domingo, 22 de novembro de 2015

Capítulo 66- Prelúdio do fim




Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


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Alice


Lembro daquele dia, uma semana antes de meus tios voltarem, acordei cedo, mas não fui ao colégio. Ouço a voz de mamãe se erguer na manhã silenciosa. Sigo a voz...

E vejo Caleb abraçado aos joelhos no chão do corredor. Os olhinhos acompanhando algo como uma formiga tonta no chão. A seu lado, uma porta aberta, por onde escapa uma voz bastante aborrecida. Voz solitária a descotir com um telefone.

-Você não devia ficar aí ouvindo conversa de adulto, Le.

-Não enche, Alice. E além do mais, estão falando de mim, não percebeu? Faz mais de uma semana que só descutem! E tudo por minha causa.

-O seus pais estão chegando a qualquer momento, primo. É melhor você desmanchar essa carranca ai e botar um sorriso no rosto.

-Eu não vou fingir que estou feliz quando eu não estou. Só causo problemas pra todo mundo. Minha mãe foi em bora por minha culpa. E agora eles correm perigo de novo por minha culpa.

-Mas é claro que não! De onde você tira essas ideias auto-destrutivas ein?

-Ah nem vem. Eu não preciso mais de terapia, já estou no ápice da minha inteligência emocional.

-Com nem doze anos?

-Não ria de mim. Eu não tenho culpa de você ser uma adolescente infantil e mimada. - Caleb revira os olhos, virando a cabeça pro lado com desdém.

-Ei, pode parando com esses perjorativos e o tom agressivo! Ma che?! - Tento segurar minha raiva. Mas esse menino saiu à tia Rosa mesmo, sem papas na língua.

-Ficcanaso!

-Io non sono ficcanaso!- grito. A porta do escritório de papai se abre e mamãe nos olha espantada


-Ei mais oque é isso aqui? Que tá acontecendo nessa casa ein?

- Ele que começou. - aponto, percebendo que ele faz o mesmo gesto pra mim.

-Os dois, pro quarto agora!

-Como mamã? Se eu divido o meu quarto com questo ingrato?

-Ahhh mas vocês me deixam maluca! Esse dom Giovanni também! Pede pra ensinar vocês a falar italiano mas só ensinou os chingamentos, foi? - berra. Eu vou pra sala e Caleb salta as escadas.


Claude


Parecia que eu estava sonhando. Mas tudo aquilo aconteceu, fomos de volta à França com o peso da saudade em nossos corações. Lá estava Rosa...

Ela olha para a rua estática. Como se tivesse medo de atravessá-la e de repente uma catastrofe acontecer. Como um trem expresso passar ou uma mina terrestre explodir.

-Tudo bem, chérie?- beijo sua mão

-Amor, eu estou com tanta vergonha...

-Mas vergonha de quê, amour? - ajeito o lenço que ela tem sob o chapéu. Tento decifrar a face coberta por enormes e negros óculos de sol.

-Isso tudo não estaria acontecendo, se eu tivesse feito as coisas direito. Eu deveria ter dito a você que eu estava sendo ameaçada e que...

-Serafina... - a abraço. A olho mais uma vez. O disfarce lhe cai como uma luva, já que ela parece uma elegante senhora com um lenço indiano em lugar dos cabelos e pálida com a fragilidade de uma paciente oncológica. Estremeço

-Oque foi?

-Non fique assim ton frágil. Parece que vai se quebrar de repente, como as rosas de cristal que ganhamos no casamento.

-Elas se quebraram? - ela me olha confusa

-Eu as quebrei. - admito, porém sem remorço.

-E porquê? Estava tão furioso comigo assim?

-Non. Estava furioso comigo. Eu achava que tinha ido em bora porque non quisesse ficar a meu lado. Que eu lhe fosse insuportável de conviver.

-Mai. Mai... - ela me abraça. - Mesmo que eu não quisesse, amor, eu morreria. Não posso ficar longe de você, entende?

-Non tanto quanto eu de você, Serafina.

-Vamos?

-Criou coragem, foi?

-Com você do meu lado, eu posso tudo. - ela sorri.