domingo, 27 de abril de 2014

Capítulo 57- Papai



 Le Eternel Amour
Tulipe Rouge




Apanho um guarda-chuva amarelo gema, pertencente a ela. Saio em meio a chuva barulhenta e fria. A aguardo no portão. Ou portinha, para ser mais adequado.
E de repente ela desce do táxi, e quando me vê, dá um pequeno grunhido enquanto corre em minha direção.

- Maluco! O quê está fazendo aqui nessa chuva?!

- Vim te esperar, ué. - sorrio enquanto a puxo para o guarda-chuva. - Vem, vamos entrar.
Ela me abraça e caminhamos até a varanda.

- Demorei muito?- ela sorri, tirando o sobretudo ensopado

- Non. Só a minha vida toda, hã? – dou uma piscadela e a reverencio para que passe pela porta.

-Hum.. – Rosa levanta as sobrancelhas e entra na casa com ar dissimuladamente desconfiado.- Cadê o Caleb?

-Está na cozinha, nos esperando para o jantar. Quer subir? Nós vamos terminar a mesa e te esperamos lá.

-Tá..  – Ela põe a mão no corrimão mas para e me encara- Meu Deus! Desse jeito eu vou ficar mimada!-  dá um sorriso largo e desce um degrau para me dar um beijo, saltando as escadas em seguida.

- Non demore!

Na cozinha encontro Caleb arrumando as talheres, como num jantar de natal. Sorrio.

-Ual, Caleb! Quanta dedicaçón. Você deveria seguir carreira, ficaria rico. Ou mais rico. – pondero abrindo o forno. -Está tudo perfeito!

-Mas eu não sou rico. –  dá os ombros – Você é, e mamãe é também, um pouco. Mas eu não.

-Tá certo, filho. Mas pelo que vejo, será um magnata muito mais influente que todos nós juntos, hã? – bagunço ainda mais os cabelos do pequeno, que me encara com olhos brilhantes.

-Quer saber, deixa pra lá. – Vou chamar mamãe.
Ele sai e eu fico sentado olhando a mesa, com um sorriso de lado, com ideias fervilhando na mente.

-Pronto! Ah, estou muito melhor. Lá fora estava tão frio! – Rosa aparece sorrindo, mas acho a animação dela meio exagerada e nervosa.


-Está bem mesmo, cherri?- pergunto tentando parecer calmo, mas debaixo da mesa minhas pernas tremem.

-Estou, estou sim. –  sorri de um jeito nervoso, com a boca tremendo levemente e os olhos escondendo lágrimas. – Estou animada com a nossa volta à Paris e... – ela para e suspira, e me olha de cabeça curvada- Eu..



quinta-feira, 10 de abril de 2014

Capitulo 56- De onde vem os bebês






Le Eternel Amour

Tulipe Rouge




Quanto amor pode caber em um só coração? E quanta dor? 
Acredito que as duas medidas são dadas ao infinito. Não se mede dor ou amor. Ou dói ou não. Ou se ama ou não se ama.
Mas sensações se medem. Por isso as pessoas dizem: Muito amor, pouca dor. Mas para mim, são coisas absolutas. Ou estão lá, ou não estão.

Vendo os olhos tristes e o sorriso fadigado no lindo rosto de Rosa,  me dou conta de que cabe um universo inteiro em mim. Porque mesmo com toda a dor que estou sentindo, o imenso e imensurável amor que tenho por ela está bem aqui. Sempre esteve. 


-Você quer mais suco? - Rosa bagunça os cabelos de Caleb carinhosamente, enquanto fita os olhos dele de forma tão doce que chego a me encher de ternura só em observá-los

-Não mamam.. Merci.

- Então faça o seguinte: Suba, tome um banho e pode jogar videogame. Oque acha?

-Hm... Em vés de jogar, eu posso tocar o piano? - o menino tristonho deixa transparecer um brilho nos olhos, enquanto me encara ansioso

- Claro que pode, filho. - digo em tom firme e calmo. Mas a forma com que Rosa me inquire me deixa um tanto sem jeito

-Está tudo bem, Claude?

- Está sim. Pode ir Caleb. - sorrio para Caleb que apenas balança a cabeça e sobe as escadas correndo.

Rosa se senta no braço do sofá ainda me olhando com uma expressão questionadora

-Oque foi?

- É que... essa foi a primeira vez que você chamou o Caleb de filho. Pelo menos na minha frente, e diretamente pra ele.- ela suspira

-hm.. E... Há algo... Errado em eu chamar Caleb de filho? Você... se incomoda?

-Eu.. não sei Claude. Eu... Ainda não me acostumei com isso sabe.. Eu... Caleb nunca teve um pai. Não um pai vivo, que interagisse com.. a nossa rotina.

- Com seus comandos.. - sorrio e a puxo para meu colo. 

- Éé!- ela sorri manhosa e me abraça

- Mas é oque ele é. Non seja ton possessiva, cherri. - a olho de esgelha- non sabia que era ton ciumenta, hã.

-Eu sei... mas é que..

-Eu poderia dizer que você non fez ele sozinha.. Mas non posso, né? Tudo bem que eu tive participaçón...

-Claude! Eu vou te matar!- ela bate no meu ombro sorrindo enquanto seu rosto se converte em carmim

- Non pode me matar non. - sussurro em sua orelha - Non antes disso.

Beijo Rosa com todo o amor que sinto. Com toda a vida que ela me trouxe, dou tudo a ela.
E digo que a amo quantas vezes quanto posso repetir. Até ela se cansar de ouvir. 
Espero que ela consiga entender o quanto a amo. O quanto ela significa pra mim.

Caminho pelo corredor, seguindo o som melodramático vindo do sótão. O antigo mini estúdio de Rachel. As lembranças me fazem ter calafrios.
- Eu sei que está cedo, mas acho melhor você ir pra cama, Caleb. - sugiro calmamente, o observando da porta tocar o piano como se fosse a melhor coisa a se fazer no mundo. Estremeço só de pensar que ele é igualzinho a mim. E tocar piano está para escape, não para diversão.

- Mas porque? Se ainda é cedo?- ele dá os ombros e continua tocando