Le Eternel Amour
Tulipe Rouge
-Você apagou!
-Mas.. eu não me lembro... Quanto tempo eu dormi?
-Algo como 3 horas seguidas... Foi assustador quando você caiu!
-Eu te machuquei?
-Não... Tudo bem. - Sorrio. Rachel ainda me olhava com os enormes olhos verdes como os da tia Janete. - Você não está doente, não é?
-Não! Claro que não!- ela levanta o queixo e cruza os braços
-Não se atreva a ficar doente, Rachel! O Claude, a mamãe, pense neles!
- Caleb, como você é imperninente!
-Imper-ti-nente. E duvido que você ao menos saiba o que essa palavra quer dizer!
- É claro que eu sei. Apenas ainda não acordei completamente! - os olhos de Rachel cintilavam e ela ficou vermelha de raiva. Eu ri
- Não importa. Você é só uma menina mimada... Agradeceria se você sumisse no ar de repente!
-Eu também! Ficaria muito contente!
-É realmente uma pena que isso não aconteça... Mas ainda sim, trate de ficar boa, não quero que minha mãe chore de novo, ouviu? E ainda mais por sua culpa!
-Você é mesmo ridículo! Por que SUA mãe choraria por mim? Nem a MINHA mãe se importaria! Ela nunca se importou em me deixar, oque implica que não se importaria se eu a deixasse! - Ela quase gritou, o que foi muito impressionante, já que ela nunca gritava. Tão irritante! A garotinha perfeita, que tomou O MEU LUGAR!
-E o que você faria, se estivesse na minha situação? Minha mãe mentiu para mim todo o tempo, e meu pai mesmo sabendo de mim, NUNCA veio me ver! Nunca me disse a verdade! Eles sabiam que eu estava sofrendo, vendo as fotografias e idolatrando um HOMEM MORTO! -caio sentado no sofá- Que NUNCA nem soube que eu existia! Bem, ele nunca teve certeza... Mas.. O que mais me dói, foram as mentiras!
-Caleb..- Rachel põe a mão em meu ombro
-Mas oque está acontecendo aqui?- Tia Janete aparece na sala, carregando sacolas de papel cheias de guloseimas para a nossa "festa"
-Ouvimos os gritos!Vocês.. estão brigando?- Alice nos analisa da cabeça aos pés, meio surpresa
-Não posso acreditar! Sai por um minuto! Mas oque acontece? Vocês estavam se dando tão bem..
-Tia, me desculpe!- tento levantar, mas sinto a cabeça pesar mais que uma montanha- Eu só ... estou com... medo... Medo de que tudo volte... Que a mamãe chore...
-Isso não vai acontecer, Caleb. A tia Rosa é forte, soube sobreviver, cuidar dela mesma e de você...-Alice senta a meu lado, tentando me consolar, mas meus soluços ecoavam pela sala
-Caleb, porque tudo isso? E agora? Tudo está se resolvendo... Se acalme, nada de ruim irá acontecer!
-Mas tia, eu não sei.. Sinto algo aqui dentro, não sei, queimando! Estou com medo tia!
-Aquilo lá, que você me disse hoje cedo?- Rachel fala comigo, e acabo me assustando, não achei que ela fosse falar comigo depois da discussão
-Oui. -respondo baixo, num tom ressentido. Mas me arrependo disso
-Bem, fiquem calmos. Vocês estão numa fase de novidades e tudo mais... Logo passará! - Alice sorri
Rosa
Em meus sonhos, ainda o vejo naquela tarde de outro dia, ainda na cadeira que não o promovia de super vilão a pobre mocinho, em meu subconsciente.
Tudo tão... invernal... O suéter cinza escuro, a gola da camisa branca a parecer enforca-lo. A taça cheia à metade de vinho... seu olhar sério e ao mesmo tempo provocador, penetrante.
-Porque você precisa ser assim ton complicada, Serafina?
-Odeio que me chamem de Serafina! - me viro- Mas porque diz isso?
-Porque eu gostaria de poder fazer parte de sua vida.. - ele observava o vinho girar na taça, eu o encaro- De forma que possamos ser um pouco mais do que só amigos, se me entende. - ele pisca um olho, com um sorriso cansado e maroto ao mesmo tempo.
Eu apenas o olhei espantada. Me levantei do banco e entrei em casa, indo direto a meu quarto. Estava perplexa! Nunca imaginei que ele iria ser tão direto assim!
....
Toda a claridade da manhã entrava pela cortina da janela, e meus olhos ainda pesavam..
Sinto seus lábios em meu ombro, suas mãos procuram as minhas, enquanto sinto um longo arrepio.
-Jourrrr... - ele sopra em minha orelha- Ainda temos duas horas antes de los enfants subirem correndo as escadas nos implorando para leva-los à sorveteria depois do almoço!
-Hm... -suspiro preguiçosa, e num reflexo me viro para encará-lo - Janete ligou? -e me arrependo instantaneamente, pois o sorriso dele combinado com seus olhos tão brilhantes, me fizeram corar
-Oui... - Ele responde como se estivesse falando com outra pessoa, pois ignora a conversa e me beija
Nunca imaginei que pudesse sentir oque estou sentindo por "ele".
Não de forma tão intensa...
Durante todos esses anos, eu estive alheia à vida dele, e acho que os anos lhe acresceram um charme acentuado, com seus poucos grisalhos no rumo das têmporas e os olhos que antes eram sombrios e agora retêm uma chama acesa.
Acho que a paternidade causou isso nele. E depois da perda do irmão querido, ele acabou mesmo passando pela metamorfose que a vida exige de todos nós...
Devo dizer que a metamorfose o fez superar tudo, dando-lhe uma nova força, uma nova vitalidade.
Nunca o achei monótono, afinal, tendo uma vida como a dele, como poderia ser? Mas havia sim uma certa cortina de gelo que o envolvia, uma sobriedade, um mar de frieza...
Já hoje, eu o vejo todo divertido, mesmo em meio a dor, alegre, feliz! E agora, a me galantear!
- Espero que goste, mas non sei bem se a massa ficou boa... - Ele me apresenta uma bandeja com panquecas, melado e café preto. Sorrio incrédula
-Então, você cozinha?- o olho por baixo, ainda sentada na beira da cama, vestida com meu roupão preferido, amarelo gema!
-Oh, non morra, s'il vous plaît! - ele sorri, sentando a meu lado, me observando atentamente
-Oque foi?- escondo a boca cheia com as costas das mãos - Meu roupão predileto é tão horrível assim?
-Ele é realmente lindo! - ele me olha com um sorriso no canto da boca- E sua aparência pela manhã me surpreende... -passa os dedos pelo meu cabelo, pondo uma mecha rebelde atrás da orelha
-Sinto muito se o espantei - faço uma careta e sorrio brevemente, sorvendo o café
-Mon Dieu! -ele ri- Como você pode ser tón linda hã?- ele toma a xícara de minhas mãos e me puxa contra si- Como eu posso te amar tanto?- ele sussurra em meu ouvido
-E você me ama?- o encaro
-Como non amaria? Non seria capaz de non te amar! -ele me olha os olhos profundamente- Se eu pudesse...
E ele não completa a frase, pois meu beijo quase o sufocou. E quando acordamos de novo, horas depois, vimos que Janete estava atrasada, e que chovia lá fora. Mas dentro de meu coração, estava tudo ensolarado e quente....
-Eles vão se atrasar um pouco mais... Sérgio esqueceu o rádio do carro ligado e descarregou a bateria do carro..
-Ow... - ele me olha maliciosamente- E quanto tempo seria " um pouco mais "? - ele me abraça e seus olhos parecem mais escuros
-E.e.eu não sei bem... Talvez, meia hora... pela chuva...
-Entón... Mais meia hora só nossa...- ele sorri passando seu polegar entorno de minha boca
Janete
Tomamos o café em silencio, salvo algumas tentativas por parte de Alice de salvar a "pior festa do pijama de todos os tempos". O carro não pegava, e tive de esperar que Sérgio o "concertasse".
Depois de conversar brevemente com Rosa ao telefone e explicar o atraso, permaneci encostada à porta do carro, olhando Sérgio com cara de desespero
-Que passa, amore?- Sérgio pergunta ainda mexendo no capô do carro
-Hum... É que estou meio preocupada com a reação das crianças... Sei que elas apoiaram o plano e tudo... Mas ainda sim, hoje eles pareceram tão nervosos!
-Toda a tensão acumulada amor, pensa! Foram tempos difíceis pra todos! Você verá que assim que tudo estiver se concretizado, eles vão estar tão contentes que nem se lembrarão de ressentir nada!- ele me abraça.. observo Caleb sentado no banco do carro. Ele mantinha a expressão séria, e Rachel ainda conversava com Alice, que trançava seus cabelos. Ainda que de vez em quando lançava um olhar triste a Caleb, que nem a encarava.
-Só não quero que eles sofram mais.. Só isso. Eu não posso dizer que conheço o Claude, apesar de simpatizar com ele e ter ouvido Jean sempre o idolatrar... Mas ainda sim, fico preocupada, tem duas crianças bem feridas no meio da história.. Me pergunto se a facilidade maior em se relacionar com qualquer outro homem que não o Claude, é tão vantajosa para a Rosa quanto parece ser...
-Acho que é um pouco tarde pra arrependimentos, né?- Sérgio me olha - Amor! Se acalme você agora! Vai dar tudo certo, vai ver! -ele me abraça de novo
Mas sei que ele disse isso porque todas as vezes que eu adoto alguma postura diferente da otimista que me é usual, ele inverte os papéis. Passa de confuso e atordoado, a firme e decidido. Meu Sérgio. O mesmo que conheci em Verrièves. E minha família sempre duvidou que pudéssemos funcionar juntos. Exatamente o contrário de Claude e Rosa. Todos em volta os apontam como perfeitos um pro outro, e eles mesmos não tem essa certeza.
Veremos. É esperar, unicamente...