quarta-feira, 10 de junho de 2015

Crônicas de U. R. C. A - "A noite" (parte 2)






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-Non fica aí parado, leva logo essa carta pra ela, vai!

-Ei, mas oque que é isso, francês? Tá achando oque? Nunca falou comigo desse jeito. Hunf.
Os dois se encaram.

-Só levo se me pedir com jeitinho.

-Porfavorzinho? - Claude revira os olhos com ironia

-Tá, mas só porque foi engraçado você fazendo biquinho. - Frazão toma a carta dele- Vou estar mais atento na próxima, e tirar uma foto!

-Para de rir, seu palhaço. E anda logo! Vai fazer oque eu te pedi ou non?

-Mas é um cavalo mesmo, hein, Claude? Você não me merece... e nem merece a Rosa também.

Frazão sai da sala e deixa um francês irritado e ansioso.


- Droga de vida... que sais ces't merde?! - Claude bagunça os cabelos num gesto de desespero.





-Traz a tesoura!

-Oque?! - a ruga entre os olhos de Janete se agravam- Vai cortar a carta? Mas e...

-Vou cortar aquele francês em pedacinhos bem pequenos! - a moça se levanta e dá um passo torto, depois dois mas antes que ela firme o terceiro, Claude abre a porta, fazendo ela cambalear pra trás. Era como se ela tivesse desistido, naquele momento.

-Rosa!- Claude a observa como se nunca tivesse tirado os olhos dela. - Está pálida! Tá tudo bem?

A moça suspira, ainda estagnada no mesmo lugar, com um braço estendido, apoiando-se na parede. Os olhos arregalados denunciando sua fragilidade

-Não! E não se aproxime!

-Eu.. mon Dieu.. vem comigo até minha sala, por favor?

-Doutor Claude, eu lamento ter de cruzar com o senhor todos os dias, mas ainda tenho o meu aviso pra cumprir, e eu prometi que o cumpriria, e não pretendo faltar com minha palavra. Mas o senhor está agora me tentando a sair por aquela porta e não olhar pra trás... nunca mais!

-ei, mas que nuvem de chumbo é essa pelo ar? - Frazao aparece com uma maquete nas mãos, e a coloca sobre a mesa de Janete, como se pesasse mil quilos.

-Frazon, me ajuda aqui, hã?

-Rosa querida, viu como a poluição está no auge nessa cidade? Mal consigo respirar – O advogado afrouxa o colarinho e se abana com uma mão

-Eu jamais pensei que seria capaz de odiar tanto um emprego quanto odeio este! - Rosa diz entre os dentes, se mantendo de costas para os dois.

-Oque você fez agora?- O advogado sussurra para o amigo, sem tirar os olhos de Rosa

-Eu? Mon Die non fiz nada! Essa maluca que tá com uma tesoura nas mons

-A carta! O que você escreveu? Você nem me deixou abrir o envelope!

-Frazon, discutiremos isso mais tarde. Agora preciso fazer essa mulher entrar em minha sala imediatamente, hã?

-Ei, Rosa! não faça isso! Eu queria ler essa carta! Não... droga!- Frazão dá um muchocho. Rosa caminha displicentemente até a lixeira, onde joga os restos da carta que Claude lhe escrevera.

-Será que entendeu agora? - ela pergunta para Claude, que a fulmina- não quero papo com você, nunca mais!



-Mulherzinha irritante!- o francês se joga em sua cadeira

-Ah admite que tá gamado nela, anda! - Frazão fecha a porta atrás de si.

-Frazon, quando você vai entender que eu non tenho mais coraçon pra me apaixonar por ninguém?

-Não tem mesmo, porque já é da Rosa.

-É de... - Claude se vira fulminando o amigo- Oque??

-Ah francês, não vai perder essa moça por uma bobeira desmedida que é essa de você ficar julgando ela sem nem saber do que realmente aconteceu. Vocês se desencontraram, e nem um nem o outro conversou, já foi tirando conclusões...

-Olha por favor... chega disso.

-Mas e a carta?

-De novo isso?

-Conta de uma vez, anda!

-Frazon você é um enxerido. Mas nem era uma carta. Era um bilhete... Escrevi uma pequena mensagem... um quase pedido de desculpas... com o endereço de um restaurante e um convite pra jantar hoje a noite....

-Hummm … e você não ia me contar né? Mas é um salafrário mesmo... ainda tem coragem de mentir pra mim, de negar quando falo que você tá caído de quatro patas por ela...

-Frazon.... Vamos trabalhar, hã? - O francês entrega uma pasta empanturrada de papéis pra Frasão

-Ok... você quem perde, não eu.

A tarde seguiu silenciosa. E quem mais falou em trabalhar, menos o fez. Claude passara a tarde com uma tal Rosa enjaulada no jardim de seus sonhos. Mas não mais a cultivando e admirando, mas fulminando em seus pensamentos, tentando fazê-la morrer, murchar. Pena que agora ele sabia, que se isso acontecesse, ele deixaria de existir.
Não é possível. É muito sentimento pra pouca razão...

- Com licença. - Rosa entra na sala, meio cabisbaixa. Claude a encarou de boca seca. Ali estava ela, sempre delicada. E ele se sentia uma montanha sentado naquela cadeira. Tão pesado e incapaz de se mover.

- Pode falar, minha musa. - Frasão diz sorridente, olhando de lado para o amigo, que sentiu como se tivesse sido esbofeteado.

- Esse fax acabou de chegar, e aqui diz urgente. Eu trouxe pra o senhor analisar ….

- Qual assunto, além da urgência?

- Compex transportadora.

-Ah essa parte logística não é comigo... Claude? - chamou Frasão. Mas o francês permanecia olhando pra porta. Nervoso com a presença de Rosa. E ela lhe ordenara que não lhe dirigisse a palavra. Ah, mas quem era ela pra lhe dar ordens?

-Doutor! - Rosa o chama. E então imediatamente seus olhos se encontram.

-Oui?- Ele a encara. E nem percebe que ela se aproxima com os papéis e os coloca sobre a mesa a sua frente.

- A comex transportadora Claude. Você brigou tanto pra conseguir o frete com eles! - Frasão diz sério, com tom profissional. Mas por dentro ria e ria do amigo babando pela Rosa.

- Bom, com licença. - Rosa vira as costas e sai como um foguete. Se sentia tão intimidada!




Uma semana inteira. Rosa sentia-se tonta. Mal comia, mal dormia. O tempo não passava! Queria ver-se livre de toda essa situação... Livre de Claude!

- Bom dia! - a voz dele soa pela recepção. Mais uma polegada e a água que Rosa tomava vazaria através do copo plástico. Ela ainda prendia a respiração, após todos responderem ao patrão.

- Dona Rosa? - ele a chama. Ela matém-se estática, de costas para ele. - Queira me acompanhar até a diretoria, por favor?

- Hm... precisa ser agora? - Rosa consegue responder. - Estou terminando de redigir um documento extenso, se eu ir fazer outra coisa terei de revisá-lo umas três vezes...

- Precisa sim. - ele a olhou profundamente. Ele sabia. -pensa ela. Sabia que não era o documento. Era os dois sozinhos na sala o problema. Frasão não chegara ainda. Ela sabia que ele sabia.

- Ok. Já vou... - ela põe o copo no aparador, e pensa em se recompor antes de seguí-lo, mas ele entrelaça o braço dela ao dele.

Todos na recepção os observam. Rosa sentia tantas coisas com aquele simples contato... que mal percebeu quando ele a conduziu até a sala, e fechou a porta atrás deles.
Os dois se encaram

- Doutor , oquê é tão urgente assim? - um breve momento, e ele estava perigosamente perto demais.

-Isso! - Claude a beija com toda a saudade guardada.

Por uns momentos, eles se esqueceram do mundo exterior, só havia os dois ali naquela sala. Claude tentava falar algo, talvez formular um pedido de desculpas, mas Rosa não deixava ele falar. Ela temia que tudo aquilo fosse mais do que um devaneio, já que sua consciência a condenaria pra sempre se o deixasse prosseguir e a convencesse a perdoá-lo. Ela não seria a mesma boba e idiota que ficou noiva de um canalha. Não mais. Não deixaria isso acontecer de novo. Não queria se envolver novamente.

Eles estavam abraçados contra a parede, em meio a beijos e carinhos, quando Frasão entra na sala junto com Janete, que carregava uma caixa de arquivos. O casal percebeu que tinham expectadores, pouco tarde.

- Ah meu Deus! - Janete tapa a boca, tentando inútilmente abafar o grito de surpresa. Sorte a porta estar fechada, ou o espanto seria de toda a empresa.

- Não é nada disso... Janete... - Rosa diz se recompondo, mas Claude não se afastou dela, como ela previa.

-E o que é enton? - ele a encara. Frasão arrasta Janete pra fora da sala e eles nem percebem novamente. Só tinham olhos um para o outro.

- O que?... - Rosa tenta pensar numa resposta, mas Claude preferiu a prática, e a beijou prendendo gentilmente os pulsos dela contra a parede.

-Non seja ton cruel, Rosa... - ele aspira o pescoço dela

-Você é o mestre aqui Claude. Não tem ninguém aqui mais cruel do que você... - ela o desafia. Mas ele lhe morde o lábio como resposta

-Será que você ainda não percebeu? Quem perdeu aqui fui eu... Rosa me dá só uma chance de te mostrar que nós dois juntos podemos funcionar ton ton bem – ele a beija até deixá-la sem ar

-Hoje você está mais piegas do que de costume... - ela finalmente sorri, enquanto ele lhe beija a bochecha

-Por favor, almoça comigo hoje? Precisamos conversar, hã?

-Conversar é?... - Ela zomba sorrindo. O que Claude não resiste, se aproxima dela novamente, olhando em seus olhos

- Tudo o que você quiser, meu amor. - ele a deixa sem ar, antes mesmo de a tocar desta vez.


A porta se abre novamente, em um momento bastante inconveniente. Elizabeth e John Smith, donos de uma multinacional bilionária e investidores em potencial da construtora Geraldy, presencia o dono da empresa agarrando uma funcionária – deduzindo pelo crachá de Rosa, secretária presidencial.

-Bom dia, doutor Geraldy!- John arrisca, contra sua vontade, pois sua esposa o acotovelou.

Um fio gelado serpenteia a espinha dos dois pegos em flagrante, paralisando-os.

-Bo-om dia, mister e misses Smith! - Claude força um sorriso amarelo. Mas os dois permaneciam frígidos e sérios.

-No me apresenta, a moça?- Elizabeth olha Rosa com desconfiança.

-Ah, sim, claro. Essa é Serafina Rosa, minha namorada.

-Owww... parabéns Claude! Ela é mui linda! - John se anima, mas Elizabeth se mantém séria, encarando Rosa.

- Namorada? Mas su namorada no se chamava Nara? - só então Rosa percebe que estavam falando algo sobre ela, porque os três a encaravam. Ela olha pra Claude com cara de reprovação.

- é... mas non estamos mais juntos non... nunca foi sério...

- Ouvi mesmo dizer que senhor no é sério ….

-Ah, isso non é verdade, eu sou sério, um homem sério. Non é cherrie? - Claude afaga a mão de Rosa, que há muito segurava.

-Sim, muito. Sério até demais... - Rosa abaixa a cabeça.

-Tudo bem, dear? - a americana encara o casal, sempre com semblante desconfiado.

-Está, está sim... se me dão licença, não quero atrapalhá-los mais, com licença... - Rosa ia se afastando de Claude, mas ele a acompanha até a porta, e antes de deixá-la sair a beija rapidamente nos lábios, sob olhar atendo do casal Smith.

Depois de todos acomodados na sala, a americana corta o assunto de negócios drasticamente

- Espero que Rosa non seja mais uma de suas conquistas, doctor Geraldy...

-Hã?... ah non... - Claude engole em seco- Ela é muito especial... non é como as outras non...

-Os homens dizem o mesmo de todas, non é mesmo John?

-Se você diz, my dear...

- Ela parece especial mesmo doctor Claude... gostaria de conhecê-la melhor...

-Tive uma idea... porque não vamos todos almoçar juntos hoje, hã? O senhor, sua namorada e nós?

-Excelent idea darling! - a americana esboça pela primeira vez um sorriso

-Claro... ótima ideia... - Claude murcha.. Não só seus planos foram de água a baixo, mas também seus negócios pareciam em xeque.




-O quê?

-Eles se convidaram, hã?

-Mas eu nem tinha dito que ia!

-Rosa.. por favor... - ele tenta se aproximar , mas ela dá um passo atrás, o fazendo parar. Impotente diante daquela moça baixinha que o fulminava.

- Nãao...

- Esse investimento é tudo o que nós precisamos pra deslanchar essa empresa, tirar ela dessa estagnaçon, quitar as dívidas!


-Claude...

-Eu tô te implorando, hã?...

-E essa história de namoro? Como você me apronta uma dessas assim?

-Mas eu já ia te pedir em namoro no almoço... - ele se aproxima novamente, e diante da revelação ela nem se move. Ele sorri pensando em beijá-la mas são interrompidos

- E os pombinhos não vem almoçar com a gente? Vamos naquele restaurante mexicano maravilhoso da esquina. - diz Frazão, já se aprontando para sair, Janete espera timidamente ao lado da porta.

- Non Frazon, vamos ao capucci com os americanos. - Claude revira os olhos

- Capucci? Sério? Sempre quis conhecer esse restaurante!- Rosa sorri

-Isso quer dizer afinal que você aceita, hã?- o francês abre um sorriso maroto. Frazão e Janete se entreolham sorrindo
-Tenho só uma condição.

-Hm.. e qual é?

-Só vou se você fingir estar de dieta!

-O que? Num restaurante italiano de dieta? Tá louca é?

-Esse é o ponto. Quero levar alguma vantagem afinal.

-Ela quer ver você sofrer Claude!- sussurra Frazão, mas todos ouvem e riem, menos o próprio, que faz uma carranca.

-Serafina...

-Oui mon amor? - Rosa o provoca, piscando-lhe as pestanas

-Vamos logo, hã?