terça-feira, 29 de março de 2011

Capitulo 18- Pela revoluçón!


 
Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


Claude


A luz excessivamente branca que vem do céu igualmente alvo, não diminui a brancura da neve que se amontoara na rua. Nos carros, nos telhados, nas árvores, nas casas e até mesmo nas escadas e entradas.
Por isso, a sensibilidade nos olhos é comum em todos. Lembra até o sol do mediterrâneo, onde estreitamos os olhos a fim de alongar a vista.

Nara veio o caminho todo tagarelando e saltitando sem parar, animada como nunca com esse natal. Eu estou apenas animado com a idéia de que será apenas uma noite, e dali a algumas horas, estaríamos voltando. Ela corre à frente, toca a campainha. Diz qualquer coisa em italiano no interfone e me olha sorrindo. Eu retribuo apenas porque reparei em sua apelação.

Subimos as escadas até o terceiro andar. O prédio não é grande e nem pequeno demais. Parece perfeito e aconchegante pra um solteiro. Bato na porta, mas antes da segunda batida, Tony a escancara, abrindo os braços

- OW! Mon Dieu! Vocês vieram!- abraça Nara, que sorri encantada pela alegria de meu irmão, como sempre, ele beija a mão dela e depois me abraça- Ora veja! Quanto tempo não abraçava o magrelo aqui ein?!

- Nem tom mais assim, hã? Você está me parecendo bem gordim, non?- rio, ele passa o braço pelos meus ombros

- Gordinho aqui está o senhor! Agora vem, entra que a festa está pra começar!- sorri, me empurrando pra dentro do apartamento aquecido. Nem reparo no recinto, mas a imagem que vejo de certa forma me assusta...

Sérgio abraçado a Janete no sofá, ela com um bebê no colo. Uma moça sorrindo e mimando o bebê. Rosa abraçando Nara e mostrando-lhe o gancho pra que ela tire o sobretudo (branco!). Vejo-a fulminar Jean e depois vem até mim, que permaneço praticamente na porta, como se estivesse disposto a correr dali a qualquer instante. Ouço a porta bater e me viro, Jean bate no meu ombro e sussurra:

- Obrigado por ter vindo Claude. Você ama mesmo sua noiva, sei o quanto é difícil pra você estar aqui, mas prometo que vai ser uma noite muito agradável!-

- Seria muito mais no Marrocos... onde NON tem natal.- murmuro, abrindo um sorriso pra Rosa

- Olá, Claude! Como vai?- ela me cumprimenta com um beijo na bochecha e um sorriso (nervoso). Rosa olha pra Tony (que abaixa a cabeça rindo) e depois olha pra mim, um pouco assustada. Suspira- Bem, vem, junte-se à nós, vamos jogar um pouco de buraco até que o peru asse...

- Claro.- digo sem nem mesmo refletir. Não sei oque me deixa mais zonzo nessa situação...

Rosa

Apesar do que possa parecer, não confundiria nunca o Tony e o Claude. Eles são diferentes demais pra serem confundidos, e até mesmo comparados. O olhar, a voz, a anatomia (tirando a facial), o sorriso e até mesmo o jeito de se mexer. Apesar de sempre respeitoso, Tony tem um jeito todo descontraído de olhar pras pessoas, enquanto Claude parece sempre solene e disposto a te explicar o porque de assinar o tratado de Kyoto- pra que ele enxergue  à frente pilotando, claro!- Tony dizia.
 Nos amontoamos envolta da mesa de centro da sala, cartas sendo cortadas por Sérgio, unhas sendo comidas por Silvia. Risos de Tony sobre a seriedade de seu irmão, que não desfazia a postura de “soldado”. Um inexplicável frio na minha barriga. Uma coceira nas narinas típica de quando estou (muito) nervosa.

 O jogo corre como sempre é quando se joga com Silvia, ela ganha praticamente todas. Perdendo apenas vez ou outra pra um de nós. Nara parece encantada demais conosco, parece que nem se importa em ganhar ou perder, mas bebe muito, desde de que chegou, foram três taças cheias de vinho. E o mais engraçado é que não parece estar bêbada, deve ter boa tolerância.

Ascendo as velas do pequeno candelabro e chamo todos à ceia. Sentam sorrindo, a mesa realmente estava muito bonita: uvas, queijos, panettone e claro, o Peru. Todos servem-se e Tony levanta a taça:

- Pela revoluçón!- ele ri, olhando pra Claude que permanece estático. Eu, Jane, Silvia e Nara rimos e dizemos ao uníssono:

- Pela Revoluçón!

- Esperem, mais por qual revolução estamos brindando?- Sérgio pergunta, sorrindo e sustentando a taça no ar

-Hum... Pela próxima!- Tony sorri.

- Ah...como aquela em que todos os ricos são devorados pelos comunistas e os pobres ganham o poder?- Sérgio olha pra Jane divertido. - espero que não haja espiões por aqui!- sussurra, piscando pra ela

- Essa ai mesmo!- Tony diz, levantando ao máximo a taça. Nara sorri e toma mais um gole. A ouço reclamar da leve cotovelada que Claude lhe dá. Desconfio que ela ande mesmo passando da conta na bebida.

- Isso parece meio cruel... E nessa revoluçón, o que fariam com os intelectuais como você Tony?- Claude diz com certa ironia. Sorrio porque finalmente ele se manifestou.

- Ora certamente o devorariam também. Pena que mal daria um caldo ralo! - Sérgio ri

- Sérgio!- Janete o cutuca.

- Cuidado ein?! Eu non sou o único intelectual por aqui... - Tony me olha brincalhão. Suspeito que todos bebemos muito mais do que comemos.

- Eu jantaria você Bel!- Tony corta o breve silêncio- com molho rosê, pra combinar com teu lindíssimo nome, e com batatas também!- ele gargalha, eu reviro os olhos.

- Não Tony, seria melhor ao molho madeira! – Sérgio me olha rindo

- Olha será que vocês já pararam pra pensar que eu não gosto da idéia de que me devorem?- fecho a cara, um pouco tonta.

-Está bem... Até porque, não seria legal cozinhar você... - diz Tony

- E como faríamos? Existe livro que ensine a culinária canibal?- Sérgio ri

- Ow, o cru e o cozido!- Nara diz em mais um gole de vinho, e todos nos voltamos pra ela- Oque foi?

Todos rimos juntos, visivelmente alterados.

- Como farão pra passar a noite?- Silvia pergunta à Nara,que faz uma careta e ri

- Não faço a mínima idéia!- Nara toma mais um gole. Claude tosse e esconde o nariz e a boca com uma das mãos. Percebo que apesar de noivo, salvo no dedo do meio, nenhum anel.

- Olha com a neve que tá lá fora, e supondo que vocês não estão de carro, acho que terão que passar a noite aqui mesmo.- Silvia pondera

- Ahum! – Claude engasga – Comam?! Non! Non fora de cogitaçón!

-Bem, meu caro e mais novo amigo, fora de cogitação esta você atravessar a cidade pra conseguir uma vaga de hotel. Ainda mais a essa hora e nesse tempo!- Silvia diz, como se fosse possível enfiar mais gente no minúsculo apartamento de dois aposentos

- Silvia eu sei que é mesmo complicado mais como vamos acomodar todos aqui?- pergunto preocupada

- Bom, como dizemos nós brasileiros, dá se um jeito! Afinal, o  meu apartamento está todo bagunçado e com cheiro de tinta fresca, mais ainda tem teto e paredes. Além da velha lareira, privilégio por estar no último andar desse prediozinho chinfrim no qual residimos. - Silvia gargalha, eu reviro os olhos

- Ah, Sil, tem certeza que vai dar certo?

- Claro que não né, mais vamos tentar uai!

- Por mim tudo bem!- Nara da os ombros. Claude passa a mão pelos cabelos crescidos, bufando

- Oh mon Dieu! Tudo bem...

- Obrigadíssima meninas, vocês tem sido ó- Nara beija a ponta dos dedos- Demais!

- Mas no estado em que a senhorita se encontra Nara, se existe mesmo cheiro de tinta lá em cima...- Tony balança a cabeça- acho melhor deixar as matmoiséles aqui e dormimos os rapazes lá em cima entón...

- É! Finalmente o senhor disse alguma coisa aproveitável!- bato o punho de leve nas costas de Tony, rindo.

- Enton tá. – Claude se levanta, mas franze o cenho pra Nara, que fazia uma careta- Nara? Esta tudo bem?

- Não né, francês! Bebi demais! Preciso... preciso ir ao toilet... onde fica?- Nara me pergunta

- Ah, claro, é no fim do corredor, bem ali. – aponto. Claude ajuda a noiva se levantar e a acompanha, ao chegar lá ela lhe bate a porta na cara, e ele gira nos calcanhares, se recostando na porta.

Tiramos a mesa e Silvia se encarrega das louças, apesar da máquina ter mais trabalho que ela. Minha sala se enche de colchonetes, nela dormiria Nara e Silvia. Eu me ajeitaria no espaço minúsculo que restava no dormitório cheio de tranqueiras, e Jane ficaria com Alice no meu quarto. Tony, Sérgio e Claude dormiriam no apartamento recém pintado de Silvia. Porque ela o pintou justo no inverno? Sabe Deus o porquê. Tudo se resume a vontade do dono (maluco) do prédio. Fez com que o apê de Silvia virasse uma obra: encanadores, pintores, pedreiros... e tudo por causa de uma suspeita de vazamento...

O cheiro de celulose me instiga muito ao trabalho... então, no meio da madrugada, de súbito, tenho idéias pra escrever uma crônica de natal. Levanto-me e começo a escrever. Acordo algumas horas depois, debruçada sobre a escrivaninha, cobertor caído no chão, pouca luz. Levanto-me e saio pela casa, respirações lentas e constantes podem ser ouvidas... entro no banheiro, faço meu toilet matinal, passo pela sala, salto os que se encontram “caídos” pelo caminho, vou à cozinha, preparo café...

Claude

Acordo num quarto escuro, um cheiro forte que lembra verniz de madeira fazendo minhas narinas geladas pulsarem. Ouço passos... inacreditável que alguém tenha acordado antes de mim! Levanto a cabeça devagar, estreitando os olhos pra enxergar além do claro que vem da porta de entrada (agora me lembro, estou na sala, no sofá que está encapado com plástico). Vem até mim, agacha-se na minha frente, toca meu ombro, e diz em tom solene:

- Claude, será que agente pode conversar um pouco?



sexta-feira, 25 de março de 2011

Capitulo 17- O Natal pode ser mesmo visceral



Le Eternel Amour
Tulipe Rouge

- Sim... Não... Ok, ok! Babbo, já disse, eu ligo sim! Tá... outro. – desligo. Tony me olha divertido e Silvia aplaude:

- sim, sim, não, não. Sabe Bel... entendi tudo! Deixa eu ver...o primeiro sim foi dado a esta pergunta: - imita meu pai-   va bene figlia? Ai temos o primeiro sim. Precisa de arguma coza? Ai temos : não. – Silvia se diverte, contando cada fala minha nos dedos. Eu reviro os olhos

- Olha só quem fala! Quando seus pais ligam é a mesma coisa.- dou os  ombros- e a Tua mãe vale por dois, três, uns quatro Giovanni!

- É... ela me manda até casacos pelo correio...

- Olha, eu que achava que tinha um pai super-protetor! – Tony ri.

-Você não viu nada Tony. Seu Giovanni é osso duro de roer!- Tony franze o cenho sem entender o ditado. Silvia mostra o punho- ai de quem se meter a besta con questa ragazza!- Tony ri, fazendo o sinal da cruz.

- Vejam os sujos falando mal do mal lavado!- Rita, minha amiga garçonete põe nossas panquecas sobre a mesa, e logo em seguida volta ao balcão, dando uma piscadela pra mim, e eu sei bem porque.

- Mas falando em família, Tony, quando você vai voltar as origens, pras baquete matinée e todo o vinho que só existe lá? – Silvia pergunta sorrindo, despejando meio frasco de maple nas panquecas.

- Bien, na verdade... tem vinho de lá em toda parte,non? Mas... non sei ainda. Meu pai tá lá, gastando o péssimo inglês dele em Toronto, pra fechar uns negócios ai e... Non sei quanto tempo isso pode levar.- Tony me olha, eu abaixo a cabeça- Mas, o natal está confirmado. Passarei aqui.- ele enfatiza a ultima palavra, num sorriso que me parece ensaiado.


- E... Quem fará os biscoitos? Eu vou logo avisando que nem adianta me pedirem pra fazer panettone...


- Oh, não, Bel. Do pouco que conheço Teu pai, ele vai lotar as malas da Jane com várias iguarias pra se ter um perfeito Natal...


- Italiano, ovviamente! – ambas dizemos, rindo e brindando com a xícara de café.

- Nem quero ver isso... - Tony arqueia as sombracelhas, pressionando os lábios.

- olha o orgulho ferido ein? Aqui nessa mesa só tem descendentes itálicos. Itálicas na verdade!- Silvia ri.

- Tudo bem! Eu fico calado entón. E à França peço pardon!- Tony finge beber “o cálice da morte”, dando um exagerado gole no café preto e quente demais, oque o faz retê-lo nas bochechas numa careta.

- its fail!- Silvia gargalha. – try again?

- Chega hã?- ele faz bico, e dessa vez não pelo sotaque.

- Fake Romeu!- Silvia provoca, levantando a xícara. Tony revira os olhos, enfiando mais uma garfada de panqueca na boca.

- Chegaaa!- eu falo baixo, rindo. – Tony, onde seu pai vai passar o Natal? – pergunto, limpando o maple do canto da boca dele com um guardanapo

- Ah, onde nem sei ao certo. Mas sei com quem. Com a nova namorada dele, uma perua sem igual.

- qual é o nome dela?- Silvia pergunta

- Erci. Lady Erci.- ele revira os olhos, fazendo uma reverencia com a mão.

- Um brinde à Lady Erci! – Silvia diz rindo, levantando a xícara vazia- bem gente, o papo está ótimo, mas eu preciso ir trabalhar! bisous! – Assim ela sai, me deixando à sós(na mesa, ao menos) com um francês muito esquisito, que me olha de lado.

- Oque foi? Que cara é essa? – pergunto, e em seguida, tomo um gole de café.

- deveria ter açúcar. – ele diz, observando que na mesa não havia açucareiro.

- Jean...- tamborilo os dedos na mesa- Tem certeza de que essa é a resposta certa?

- Ok. – ele endireita a postura, ombros pra trás- bien. Tenho que confessar, non sei a resposta certa, vou descobrir. – ele imita Anápolis. Eu sorrio e ele bate continência.

- Você sabe oque quero dizer...

- É eu sei...- ele abaixa a cabeça- mas é que... é que...eu... eu non sei oque fazer sabe Rosa? É difícil pra mim...

- Como anda tudo?-disparo

- Eomo anda...?- ele franze o cenho e eu ergo as sombracelhas.- ow...

- Eu quero...não. Eu preciso saber. Afinal, a culpa é toda sua, estragou minha vida pra sempre. - digo, como se não houvesse peso nessas palavras. Tony mais uma vez suspira

- Bel... Eu... Eu ainda estou na mesma e... se... você sabe... non quero que minha pena seja ainda maior. Bel, por favor... Rosa... Apenas seja feliz por mim!

- Mas oque... Não Jean, ouça, ouça eu.. Eu acredito na força do amor e que ele pode transformar qualquer situação! Eu acredito, que a sua vontade de viver te trouxe até aqui... Lembra, aqueles provérbios que a professora de matemática sempre nos dizia... – sorrio, lembrando-me da senhora que escondia debaixo dos óculos, olhos puxados- “não há que ser forte, há que ser flexível!”

- sim. Lembro.- arfa.- flexível...- ele me olha por baixo, me dando um sorriso cansado, mas ainda sim,sinto meu coração se aquecer pelos seus olhos

- Tente ser...!- eu digo, saindo mais “cantado” do que eu imaginava.

- Tem razon. – ele sorri, se debruçando sobre a mesa, e alcançando-me. Cola a testa a minha e fica me olhando assim, de tão perto que tenho que fechar os olhos.

- Então, qual é o plano?- digo, ainda de olhos fechados.

- Ow... non acho que esta seja a melhor hora e nem mesmo o melhor lugar pra te contar.

- Tá...- ele se afasta. Eu fico um momento sem encará-lo, apenas por sentir me zonza. Tento imaginar oque pode ser esse plano.

- Enton... Podemos voltar? Estou morrendo de sono...

- Você não dormiu nada né?...

- Tenho que estar bem recuperado porque... bom, hoje mesmo volto a Toronto você sabe... enfrentar a fera até que chegue o natal...

- É... eu estou muito feliz com isso! Você vem mesmo né?

- Eu prometi, non? Agora... queria te pedir mais uma coisa.

- E oque é?...

- Eu posso eventualmente trazer convidados também?

- Jean... – coço a cabeça, meio nervosa- pode. Claro. Mas... no máximo duas pessoas, porque... bem, apartamento...- meneio a cabeça. Ele dá um sorriso enigmático e se levanta

- non se preocupe. Será eventualmente. – pisco, sem entender. Mas talvez não haja nenhum significado oculto-  vamos?

Saímos da casa de panquecas, e enfrentamos o frio da rua. Apesar de haver sol, ainda sim, está tudo coberto pela neve.

- Então.. quando vai me contar o plano?- pergunto, seu braço em volta de meus ombros

- aaa.. segredo de estado!- ri.


Claude

- Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te... - leio a frase e pela primeira vez dou pausa pra pensar sobre ela.

- Claude? Claude! Continua! – Nara diz, não se dando o trabalho de mover-se. Olhos fechados e mãos sobre a cova do estomago. Pisco e volto ao livro.

Nunca fui de muitas palavras, nem mesmo de se entusiasmar com poesias. Tanto eu como Jean nunca gostamos de ser comparados. Penso nisso todas as vezes que me surpreendo eu mesmo fazendo tal coisa. Como agora. Ele ama poesia, e filosofias. Talvez por isso as garotas caiam sempre aos seus pés...

Estou tentando de alguma maneira, encontrar significados nesses livros que Nara guarda a tanto tempo. Livros que na verdade, Jean me aconselhou a comprar-lhe. E ela ainda acha que a idéia tenha sido unicamente minha. Desesperado em datas especiais... agente faz qualquer negocio.

Uma vez, lhe dei um vaso com flores rochas. Não me lembro o nome perfeitamente.mas aacredito que eram violetas. Jean me disse que ajudaria a acalmá-la. E eu segui seu conselho. Ele sempre tinha muitos a me dar. E eu sempre aceitei. Dei-lhe apenas um, ao que me lembro. E não faz muito tempo. espero que, ao menos em recíproca, ele siga.


Agora temos apenas quatro dias até o natal. Non gosto dessa época. Famílias felizes e cantantes por todos os lados. Lembro de me trancar no tatame nessas noites de vinte e cinco de dezembro. Todos os outros iam ver suas famílias, eu ia ver minha amargura na solidão. Por mais grosso que fosse o tecido do quimono, nunca bastava pra me aquecer por dentro. As vezes batia nos sacos até que minhas juntas não me suportassem mais. Então, eu caia. E chorava. 
No natal eu choro. Disso me lembro.
Recebia telefonemas de Jean, Frasão e Nara. Apenas dizia “pra você também”, e tratava de desligar logo. Antes que eu não suportasse mais.

- Alô?- Nara atende o telefone,que eu me neguei a calar, mesmo ele estando justamente ao meu lado na cebeçeira. Ponho o travesseiro sobre minha cabeça, e me estico um pouco mais. – Ah, oi! Tudo bem? Estamos.... sim estamos bem. Não Tony ele está dormindo...- ergo me de súbito-

- Tony?

- Claro que sim! Claro! Ah você me salvou! Pode deixar, estaremos lá! Beijo!- Nara desliga, e me olha fasceira. Sei que ela desligou de propósito, pra impedir que eu desfaça esse compromisso que ela acaba de confirmar com ele por mim.

- Nara, era o meu irmon?

- Oui!- ela sorri, toca meu nariz com o indicador- e adivinha? Nada de frango de padaria agente vai ter um natal de verdade!

- Como é que é?!- franzo o cenho enquanto Nara se diverte, se levanta e põe o hobbie.

- Isso mesmo. O Tony acaba de nos convocar pra passar o natal com ele e uns amigos...

- Mas como assim?!E você aceitou sem me consultar?!

- Claude!...- ela revira os olhos- eu sei que você não iria aceitar! Mais eu estou muito entediada aqui! Quero conhecer gente nova!

- Tá. Tá. Tudo bem, você venceu.

Mesmo estando muito mais disposto a ligar pra Jean, insultá-lo e desmarcar, minha preocupação com Nara fala mais alto nesse momento. E lá vou eu, enfrentar uma bela noite de torturas. Principalmente por saber quem são os amigos chegados de Tony. E por saber que meu interesse num deles em especial pode não passar desapercebido..

domingo, 20 de março de 2011

Capitulo 16- Lista de Manias. Visões da Vida.

Le Eternel Amour
Tulipe Rouge

— O que é isto — disse o leopardo —, tão incrivelmente escuro e, ao mesmo tempo, tão cheio de pedacinhos de luz?
Rudyard Kipling, Como o leopardo adquiriu suas pintas                


Deliciosas memórias...
Saborear cada momento, cada instante da vida. Sorrir sem receio, ser livre pra validar o dia com uma bela risada. Aquele momento de loucura desenfreada ali presente. Sempre. E sempre estar disponível para felicidade.


- Diga, três coisas apreciáveis no mundo... - digo, mãos na barriga, olhando o céu azul maravilhosamente iluminado pelo sol daquela tarde de outono, quando havia folhas espalhadas por todos os lados e até a nossa adorada arvore preferida junto ao lago estava perfeita para estrelar filme de terror.

O cheiro da chuva que passou ainda estava no ar, aquele aroma da terra, da qual sou filha bastarda, meus cabelos se enchendo de grama, enquanto eu rolo a cabeça levemente de um lado pro outro, sacudindo-me em minha dança da inquietude.

- Só três?...- Tony responde com outra pergunta, me olhando sorrindo. - Deixa eu ver...

- Anda, Tony está demorando muito!- me agito, como de costume, numa ansiosidade pulsante.

- Calma, é que essa seleçón deve ser feita cautelosamente, non?

- Ah, que nada. São apenas três coisas boas que você vê no mundo, que vive. Como no cotidiano sabe?

- Claro que sei... Mais é que gosto de tudo na vida, entende?

- De tudo?- pergunto meio surpresa

- Bom, tudo, tudo, também non sei, non vivi tanto, né? Mas... gosto de fazer muitas coisas...

- Como correr. – disparo, listando cada “mania” dele de que me lembrava- Chupar pastilhas, Tocar músicas antigas, atuar, pintar paisagem com tinta a óleo, rasgar folhas de papel, assoviar...

- Aulas de português, por causa da minha professora!- ele fala, num tom divertido- Pisar em folhas secas só pra ouvir o barulho que elas fazem,

- Ah, rabiscar nos cantos do caderno, encher as bochechas de suco e só depois engolir, Olhar pra trás antes de subir as escadas mesmo quando não tem ninguém por perto...

- Ow, e como saberia que non tem mesmo se non olhasse pra conferir?

- Mas eu quero três apenas. Por hoje, que seja.


- É... já sei oque seleciono entón.

- Pois então diga.

- Em terceiro, atirar pedras no lago, fazer com que elas pulem sobre a água pelo menos umas três vezes antes de afundar...

- Segundo...

- Segundo... o cheiro da terra molhada com o céu claro, a grama bem verde por ter sido regada pela chuva... e...

- Primeiro?- me viro e o encaro, meus dedos brincam com uma erva daninha que se sobressaia junto a meu ombro

- As cores... - ele me olha, num olhar profundo, podia ler neles sua vontade de me descrever  “seu mundo”- Todas as cores da tarde de hoje. A cor meio vermelha do teu cabelo... - ele analisa as mechas desgrenhadas que se amontoavam ao redor de minha cabeça- parece mel...

- Mel? –rio, fechando os olhos- Faz tempo que não ouço falar de mel...

Claude

- Nara... Nara! Nara! Abre! La porte, Nara, Abra!-  bato insistentemente, já irritado e preocupado pela demora de Nara no toilet, principalmente por não haver resposta a meu insistente chamado.
- Nara se você non abrir, eu vou ter que estragar sua porta. - sem resposta.  Então, ameaça dada, ameaça comprida. Farpas de madeira pelo chão. Nara debruçada sobre os joelhos, encolhida, ao lado da pia. – Nara! Mon Dieu! Ei! Ei!

 Minha noiva. Minha noiva que eu não entendo. Minha noiva que mal conheço. Amo? Não dá pra definir. Não sei bem como é isso. Sei que o amor deva ser maior e mais forte do que qualquer outra coisa que possa te prender. Mas... Será? Que oque sinto por Nara chega a esse... extremo?

Deposito o corpo adormecido de Nara sobre a cama,seus cabelos exalando cheiro de xampu, molhando o travesseiro. Sinto-o não ter secado, mas usar o secador não é bem uma habilidade minha. Seu roupão não parece o suficiente para aquecê-la, tomo o cobertor, e a cubro.

Não há culpa entre nós. Nunca houve, acredito. Sentávamos na varanda, com um belo litro de vinho e ela com seus cigarros. A rua se esvaziando aos poucos, e a lua subindo céu. Não riamos, não chorávamos. Só observávamos em silêncio a rua de Paris, onde muitos iam e vinham, dum lado que vim, do outro, que me iria. Mas não tinha mesmo curiosidade sobre nada. Por isso, silêncio entre nós.

Ela as vezes perguntava algo. Nada que pudesse estender assunto. E assim ficávamos. Não porque éramos iguais demais, nem muito diferentes. Só... alguma coisa, havia um estranho peso no ar. Como se nada valesse, só o silêncio. Talvez esse nosso desânimo fosse por não conhecer nada novo, ou diferente. Sempre assim. Eu conhecia o mundo, de ângulos extraordinários. Mas pouco conhecia sobre as pessoas. Aprendi academicamente como lidar com elas. Educação, respeito, e astúcia pro caso de gente suspeita. Porém, esse era o limite. Aprendi a falar pouco, sentir pouco. Era essa a relevância em saber se conter nas situações de grande risco, ou de pouca estabilidade.




Tive minha mãe apenas até os meus treze anos, quando então meu mundo desabou de vez. Sem ela, não poderia permanecer naquela casa. Muitos me taxavam como filho rebelde, problemático. Grande contraste com Jean, que sempre foi mais talentoso e culto do que eu. Ele gostava de ler, eu de inventar estórias. Eu gostava de subir em arvores pra colher as frutas. Jean preparava estilingues e engenhocas que lhes poupavam esse trabalho. Ele mirava incomparavelmente. Ele era o melhor em filosofia e gramática, eu em matemática e física. Parecíamos distintos demais pra sermos tão iguais. Mas, em geral, sempre fomos unidos e cúmplices em tudo. Quero dizer, quase tudo, visto que eu não lhe contei algo que certamente o faria ver a família Geraldy, que nosso pai gaba-se em ter firmado, de uma outra forma.

Fui então felicitado com a admissão na força aérea, deixei a casa de minha infância e fui me preparar pra ser homem. Homem sem muitos sentimentos. Chamam-me frio e calculista. Não por mal, mas por ser mesmo minhas principais características em sociedade. Muitos ainda me questionam, tenho tratado Nara como prima, sendo ela tão bonita e desejável. Mas mais do que fútil luxúria seria muito? Eu queria mesmo cultivar mais do que isso por ela. Apenas consegui dizer-lhe que “sua presença pra mim era, sem dúvidas, formidável”. Nada de “Je t’aime”...


Rosa



- Tony...- chamo,meio preguiçosa, sem mesmo me mover

- Hum?- ele responde, igualmente sonolento

- Você vai ter que dormir aqui na sala, tá? Temos dois dormitórios mais um deles...

- Está totalmente abarrotado de livros e papelada do escritório...- o ouço soprar com a garganta, como quando ri, mas nem me ergo, só observo a fraca luz da TV que vem viajando até nos alcançar nesse ar gelado.- Puxa... Está frio...

- Você sabe que sou bagunceira, né?-rio, me sentando no sofá, olho em volta, o aquecedor parece ter se desligado. – Espere que vou trazer outro cobertor.- me levanto, e sacudo Silvia, que dorme com a cabeça encostada no outro braço do sofá, que faz um L na sala. Ela acorda num meio espasmo, umidece os lábios ,roxos pelo frio, levantando o dorso

- Nossa que horas são? Ui! - ela se encolhe, alisando os braços- Mas oque houve com o aquecedor dessa casa?

- Não faço idéia. Mas levante-se daí ou vai acabar virando picolé.- falo, indo pro quarto buscar cobertores de pêlo pra que Tony sobrevivesse ao frio de minha sala.

Silvia corre e rapidamente se submerge na cama, eu volto à sala, e encontro Tony tirando os sapatos.

- Está bem?- mostro um travesseiro grande e bastante fofo à ele, que acena.

- Obrigado por me deixar ficar, achar hotel sem reserva por aqui nessa época, deve ser mesmo complicado.


- Imagina se comigo aqui eu deixaria você ficar num lugar com estranhos.- confesso meu pensamento. Ele me olha sério, seus olhos brilhando pela luz amarela do abajur. Engole em seco e diz

- Estou acostumado à gente estranha. - ele me olha de um jeito desconcertante

- Oh, claro, me desculpa, não quis dizer isso.

- Tudo bem. - ele sorri mesmo sem vontade, apenas pra me reconfortar. - Eu sei oque quis dizer.

- Tony... –pigarreio, ele senta no sofá, pondo mais um par de meias

- Eu estou bem, Rosa. Na verdade,- se estica na “cama”
- estou ótimo!- ele me sorri, e eu jogo o travesseiro nele, sento junto a sua cabeça, que, invés de estar do lado do braço do sofá, estava do centro, onde o L se forma. Aliso seus cabelos

-Como você pode ser assim tão maluco ein?

- Sendo, oras. Mas acho que poderia ser ainda mais, de desistir assim fácil.

Tenho receio de perguntar de quê, mas ainda digo
- Mesmo que você quisesse, duvido que conseguiria parar.

- Parar?- ele se vira um pouco, procurando meu rosto. Fujo, largando-me no encosto do sofá. – Acho que non dá pra parar de fazer algo que nunca se tentou  fazer.

- E oque seria?- franzo o cenho, já não entendendo.

- Hum...- ele se vira, barriga pra cima, olhos abertos mas tão serenos que eu poderia jurar que ele estava sonhando.

- Oque foi?

- acredito que nunca falamos diretamente sobre isso.

- Isso?... Isso oque?- sinto uma leve inquietação pela pausa que ele faz.

- Nós.- ele solta junto com o ar quente de seus pulmões. Vejo esse “nós” sair de sua boca e flutuar com o ar “branco” até desaparecer.

- Nós.- repito, num suspiro, meio confusa.

- Acha que seria possível?- ele sussurra, num tom tão cúmplice como de uma criança. Seus olhos fitam o teto e eu involuntariamente o acompanho e também solto num sussurro

- Não. Acho que é totalmente inviável. Afinal, oque é o tempo?-sorrio

-“O tempo é um cavalo que corre no coração, Um cavalo sem cavaleiro numa estrada à noite A mente fica sentada escutando e ouve-o passar”.- recitamos juntos. Sorrio e ele diz:

- “Todos os prelúdios para a felicidade”... dane-se Wallace Stevens e seu cavaleiro medroso.- ele se vira de bruços, se sustenta nos cotovelos, me olhando- Oque tem demais a noite? Fadiga-se assim durante o dia? Porque se refugia nos sonhos?

- Sabe, meu caro amigo Rimbaud, -rio- aprendi certa vez que mesmo os gênios caem em contradição à sua própria filosofia.

- Rimbaud...- ele bufa, franzindo o cenho

- Haha, ninguém nunca inventa nada, só descobre. Já ouviu essa? Nem lembro de onde li mais...

- Non entendi.

- Nem era pra entender. Oque você ia dizer? Não terminou.- me estico no sofá

- Quero enton te fazer uma pergunta.- ele apóia o queixo nas mãos entrelaçadas sobre o travesseiro.

- Pois faça.- respondo, voltando a olhar o teto.

- Que visón você tinha de mim, antes saber...

- Visão?

- É. Como você me via como pessoa... um amargurado, um suposto trambiqueiro ou...

- Ah, não. Só achava que era gay!- digo séria, mas por dentro gargalho.

- Coman?!- ele se ergue de súbito- Gay?

A essa altura eu perdi o fôlego, não sei se por rir desenfreadamente ou porque até respirar esse ar gelado dói.

- Serafina! Serafina! Quer parar de rir e me explicar essa história, hã?!











quinta-feira, 17 de março de 2011

Capitulo 15 – Feliz aniversário, Claude!

 
Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


O chiar das panelas me instiga certa nostalgia de casa. Dos verões no restaurante, aos pés do balcão, entre toda aquela gente estranha... Os risos, os talheres rangendo nas louças, os risos dos cozinheiros e garçons, italianos em sua maioria, toda aquela euforia da casa cheia...


- Huuum! Parece uma delicia!- Silvia aparece, me ajudando a pegar as louças pro jantar- Que maravilha!- ela lambe a mão em que pingara um pouco de molho- nossa! Vamos chamá-lo mais vezes! –ri- você está mesmo inspirada hoje!- ergue a travessa até o queixo, deslizando o nariz no ar de um lado a outro


- Ah, chega!- reviro os olhos num riso nervoso- Vai, vai leva essa bandeja pra lá pra mesa, por favor.


Praticamente empurro Silvia, que sai rindo e me olhando por sobre o ombro.

Suspiro. Não posso esperar nada de especial essa noite. Aliás, não desejo esperar. Quero apenas que tudo saia bem, que ninguém saia ferido.


- Ham, ham!- Chamo a atenção de todos(Tony de cenho franzido pra Silvia que enfiava um pedaço de pão dentro da gaiola do coelho, que inexplicavelmente, ocupava meu lugar à mesa) Permaneço quieta até Silvia retirar a gaiola do meu assento e falo:


- Muito bem, esta noite, eu preparei essa ceia em comemoração ao aniversário do nosso querido amigo, o Tony! – O aponto rindo, ele balança a cabeça- E, eu exijo, um pequeno discurso!


- Isso mesmo! Discurso!- Silvia aplaude


- Ah, non! Non discursos são chatos! E é coisa que as pessoas chatas fazem!


- Ora mais oque que é isso! Não adianta dar desculpas, estamos só nós aqui, vamos, diga alguma coisa antes de um brinde!


- Ok, ok. Enton...- ele levanta- Hum.. Bem minhas queridas companheiras,- faz pequena reverencia, se curvando um pouco-  nessa noite gelada eu me sinto acolhido! Estou aqui desfrutando da vossa magnífica companhia e me lembrando dos nossos velhos e bons tempos no Perrault, dos porres de chocolate quente e espumante barato naqueles invernos tediosos em que a professora de teatro nos fazia ler Shakespeare até que nossa mente se encontrasse tón obscura como a de um bêbado.

Lembrando que hoje degustarei novamente a maravilhosa comida feita pela nossa Bel, Belle como sempre, estou feliz em dizer que hoje fico mais velho, porém non menos criança, e non menos pidón!- sorri, apoiando se nas palmas


- E oque quer? Pode pedir, hoje é o seu dia!- Silvia levanta a taça com vinho, que na meia luz da sala parece ser negro.


- Bom, primeiro, o meu brinde, claire. Mas...- ele me olha sorrindo, olhos espremidos- Eu quero mais uma coisa.


- Fala logo Tony, estou ficando aflita!


- Eu gostaria que ligassem pro Claude e felicitassem ele também.

Fico sem reação. Sem saber o que falar.


- Claude? Quem é Claude?


- É irmão dele.- digo ainda estagnada, fitando o prato posto na frente de Tony, que pega o telefone e me estende


- Bel, por favor?- Diz, sua voz me parece calma e decidida


- Tony... Eu não entendo porque...- eu pego o aparelho,


- Pera aí! Seu irmão faz aniversário no mesmo dia que você Tony? Que demais!- Silvia ri


- Mais ou menos isso, Silvia...- Tony responde rápido


- Ele é mais novo ou mais velho?


- Mais novo.- ele diz, me olhando- enton? Aperte a tecla verde e espere ele atender.


- Porque está fazendo isso, Tony?- pergunto, com o celular junto à orelha


- Porque eu acredito que ele vai gostar de saber que meus amigos também son seus. E acredite Bel,se hoje ainda estou aqui, é graças a ele. Por isso, os parabéns son mais dele do que meus.


Não tenho tempo para pensar numa resposta, alguém atende.


- Alô?- digo, tentando me manter calma, pressionando meu peso contra o encosto da cadeira


- Alô... – a voz responde, parece confuso sobre quem fala, então disparo


- oi, aqui é Serafina Rosa Petroni- digo meu nome rapidamente, como se tivesse medo de dizê-lo- e... eu gostaria de falar com o Claude...ele está?


- Oh, oui, oui. Sou eu, mais oque...?


- Ah, você nem deve se lembrar de mim eu...- franzo o cenho para Tony e sacudo a mão no ar,


- eu..- Tony da os ombros e balança a cabeça- eu sou a Rosa, lembra? A... a amiga do Tony, que você ajudou umas vezes, lembra?


- Non, claro que me lembro, me lembro sim. Mas... em que posso... ajudá-la?

- Oh, não, não é isso... eu só queria te dar os parabéns, pelo seu aniversário, né...- ouço-o suspirar do outro lado da linha


- Merci. Obrigada pela consideraçón, agora será que eu poderia falar com meu irmón um instante?


- Mas... como você sabe que ele está aqui? Esse telefone é meu.,.- digo, olhando Tony que ri, e me pede o aparelho, e eu entrego.


Claude


Hoje foi um dia um pouco conturbado, o telefonema de meu irmão me colocou em estado de alerta, pois sei que por mais remota que fosse, a possibilidade de meu pai aparecer aqui em Boston existe, e me faz pensar no que faria se ele me aparecesse aqui, e me pedisse perdão. Não. Isso está fora de cogitação. Mas ele ainda pode vir me atormentar, tentar me convencer a tomar a postura de único herdeiro capaz de dirigir todo seu império.

O telefone tocou, não sei se numa boa hora, mais de certa forma, foi conveniente pra escapar da conversa chata de doutor Egidio, sobre o casamento, sobre contratação de um boufet imenso além do convite a meio mundo de gente, incluindo entre esses, meu pai.


- capitaine La permission?!- a voz de meu irmão me sauda, seu tom alegre não me deixa menos irritado


- accordée. – respondo sério. - Immédiat dites-moi pourquoi vous le faites?.(agora diga porque você fez isso ?)- tento esbravejar o mais baixo que consigo


- Ora, mas o que foi irmão? Seu mau humor anda atacado né... - ele fala brincalhão- Agora, se você está se contendo é porque tem gente ai, né? Claude lembra que não é educado ficar esbravejando na frente de seus anfitriões, ainda mais em sua língua. Seja um estrangeiro educado e converse apenas na língua deles, hã?


- Jean...


- Olha foi só para dar os parabéns!


- Eu non gosto de quando você faz essas coisas, Jean. Mas depois agente conversa, agora estou sendo presenteado com um jantar de aniversário.


- Ora mais veja a coincidência! Mas sabe, duvido que esteja melhor que o meu, se me permite, hoje eu me gabo!

- É, eu também duvido, bom, buon courage,


- Depois te ligo ein?


- Tá, tá, Jean, até.

Desligo, e me deparo com os olhos curiosos de Nara sobre mim.


- Ah, mon amour, queria dar parabéns pra ele!


- Que pena, chegou atrasada, ele já desligou.- sorrio e guardo o celular no bolso do paletó


- Tudo bem, depois ligo pro seu pai e falo com ele.


- Ow, non vai dar, porque ele non está em Toronto com meu pai.


- Ah, não? Está onde, então?


- Em Montreal. – sento-me à mesa


- Montreal?!- Nara sorri eufórica, sentando-se também- Eu sou louca pra conhecer Montreal!!!


- Nara, menos minha filha, hã?- Egidio meneia a cabeça, olhando pros lados


- Ah, papai, este restaurante está praticamente vazio, além do mais, hoje é um dia de festa! – ela ergue a taça- Um brinde duplo! Ao nosso noivado e ao aniversariante que por acaso é o meu noivo!


Rosa


- Sou suspeita a dizer, mais minha amiga é mesmo demais! Ela é a garota perfeita!- Sivia sorri, olhando pra Tony que me encara balançando a cabeça


- É, é sim. Perfeita.


- É uma pena eu não ter conhecido seu irmão, Tony!


- Non faltará oportunidades,  hã?- ele sorri. Eu suspiro, bebo o ultimo um gole de vinho que restava em minha taça estendo a mão para alcançar a garrafa,


- Ei,- Tony põe a mão no meu braço- é melhor parar por aqui, hã? Já bebeu demais.


- É Bel, você está ficando tonta que dá pra perceber!


- Não estou nada Silvia. Vocês é que são uns chatos!


- Chatos nada Rosa, é pro seu bem. Amanhã é dia útil e a senhorita tem que estar muito bem disposta antes do horário comercial.- Silvia pega a garrafa de vinho e leva pra cozinha.


- Tá. Também não precisam exagerar, eu não virei alcoólatra né gente!- rio, me levantando- Tony, oque acha da gente sei lá, ver um filme?


- É... Non é má idéia.- ele sorri, e se levanta também.


- Mas eu escolho!- Silvia grita da cozinha.


- Tudo bem! – eu reviro os olhos- Mas nada de filmes sangrentos, por favor!


- Terror cinza...- ela aparece comendo pipoca.


- Hum? É mais um daquelas expressons em português que eu non entendo?- Tony me olha, franzindo o cenho


- Não.- rio- é mais um daqueles termos que brasileiro inventa. Terror gótico ela quis dizer. Coisas como vampiros e criaturas mitológicas, entende?


- OW. – sentamos no sofá, sob cobertores felpudos. Silvia vem, põe um pote cheio de pipoca na mesa de centro,


- Hum...- ela pega uns DVDs ao lado da TV- Nossa, agente já assistiu todos! Quero dizer, eu assisti, né, já que a Rosa ou dormia ou ia atender telefone do trabalho e depois não voltava mais...


- Tá, tá. Agora escolhe logo se não quem vai escolher sou eu!


- Hum...- ela faz um biquinho, mexendo ele pra lá e pra cá, eu rio


- Ora mais oque é isso? Pegou do “a feiticeira” é?


- Não. De você. – Ela estende dois DVDs a sua frente, e fica os analisando


- De mim?


- Já escolheu Silvia?- Tony me corta, rindo(de mim)


- Sim!- Silvia coloca o DVD e corre pro sofá


- Hoje pelo menos eu estou me divertindo de verdade, com amigas de verdade. Nada de sorrisos ensaiados ou...


- Tony, onde está seu pai? Ele não passou seu aniversário com você?- pergunto


- Bem, na verdade eu o vi hoje, de manhã. E a viagem a Montreal foi meu presente. Ele está me esperando em Toronto...


- Quer passar o natal com agente?- Silvia pergunta, num tom divertido


- A...-ele me olha- Non sei se é uma boa idéia..


- E porque?- disparo.


- Nada non, apenas... pensei que você iria se incomodar.


- Ah, mas claro que não! Porque pensou assim?- rio, um pouco nervosa, soando até sarcástica acho. Tony balança a cabeça- bem se você puder e quiser vir, meu irmão vai vir com a Jane e a minha

sobrinha linda, Alice. Talvez até o Frazão apareça!


- é mesmo? Hum.... é... acho que vai ser inesquecível! Farei tudo oque puder pra estar aqui!- sorri