Le Eternel Amour
Tulipe Rouge
Oh, fique quieta por um instante, querida!
-Por..por favor! - me contorço- Mal posso respirar!
-Conte até dez! Você está muito agitada, é só isso! - Joana gesticula tanto que me faz lembrar de que um dia ela foi atriz. Uma grande atriz. E agora está aqui, me espetando com alfinetes.
-Eu não estou agitada! Estou...-puxo o tecido pela milésima vez- Sufocando!
-Rosa, Rosa! - Janete revira os olhos - Não seja tão dramática! Esta já é a terceira prova. O vestido precisa ficar pronto logo... - ela bate o pé pensativa- Noivas...
-Eu sei. Mas acho que está .. apertado.. demais...- arfo
A costureira oficial chega e ajusta. Não tem como negar, o vestido está perfeito.
-Nunca vi uma noiva mais linda em toda a minha experiência!- a costureira suspira. Aposto que diz isso para todas.
-Aposto que ela diz isso para todas as noivas! - Janete sussurra para Joana, e eu rio discretamente.
-Então, não há mais dúvidas! Está pronto!
Voltamos a pé, conversando como se realmente eu fosse uma noiva feliz e apaixonada. Eu estou mesmo muito apaixonada, meu noivo é perfeito. Mas não estou feliz. Eu tenho um grande problema. Tem um cheiro ácido no ar, e um gosto amargo em minha boca.
-Adoro este café! Eles tem um cappuccino tão tão delicioso! - o rosto de Jane se contrai, e ela está extasiada com a primeira maravilha gastronômica do mundo, segundo os médicos, é claro.
Eu apenas suspiro. O cheiro no ar é vingança. O gosto na boca não é café, é medo, angústia, insegurança. Tudo misturado, e em concentrações barbáries.
-Acho que a Alice é muito grande para esse vestido, Jane querida.
-É verdade. - Janete bufa- Eu me esqueço! Para mim, é como se ela ainda fosse uma pequerrucha!
Elas guardam as revistas e me olham, como se esperassem que eu dissesse algo.
-Oque foi?- pergunto surpresa pela atenção
-Nada.
-Isso mesmo, Rosa! Nada. Você não disse nada desde que chegamos. Ou desde que saímos do ateliê...
-Espere, Janete! Talvez essa distração toda seja saudades!
-Saudades? Hum... Mas ela o viu antes de sair de casa...
-Parem, vocês duas! - sorrio impaciente- Eu só estou cansada! Essa semana foi tão corrida!
-E você mal teve tempo de estar com seu amor! - Janete pisca os olhos e junta as mãos - Pobrezinha!
-Janete! - me levanto - Quer saber, vou tomar banho!
-Outra vez? -Joana e Janete se entreolham. Eu reviro os olhos e entro no quarto
-Ei, Rosa! - Janete entra em seguida e fecha a porta.
-Oque foi agora? - pergunto aflita
-Você... está assim desde que chegou... - ela diz pausadamente, me olhando ainda encostada na porta fechada.
-Assim como?- sento na cama e ela se aproxima
-Rosa.. - ela se agacha a minha frente - Você se penteia o tempo inteiro, não deixa um único fio de cabelo fora do lugar... Toma banho de meia em meia hora...
-Jane! Eu não estou ...
-Desenvolvendo um quadro de transtorno obsessivo compulsivo!
-Claro que não! - levanto
Claude entra no quarto mas quando percebe a presença de Janete dá um passo para trás e gesticula uma desculpa.
-Nada disso, Claude! Fique! Eu já estava de saída! - diz Janete se levantando- Se precisar, vou estar lá em baixo, no restaurante! - ela me olha de esguelha e eu entendo o recado. Não acabou.
Suspiro me sentando novamente. Claude vem e ocupa o lugar em que Janete estava, agachando-se a minha frente. Toma minha mão e beija meus dedos bem como a palma.
-Tudo bem, amour? - ele pisca e sorri. Meu coração se derrete
-Está sim! - sorrio de volta. Pena que lágrimas fujonas saltam pelo meu rosto e pingam nas mãos dele, estragando minha tentativa de disfarçar que eu não estou segurando a onda coisa nenhuma.
-Oh, Amour! - Ele me abraça forte- Oque foi? Porque está chorando? Aconteceu algo?
-Amor! - repito o apelido que jamais sairá da minha mente. Sinto a pele formigar. Imploro com os olhos para que ele não me pergunte nada. Não seria capaz de responder, e nem poderia.
E ele, como sempre, me entende. Basta um olhar para o outro e sabemos o que o outro sente. É como se..
-Está lendo minha alma? - ele sorri. Tenho o encarado desde que abri os olhos, e ele a mim.
-Talvez você esteja lendo a minha. - beijo seu peito. Ele bagunça meus cabelos vagarosamente...
-Eu não sei. -suspira - Mas acho que está angustiada demais.. Nunca a vi desse jeito, Serafina.
-Não me chame assim...
-Porque? - ele sorri. Eu levanto a cabeça e contraio o canto da boca. - Tudo bem... - me deito em seu peito -Mas gosto como soa... E você non quer me dizer oque a está preocupando...
- Eu não... posso... - rolo a cabeça no travesseiro e ele se sustenta num cotovelo para me olhar
-Non pode?..
-Não consigo.. - fecho os olhos e ele os beija, segurando meus pulsos que tentaram instintivamente afastá-lo- Não tenho como... - minha voz sai num fiozinho - descre.. ver .. - soluço e ele me abraça e beija novamente. Se ele soubesse!
Ele vai me odiar! Talvez depois entenda, mas ainda sim.. Vai me odiar!