-Non fica aí parado,
leva logo essa carta pra ela, vai!
-Ei, mas oque que é
isso, francês? Tá achando oque? Nunca falou comigo desse jeito.
Hunf.
Os dois se encaram.
-Só levo se me pedir
com jeitinho.
-Porfavorzinho? -
Claude revira os olhos com ironia
-Tá, mas só porque
foi engraçado você fazendo biquinho. - Frazão toma a carta dele-
Vou estar mais atento na próxima, e tirar uma foto!
-Para de rir, seu
palhaço. E anda logo! Vai fazer oque eu te pedi ou non?
-Mas é um cavalo
mesmo, hein, Claude? Você não me merece... e nem merece a Rosa
também.
Frazão sai da sala e
deixa um francês irritado e ansioso.
- Droga de vida... que
sais ces't merde?! - Claude bagunça os cabelos num gesto de
desespero.
-Traz a tesoura!
-Oque?! - a ruga entre
os olhos de Janete se agravam- Vai cortar a carta? Mas e...
-Vou cortar aquele
francês em pedacinhos bem pequenos! - a moça se levanta e dá um
passo torto, depois dois mas antes que ela firme o terceiro, Claude
abre a porta, fazendo ela cambalear pra trás. Era como se ela
tivesse desistido, naquele momento.
-Rosa!- Claude a
observa como se nunca tivesse tirado os olhos dela. - Está pálida!
Tá tudo bem?
A moça suspira, ainda
estagnada no mesmo lugar, com um braço estendido, apoiando-se na
parede. Os olhos arregalados denunciando sua fragilidade
-Não! E não se
aproxime!
-Eu.. mon Dieu.. vem
comigo até minha sala, por favor?
-Doutor Claude, eu
lamento ter de cruzar com o senhor todos os dias, mas ainda tenho o
meu aviso pra cumprir, e eu prometi que o cumpriria, e não pretendo
faltar com minha palavra. Mas o senhor está agora me tentando a sair
por aquela porta e não olhar pra trás... nunca mais!
-ei, mas que nuvem de
chumbo é essa pelo ar? - Frazao aparece com uma maquete nas mãos, e
a coloca sobre a mesa de Janete, como se pesasse mil quilos.
-Frazon, me ajuda aqui,
hã?
-Rosa querida, viu como
a poluição está no auge nessa cidade? Mal consigo respirar – O
advogado afrouxa o colarinho e se abana com uma mão
-Eu jamais pensei que
seria capaz de odiar tanto um emprego quanto odeio este! - Rosa diz
entre os dentes, se mantendo de costas para os dois.
-Oque você fez agora?-
O advogado sussurra para o amigo, sem tirar os olhos de Rosa
-Eu? Mon Die non fiz
nada! Essa maluca que tá com uma tesoura nas mons
-A carta! O que você
escreveu? Você nem me deixou abrir o envelope!
-Frazon, discutiremos
isso mais tarde. Agora preciso fazer essa mulher entrar em minha sala
imediatamente, hã?
-Ei, Rosa! não faça
isso! Eu queria ler essa carta! Não... droga!- Frazão dá um
muchocho. Rosa caminha displicentemente até a lixeira, onde joga os
restos da carta que Claude lhe escrevera.
-Será que entendeu
agora? - ela pergunta para Claude, que a fulmina- não quero papo com
você, nunca mais!
-Mulherzinha
irritante!- o francês se joga em sua cadeira
-Ah admite que tá
gamado nela, anda! - Frazão fecha a porta atrás de si.
-Frazon, quando você
vai entender que eu non tenho mais coraçon pra me apaixonar por
ninguém?
-Não tem mesmo, porque
já é da Rosa.
-É de... - Claude se
vira fulminando o amigo- Oque??
-Ah francês, não vai
perder essa moça por uma bobeira desmedida que é essa de você
ficar julgando ela sem nem saber do que realmente aconteceu. Vocês
se desencontraram, e nem um nem o outro conversou, já foi tirando
conclusões...
-Olha por favor...
chega disso.
-Mas e a carta?
-De novo isso?
-Conta de uma vez,
anda!
-Frazon você é um
enxerido. Mas nem era uma carta. Era um bilhete... Escrevi uma
pequena mensagem... um quase pedido de desculpas... com o endereço
de um restaurante e um convite pra jantar hoje a noite....
-Hummm … e você não
ia me contar né? Mas é um salafrário mesmo... ainda tem coragem de
mentir pra mim, de negar quando falo que você tá caído de quatro
patas por ela...
-Frazon.... Vamos
trabalhar, hã? - O francês entrega uma pasta empanturrada de papéis
pra Frasão
-Ok... você quem
perde, não eu.
A tarde seguiu
silenciosa. E quem mais falou em trabalhar, menos o fez. Claude
passara a tarde com uma tal Rosa enjaulada no jardim de seus sonhos.
Mas não mais a cultivando e admirando, mas fulminando em seus
pensamentos, tentando fazê-la morrer, murchar. Pena que agora ele
sabia, que se isso acontecesse, ele deixaria de existir.
Não é possível. É
muito sentimento pra pouca razão...
- Com licença. - Rosa
entra na sala, meio cabisbaixa. Claude a encarou de boca seca. Ali
estava ela, sempre delicada. E ele se sentia uma montanha sentado
naquela cadeira. Tão pesado e incapaz de se mover.
- Pode falar, minha
musa. - Frasão diz sorridente, olhando de lado para o amigo, que
sentiu como se tivesse sido esbofeteado.
- Esse fax acabou de
chegar, e aqui diz urgente. Eu trouxe pra o senhor analisar ….
- Qual assunto, além
da urgência?
- Compex
transportadora.
-Ah essa parte
logística não é comigo... Claude? - chamou Frasão. Mas o francês
permanecia olhando pra porta. Nervoso com a presença de Rosa. E ela
lhe ordenara que não lhe dirigisse a palavra. Ah, mas quem era ela
pra lhe dar ordens?
-Doutor! - Rosa o
chama. E então imediatamente seus olhos se encontram.
-Oui?- Ele a encara. E
nem percebe que ela se aproxima com os papéis e os coloca sobre a
mesa a sua frente.
- A comex
transportadora Claude. Você brigou tanto pra conseguir o frete com
eles! - Frasão diz sério, com tom profissional. Mas por dentro ria
e ria do amigo babando pela Rosa.
- Bom, com licença. -
Rosa vira as costas e sai como um foguete. Se sentia tão intimidada!
Uma semana inteira.
Rosa sentia-se tonta. Mal comia, mal dormia. O tempo não passava!
Queria ver-se livre de toda essa situação... Livre de Claude!
- Bom dia! - a voz dele
soa pela recepção. Mais uma polegada e a água que Rosa tomava
vazaria através do copo plástico. Ela ainda prendia a respiração,
após todos responderem ao patrão.
- Dona Rosa? - ele a
chama. Ela matém-se estática, de costas para ele. - Queira me
acompanhar até a diretoria, por favor?
- Hm... precisa ser
agora? - Rosa consegue responder. - Estou terminando de redigir um
documento extenso, se eu ir fazer outra coisa terei de revisá-lo
umas três vezes...
- Precisa sim. - ele a
olhou profundamente. Ele sabia. -pensa ela. Sabia que não era o
documento. Era os dois sozinhos na sala o problema. Frasão não
chegara ainda. Ela sabia que ele sabia.
- Ok. Já vou... - ela
põe o copo no aparador, e pensa em se recompor antes de seguí-lo,
mas ele entrelaça o braço dela ao dele.
Todos na recepção os
observam. Rosa sentia tantas coisas com aquele simples contato... que
mal percebeu quando ele a conduziu até a sala, e fechou a porta
atrás deles.
Os dois se encaram
- Doutor , oquê é tão
urgente assim? - um breve momento, e ele estava perigosamente perto
demais.
-Isso! - Claude a beija
com toda a saudade guardada.
Por uns momentos, eles
se esqueceram do mundo exterior, só havia os dois ali naquela sala.
Claude tentava falar algo, talvez formular um pedido de desculpas,
mas Rosa não deixava ele falar. Ela temia que tudo aquilo fosse mais
do que um devaneio, já que sua consciência a condenaria pra sempre
se o deixasse prosseguir e a convencesse a perdoá-lo. Ela não seria
a mesma boba e idiota que ficou noiva de um canalha. Não mais. Não
deixaria isso acontecer de novo. Não queria se envolver novamente.
Eles estavam abraçados
contra a parede, em meio a beijos e carinhos, quando Frasão entra na
sala junto com Janete, que carregava uma caixa de arquivos. O casal
percebeu que tinham expectadores, pouco tarde.
- Ah meu Deus! - Janete
tapa a boca, tentando inútilmente abafar o grito de surpresa. Sorte
a porta estar fechada, ou o espanto seria de toda a empresa.
- Não é nada disso...
Janete... - Rosa diz se recompondo, mas Claude não se afastou dela,
como ela previa.
-E o que é enton? - ele
a encara. Frasão arrasta Janete pra fora da sala e eles nem percebem
novamente. Só tinham olhos um para o outro.
- O que?... - Rosa tenta pensar numa resposta, mas Claude preferiu a prática, e a beijou prendendo gentilmente os pulsos dela contra a parede.
-Non seja ton cruel,
Rosa... - ele aspira o pescoço dela
-Você é o mestre aqui
Claude. Não tem ninguém aqui mais cruel do que você... - ela o
desafia. Mas ele lhe morde o lábio como resposta
-Será que você ainda
não percebeu? Quem perdeu aqui fui eu... Rosa me dá só uma chance
de te mostrar que nós dois juntos podemos funcionar ton ton bem –
ele a beija até deixá-la sem ar
-Hoje você está mais
piegas do que de costume... - ela finalmente sorri, enquanto ele lhe
beija a bochecha
-Por favor, almoça
comigo hoje? Precisamos conversar, hã?
-Conversar é?... - Ela
zomba sorrindo. O que Claude não resiste, se aproxima dela novamente,
olhando em seus olhos
- Tudo o que você
quiser, meu amor. - ele a deixa sem ar, antes mesmo de a tocar desta
vez.
A porta se abre
novamente, em um momento bastante inconveniente. Elizabeth e John
Smith, donos de uma multinacional bilionária e investidores em
potencial da construtora Geraldy, presencia o dono da empresa
agarrando uma funcionária – deduzindo pelo crachá de Rosa,
secretária presidencial.
-Bom dia, doutor
Geraldy!- John arrisca, contra sua vontade, pois sua esposa o
acotovelou.
Um fio gelado
serpenteia a espinha dos dois pegos em flagrante, paralisando-os.
-Bo-om dia, mister e
misses Smith! - Claude força um sorriso amarelo. Mas os dois
permaneciam frígidos e sérios.
-No me apresenta, a
moça?- Elizabeth olha Rosa com desconfiança.
-Ah, sim, claro. Essa é
Serafina Rosa, minha namorada.
-Owww... parabéns
Claude! Ela é mui linda! - John se anima, mas Elizabeth se mantém
séria, encarando Rosa.
- Namorada? Mas su
namorada no se chamava Nara? - só então Rosa percebe que estavam
falando algo sobre ela, porque os três a encaravam. Ela olha pra
Claude com cara de reprovação.
- é... mas non estamos
mais juntos non... nunca foi sério...
- Ouvi mesmo dizer que
senhor no é sério ….
-Ah, isso non é
verdade, eu sou sério, um homem sério. Non é cherrie? - Claude
afaga a mão de Rosa, que há muito segurava.
-Sim, muito. Sério até
demais... - Rosa abaixa a cabeça.
-Tudo bem, dear? - a
americana encara o casal, sempre com semblante desconfiado.
-Está, está sim... se
me dão licença, não quero atrapalhá-los mais, com licença... -
Rosa ia se afastando de Claude, mas ele a acompanha até a porta, e
antes de deixá-la sair a beija rapidamente nos lábios, sob olhar
atendo do casal Smith.
Depois de todos
acomodados na sala, a americana corta o assunto de negócios drasticamente
- Espero que Rosa non
seja mais uma de suas conquistas, doctor Geraldy...
-Hã?... ah non... -
Claude engole em seco- Ela é muito especial... non é como as outras
non...
-Os homens dizem o
mesmo de todas, non é mesmo John?
-Se você diz, my
dear...
- Ela parece especial
mesmo doctor Claude... gostaria de conhecê-la melhor...
-Tive uma idea...
porque não vamos todos almoçar juntos hoje, hã? O senhor, sua
namorada e nós?
-Excelent idea darling!
- a americana esboça pela primeira vez um sorriso
-Claro... ótima
ideia... - Claude murcha.. Não só seus planos foram de água a
baixo, mas também seus negócios pareciam em xeque.
-O quê?
-Eles se convidaram,
hã?
-Mas eu nem tinha dito
que ia!
-Rosa.. por favor... -
ele tenta se aproximar , mas ela dá um passo atrás, o fazendo
parar. Impotente diante daquela moça baixinha que o fulminava.
- Nãao...
- Esse investimento é
tudo o que nós precisamos pra deslanchar essa empresa, tirar ela
dessa estagnaçon, quitar as dívidas!
-Claude...
-Eu tô te implorando,
hã?...
-E essa história de
namoro? Como você me apronta uma dessas assim?
-Mas eu já ia te pedir
em namoro no almoço... - ele se aproxima novamente, e diante da
revelação ela nem se move. Ele sorri pensando em beijá-la mas são
interrompidos
- E os pombinhos não
vem almoçar com a gente? Vamos naquele restaurante mexicano
maravilhoso da esquina. - diz Frazão, já se aprontando para sair,
Janete espera timidamente ao lado da porta.
- Non Frazon, vamos ao
capucci com os americanos. - Claude revira os olhos
- Capucci? Sério?
Sempre quis conhecer esse restaurante!- Rosa sorri
-Isso quer dizer afinal
que você aceita, hã?- o francês abre um sorriso maroto. Frazão e
Janete se entreolham sorrindo
-Tenho só uma
condição.
-Hm.. e qual é?
-Só vou se você
fingir estar de dieta!
-O que? Num restaurante
italiano de dieta? Tá louca é?
-Esse é o ponto. Quero
levar alguma vantagem afinal.
-Ela quer ver você
sofrer Claude!- sussurra Frazão, mas todos ouvem e riem, menos o
próprio, que faz uma carranca.
-Serafina...
-Oui mon amor? - Rosa o
provoca, piscando-lhe as pestanas
-Vamos logo, hã?