Le Eternel Amour
Tulipe
Rouge
Alice
Lembro
daquele dia, uma semana antes de meus tios voltarem, acordei cedo,
mas não fui ao colégio. Ouço a voz de mamãe se erguer na manhã
silenciosa. Sigo a voz...
E vejo
Caleb abraçado aos joelhos no chão do corredor. Os olhinhos
acompanhando algo como uma formiga tonta no chão. A seu lado, uma
porta aberta, por onde escapa uma voz bastante aborrecida. Voz
solitária a descotir com um telefone.
-Você
não devia ficar aí ouvindo conversa de adulto, Le.
-Não
enche, Alice. E além do mais, estão falando de mim, não percebeu?
Faz mais de uma semana que só descutem! E tudo por minha causa.
-O
seus pais estão chegando a qualquer momento, primo. É melhor você
desmanchar essa carranca ai e botar um sorriso no rosto.
-Eu
não vou fingir que estou feliz quando eu não estou. Só causo
problemas pra todo mundo. Minha mãe foi em bora por minha culpa. E
agora eles correm perigo de novo por minha culpa.
-Mas
é claro que não! De onde você tira essas ideias auto-destrutivas
ein?
-Ah
nem vem. Eu não preciso mais de terapia, já estou no ápice da
minha inteligência emocional.
-Com
nem doze anos?
-Não
ria de mim. Eu não tenho culpa de você ser uma adolescente infantil
e mimada. - Caleb revira os olhos, virando a cabeça pro lado com
desdém.
-Ei,
pode parando com esses perjorativos e o tom agressivo! Ma che?! -
Tento segurar minha raiva. Mas esse menino saiu à tia Rosa mesmo,
sem papas na língua.
-Ficcanaso!
-Io
non sono ficcanaso!- grito. A porta do escritório de papai se abre e
mamãe nos olha espantada
-Ei
mais oque é isso aqui? Que tá acontecendo nessa casa ein?
-
Ele que começou. - aponto, percebendo que ele faz o mesmo gesto pra
mim.
-Os dois, pro quarto agora!
-Como
mamã? Se eu divido o meu quarto com questo ingrato?
-Ahhh
mas vocês me deixam maluca! Esse dom Giovanni também! Pede pra
ensinar vocês a falar italiano mas só ensinou os chingamentos, foi?
- berra. Eu vou pra sala e Caleb salta as escadas.
Claude
Parecia que eu estava sonhando. Mas tudo aquilo aconteceu, fomos de volta à França com o peso da saudade em nossos corações. Lá estava Rosa...
Ela
olha para a rua estática. Como se tivesse medo de atravessá-la e de
repente uma catastrofe acontecer. Como um trem expresso passar ou uma
mina terrestre explodir.
-Tudo
bem, chérie?- beijo sua mão
-Amor,
eu estou com tanta vergonha...
-Mas
vergonha de quê, amour? - ajeito o lenço que ela tem sob o chapéu.
Tento decifrar a face coberta por enormes e negros óculos de sol.
-Isso
tudo não estaria acontecendo, se eu tivesse feito as coisas direito.
Eu deveria ter dito a você que eu estava sendo ameaçada e que...
-Serafina...
- a abraço. A olho mais uma vez. O disfarce lhe cai como uma luva,
já que ela parece uma elegante senhora com um lenço indiano em
lugar dos cabelos e pálida com a fragilidade de uma paciente
oncológica. Estremeço
-Oque
foi?
-Non
fique assim ton frágil. Parece que vai se quebrar de repente, como
as rosas de cristal que ganhamos no casamento.
-Elas
se quebraram? - ela me olha confusa
-Eu
as quebrei. - admito, porém sem remorço.
-E
porquê? Estava tão furioso comigo assim?
-Non.
Estava furioso comigo. Eu achava que tinha ido em bora porque non
quisesse ficar a meu lado. Que eu lhe fosse insuportável de
conviver.
-Mai.
Mai... - ela me abraça. - Mesmo que eu não quisesse, amor, eu
morreria. Não posso ficar longe de você, entende?
-Non
tanto quanto eu de você, Serafina.
-Vamos?
-Criou
coragem, foi?
-Com
você do meu lado, eu posso tudo. - ela sorri.