estranhos. Eu sei e ele  sabe que eu sei. Segredos que só nós dois conhecemos... Sobre mamãe, sobre minha tia, e todo um circulo do qual eu não fiz parte, mais acabei conhecendo à profundo. 
E dentro da caixa de charutos sem charutos que Jean me deu, guardo a prova de tudo que sei sobre o passado obscuro de nossa família, que apesar de rica e importante, na verdade, descende de uma tragicomédia real.

Rosa



- Mas onde eu coloquei?... ah! Aqui está!- Silvia me estende o cabo, com o qual conecto a câmera ao computador
- Pronto. Agora vamos ver....- espero a minha imagem aparecer, - estamos ao vivo!- canto, sorrindo, Janete se inclina a meu lado, acenando pra ela mesma na tela.

- Rosa, mas e cadê...?

- Calma! Veja só... ele acaba de entrar e... au!- solto um gritinho agudo e um tanto eufórico- ele esta ligando a câmera!!!

- Ai, Bel, não grite assim, a vizinha vai reclamar!

- Ah, Sil, a essa hora a dona Anne já deve estar sem os aparelhos auditivos, além da dentadura dentro dum copo d’água...- rio, tamborilando na mesa esperando a janela carregar- e ninguém me chama assim há anos! Bel, Bel, Bel... Oh meu Deus!

- Diga oiiii!!!

- Aaaah! Janete! Mano! E... owww!! Como ela é linda!!!- encolho os ombros, fazendo biquinho como se pudesse mimar daqui minha sobrinha- aaa queria tanto poder pega-la no colo!- ponho as mãos nos cotovelos, balanço os braços,- Jane, ela é fofa demais!

- Rosa eu queria muito que você estivesse aqui pra ver a cara do seu Giovanni... ele não para de me entupir com aquelas comidas maravilhosas todas especialmente preparadas pra que a ama de leite aqui produza o melhor para a princesinha Alice!

- Nem pense que você vai escapar do natal em família ein? Esse vai ser o primeiro da Alice e eu exijo que a tia dela esteja presente!

- Sérgio... – falo em tom de suplica- estou aqui a tão pouco tempo e...

-a-a-a-a! Não quero saber! Natal em família é natal em família!

- Mas o meu emprego! Eu queria muito ir, mais... Acabei de vir pra cá, não dá tempo!

- é verdade... ah! Mais eu tenho um plano!haha, você ouviu Lili? Eu tenho um plano!-


 eu reviro os olhos rindo, meu irmão babando na filha


- e sabe qual é? Baseia-se naquele velho ditado, sabe? Se Maomé não vem à montanha...

- Oh! Sérgio! Vocês...

- Nós vamos até ai, maninha! Vamos ao Canadeee!!!

- ow! Meu Deus, meu apartamento não dá pra...

- Shiii! Agente dá um jeito!

- Silvia! Esta me traindo?!- tento repreender Silvia, mas não tenho efeito, gargalho- Sérgio, meu Deus! Papai vai matar vocês...


...



Sigo a linha de corte, deslizando a tesoura pelo papel, destaco então a cabeça do palhaço. Passo barbante na  estremidade onde seria o pescoço,
- Pronto. Aqui está. – estendo o boneco-palhaço de cartolina. – espero que goste. Não tem medo de palhaço tem?

O Ben continua a me olhar, com seus enormes olhos azuis. Não entendeu uma palavra. Repito tudo em francês. Inglês. Sem resposta.

- Silvia?...- disparo, assim que Silvia volta da cozinha, trazendo uma bandeja com nosso chá com biscoito- Ele... Ele tem medo de palhaço?

- Não...- ela o olha, o menino finca as presas num biscoito, olhando-a fixamente, como se ela estivesse ali para defendê-lo

- É que imprimi um boneco pra ele e até o cortei e fiz articulações de barbante, mas ele não me respondeu se gostou. A família dele é da onde?

- Ah, são de  Otawa. – responde, sentando se ao lado dele e afagando seus cabelos

- Otawa?

- É. Ele não te entendeu por que ele não pode ouvir, Rosa.

- Aaaa...- pisco freneticamente, agora avisto os aparelhos em suas orelhas

- Está se adaptando aos poucos aos aparelhos e... com ele pude finalmente pôr em pratica meu curso da língua dos sinais!

- Você sabe?

- Claro!- ela sorri, fazendo os gestos correspondentes à sua resposta.

E foi assim que começou, através disso, não só aprendi a língua surdo-mudo, mas também tive idéias pra matérias incríveis sobre reabilitação e introdução de deficientes na sociedade moderna.

...


Mandei postais a todos, como em todas as semanas, comprei um novo porquinho da índia pro Ben, e adquiri um exemplar da revista, ficando muito orgulhosa de ver minha obra prima tomando duas páginas inteiras.  A rua está movimentada, mas eu só pareço uma criança, viro-me a toda, esbarrando em um senhor que me olha irritado, esbraveja alguma coisa num francês carregado de sotaque. Continuo me desculpando, andando de costas até alguém tocar meu ombro, me viro e um homem de meia idade me sorri, eu automaticamente abro passagem.

- Devia tomar mais cuidado, senhorita!- uma voz se sobressai em meio sons típicos de uma avenida movimentada

- Oh Deus! Você quer mesmo me matar!- pulo no pescoço dele, o som meio irritante dos tecidos sintéticos de nossos casacos que mais se parecem com sacos de dormir infláveis.

- Ora, pensei que ia gostar de me ver!

O Tony havia me mandado um e-mail, contando sobre como as coisas andavam. Isso foi como um milagre! Mas não é só isso, no aniversário dele ele me aparece aqui em Montreal!  
Entramos no prédio, Tony me ajuda com as sacolas, a luz está acesa, logo tem gente em casa.

- Silvia?!- chamo, ascenando pra que Tony deixe as sacolas na mesa.

- Oi Rosa! Espera só um pouquinho que eu já  estou indo!- a voz dela responde, vindo do lado dos quartos. Sorrio pra Tony

- Que bom que veio! E feliz aniversário de novo!

- Obrigado, Rosa. Vim porque o meu melhor presente seria ver você de novo!

- Pode vir quando quiser! Ah! Tive uma idéia! O que acha de sairmos pra comemorar seu aniversário?

- Ah... Legal. Ótima idéia! Mas... a neve pode nos prender um pouco, hã?

- é verdade... ah então agente faz um jantar aqui! O que acha?!

- Hum.. Parece ainda melhor! Adoro sua comida!

- Que bom! Porque não vai dar pra ligar pra comida chinesa à essa altura! Então, Andiamo! Abbiamo perché nescessita di verificare quello che abbiamo per cena, hã?!- rio, empurrando-o de volta pra sala.

- Mas e eu?

- Fica ai esperando, conversa um pouco com a Silvia! Vai! Ela vai adorar te ver de novo!












6 comentários:

  1. Nossa cara!
    Que profunda a narração do Claude..senti o ódio dele daqui hahaha
    Pela primeira vez (acho) o Tony não "fugiu" da Rosa e pela 1ª vez o First foi meu

    Oh Happy Day!
    =)

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  2. Karolllllllllll tu é lindaaaaaaaaaaaa... meu tive q chamar meu marido e dizer q a sua historia carrega varios detalhes da nossa historia de vida. até te escrevi um email pra tu se localizar,num quero dizer tudo aki...mas percebi q num tenho seu email..kkkkkkkk meu virei mais ainda sua fã...adorooooooooooo

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  3. gente, a Gih me falou uma coisa que eu gostaria de repassar,
    nem todo surdo é mudo(disso eu sabia)

    os deficientes auditivos falam pouco porque ouvem pouco(ou nada{eu tenho um amigo surdo, que usa aparelhos nos dois ouvidos a muito tempo, então, fala,com um pouco de dificuldade fonoaudiológica, e ouve até bem ), e é meio que mais eficiente se comunicar pela língua(linguagem também é uma expressão valida, num chega a ser errado dizer linguagem> forma de comunicação/)dos sinais(no Brasil: LIBRAS(língua brasileira de sinais)
    usa-se a expressão surdo-mudo, porque na língua dos sinais, tanto faz ser mudo ou surdo, se comunicam por igual, já que não se nescessita ouvir nem falar para usar esse meio de comunicação.
    "Entende-se por linguagem a forma de expressar a comunicação" essa frase achei buscando uma definição ao termo. entendo que LIBRAS seja o português em gestos. pois LIBRAS não é universal, se alguém que saiba LIBRAS for pra outro pais, creio que não será a mesma coisa (sobre a língua de sinais) acredito que mude muitas coisas...

    mas é isso. amo descobrir novas coisas, discutir novos assuntos, assim tudo enriquece, tudo soma e multiplica.
    beijos gentem!

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  4. http://beccamoreau.blogspot.com/2011/03/capitulo-05-babo-esse-e-meu-namorado.htm

    cap da fic antes q vcs briguem comigoO

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