segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Capítulo 54- Je le jure.




Le Eternel Amour

Tulipe Rouge






Eu não posso! Não! Não posso! Oh, me solte agora!

-Calma, Serafina! Serafina! Apenas, calma! Pare! Pare de se debater!

-Me solte! - ela gritou em meio aos soluços

-Non. 

-Por favor... - ela chorou contra meu ombro, já sem forças.

- Acalme-se, hã? Sente-se aqui.

-Eu ainda acho melhor...

-Shi... - interrompo outra vez- Agora, me diga cherri, oque há, hã? Porque você ficou ton nerveux de repente? Aconteceu alguma coisa?

-Não. Aliás, sim! Aconteceu que eu percebi que isso tudo não passou de pura insanidade! Não há e nunca haverá nada entre nós, Claude Antoine Geraldy! - ela levanta de súbito, tentando parecer decidida. Pena que falha terrivelmente, pois nem me encara

-Rosa.. - a abraço pelas costas, já que ela se virou




Rosa






Oh Deus, ajude aqui, por favooorrr

-E.e.eeu já disse... - protesto em meio à gagueira repentina - Nãn..Não-tem... Nada. nada - essa proximidade é golpe baixo.

-Pare já com isso, Serafina... -ele sussurra em meu ouvido- Oque houve, hã? - ele beija meu ombro e mantem-se impassível no que diz respeito a me soltar

-Claude... Você sempre dificulta tudo!- choramingo

-Eu? -ele ri- Non, non.. -sussurra outra vez, me causando novos arrepios- Você que é maluquinha, hã? 

-Não é pra ser, Claude. Só isso. 

-Do que você está falando, hã? - ele beija meu pescoço, como se estivesse alheio a tudo oque eu disse

- É que é tudo muito complicado.. Não é como se nós pudéssemos simplesmente ignorar tudo e começar do zero...

-E porque non podemos? - ele me gira e colido contra seu peito - Porque você insiste em dificultar tudo pra nós, hã? Eu já disse, italianinha, - ele levanta meu queixo e me da um beijo tão leve como suas pestanas - Ti amo. Ti amo!

E eu apenas escondo o rosto em seu pescoço e sinto seu cheiro. Não posso ficar com ele e o deixar morrer. Não posso. Carlo foi claro, se eu ficar com Claude, não haveria erros. Jean já morreu, não existe outro clone para segundas chances. 





- Te vejo mais tarde, non é? - ele procura a resposta em meus olhos, que escondo. - Amourr? - insiste em me chamar assim, quando tento esquecer isso.
E esse sotaque irritantemente sedutor.
Estamos na França e amo o sotaque dele apenas por amar a ele. 
Suspiro e concordo com a cabeça, fechando a porta do carro sem olhar pra trás e ver que ele me encarava pelo vidro.



Janete


Então, ele quer a alma do irmão. - concluo.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Capítulo 53- Être








Le Eternel Amour

Tulipe Rouge








Num dia tão cinzento, como pode haver tanta claridade? Parece que há luzes vindo de todos os lados, entrando por cada vidraça, se arrastando pelo ar em todas as direções. A luz esbranquiçada parece alcançar cada mínimo pedaço de mim, me expondo a alma completamente!

E de alma exposta, me lembro de que todos me especularão sobre... sobre isso. Sobre como eu pude me relacionar com o irmão do meu quase marido morto. Como eu pude permitir envolver com meu... quase cunhado. Com o "tio" do Caleb. E mesmo que saibam da biologia dos dois, que importa? Como eu rebaterei os argumentos sugerindo que eu mal o conheço, quando é verdade?
Oh sim. Poderia ser qualquer um. Poderia ser um cara numa danceteria. Poderia ser o vizinho viúvo e atraente do andar de baixo. Mas é ele. É o Claude. O herdeiro Geraldy. E, se antes haviam dúvidas sobre a minha índole, hoje tem-se certeza de que tudo oque eu pretendia junto aos Geraldy, era extrair-lhes cada centavo das posses milionárias.

Como seria se eu tivesse entendido as intenções de Tony, e me aproximado de Claude desde que li a carta, ou desde quando ele me pediu que eu falasse com ele, que o entendesse?

Bom, de qualquer forma, eu terei de passar por isso. Terei de arcar com a responsabilidade de que eu sabia desde o dia em que pedi para procurar as meninas, naquele dia em Marseille. No instante em que ele me pediu que pernoitasse em sua casa.
Como eu poderia resistir a ele? Aos olhares, aos gestos tão apropriados e aos mesmo tempo tão cálidos...
Não me arrependo. Mas eu quero que isso tudo tenha mais motivos do que os métodos de sedução do senhor Geraldy. E que signifique algo mais do que uma paixonite para mim.
Contudo, me dei conta de que sempre quis estar com ele... Observá-lo é realmente um deleite! Suas mãos, seus sorrisos, o modo como toca o pescoço... Sempre quis apenas, sem avisos, recostar a cabeça em seu ombro, cheirar seu pescoço, tocar seu braço. Sem perguntas, ou exigências. Sem sobrenomes, apenas, nós.
O que acontece é que eu nunca pensei que ele sentisse o mesmo por mim. E foi tudo tão confuso e aterrador... Eu sei que o meu amor por Tony existiu e ainda existe. Só que eu sei também que ainda que Tony estivesse aqui, a probabilidade de a gente estar juntos como um casal beira à zero.

Amor melancólico, que só se realiza nos simples prazeres e não sobreviveria a uma paixão que fosse. Deixamos o nosso amor de molho por tanto tempo que ele passou do amadurecimento direto à fase de flor seca dentro do livro da nossa história. Tony e eu sempre fomos tão estranhos nesse aspecto de nosso afeto que chego a pensar que jamais poderíamos reverter isso.

Mas com o Claude, é totalmente diferente. A tensão sempre está no ar enquanto estamos perto. Percebi essa tensão mesmo naquele dia no Perrault, com ele vestido de conde Fersen e me olhando de modo tão felino. Éramos atraídos por uma força qualquer, mas repelidos por todas as outras forças de nossas vidas. E Tony certamente sempre foi a força resultante das somas dos vetores todos. Ele nos unia, e nos separava, com a mesma intensidade. Alheio a sua intenção, mas era isso que Tony representava para nós.

Além da lembrança constante de sua identidade estampada em sua face , Claude também trazia toda a fraqueza e toda as amarguras de Jean -Tony, com Claude vieram todos as respostas aos  mistérios que eu nunca deveria ter questionado. Com Claude veio toda a dor.. E a morte de Jean Antoine Geraldy. A quem confundiram com ele próprio.



- Ça va? - ele me pergunta, me olhando de esguelha, tentando tocar minha mão por baixo da mesa

-Ça va. Estou só um pouco... Não sei. Mas está tudo bem, não se preocupe. - respondo sem olhá-lo muito nos olhos. Ele apenas sorri e segura meus dedos em sua palma da mão.

O almoço termina, e Janete me conta do desmaio de Rachel, o que me deixa chocada e muito preocupada.


-Vamos leva-la daqui a pouco, farei todo o possível para assegurar que ela está bem.

-Obrigada Jane. - seguro sua mão

- Sei que ela também vem significando muito pra você, Rosa.

-Quase como se fosse minha. - me abraço enquanto sinto meus olhos lacrimejarem

-Hey, oque foi? - Janete me abraça- Eu disse, não se preocupe, não é nada!

-Tudo bem. Eu só estou nervosa.






Rachel


Talheres de prata e pratos de porcelana portuguesa. Saudades dos almoços com o vovô Henry.
Olhando esse vestido vermelho com laços de fita na barra, me sinto uma dessas garotinhas mimadas por suas mães de bochecha rosada. Mas não tenho uma mãe. Talvez chegue a ter uma madrasta, a madrasta que me deu o vestido com laços de fita.

-Está sem fome, petit?- papai me olha com seus grandes olhos que sempre me fazem querer pular em seu colo e pedir que me conte uma história bonita, que me faça esquecer que contos de fada não existem.

-A comida está ruim, Rach? - Rosa pergunta sorrindo, mas seus olhos denunciam que ela está prestes a entrar em uma crise de choro. Oque me confunde muito, já que papai parece feliz

- Non! Est délicieux! - Dou uma garfada mínima e sorrio com os lábios. ou tento.

-Penso que ela quer se tornar uma modelo de revista, como a mãe dela foi. Por isso que mal come!

-Cale-se, Caleb. - Rosa repreende o filho por entre os dentes, medita de olhos fechados por um segundo - Desculpe-o, querida, acho que ele ainda está enciumado de sua presença.

-Oh, - me levanto de supetão - Neste caso, peço licença, não quero atrapalhar a família.

-Rachel. - Papai chama meu nome com a autoridade que só ele tem soada em sua voz. - Asseyez-vous dès maintenant et terminer votre repas!

-Oui, pa. - sento a contra gosto. e ele me estende o garfo de prata

-être.

-Pardon. - me desculpo sem olhar os olhos que me encaram perplexos.

-Não precisava fazer isso, Claude. Eu deveria ter escolhido melhor as palavras. - a voz suave de Rosa me perturba tanto quanto seus longos dedos perfeitos tocando o braço que meu pai manteve estendido em minha direção nos últimos cinco minutos de sua bem contida fúria.

- D'acord. Mas non disseste nada que fosse ofensivo, Serafina. Rachel esta assim por causa de Caleb. Os dois non eston muito de acordo.

-E porque, Caleb?- Rosa franze o cenho olhando para Caleb que mantinha os olhos mortos em mim

-Ela me irritou, como de costume. Não há nada mais interessante para se fazer do que me irritar, não é mesmo, Rach? - a ironia entrecortada e acentuada em meu apelido ao fim da frase me fez estremecer de raiva. Mas papai me olhava de forma tão percistente que simplesmente abaixei a cabeça

-Imbecil... - sussurro

-Rachel! Vocês dois! Parem já com isso! Não tem porque vocês brigarem! Já estão bem crescidos para isso!

-Pardon, monsignor. - Caleb abaixa os olhos mortos em direção ao prato quase vazio dele

-Pardon papa. - me ajeito na cadeira. Mal termino de falar e Caleb se levanta

-Estou satisfeito, mamãe, obrigado. Com licença.



Caleb

 

 

 

 

Ando descompassadamente até o quarto que era meu, arranco os dardos do alvo que Claude me deu, e lanço em todas as direções. Chuto os sapatos brancos de menininha perfeita de Rachel pra debaixo da cama, arranco as etiquetas que ela colou nas gavetas do meu armário e me jogo na cama.

-AH! - e caio em um choro profundo pela segunda vez nesse maldito dia.




Maldiction!!







 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





















 
















sábado, 16 de novembro de 2013

Caítulo 52 - Anjinhos Feridos






Le Eternel Amour

Tulipe Rouge



-Você apagou!

-Mas.. eu não me lembro... Quanto tempo eu dormi?

-Algo como 3 horas seguidas... Foi assustador quando você caiu!

-Eu te machuquei?

-Não... Tudo bem. - Sorrio. Rachel ainda me olhava com os enormes olhos verdes como os da tia Janete. - Você não está doente, não é?

-Não! Claro que não!- ela levanta o queixo e cruza os braços

-Não se atreva a ficar doente, Rachel! O Claude, a mamãe, pense neles!

- Caleb, como você é imperninente!

-Imper-ti-nente. E duvido que você ao menos saiba o que essa palavra quer dizer!

- É claro que eu sei. Apenas ainda não acordei completamente! - os olhos de Rachel cintilavam e ela ficou vermelha de raiva. Eu ri

- Não importa. Você é só uma menina mimada... Agradeceria se você sumisse no ar de repente!

-Eu também! Ficaria muito contente!

-É realmente uma pena que isso não aconteça... Mas ainda sim, trate de ficar boa, não quero que minha mãe chore de novo, ouviu? E ainda mais por sua culpa!

-Você é mesmo ridículo! Por que  SUA mãe choraria por mim? Nem a MINHA mãe se importaria! Ela nunca se importou em me deixar, oque implica que não se importaria se eu a deixasse! - Ela quase gritou, o que foi muito impressionante, já que ela nunca gritava. Tão irritante! A garotinha perfeita, que tomou O MEU LUGAR!

-E o que você faria, se estivesse na minha situação? Minha mãe mentiu para mim todo o tempo, e meu pai mesmo sabendo de mim, NUNCA veio me ver! Nunca me disse a verdade! Eles sabiam que eu estava sofrendo, vendo as fotografias e idolatrando um HOMEM MORTO! -caio sentado no sofá- Que NUNCA nem soube que eu existia! Bem, ele nunca teve certeza... Mas.. O que mais me dói, foram as mentiras!

-Caleb..- Rachel põe a mão em meu ombro

-Mas oque está acontecendo aqui?- Tia Janete aparece na sala, carregando sacolas de papel cheias de guloseimas para a nossa "festa"

-Ouvimos os gritos!Vocês.. estão brigando?- Alice nos analisa da cabeça aos pés, meio surpresa

-Não posso acreditar! Sai por um minuto! Mas oque acontece? Vocês estavam se dando tão bem..

-Tia, me desculpe!- tento levantar, mas sinto a cabeça pesar mais que uma montanha- Eu só ... estou com... medo... Medo de que tudo volte... Que a mamãe chore...

-Isso não vai acontecer, Caleb. A tia Rosa é forte, soube sobreviver, cuidar dela mesma e de você...-Alice senta a meu lado, tentando me consolar, mas meus soluços ecoavam pela sala

-Caleb, porque tudo isso? E agora? Tudo está se resolvendo... Se acalme, nada de ruim irá acontecer!

-Mas tia, eu não sei.. Sinto algo aqui dentro, não sei, queimando! Estou com medo tia!

-Aquilo lá, que você me disse hoje cedo?- Rachel fala comigo, e acabo me assustando, não achei que ela fosse falar comigo depois da discussão

-Oui. -respondo baixo, num tom ressentido. Mas me arrependo disso

-Bem, fiquem calmos. Vocês estão numa fase de novidades e tudo mais... Logo passará! - Alice sorri





Rosa



Em meus sonhos, ainda o vejo naquela tarde de outro dia, ainda na cadeira que não o promovia de super vilão a pobre mocinho, em meu subconsciente.
Tudo tão... invernal... O suéter cinza escuro, a gola da camisa branca a parecer enforca-lo. A taça cheia à metade de vinho... seu olhar sério e ao mesmo tempo provocador, penetrante.

-Porque você precisa ser assim ton complicada, Serafina?

-Odeio que me chamem de Serafina! - me viro- Mas porque diz isso?

-Porque eu gostaria de poder fazer parte de sua vida.. - ele observava o vinho girar na taça, eu o encaro- De forma que possamos ser um pouco mais do que só amigos, se me entende. - ele pisca um olho, com um sorriso cansado e maroto ao mesmo tempo.

Eu apenas o olhei espantada. Me levantei do banco e entrei em casa, indo direto a meu quarto. Estava perplexa! Nunca imaginei que ele iria ser tão direto assim!




....

Toda a claridade da manhã entrava pela cortina da janela, e meus olhos ainda pesavam..

Sinto seus lábios em meu ombro, suas mãos procuram as minhas, enquanto sinto um longo arrepio.

-Jourrrr... - ele sopra em minha orelha- Ainda temos duas horas antes de los enfants subirem correndo as escadas nos implorando para leva-los à sorveteria depois do almoço!

-Hm... -suspiro preguiçosa, e num reflexo me viro para encará-lo - Janete ligou? -e me arrependo instantaneamente, pois o sorriso dele combinado com seus olhos tão brilhantes, me fizeram corar

-Oui... - Ele responde como se estivesse falando com outra pessoa, pois ignora a conversa e me beija


Nunca imaginei que pudesse sentir oque estou sentindo por "ele".
 Não de forma tão intensa...
 Durante todos esses anos, eu estive alheia à vida dele, e acho que os anos lhe acresceram um charme acentuado, com seus poucos grisalhos no rumo das têmporas e os olhos que antes eram sombrios e agora retêm uma chama acesa.
 Acho que a paternidade causou isso nele. E depois da perda do irmão querido, ele acabou mesmo passando pela metamorfose que a vida exige de todos nós...
Devo dizer que a metamorfose o fez superar tudo, dando-lhe uma nova força, uma nova vitalidade.
Nunca o achei monótono, afinal, tendo uma vida como a dele, como poderia ser? Mas havia sim uma certa cortina de gelo que o envolvia, uma sobriedade, um mar de frieza...
Já hoje, eu o vejo todo divertido, mesmo em meio a dor, alegre, feliz! E agora, a me galantear!

- Espero que goste, mas non sei bem se a massa ficou boa... - Ele me apresenta uma bandeja com panquecas, melado e café preto. Sorrio incrédula

-Então, você cozinha?- o olho por baixo, ainda sentada na beira da cama, vestida com meu roupão preferido, amarelo gema!

-Oh, non morra, s'il vous plaît! - ele sorri, sentando a meu lado, me observando atentamente

-Oque foi?- escondo a boca cheia com as costas das mãos - Meu roupão predileto é tão horrível assim?

-Ele é realmente lindo! - ele me olha com um sorriso no canto da boca- E sua aparência pela manhã me surpreende... -passa os dedos pelo meu cabelo, pondo uma mecha rebelde atrás da orelha

-Sinto muito se o espantei - faço uma careta e sorrio brevemente, sorvendo o café

-Mon Dieu! -ele ri- Como você pode ser tón linda hã?- ele toma a xícara de minhas mãos e me puxa contra si- Como eu posso te amar tanto?- ele sussurra em meu ouvido

-E você me ama?- o encaro

-Como non amaria? Non seria capaz de non te amar! -ele me olha os olhos profundamente- Se eu pudesse...

E ele não completa a frase, pois meu beijo quase o sufocou. E quando acordamos de novo, horas depois, vimos que Janete estava atrasada, e que chovia lá fora. Mas dentro de meu coração, estava tudo ensolarado e quente....

-Eles vão se atrasar um pouco mais... Sérgio esqueceu o rádio do carro ligado e descarregou a bateria do carro..

-Ow... - ele me olha maliciosamente- E quanto tempo seria " um pouco mais "? - ele me abraça e seus olhos parecem mais escuros

-E.e.eu não sei bem... Talvez, meia hora... pela chuva...

-Entón... Mais meia hora só nossa...- ele sorri passando seu polegar entorno de minha boca






Janete



Tomamos o café em silencio, salvo algumas tentativas por parte de Alice de salvar a "pior festa do pijama de todos os tempos". O carro não pegava, e tive de esperar que Sérgio o "concertasse".
Depois de conversar brevemente com Rosa ao telefone e explicar o atraso, permaneci encostada à porta do carro, olhando Sérgio com cara de desespero

-Que passa, amore?- Sérgio pergunta ainda mexendo no capô do carro

-Hum... É que estou meio preocupada com a reação das crianças... Sei que elas apoiaram o plano e tudo... Mas ainda sim, hoje eles pareceram tão nervosos!

-Toda a tensão acumulada amor, pensa! Foram tempos difíceis pra todos! Você verá que assim que tudo estiver se concretizado, eles vão estar tão contentes que nem se lembrarão de ressentir nada!- ele me abraça.. observo Caleb sentado no banco do carro. Ele mantinha a expressão séria, e Rachel ainda conversava com Alice, que trançava seus cabelos. Ainda que de vez em quando lançava um olhar triste a Caleb, que nem a encarava.

-Só não quero que eles sofram mais.. Só isso. Eu não posso dizer que conheço o Claude, apesar de simpatizar com ele e ter ouvido Jean sempre o idolatrar... Mas ainda sim, fico preocupada, tem duas crianças bem feridas no meio da história.. Me pergunto se a facilidade maior em se relacionar com qualquer outro homem que não o Claude, é tão vantajosa para a Rosa quanto parece ser...

-Acho que é um pouco tarde pra arrependimentos, né?- Sérgio me olha - Amor! Se acalme você agora! Vai dar tudo certo, vai ver! -ele me abraça de novo

Mas sei que ele disse isso porque todas as vezes que eu adoto alguma postura diferente da otimista que me é usual, ele inverte os papéis. Passa de confuso e atordoado, a firme e decidido. Meu Sérgio. O mesmo que conheci em Verrièves. E minha família sempre duvidou que pudéssemos funcionar juntos. Exatamente o contrário de Claude e Rosa. Todos em volta os apontam como perfeitos um pro outro, e eles mesmos não tem essa certeza.

Veremos. É esperar, unicamente...











































quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Capítulo 51- Le pour hour


















Le Eternel Amour

Tulipe Rouge






-Oh!! Très belle! Je vous remerci!- a florzinha parecia murcha, mas acho que para ela, era como uma joia raríssima

-Vamos Laurien, não gosto deste lugar!- Rachel olha ao redor, segurando o braço de Laurien

-Ah mas Rach estamos só dando uma volta! E a conversa está tão interessante!- A menina loura protesta, sorrindo dum jeito esquisito para o rapaz a sua frente. Hélio, um aluno da escola mais cara de Paris, com sua roupa engomadinha e que a toda hora coçava o bigodinho ralo que seus três anos a mais que eu o proporcionam.

-Acho que está mesmo na hora de irmos, Rachel. Minha tia já deve estar nos esperando no café, como marcamos.


- Vejam, o sujinho fala! - Hélio me olha com desdém - Vá andando, mudinho. O ambiente precisa mesmo ser limpo, não há lugar pra maricas por aqui!


-Vamos, Rachel.- toco o braço dela, esperando que ela se mova. O que não acontece.


- E.e.eu já vou. Attendez-moi na esquina Caleb, "siulplét"!- Ela sussurra, olhos fixos no horizonte.

-Ei, o que há com você? Está... misturando os idiomas! E isso você só faz quando esta muito...

Não termino a frase e o peso de minha meio-irmã postiça cai sobre mim, inerte. Apenas levanto os olhos e vejo o sorriso de Hélio transformar-se num grito

-Merde!!




Rosa





Mas um desses dias monótonos e eu morro!


- Que exagero, Silvia! - Reviro os olhos  enquanto equilibro a caixa enorme nos braços

-Ah Rosa, você diz isso porque ultimamente, vem tendo dias muito emocionantes!

-Hãã Sil, vai começar? - sorrio - Nada disso.

-Não vem me enrolar, eu sei que tá rolando algo entre você e o capitão bonitão. - ela arrebita o nariz - hum!

-Silvia!

-Oh, capitain está doentinho, tadinho... Precisando de cuidados e de carinho! - ela ri maliciosamente

-Dio mio! Oque fazer com você ein?- balanço a cabeça, em desaprovação.

-Ah amiga, tenho uma ideia melhor!  Porque  você não faz o que você quiser, mas.. com uma outra pessoa? - a forma como ela pronunciou a ultima parte da frase me deu arrepios.

-Acho que já posso ir, tenho tudo oque preciso aqui nessa caixa! -Tento mudar de assunto, mas falho terrivelmente

- Isso! Corre, ainda dá tempo de você o convidar pra um jantar mais reservado, já que a noite permite...

-Ei, mas do que está falando?- a olho incrédula , com um pouco de medo da resposta

-Soube que as crianças marcaram de fazer uma "festa do pijama" na casa da Janete né...- ela sorri zombeteira

-Sil! -tapo o rosto, que mais parecia um grande pimentão vermelho e brilhante




Chego mais cedo que o planejado, mas foi bom. Coloquei tudo em ordem.. Duas crianças podem ser quietas separadas. Mas juntas! Dio, que bagunça!

Claude apesar das dificuldades, não abandona o 'jeito militar to life', a cama milimétricamente arrumada, as meias dobradas..Tudo tão limpo e em ordem que chego a me perguntar como ele faz essa mágica usando muletas.
 E por falar nelas, as encontro abandonadas num canto, entre a cômoda e o espelho...




Claude


Me sinto muito bem, novo em folha! - exclamo, articulando os braços em volta do tronco- Até que enfim, me libertei dessa tala!

-Fico muito feliz por você, Claude! - Janete sorri. Seu jaleco tão branco refletindo a luz fluorescente que vem de todas as partes, ao que parece

-Vai pra casa agora, ou ainda ficará no hospital?

-Daqui a duas horas, mas não se preocupe. Sérgio me ligou e eu pedi que ele buscasse Caleb e Rachel. Irei em seguida. - ela pisca


-Merci! -a cumprimento já me virando para ir embora

- E Claude?

-Hum?

-Não perca a oportunidade de hoje! -ela sussurra sorrindo

-Jamais. - pisco de volta. sorrio.


A rua me parecia mais iluminada, mais alegre. Mas as pessoas pareciam andar lentamente demais, apesar de que para mim, não existia monotonia em seus rostos. Porque não havia em mim!
Oque me faz sorrir sem motivo aparente´, é  a mesma causa de um pequeno taquicardia que sentia todas as milhões de vezes que um mesmo pensamento me sobreveio ...



Rosa estava em casa, com certeza. Pude sentir a presença dela só em atravessar a soleira da porta de entrada. Meu coração estava aos saltos, mas eu precisava conter-me, ao menos para poder respirar. Mas sorria, com uma alegria de dentro para fora, apesar de tudo.

-Soir, Rosa! -apareço em pé a meio metro dela, quase como um vulto. Ela se espanta brevemente, quase imperceptivelmente

-Soir!- Ela me dá um de seus sorrisos doces e volta a ler a correspondência em suas mãos. Dois segundos

-Espere... co..- a menção dela se virar para fazer todas as perguntas sobre a ida ao médico, a dei uma única resposta: a puxei para o nosso primeiro beijo! E pela primeira vez em meses, a pude abraçar, e estando em pé a encostei na pilastra.

-Claude... -Foi tudo o que ela disse. O restante da noite foram apenas olhares, e atitudes do que se pode chamar de o meu "sim" que há tanto estive a esperar.


As mais indescritíveis sensações e tudo o mais que eu não imaginei que pudesse sentir eu encontrei junto com todo o meu desejo por ela. Finalmente eu estava sentindo o que Jean disse que eu sentiria quando encontrasse a garota certa! E tenho de admitir que eu sentia isso tudo só em olhar para ela!
 Mas poder tocá-la é muito mais do que eu posso suportar, é quase como se eu fosse explodir em mil pedaços, como se eu não existisse, apenas ela, ela. Com todo o aroma de sua pele, e todo o frescor de seu hálito. Quando a senti estremecer sob mim, e senti seus braços descerem por minha coluna lentamente, procurei seus olhos. E toda a ternura que encontrei me fez ter a certeza de que eu não era o único a estar em êxtase.
E ao beijá-la, não pude conter a avalanche de sentimentos mesclados, que vieram de súbito, como um redemoinho...



Rosa




E então, ele chorou. Chorou como um bebê. Desses choros que vem da alma mesmo. Lá de dentro. E que não tem um motivo. Tem todos os motivos. E ali, naquele abraço tão quente, e o aconchego de todos os travesseiros de pena, senti as lágrimas dele escorrerem por meu pescoço e ombro, onde a umidade de seus lábios selavam a mensagem que ele escrevia com seu toque em minha pele. Ele me olhou novamente, e em seus olhos vermelhos eu vi felicidade. E foi a primeira vez que eu vi isso nele.

-Beau, maintenant,  j'ai attendu ce moment toute ma vie! (Bela, agora sei que esperei por esse momento minha vida inteira!) - ele sorri. Outra lágrima foge de seus olhos, pingando em minha bochecha, pra onde seus tão penetrantes olhos se desviam por um momento, seu dedo seca a lágrima e seu beijo faz o mundo ao redor girar mais depressa...


Havia muita coisa em seus olhos, esta noite. Como se não fosse apenas uma noite importante para nós dois, mas também fosse importante para ele próprio. E em momento algum ele me pareceu insincero, ou arrogante. Ele foi... completamente perfeito! E, ao contrário do que (confesso) cheguei a pensar, ele foi tão intenso!  O senhor geladeira Geraldy me fez derreter como jamais imaginei que pudesse.
E agora, quem ostenta um enorme sorriso sou eu, enquanto ainda posso senti-lo respirar contra minhas costelas, enquanto seu braço ainda repousa em minha cintura...






Janete



Eu entendo.. Não, tudo bem, a culpa não foi sua, acalme-se Sérgio!


-Ela não se alimentou bem durante o dia, a ultima coisa que comeu foi uma fatia de mamão no café, e isso porque seu pai a obrigou!- Caleb diz ainda assustado, olhando de esguelha o corpo adormecido de Rachel


-Está tudo bem, não precisam se preocupar, eu estou aqui, certo? Sou uma boa pediatra e saberei cuidar dela caso necessário. Foi só um susto, a pressão baixou. Amanhã, com calma, a gente conversa e se precisar fazemos uns exames... - tento acalmar a tensão de Sérgio, que insistia em querer telefonar para a casa de Rosa.


-Amor, eu entendo que você queira que eles se entendam, mas a Rach...

-Sérgio, o pai dela acaba de sofrer por meses com  ossos quebrados, e no mesmo dia em que ele consegue alívio, você quer que ele volte a quebrar o resto é isso? - Sérgio revira os olhos, mas ignoro e continuo massageando seus ombros- Se você ligasse, ele teria um enfarte! Já passou por tanta coisa nesses últimos tempos, coitado! Ei, a Rach está bem! Foi só um susto!

-Tudo bem..

- E de qualquer forma, amanhã faremos alguns exames de rotina nela, só pra confirmar, tá bem?

-Hum-hum... - ele desfaz o bico- Mas ainda aceito um suborno..

-Olha! - finjo indignação- apenas um beijinho, porque você está muito mal criado comigo!

















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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Capítulo 50- Impressões




Le Eternel Amour

Tulipe Rouge





Duas, três, quatro... um milhão de batidas. O coração aos saltos, o ar fugindo dos pulmões. Ela ainda estava golpeando a porta, e pude ouvir alguns palavrões. 

-Claude, seu cretino! Abra já essa porta, vamos! Me tire daqui!!!!

- Non enquanto estiver ton agitada, Nara!

-Infeliz! Abre! Abre! Abre! - as batidas foram insistentes até eu poder perceber o peso dela escorregar pela porta, e se abandonar no chão do quarto. 

Todos os sonhos que tive com Nara, foram sempre perturbados e nada românticos. Sempre  uma grande angústia invasora ao despertar e sempre a dor de cabeça psicológica ao me levantar. 

Não posso negar que minha mente refaz muitos momentos que passei com ela, e não os melhores. 
Queria dizer que tanto faz ela estar ou não aqui mas, por um lado, seria como uma ingratidão minha esquecer de que por um bom tempo ela foi uma das únicas amizades que tive. Apesar de... tudo. 
Fora as crises histéricas  e todo aquele Gim, ela era uma boa amiga. E não fosse o rancor, talvez pudesse ter se tornado uma boa mãe também. Talvez.

- Está pensativo outra vez... - A voz de Rosa me desperta - Acho que não devia ter te trazido aqui...

-Non, non... Está... - observo duas crianças tomarem sorvete acompanhados de um casal na mesa a frente - tudo... bem....

- Vocês costumavam vir aqui não é?- O sorriso vago no rosto dela me diz que ela não se importa, mas o olhar   questiona se eu me importo

- Oui... très jeunes... -susurro e a encaro sorrindo- Você quer que eu fale dela non é? 
Rosa assente recostando-se na cadeira. Seu sundae ainda quase intacto, já que desde que chegamos ela se dedica a me observar

-Hum... - suspiro- D'acord. D'acord. - a olho sem saber por onde começar ou como descrever meu relacionamento com Nara. - Ela era... uma moça muito bonita, muito... carinhosa as vezes e... 

-Ela era bem sexy! - Rosa sorri levantando uma sobrancelha 

- D'acord, isso também. - sorrio de volta- Mas eu me detive nela por ela ter certa... complexidade junto com uma transparência de.... non isso non faz sentido..

-Está tudo bem, Claude. - A mão delicada de Rosa pousou sobre a minha 

- Tudo bem, é só que... non sou bom com palavras, você sabe - sorrio

-Mas você ainda pode tentar. Não pode?

- Oui...- tomo um pouco do sorvete dela e suspiro- Posso.  


Rosa


Bebidas, cigarros, sensualidade. Poderia ser um desses livros de romance, mas é a descrição de um relacionamento real, ou quase real. Não posso dizer se ele a amou, e nem mesmo se sente falta dela as vezes. 
As expressões dele se tornam cada vez mais decifráveis para mim e quase penso que o conheço.
Mas ainda não sei se a frieza que ele aparenta é de verdade ou apenas fruto da minha impressão sobre ele. 
Teimo comigo mesma em querer acreditar que ele é mesmo palpável e comum. Mas algo em mim o vê algo como um vilão,  sabe-se Deus o porquê. Mas ainda não consigo, não consigo ir contra mim mesma.

Levantamos e Claude se põe a andar a meu lado, apoiado-se nas muletas. Suspiro. Não tão é reconfortante me dar conta de que ele é tão mais alto que eu. Isso reforça a minha tendência de me por na defensiva com ele, apesar de cuidar muito para que eu não transparecesse tal postura.
Sei que não explica em nada todo o meu constrangimento diante dele, já que ele ser alto o tornaria, hipoteticamente, mais atraente para mim. Mas não ajuda a separar dele a figura de chefe militar, ditador e sem sentimentos.
 Essa foi a figura que apregoei a ele por todos esses anos em que repetia a mim mesma que mantê-lo longe do Caleb era o melhor. E até que funcionou. Ao menos para o objetivo que fundei, funcionou.
 A verdade é que todo mundo já entendeu o que eu fiz. Mas ainda me sinto terrivelmente culpada por ter privado o Caleb dele. Ainda que fosse sem sentido o contato dos dois, parecia tão certo!
 Mas consegui eu ser a durona, ser a que mandava e não ele. Porque eu não correria o risco dos Geraldy, num belo dia de outono, decidirem tomar de mim o meu bem mais precioso, o meu filho.

Sempre tive a plena consciência de que ao mínimo descuido, o Claude poderia se impor contra a minha decisão. E eu sempre soube que em tais circunstâncias, eu não teria a menor chance. Mas ao invés dele ter se mostrado o capitão durão que eu sempre pintei, ele se mostrou totalmente compreensivo e até sensível a minha dor e todas as minhas problemáticas!
E isso... É muito além do que eu posso ignorar. Deixei de ignorar desde o dia do baile. Mas fingi que não o vi por trás daquela fantasia de conde Fersen.
Estava ocupada fingindo não dar a mínima para a presença dele e pensando onde estaria Jean.

Abrir de novo essa carta não é fácil para mim, mas ainda é a minha preferida.


Ma douce Rosa,

Gostaria de poder estar sempre com você, de te abraçar todas as vezes que por acaso um pequeno espasmo de tristeza tocar seu corpo, ou quando teus olhos ficarem úmidos. Viveria apenas para estar ao seu lado todos os dias e garantir que você seria feliz, ainda que não quisesse ser. 
Mas, grâce à Dieu, não sou eterno, como você sabe. Ainda sim, te levarei para sempre, onde quer que eu for e comigo, o meu amor por você, minha melhor amiga, companheira de todas as horas, a quem eu dediquei meus pensamentos mais delicados. Você me fez melhor, Rosa. Me fez acreditar mais nas pessoas, a não ter medo de críticas, e, até onde eu consegui, soltar a voz. Sim, você foi quem me incentivou a gritar -Que j'existe! C'est moi! Je suis ici!
Eu te devo a minha alegria de viver ma petit, te devo boa parte do que me tornei. Me perdoe se não te disse tudo isso enquanto estava aí contigo, me perdoe! 
Apenas saiba, que o meu amor por você c'est à jamais! O meu amor continuará a existir mesmo depois que minhas cinzas voltem à terra e com ela se percam, e preciso que saiba disto.
Mas eu fui apenas um excerto da sua história, petit. Ainda tens muitas  e muitas páginas a escrever. Não espere que elas fiquem amarelas! Vá lá e me impressione! Não esqueça que estarei sempre com você, e, não importa oque aconteça, haja o que houver, eu sempre vou estar aqui, e sempre vou amar você.

De Jean, vous Tony!




Claude 



As vezes, apenas as vezes, eu gostaria de poder arrancar tudo o que está na cabeça de Rosa sobre mim. Tudo o que estiver lá, em sua mente. E simplesmente poder ter uma nova chance, a minha chance.
Como se eu pudesse desencantá-la do amor profundo que ela insiste em sentir por meu irmão.
Ainda não entendi qual é a sacada que ele mencionou numa das cartas, sobre reverter sentimentos vazios em laços fortes e vibrantes. Acho que tem a ver com Rosa pensar de forma negativa sobre mim, e eu surpreendê-la.
O que acontece é que minhas investidas sutis não têm funcionado bem. Preciso mesmo é de uma nova tática, porém devo cuidar para não assustá-la, é claro. Não quero pressioná-la, contudo acho que se as coisas não mudarem, a minha tentativa se efetivará fracassada em todos os aspectos. Nunca precisei de tamanha cautela com uma dama antes.
Mas com Rosa é diferente. Ela é diferente, de todas as damas que já conheci. É um espírito forte, rebelde, independente... Totalmente indomável.
Assim como Jean era.
Não poderei superar Jean. Mas poderei tê-la aqui, no presente, comigo. E para isso, terei que convencê-la de que eu preciso mesmo dela. E que ela precisa de mim.

-Rosa, sabia que eu nunca subi a torre Eifel?

-Pare de gracinhas.

-Absolutamente. Agora é sério. Parece piada, mas eu nunca subi lá non.- Sorrio marotamente, a olhando com cara de quem está esperando algo

- Não diga que quer que eu te leve lá, com essas muletas?

- Bom, nesse caso non. Mas se me prometer que irá comigo quando eu estiver sem elas, eu ficarei muito contente! -sorrio

- Tudo bem...- ela revira os olhos e volta a escrever no computador. - Mas só quando estiver sem elas, ok?

-Merci. - pisco e saio da sala. Abro a porta dos fundos e me encosto à soleira. Observo o pôr do sol. Mais um dia se vai, tranquilo e surpreendentemente satisfatório. Quase feliz.







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domingo, 8 de setembro de 2013

Capítulo 49- Qu'est-ce que c'est










Le Eternel Amour

Tulipe Rouge





Ontem eu quase não consegui dormir... Foi bem difícil me manter quieta na cama. Fritei a noite inteira pensando sobre o rumo de nossas vidas depois deste... Tão traumatizante episódio.

Chego a pensar, que apesar de extremamente doloroso, foi necessário para quebrar a crosta de monotonia que se formara durante tantos anos...
A distância de Claude da vida do Caleb... Tão dolorosa e me arrisco a dizer totalmente inútil. Afinal de contas, todos sabemos que mesmo filhos de inseminação artificial  perguntam algum dia por seus pais biológicos... É quase um ponto essencial de nossa existência questionar nossas origens.
 E no caso do Caleb... Uma origem tão... próxima da que lhe fora dito... O avô é mesmo o avô. E o pai... tem a mesma aparência... e sobrenome. É quase como se realmente o conhecesse.
 Como se soubesse. O apego a imagem e a ideia de que ele tinha um pai não era apenas um sexto sentido, era uma verdade. E ele tem sorte por isso. 
E não é como se o Claude o rejeitasse. Mais uma vez, um grande fortunamento dele. O pai realmente o quer. Se houvesse podido, estaria com ele desde o ventre.
Mas sabemos que ele não podia. Realmente não podia. E sabemos que mesmo tendo o conhecido bem pequeno ainda, não poderia estar com ele sem que isso causasse um tufão de acontecimentos. O nome do pai atrairia todos os holofotes ao pobre Caleb caso Claude decidisse brigar por reconhecê-lo como filho e tudo o mais. 
A questão agora é se o Claude vai ter uma chance de estar mais próximo da vida do Caleb.. e se essa história de estar interessado na Rosa é mesmo por gostar dela ou apenas por desejar ser " o pai do Caleb"...
Apesar de saber que nas atuais circunstâncias, ela nem tem mais como negar isso a ele. Não tem como negar que, se eles dois desejarem, convivam e se tornem próximos como pai e filho.

Sempre fui  a primeira a incentivar a Rosa a pensar de forma especial no Claude. Até disse a ela que desse uma chance. Mas na realidade, pensando com meus botões, fico na dúvida se isso realmente fará bem a ela.
Apenas o fato de terem um filho não significa absolutamente que se tornarão uma família feliz. Eles precisarão de um grande afeto que os una, Claude e Rosa.
E isso não inclui Tony. Não inclui Caleb,( o fruto do amor de Rosa por Tony- e não por Claude).
E pro Claude é válido o mesmo pensamento: Rosa. A Rosa. Não a Bel, a moça que eternamente o Tony amou. Com quem se recusou a estar por pensar que assim a pouparia de um grande sofrimento e viuvez.
O que no final, não funcionou.
Não funcionou para ninguém.



Caleb





Ele me olhou profundamente, e quase pude ver sua alma. Seus olhos pareciam muito grandes e acho que estavam marejados. Ele falava pausadamente, como meu vovô Henry.
Não que eles se pareçam. Na verdade, me pergunto se eles podem se parecer em algo a mais que o sotaque. 
Tentei me manter o menos ansioso possível enquanto esperava que ele terminasse de falar para então fazer-lhe outra pergunta. Fiquei um pouco triste em saber que na verdade, ele não sabia de mim, porém, ao mesmo tempo aliviado, porque de certa forma isso quer dizer que ele não me rejeitou- tanto assim.
Ele disse que não esteve aqui, não me contou que eu era seu filho exatamente por não ter "direito" a isso. Não entendi muito bem, mas parece que tem a ver com a mamãe querer me proteger e me amar muito.
A maneira dela- sei que ela tentou isso mesmo. 
Me proteger.
Mesmo que não faça sentido ela querer me proteger do meu pai -quando ele me queria tão bem. E sei que é de verdade não só porque ele me disse. E muitas vezes.
Mas, porque ela mesma me disse isso. Quase como que para me acalmar e aceitar que ele fique aqui conosco. Que Rachel ficasse aqui, que dormisse no meu quarto.
 Que eu a tratasse como... irmã.

Ainda não me sinto preparado para aceitar totalmente que Rachel... não tomou o meu lugar. E ainda mais agora, parece que ela está me tomando a mamãe também.
Mas tenho que me controlar, é o que vovô Henry diria.
 Bem, foi isso o que ele me disse naquele dia, no hospital. E disse que me lembrasse dele sempre, principalmente nesses momentos.

Espero que ele fique orgulhoso...




Rosa





Eu sei que é difícil... Mas mesmo assim, quero mesmo tentar. Quero tentar e ver se dá certo. 
Não é pelo Caleb... é por mim mesma.
 Na verdade, se eu pensar que é pelo Caleb, vou ver que não vale a pena.
 Porque sendo assim, eu e ele acabaremos infelizes. É óbvio que se for apenas pelo Caleb eu não conseguirei ir muito longe com isso. Oque acabaria por machucar a mim e ao Caleb, de novo.

-Pensei mesmo isso, Jane. Mas acho que se fosse só pelo Caleb, ele não tentaria assim, dessa forma. Ele ainda é um Geraldy, e mesmo se dizendo deserdado, sabemos que ele não é.
Se realmente estivesse disposto a tomar o filho de mim, ele usaria as garras.

- Realmente. Oque me deixa intrigada é saber como ele faria pra provar que é o pai do Caleb?
 Ele jamais poderia provar isso biologicamente porque os exames que comprovariam a infertilidade de Jean foram tirados dos arquivos e exterminados a mando do poderoso Henry Geraldy.
 O menino foi reconhecido com uma amostra do sangue do Jean, que já havia falecido.. Como então o Claude poderia contestar?
Eles eram gêmeos univitelinos, idênticos até o ultimo códon de bases nitrogenadas do dna. Iguaizinhos geneticamente.
 De que maneira mais ele faria isso se não te convencendo a declarar isso ao juiz?

- É... Confesso que não me lembrei disso. Mas ainda acho que o Henry faria tudo para vê-lo se aproximar do Caleb como pai... Para ter tudo... nos conformes.
Foi essa a impressão que tive dele, por telefone...
 Ele está realmente animado com a possibilidade de nos entendermos.

-Oquêêê??-Jane arregala os olhos- Estou perplexa! Pensava que ele seria contrário e relutante a isso! Já que levaria o nome dos Geraldy aos jornais caso a imprensa suspeite do famoso encenamento irmão casa com cunhada viúva...
 Tá certo que... o Henry daria tudo mesmo pro Claude voltar a falar com ele... Pra que ele aceite a ser herdeiro de verdade...

- Ainda que, contra a vontade, ele ainda é. -completo. - E pelo que eu soube , o único motivo pra isso é que ele próprio possui herdeiros- sorrio

-Sim.Dois lindos herdeiros. E selá ainda terá mais não é mesmo? - Jane pisca pra mim. sinto a face em brasa

- Janete! Chega de falar disso!







Claude



Todas as noites que passei em Paris, sempre foram totalmente inesquecíveis. Não que estivesse  sempre bem acompanhado ou que aproveitasse da forma como os jovens geralmente o fazem. Mas por puro e simplesmente sentir-me bem acolhido pela brisa de Paris. Pelo ar úmido e quente que se espalha por toda a parte.

E hoje, nem sei como me sinto. Não só em relação à Paris... mas... Bem, sobre minha vida toda. Acabo por me trair em muitos aspectos. A minha vida inteira pareceu mais uma vingança, uma fuga, qualquer coisa. Sempre volto a pensar em como minha alma dói. Por mamam,  por Jean. Por mim.
Não que tenha me feito de vítima e me abandonasse às angústias. Na verdade acredito que é exatamente por nunca ter feito isso que dói tanto.

O meu referencial no mundo.
Assim é como sempre me referi a essa cidade. Um eterno orgulho francês. Paris. Pela janela.
Essa tem sido minha forma de apreciar a paisagem, já que mal pude me mexer durante esses dois meses.
E Rosa continua sem me responder se quer ou não tentar algo como um relacionamento que vá além da cordialidade comigo.
Sei que há muitas barreiras, ela ainda não se recuperou pela morte de Jean, e, acredito que nunca irá. Seria mais fácil se não fossemos gêmeos. Ela se esqueceria um pouco de que somos irmãos. E me deixaria fazê-la feliz sem sentir tanta falta dele.

Mas não desisti e nem pretendo. Tem sido mais difícil do que eu pensei. Nesse tempo em que estive naquele cárcere, formulei todas as possibilidades e observei que eu realmente tenho grandes chances com ela. Ela só precisa entender isso e concordar comigo.
Sempre estive apaixonado por ela, desde aquele dia, na passeata. Lembro dela, tão viva, com olhos cintilantes e espantados ao ouvir que eu não era Tony. A maneira como a face dela se contraiu ao me questionar o motivo de eu tê-la livrado de uma grande confusão. A  mesma expressão questionadora ao me ver na noite do baile de formatura.

 Eu devia ter agradecido a Jean por aquela noite. Devia mesmo. Mas como eu faria isso sabendo o quanto doía nele não ter podido estar lá? Eu o usurpei mais uma vez.
E mesmo assim, foi ele quem me agradeceu.
E as cartas que me remeteu para serem entregues aleatoriamente depois de sua morte me doeram ainda mais. As palavras eram como afagos... mas, à minha consciência, elas feriam como espadas, feriam profundamente.
Sei que terei de conviver com isso. Amo a mesma mulher que ele sempre amou, e nunca poderá ter. E hoje, sei que de alguma forma, sou o único que pode fazê-la feliz. Eu sei disso, e Tony me fez jurar que eu estaria com ela quando...
Bem, meu irmão presumia os meus sentimentos por Rosa e... Disse que, se em algum momento eu sentisse que poderia ser feliz ao lado dela, eu deveria me agarrar a essa oportunidade e não deixá-la por motivo algum.
 Isso seria uma forma de quitar toda a minha dívida para com ele. Por tê-lo deixado sozinho com papai mesmo quando ele estava no momento mais delicado de sua vida. E eu o deixei mesmo assim.
Por ter me relacionado com Nara mesmo sem sentir por ela, todo o sentimento que Jean havia dito que seria necessário para que eu fosse feliz. Mas eu tinha medo de nunca sentir. De que não existisse no mundo alguém não só capaz de me fazer sentir tudo aquilo mas, também, que pudesse senti-los por mim.

A frieza estava em mim como eu estava nela. E deveras foi um grande apoio para quem realmente precisava ser frio. Porque, fora disso, eu me tornaria ainda pior que meu irmão bastardo.

Um colossal calafrio me percorre a espinha com esse pensamento. Não gostaria de estar pensando de forma tão triste sobre minha vida, porém é assim mesmo como me sinto.

 É impossível mudar o passado, e eu sei bem disso.









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domingo, 25 de agosto de 2013

Capítulo 48 - Sutilezas





Le Eternel Amour

Tulipe Rouge












Está.... tudo... bem? aqui? .... - Janete vasculha a sala com os olhos

- Bom, acho que está. - Aponto o sofá e nos sentamos.

- Não, não está.

- Não mesmo. Janeteeee... - escondo o rosto em seu ombro, sentindo uma espécie de frenesi de ansiedade

- Se acalme Rosa... Acho desnecessário todo esse alvoroço. Vocês são adultos, livres, desimpedidos, oque esperava? É claro que uma hora ele mostraria interesse... Concretamente.

- É que... faz tanto tempo e eu... Nem sei se posso corresponder sabe...

- Mas porque não? Acaso você está envolvida com o...

- Olha o absurdo Janete. Acha mesmo que eu...

- Na verdade eu acho. É impossível que não sinta nada nunca, Rosa! Onde está aquela garota maluca do Perrault? Onde está todo o rock and roll? Cadê a emoção?

- Jane... - reviro os olhos

- Dá uma chance pro cara, Rosa. Se dê essa chance, poxa! Imagino o quanto seja esquisito, mas ele não é o Tony. Lembra? - Jane procura meus olhos fujões - Ele é o Claude! Nada a ver você ficar tão..

- Não é só medo, eu juro que não é.

- Então, oque é? - ela me inquire, exigindo uma resposta coerente.
 Sim porque a mão na cintura fala por si só

-Acho que é porque ele é quem ele é. O Claude. O... pai do Caleb. Seja como for. É quase como... uma imposição. Não sei.O Claude- o desenho em minha mente-  Ele é agradável, mas....

- Tem um péssimo senso de humor. Cheira mal? Non foi ao show  do U2? - a figura de Claude passa pela porta, e estaciona ao meu lado, quase na mesma altura que eu, em sua cadeira


Claude






-Oque há de errado comigo Rosa?- seguro suas mãos, enquanto o rosto está em brasa

- Excuse moi - Janete diz divertidamente, enquanto sai da sala sorrindo. Permanecemos nos olhando e nem uma palavra é pronunciada.

- Nada. Não é você, ...

-Sou eu - dizemos juntos. Ela revira os olhos sorrindo

- Você sabe dos meus sentimentos por você, certo? Acho que eu não seja lá muito transparente mas... Sempre te considerei uma mulher... admirável. 

-Admirável? - ela me olha sorrindo, incrédula - Foi nisso mesmo que estava pensando...

- Tudo bem, non sei fazer issi non. - abaixo os olhos - Estou muito envergonhado, le jure.

- Não mais do que eu. Pode parecer bastante infantil, mas é como me sinto.

- Você acha que estõn nos pressionando a isso non é?

- Talvez. Mas só um pouco.

- É oque esperam de nós. Que... demos certo. Que nos entendamos.

- Exatamente isso.

- Eu non me oponho. - digo marotamente enquanto a olho sorrindo




Rosa 




-Nem eu. -me ouço dizer. A minha voz permanece no ar alguns segundos até que ele me olhe profundamente de novo. Os olhos dele também eram capazes de sorrir! Fico presa no "sorriso do olhar" dele até ouvir a porta se abrindo.
 Tento soltar as mãos das dele mas ele não me permite

- Chegamos! - Janete entra sorrindo - E trouxemos sorvete pra vocês também!

- De morango com flocos de chocolate - Caleb sorri

- E de chocolate com menta! - Rachel completa. Vê-los juntos e sorridentes era ainda mais compensador. 

-Ótimo. Quero todos. - Claude me olha de esguelha. Me levanto

- Vamos à cozinha então. Nada de sorvete pela tapeçaria. Que aliás, nem terminei de pagar! - sorrio  na tentativa de aliviar meu próprio nervosismo.

Caleb ainda estava calado demais, mas melhorou depois que o Claude conversou com ele ontem de tarde. Não sei sobre oque falaram mas acho que o acalmou. Coloco-o na cama, os cabelos  meio úmidos do banho recém tomado. Sorrio

-Boa noite, petit

-Boa noite mamãe. Je t'aime. - os olhos grandes de Caleb me fitam, os de Claude parecia estar neles.

-Je t'aime aussi petit. - afago seus cabelos e apago o abajur.



Não sei oque me dá. É só que... É absurdo eu sei.
 Mas é como trair a mim mesma. Eu disse que nunca mais nem mesmo pensaria sobre ele.
Por que cogitar isso outra vez? Eu não contava com isso de verdade.
É claro que eu ouvi sobre essa possibilidade todos esses anos mas não havia nenhuma solidez nela.
Afinal, mal nos conhecemos.
 Mas ele... Ele parece tão sincero...

Por que o rejeitaria? E o Caleb... ficaria bem contente, eu acho... 
O que na verdade eu me pergunto é... o que isso significaria... na minha vida?
Não apenas em questões práticas mas... Por dentro... Isso seria...Como...
 Como cicatrizar as feridas? Superar uma insuperável perda? 
Isso me assusta. Parte de mim quer muito mas outra parte se nega a aceitar. E no caso, não pode haver dúvidas.
 Devo decidir. 
Não que eu queira ficar eternamente sem companhia. Mas esse é um caso em particular, foge ás estruturas convencionais.
 Ele é irmão da minha alma gêmea. E, a pior coisa sobre almas gêmeas é que dificilmente elas ficam juntas. Gêmeo.
Gêmeo.
 Por mais que eu tente ignorar isso, gêmeo. É como trai-lo com ele mesmo.
Com OUTRO ele. Não faz sentido.
 Ai minha cabeça!


Insônia não me ajuda, não penso direito, não adianta. Ah os calmantes!



Sérgio



- Mais estranho seria se ele não tentasse não é.

-Eu sei. Mas ele... Ele 

-Está tão confuso quanto ela. Um mês, amor, um mês e ele toma a iniciativa que poderia ter tomado há dez anos. Mas a circunstância parecia ainda pior que a de hoje. Então, ele decide propor algo. Por mais cauteloso que seja, ainda é uma proposta.

-Amor, você acha que ela vai aceitá-lo?

- E você me pergunta isso, Jane? Mulheres são malucas, como saber. - rio e ela me dá um tapa no braço pelo atrevimento- Não tem como prever...

-Sabe qual é o meu palpite? Ela vai acabar cedendo. Ele é bem atraente, um bom partido, não é de se jogar fora assim. - ela sorri em provocação.

- Hum... sei! Mas o motivo maior é o Caleb. Ele iria adorar ter o pai perto, fazendo parte de fato da vida dele. da rotina... da vida da mãe, de tudo.

-Mas e a Rachel, Sérgio? Eu acho ela tão quieta...

-É a educação francesa dela, amor. Acho que ela é uma criança adorável, e a Rosa a adora. Tenho certeza de que Rosa vai fazer um grande bem a ela, seria como uma mãe, coisa que ela nunca teve de verdade né.

-É mesmo. Me pergunto se não é por isso o ar triste que ela têm.







Rosa




Havia flores na sacada, e o sol entrava pela janela iluminando tudo. Bela manhã de primavera!

- Espero que goste dessas, non sei escolher... - Só então percebo Claude, parado perto da porta, como se me esperasse

-Ah, foi você... São lindas, obrigada. -sorrio. Ele me olha intensamente. Pisco sem entender e ele estende a mão. Caminho até ele e a seguro. Ele me puxa até que eu entenda oque ele queria. Me beija a face e sussurra
-Bon jour.

-Bon jour. - respondo olhando em seus olhos. Tentando imaginar oque ele estaria pensando naquele momento - Você é mais matinal do que eu...

-Nem pensar. Apenas me acostumei a acordar cedo, hã.

- Já tomou café?

-Estava a sua espera...- ele sorri

- Onde estão..

-Nossos pequenos foram à escola hoje, lembra? 

- Ah.... - suspiro. Ele disse NOSSOS pequenos?
- Então... vamos tomar café onde? - sacudo a cabeça como que pra dissipar a confusão mental

- Na Coop cofee, bem na esquina. É agradável, e non está longe, hã?- ele pisca um olho

-Oh! é claro... -sorrio ainda me sentindo abobalhada


Café com açucar e uns brownies pra adoçar tudo, até o sangue dar formiga. 

- Ha ha ha Non é issi non é que... Ela sempre esteve lá, comigo sabe. Nunca nem pensei em demiti-la. Nem que eu a contratei. Sempre foi tudo ton... familiar sabe.

- O seu pai não gosta tanto dela não é mesmo?

-Como você sabe?

-Ah - disfarço- Ela me disse eu acho. Ou foi o Tony.

-Tony. Agente sempre volta a ele. É impossível não falar dele.

-Dizem que pessoas extraordinárias geralmente não vivem muito, mas jamais são desapercebidas.

-Você ainda continua com o mesmo amor por ele non?

- Nunca poderei esquecê-lo... - digo triste, ainda sem olhar nos olhos de Claude, que com certeza, me encarava 

- Acho que ele queria que ficássemos juntos... - ele diz me olhando por baixo, divertido

- É um bom flerte. - sorrio, limpando a espuma do capuccino do canto da boca dele

- Quem vê pensa. - ele pisca sorrindo

- Pensa oque? - continuo o olhando

-Que eu uso fralda geriátrica. - ele gargalha

-AH! hahahaha não acredito que disse isso! 

- Non adianta negar, eu sei que pensam issi. -ele continua rindo

- Tudo bem, chega disso vai.

- Ah é divertido. Pelo menos porque eu sei que non é pra sempre né.

-Você teve sorte. 

- Até que tive. Você quis cuidar de mim, oque mais eu poderia querer? 

-Claude!

Breve silêncio constrangedor...

- Acho até que vou pedir que Dádi volte a Paris, mas para visitar os amigos, hã?  Talvez eu fique por aqui...

- Mesmo que o Carlo... Você vai mesmo à audiência? 

- Com certeza.

-E... você já sabe o porque dele... ter...

-A vingança nunca é plena mata a alma e a envenena - ele sorri - Non se preocupe com issi hã? O pior já passou. Estou completamente em paz e tranquilo. Estou vivo, é o que importa. Carlo vai pagar, e estarei lá pra ouvir a sentença.

-Ele esteve mesmo perdido... Acha que ele vai ser internado num hospital psiquiátrico?

- Provavelmente.. Mas com tratamento vip... Com direito à solitária pro resto da vida. E non digo isso por mim só, mas pelos crimes contra a corporaçón... e contra os direitos humanos, hã?

-Mas ainda não entendi oque ele estava fazendo! O que leva a pessoa à tanta...

-Insanidade? Ele deixou o rancor o dominar... O ódio a família Geraldy foi muito além de mim e Tony, e além de nosso pai. Carlo tinha sede por vingança, sim. Mas o sentimento de autodestruição dele era bem maior. Ainda posso ouvir a risada dele... Ton louca  e as palavras ton desconexas... Nunca vou esquecer oque ele disse sobre... A nossa pequena diferença de posiçón na família... sobre... Eu ser um bastardo reconhecidamente... - Claude manteve a cabeça baixa, tanto quanto sua voz soava

- Acho melhor irmos pra casa... Talvez chova hoje também... - murmurei olhando um casal de velhinhos se levantar, sair e depois passar pela vidraça do lado de fora... lentamente e de mãos dadas

- Você estragou tudo Rosa. Mas ainda sim, Caleb está seguro. E graças a Deus, Carlo nem suspeitava que ele é meu filho. - ele me olha ainda ignorando oque acabei de dizer, estático, as mãos sobre a mesa

- Eu não suportaria.

- Eu também non. No entanto tive de suportar non foi?

- Você foi muito forte. - dou um meio sorriso- Um verdadeiro super herói

-Hm..- ele balança a cabeça numa careta- Super heróis non ficam presos em cadeira de rodas hã... Nem mesmo por um curto período.

- Não estrague tudo! - sorrio me levantando.


Em vez de voltar pra casa, Claude me convenceu a ir até um parque... o Sol animou muitas pessoas a estar ao ar livre.. Em sua maioria jovens escolares e idosos

- O dia está lindo, hã.

-Mas ainda pode virar... Que nem ontem...- digo olhando o céu. O vento balançando os galhos da árvore acima de nós

-É uma pena Rachel non estar aqui. Ela adora esse parque...

- O Caleb também... - digo naturalmente. Como numa conversa de comadres. E me lembro que ele deveria saber coisas desse tipo sobre o filho dele. O que me faz engolir em seco. Será que ele me perdoaria algum dia?

- Veja, aquele casal ali... - ele sorri - Eu os conheço desde que tinha sete anos de idade.

- Sério?

- Meus pais ainda vinham no parque naquela época. E eu e Jean brincávamos muito aqui. Era um paraíso só... os piqueniques.... - ele continuava olhando os velhinhos e sorrindo

-Não quer ir lá falar com eles?

- Non... - ele suspira- eles eston ton velhinhos non se lembram mais de mim non...

-Como você sabe?

- Eu sei. - sorri- Ano passado quando estive aqui em Paris  fui visitá-los. Eles me trataram como Jean Geraldy. Como Jean sempre foi mais próximo deles eles só se lembram dele  . Apenas de Jean. Por alguma razon.

- Espera... Mas se eles não o vê-em a dez anos... como podem se lembrar mais dele do que de você? Ou não veio visitá-los durante esse tempo?

- Eu vim sim. Quase todos os anos eu vinha a Paris e sempre os encontrava ou os visitava. Mas eles continuavam a questionar quem era Claude. Entón parei de insistir.

-Sallut, monsieur Geraldy! - a voz da senhora irrompe os poucos metros que nos separa

-Jean! -O velhinho bate continência, alegremente. E Claude a  devolve, sorrindo.

- E... não se importa? - pergunto a ele, que ainda sorri para o casal ao longe.

- Porque me importaria? Eu e Tony somos gêmeos. Non é novidade esse tipo de situaçón...

- Oh, me desculpe.

-Que issi... É como se eu fosse mesmo ele, non? Sou o que restou dele. - ele abre os braços, e não deixo de notar a tristeza em sua voz.

- Ele está em você. - digo, olhando para Claude tendo a certeza de que estava olhando para Claude. Para ele.

- Non se pode julgar um perfume pelo frasco non é oque dizem? Nem julgar o livro pela capa... Claro que sabemos que as vezes a aparência exterior nos dá pistas sobre o conteúdo. Mas non funciona muito bem com pessoas, né?

-Não... Não funciona.


















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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Capítulo 47- Pequenas Vitórias


Le Eternel Amour

Tulipe Rouge



Hoje o dia cheira a chuva, e os meus olhos estão bastante irritados com esse vento insistente. Não havia mini baguetes na padaria então trouxe as normais. Caleb passou horas ontem escrevendo na agenda nova que lhe dei... Mas não expressou felicidade alguma quando me agradeceu por ela. Rosa continua olhando pela janela, exatamente onde a deixei quando sai. 

- Foi rápida.

- Sempre sou não é. - respondo com um meio sorriso. Deposito as compras na bancada e tiro as luvas

- Hoje o dia está estranhamente calmo... - ela suspira, ainda perdida em algum lugar distante

- Acho que  vai chover.


Meia hora depois, Sérgio aparece à porta -encharcado.

- Desculpe a demora, amor, não estava contando com esse toró. - ele sorri tirando a jaqueta

- Moooom - Alice entra, deixando a capa de chuva cair

- Oi querida, está com fome?

-Huhum- sorri. A mando tomar banho, e depois sirvo o lanche a todos.

A tarde segue comumente, a não ser o fato do silêncio imperar em alguns momentos.. Como se as nossas palavras necessitassem de um descanso ou algo assim. Rosa voltou a trabalhar em seu computador e por horas não esboçou nenhuma expressão. Mas ainda parecia exausta...

- E Rachel? - Finalmente arrisco a pergunta, que ainda flutuou no silêncio até ela me olhar ainda inexpressiva

- Com Joana. Não quis vir...

- Obrigada por estar aqui - pego em sua mão- Eu sei o quanto tem sido difícil...

- Eu é que agradeço... Não deveria nem dizer isso mas... eu sinto muito, de verdade.

- Está tudo bem. Ninguém teve culpa. Nenhum de nós... - pausa. E Alice vem e senta em meu colo. A abraço ainda olhando Rosa morder o lábio

- Acho que vou ligar outra vez. - Ela diz olhando a tela do computador. Suspiro quando leio a manchete da internet

"E o paradeiro do capitão Claude Geraldi ainda é um mistério..."

- Não por muito tempo. Tenho certeza de que o encontraram.- Rosa responde a maior de todas as dúvidas que pairam sobre nós. O Claude voltar seria como... ter nossas vidas de volta. Ou não.

Rosa




Decidi passar na banca e comprar todos os exemplares que tinham da Le Cordier. Depois depositei um em cada caixa de correiro do prédio. Não que ainda possua a velha insegurança de antes mas precisava ter certeza de que ma voisines ainda sabiam quem eu era. Que eu era alguém. Eu precisava ter certeza que era alguém. Que sou, hoje.
Rachel só cantarolava baixinho enquanto alisava o coelho branco que ganhara de dom Giovani. Chega a parecer que ela é quem toma os calmantes, não eu.
Caleb a segura pela mão, o que me faz sorrir discretamente. Pois, se ele perceber, nunca mais terei a sorte de ver cena tão singela.

- O que vão querer pro jantar? - pergunto assim que tranco a porta. Tento sorrir cordialmente mas sinceramente,  me sinto tão exausta....

- Podia ser aquela comida lá... de sexta. - Rachel diz, e fazia tanto tempo que cheguei a estranhar sua voz tão... seca.

- Não, não. Pizza. Pizza. - Caleb franze o cenho e senta no sofá, irreverente. 

- Acho melhor não, Caleb. Ontem já jantamos pizza. - respondo calmamente. - Comida chinesa parece muito bom mesmo, Rach. 
Caleb quase disparou algo em minha direção mas conteve sua explosão de fúria. Ele era mesmo uma montanha russa em seus humores... E Rachel sorriu ante a pequena vitória. Sempre disputavam as pequenas e as grandes coisas.

Volto ao trabalho e estico até as 3 da manhã. Fora o tempo que fiquei ao telefone hora com o detetive Flanders hora com Silvia, permaneci em silêncio. Caleb estava no piano e Rach com o caderno de desenho que Claude deixou comigo... a Tv... estava sozinha.

...


Foram duas semanas. E então, lá estava ele. Preso como um bandido, numa antiga funilaria soviética  abandonada. Pena que antes que o encontrassem, Carlo havia lhe quebrado duas costelas e deixado muitas lesões por todo o seu corpo, de modo que o encontraram desacordado, e desde quando nem se sabe.


Claude



Abro os olhos ainda pesados, as pálpebras me ardem. E tudo o que vejo é.. branco. 
Como a neve daquela tarde em Montreal, rumo à casa de Rosa. A mulher que não se permitiu muito, ou nada, em nome do amor por Jean. E eu, da mesma maneira, não me permiti dizer oque eu queria dizer naquela noite em Verriéves, no baile. Tudo porque eu... amava Jean. E de todo coração esperava vê-lo feliz com ela. Eles se amavam de uma forma bastante peculiar. E nunca vi ou verei nada parecido. 

- ouvrez vos yeux .... Donc, essayez de ne pas bouger beaucoup. - (abra os olhos... isso, tente não se mexer muito ) uma voz feminina e bastante calma. A mesma se apresentou como Gina Delatresse, médica intensivista, disse que eu estava num hospital em Paris, que fiquei em coma induzido por três dias. Suspiro. 

-Serafina Rosa Petroni...envie de le voir? - (Serafina Rosa Petroni... deseja vê-la?) outra voz feminina irrompe a sala, eu pisco...

- oui.. oui...

....

-olha, eu trouxe flores! - Rosa sorri me mostrando um buquê de margaridas numa jarra ao meu lado.

- Você... esteve aqui?

- Desde que te trouxeram pra cá. 

- E... Rachel? minha filha...

- Ela está bem, Claude. está... comigo.- Ela disse depois de breve pausa, e ainda sim, com um suspiro. Parece cansada.

- Oh... Merci, Rosa, Merci... Você....a trouxe? - me sinto desfalecer... os olhos tão pesados e uma pressão no pescoço

- Você terá alta daqui a dois dias. Poderá vê-la com mais calma. Não acho que vê-lo aqui a deixará menos... assustada. - Os olhos de Rosa se dilataram enquanto ela disse isso, e acho que ela é quem está assustada.

- D'acord. - tento me ajeitar mas minhas costelas parecem estar em pedaços- ahh- grunho

-Melhor não se mexer. E... além do mais... Você vai precisar de muito repouso até se recuperar totalmente.

- Não estou inválido, estou? - Pergunto temendo a pior explicação por me sentir tão dormente

- Você fraturou muitos ossos Claude. acho que a sua tentativa de fuga deixou o diabo furioso.

- Eu precisava tentar. Mas ele machucou minhas mãos por um motivo, que tentei ignorar. Mas não pude.. acabei caindo de uma altura de dois metros e meio...

- Você vai ficar bem, Claude. Vai ficar.- Rosa toca meu braço... mas não olha em meus olhos. 

-Eu estou bem. Ainda mais agora que sei que você também está. Que todos estão.

-Ainda vai precisar de cadeira de rodas por umas semanas e depois, moletas. 

Faço uma careta. Isso estragou tudo!



Rosa




Claude insiste em voltar pra Marselle, mas não posso permitir. Não enquanto ainda precisa da cadeira. 

- É melhor do que ficar na cama o dia inteiro - ele da um meio sorriso

- É sim. - sorrio de volta. Rach em seu colo, o coelho sempre com ela.

- Não pode andar papai?

- Posso sim amor. Mas é que preciso poupar força por enquanto que me recupero. Mas já já papai estará novo em folha!

- Eu vou buscar o Caleb- toco o braço de Claude que com a outra mão me segura

- Não se preocupe Rosa, tenho certeza de que ele irá entender.


Caleb veio em seu voto de silêncio, olhos baixos e respiração entrecortada. 

-Está tudo bem, filho?

-oui mama. - ele responde de prontidão. ainda sem me olhar. 

- Você está confortável em ter o Claude conosco por uns dias?

- Acho que tudo bem, mom. Mas... ainda não entendi... Vocês são como um... um casal, agora?

- Não filho, não somos.

- Mas ele é meu pai não é?

- biologicamente sim.

- Então, porque ele não pode ser meu pai como ele é da Rach.... além de biologicamente, eu quero dizer.

- Amor... - afago seus cabelos- Acho que isso depende de vocês dois, de escolherem ser pai e filho. - sorrio. - Mas filho, porque você perguntou sobre mim e o Claude... sobre sermos...

- Eu queria que agente fosse uma família inteira mom. - ele rompe- a senhora sabe. Com todo mundo envolvido. Sem essa coisa de este é filho deste mas não deste e blábláblá.

- Sabe que isso nem seria possível nem que agente se casasse... que a Rachel...

- Tudo bem mãe. Eu sei da Rachel também. - ele se levantou e entrou antes de mim, que ainda fiquei dentro do carro por um momento... Tentando absorver oque ele realmente quis dizer. Se ele é que quis dizer alguma coisa.