segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Capítulo 45- Conversas



Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


...Devia ser mais divertido não devia?

- É...Vai ver é por que você não quer mesmo jogar.

- Isso nem é tão verdade assim.

- É só porque você não gosta de mim e foi obrigado a brincar comigo.

- Rachel?

-hum?

- Porque você fala português se o...seu pai é francês?

- Minha mãe era brasileira e minha babá também é. E tem meu avô e...

- Tá já entendi.

-....

- Que foi?

- Porque você e sua mãe falam português também sendo que são descendentes italianos?

- Ah é uma longa história. E chata também.

-Huh

- Você sente falta da sua mãe?

- É... as vezes... mas eu quase não sinto porque não conheci ela direito... Ela...morreu quando eu tinha uns quatro anos.

- Meu...pai...morreu antes de eu nascer.

- Eu lamento muito.

- É eu também...

- Escuta... e se agente fizesse um... esquema?

-Como assim esquema?

- Você queria ter um pai, eu queria ter uma mãe...

- E eu tenho mãe e você tem pai...

- Agente podia... Sei lá... fazer um... revesamento...

- sei não...

- Ah poxa como você é chato

- Ei! Você que é maluca...

- Não ri de mim!

- Mas você também está rindo!

- Não me enrola! Vai diz que aceita!

- Tá... supondo que eu aceite... Oque isso significa? Assinamos um contrato? Pacto de sangue?

- Báh, não... Agente aperta a mão.

-Ok... E agora?

-Agente precisa de um plano.

-Plano?

- É... Acho que...

- Que sorriso é esse?

-É que eu tive uma idéia! Agente precisa juntar os dois!

- Como assim Rachel?

- Ué... Agente precisa fazer os dois ficarem juntos... Como... Um casal.

- Como... Casal?

-É... Eles precisam se casar. Ai agente ia ter os dois ao mesmo tempo. A sua mãe ia ser minha mãe também...

 - E ... Espera... Teu pai mora em Marseille... Como agente faz?

- Ah sei lá... Agente pode... Passar um tempo morando lá e depois agente volta para cá pra Paris...

- Huh Paris é muito chata... Vamos todos pra Marseille que tem praia de verdade e ondas de verdade também.

- Ah eu gosto do Sena.

- Eu gosto do farol e do porto.

- Ah quer saber, montar outro grupo ia ser um trabalho muito duro...

- Que grupo?                

- Ei! Eu vi! Pode voltar uma casa seu sem vergonha!... E o MEU grupo...  cigales

- Ci oquê?

-Cigales. O nome de meu grupo...

- Fazem oque? Dançam Black? Balé?

- Ah eu odeio balé... Larguei e agora me dedico totalmente ao Blues e Jazz.

- Você gosta de Jazz?

- Oui! E olha... Sua rainha está em xequeee!!



“Engraçado... Eles... Conversam como se... Como se nada estivesse acontecendo. Como se nada fosse mais importante... Como se o Claude estivesse aqui... como se... Tudo estivesse bem.
Não parecem incomodados com a possibilidade de eu estar ouvindo a conversa, --e estou.

Não parecem dois órfãos unigênitos de famílias fracassadas. Mas dois... Irmãos. O que por pura ironia da vida não são.
Se pelo menos a Rachel fosse filha do Claude...
Se pelo menos Caleb não fosse filho do Claude... Seriam mais iguais... Ou... menos diferentes...

-Que droga!

-Mas...oque foi?- pergunto a Sérgio, que se desmonta no sofá a minha frente

- Nada é que... bom... estou feliz.

- Você está feliz? Mas...então porque essa cara?

- Acharam a Alice, Rosa!

- Deus do céu! Mas e onde? Como ela..está? Ela está bem?

- É...Ela foi localizada em Lille, não muito longe daqui. Mas...

- Onde está Janete? ham?- meus olhos se enchem de lágrimas

- Ela continua desaparecida e... a Alice está machucada.

-Como...machucada?

- O rosto dela... parece que... ela se feriu em arame farpado e cacos de vidro na fuga.

- Fuga? E de onde ela fugiu?

- Bem... parece que de uma espécie de orfanato clandestino... ainda não sei muito mas tem a ver com o tráfico de....

- Sérgio?- ele espreme os olhos e adormece


....

Voltamos de Lille com Alice dormindo e uma pilha de papéis sobre burocracias e processos jurídicos. E muitas Xerox da foto que Jane mais odiou entre todas as que ela tirou no verão passado... ela disse que aquelas foram as piores férias de todas também, porque não viajamos e ela ficou doente. Tinha pego catapora de um paciente muito bravinho...
Do Caleb. Foi muito engraçado.... E estou com saudades dela reclamar de não poder fazer as unhas com a mesma freqüência com que gostaria...

Alice vai ficar na minha casa também. No quarto de Caleb junto com Rachel. Caleb continuará comigo. A menos que queira a companhia de Sérgio. Ele anda tão solitário. Está afastado do trabalho por depressão e creio que não seria apropriado Alice ir pra casa por enquanto... ainda mais agora... ela precisará de colo de....

Sérgio

- Mãe?-Ela abre os olhinhos... sua cabeça em meu colo

- Oi amor...- Tento não parecer desesperado...Mas as lágrimas escorregam por minhas bochechas e uma até pinga na testa dela

- Papai?- ah como desejei ouvir esse chamado! Abraço-a com todo meu ser. Ela é parte de mim... e nunca mais vou deixá-la ir pra longe de meus olhos!

Alice passa a mão pelo próprio rosto e descobre as gazes... quero dizer...redescobre. Rosa já conversou com os médicos e parece que mais pra frente ela poderá remover as cicatrizes por cirurgia... o importante é que ela está bem... está aqui...

Somos fortes... e vamos conseguir juntar os cacos. E Jane está vindo eu sei. Esteja onde for... está a caminho. Está com saudades... Tanto quanto nós estamos.

-Você podia ao menos me dizer oque você pensa sobre mim, hã?

- Porque está perguntando isso Rosa?

- Porque... estou me sentindo estranha e... inútil.

- Ora mas oque é isso! Você está sendo maravilhosa! Como sempre foi mana!

- Grazie...Ma io so che que non è vero. Eu sinto.. sinto que eu poderia ter feito algo para que... Pra que as coisas fossem diferentes.. Olha só pra mim? A minha vida está toda louca... O pai do meu filho é irmão do homem que eu fiz o Caleb acreditar que fosse pai dele. Ele não sabia sequer da existência do Caleb... Nós nunca tivemos nada parecido com um romance e... Agora ele está desaparecido e eu sei que o inimigo dele... o mesmo farabuto que atirou no Tony... está lá... com ele nas mãos.

- Rosa... Você... por acaso sabe o porquê desse homem ai odiar tanto o Claude?

- Hm...

- Sabe?! Deus! E porque nunca contou pra ele? Ou pra... pra mim!?

- Sinto muito... mas foi um segredo que prometi guardar...

- Rosa...

- Eu sei que agora não faz mais sentido mas... eu prometi pro Tony...

- oque? Foi ele quem te contou?

- é...

ROSA

E do resto de nossa conversa daquele dia eu ainda me lembro... Ele olhou fundo nos meus olhos...

E num suspiro ainda disse:

- Tem certeza que quer saber?

Eu apenas assenti,sentido que com certeza em algum momento iria me arrepender.

- Ele é nosso irmão.

- Oquê?!- saltei do sofá

- É nosso meio-irmão na verdade...

- Tony... mas como assim? Ele é bastardo?

- Mais ou menos isso..

- Teu pai foi infiel a sua mãe?

- Non... O Carlos foi antes do meu pai casar...

- Mas como? Se ele..

-Rosa...

- Tá... pardon

- Ele conheceu a mãe do Carlos... Na mesma data que soube que ia se casar... Ele não conheceu minha mãe antes da véspera do casamento... Naquela noite ele foi à um bar... e lá conheceu uma cigana... filha do dono do lugar... foi ela quem atendeu ele no balcão. Ele disse que se apaixonou na mesma hora. E depois ele se casou... ele soube que a moça estava grávida... mas já era tarde. Ele ainda levou uma corça do meu avô... que pagou um dote à cigana... pra que ela fosse embora da cidade e jamais contasse nada a respeito da história... Meu avô era um homem severo... e não suportava a idéia de ter mais esse escândalo sujando o nome da família Geraldy...

- Nossa... Mas porque o Carlos...

- Carlo... Carlo na verdade... ele ... odiou mil vezes a família que o rejeitou... dizem que ele tem uma espécie de sociopatia... ele.. é doente. Sádico... Fazia coisas horríveis no quartel... isso o próprio Claude me contou...  Eu acho que o Carlos acha que nós somos os culpados por ele ter vivido uma vida miserável... e até... que somos responsáveis pelo assassinato de sua mãe.

- e..

-Sim, foi o meu avô o mandante desse crime. Eu li seu testamento... e suas horríveis confissões. O Claude acha que eu nãos sei de nada... que eu não entendo a raiva dele... Mas ele nem sabe dessa história e nem sabe que eu sei dos segredos sórdidos de nosso avô... que aliás, ele só suspeita.

- Mas Tony... como é que você consegue ser tão...

- Frio? Não Rosa... Não sou frio... Mas com tantos problemas... alguém tem que manter o controle não é? E mesmo que eu tenha de servir de mediador... no fim das contas... eu até prefiro ser. A última coisa que quero é ser um problema a mais.

- Você nunca será Jean...- o olho intensamente. Eu sabia que jamais esqueceria dele. E não esquecerei mesmo que queira.



sábado, 30 de julho de 2011

Ponto de encontro




Crônicas de U.R.C.A

Ele passava na rua... ela olhava as manchetes na banca. Ele se cansou dos cigarros, e jogou o maço inteiro no latão de lixo. Eles nunca ajudaram nem fizeram diferença. Já que ele mesmo nunca os experimentou por mais de cinco segundos. 
Estava ventando, mas não estava mais frio externamente do que internamente, para eles. Se o corpo é a casa da alma, que casa mais gelada eles foram arranjar!

 Ela sorriu para a senhora que disse um “Deus abençoe” pelo jornal que ela comprou. Ele espraguejou pela poça de lama que pisou.

Mas em tantas diferenças eles eram tão iguais! Podia parecer que não tinham nada em comum e que jamais se conheceriam. Não havia porquê se conhecerem. Mas talvez o tédio, ou a demora do ônibus... Algo talvez aconteceu. E talvez eles encontraram os olhares. E talvez eles começaram um jogo silencioso. E talvez eles sorriram de um menino e seu cachorro espertinho, que aproveitou a distração que o dono oferecia ao moço da barraca de cachorro-quente para derrubar, num golpe de focinho, uma lata cheia de salsichas.

Talvez eles se sentiram iguais naquele instante. Por se divertirem duma mesma cena. Por acompanharem a corrida do cachorro fugindo com os olhos. Mas como, como que o cão viu apenas aquela direção, como ele atravessou a rua e insanamente tentou passar pelo meio dos dois sem quase derrubar ambos?

Ela se desequilibrou, porque a fita do cão se enrolou em suas pernas, como num laço de caçada. Ela se inclinou para a frente e quase caiu sobre ele.
Ele a segurou pelos braços, e depois que ela se estabilizou sobre os pés novamente, ele soltou o cãozinho que ensaiava um pedido por piedade com seu choro. Eles riam alto, e depois que o menino virou a esquina, eles se deram conta de que não iria ser sempre assim. Que eles não olhariam sempre para a mesma direção. Ou não?

Nesse momento, espremeram os olhos, e se encararam com a mesma expressão de dúvida e como se seus lábios imóveis pudessem fazer questionamento. Mas não. Se olharam e de novo constataram que pela razão não haveria o porque de eles olharem para a mesma direção de novo.

..
Ela saltou do ônibus, ele ficou lá no último banco se perguntando “porquê ela sentou no primeiro?” A distância da ignorância os separava. Mas agora não mais tão distante eram, porque já não ignoravam a existência um do outro.
Ela agora sabia que aquele moço saltaria em algum ponto mais à diante. Talvez mais, talvez menos distante que o ponto final da cidade. Onde ele iria? Porque ela não poderia ir junto onde quer que fosse? Isso era tão irreal quanto o que a fazia pensar que jamais o veria novamente.
A sutil esperança. Aquela que ninguém pede para ter. ela vem como a fé. Você acredita, ou não. Não tem explicação, e é inquestionável. Ele sentia essa esperança. A de que encontraria a moça de novo. Ele sabia que a encontraria!
Como? Ah, a esperança maluca é que sabe.

Num dia não mais quente e nem muito diferente do cinza daquele outro eles se viram de longe. Se reconheceram!
Desespero sem causa aparente, como se uma porta fosse fechar e veja... ela se fechou. Ele não conseguiu entrar no ônibus. Ela apenas ouviu o murro que ele deu na lataria pouco antes do ônibus o deixar para trás. Ah não. Ela fechou os olhos e suspirou. Ele bufou pelo infortúnio. Mas uma vez, algo estava acontecendo silenciosamente.

Aquele desencontro só instigou ainda mais a imaginação dela.
Ele sentia que sua vida poderia mudar a qualquer momento.
Ela sabia que era louca por acreditar em contos de fadas.
Ele batia nas teclas com precisão e pouco mais de força que o necessário.
Onde estaria um em relação ao outro? Para resolver este caso, os cálculos dele não eram o suficiente. Para ela, desenhar algo que esboçasse seus pensamentos era um absurdo!

Ele e seus cálculos sentado junto à janela. O ônibus lotando aos poucos. Ela sobe a bordo com os olhos vidrados em psicologias que seu livro lhe ensinava.
Distração que veio mostrar, que certas coisas simplesmente acontecem. Sem mais.

Ela sentou e ele nem mesmo olhou quem estava a seu lado. Na verdade, ela também não o reconheceu. Ela sequer reparou no moço de cabeça baixa a seu lado.

“-Ei, com licença!” – poderia ser quem?... a voz do óbvio talvez... mas era uma moça estendendo um buquê de rosas vermelhas, cada flor com um laço em seu caule. O cheiro das rosas era notável... e os dois pares de olhos pousaram sobre elas. Ele enfim notou os cabelos dela. As mãos prendendo o livro, o pescoço comprido e delicado. Ele só podia sorrir.
Ela olhava ainda desvairada para a moça das flores, que sorria e pedia a contribuição que lhe cabia. Uma mão irrompeu o campo de visão dela, e a moça das flores recebeu a nota que ela lhe oferecia, e em seguida entregou uma das suas cheirosas rosas para a ‘mão misteriosa’.
Ela não queria, era um tanto constrangedor. Mas o impulso girou sua cabeça na direção do dono da rosa. E ela até se assustou um pouco, quando viu um largo sorriso se formar no rosto dele e olhos brilhantes faiscando um milhão de palavras à ela.
Ela sorriu também, e recebeu a rosa.

Naquele dia ela conheceu o estudante que lidava habilmente com os números e fazia cálculos complexos, mas sempre agia pela emoção. E naquele dia ele se surpreendeu com a quase psicóloga que não conseguia deixar a razão. Ambos descobriram que em tudo eram diferentes, que em nada eram parecidos. E isso era perfeito! Era perfeito porque um poderia ter no outro aquilo que não encontravam em si mesmos. Mais do que se completarem, eles faziam parte um do outro sem saber.

“-Meu nome é Rosa.”
“Je m’appelle Claude”

Eles sorriram. E desta vez, um para o outro.








segunda-feira, 25 de julho de 2011

Capitulo 44- Pourquoi la nuit est noire?


Le Eternel Amour
Tulipe Rouge



Dis-moi dis papa, Pourquoi le ciel est bleu
Dis-moi dis papa, Qui l'a rendu si bleu....

C'est un petit garçon, Qui a perdu son ballon, Un gros ballon bleu, Qui est monté jusqu'aux cieux...
Et voilà pourquoi depuis le ciel est bleu...
Et voilà pourquoi depuis le ciel est bleu...


Ah mas porque mãe? Nossa isso é muito chato!

- Caleb!- o olho intensamente, com cara de brava e irreverente. Ele arqueia a sombracelha, e vai em direção ao meu quarto. Engraçado, quando ele era menor, dormir no meu quarto era algo bom, para ele. Ele gostava. Na verdade, sei que ainda é. Mas ele quer marcar território. Ele está morrendo de ciúmes da Raquel. Eu sei que está. É muito engraçado isso...

...Dis-moi dis papa, Pourquoi la nuit est noire.
Dis-moi dis papa, Qui l'a rendue si noire
...C'est monsieur le soleil...Qui a souvent sommeil, Quand il va faire dodo...Il tire ses rideau. ...Et voilà pourquoi pourquoi la nuit est noire...
Et voilà pourquoi pourquoi la nuit est noire...

Ela assim nem parece ser tão hiperativa quanto o Claude disse... Dormindo... os olhos verdes escondidos sob as pálpebras tão cansadinhas... Hoje foi com certeza um dia bastante cansativo. Sim... uma semana tensa para todos nós.

-Espero que seu pai esteja bem, anjinho. Espero que o Claude esteja bem. Sei que ele nunca
vai te deixar.

Beijo a testa dela, e saio, deixando a porta entreaberta. Não sei... Mas acho que visto os traumas recentes, ela pode ter pesadelos.
Chego ao meu quarto finalmente, Caleb sentado na cabeceira, olhos atônitos. Eu dou um sorriso cansado

-Você não pode ficar com ciúmes filho, ela precisa de nós agora!

- É... eu sei mamãe, me desculpe, tá? Mas... eu acho estranho, você ficar mimando ela assim...

-Amor... ela está frágil. E além do mais, você sabe, ela não tem uma mãe pra amparar ela agora, ela precisa de mim!

- Ah mais eu também não tenho pai e não tem ninguém aqui pra me amparar por isso!

- Caleb! Olha pra mim?

- hm?

-Não diz isso, hã?

-Mãe olha só como são as coisas: na minha vida como a senhora sabe, a coisa que eu mais queria era ter meu pai. Ter ele junto de mim, aqui, presente.

-Você sabe que isso não foi possível.

- É. Não foi. Mesmo quando ele estava assim mais perto do que eu podia imaginar. Sabia de mim?

-Caleb do que você está falando filho?

- Do que? Mãe eu não sou mais um bebezinho não!

- Ah é sim. Agora, chega desse papo brabo, amanhã agente conversa, sim? Eu estou nocauteada!

-Hunf,

-Bonne nuit, mon petit garçon.

====

-é que ele me assusta as vezes, Sérgio!

- ah, mana, ele já tem dez anos, e é esperto que só.

- Tá...eu sei que devia estar mais preparada mas ouvir ele falar assim que nem adulto é muito chocante!

-Ai ai... vou começar a cobrar pela terapia, ein?

-Engraçadinho... mas você sabe, eu não tenho a mínima noção de como explicar pra ele que...

-...

-Espera... Sérgio... que cara é essa? Hm... oque...?

- Tá. Podia ser mais difícil então encare com firmeza, hã? O Caleb já sabe que o pai dele é o Claude.

-Oque? Você...?!

- Não. Não fui eu quem contou. Foi o avô dele.

- Oque?!

-É... o doutor Henry assim que acordou, quis falar com o Caleb.. eles tiveram uma longa conversa, a qual eu não ouvi né. Mais o fato é que o doutor Geraldy me informou, logo depois que o Caleb saiu correndo do quarto, que ele havia dito a verdade pro neto.

- Meu Deus....


- Mas está tudo bem já Rosa. O Caleb sabe em quais circunstancias ele foi concebido e porquê. Mas ele ainda não absorveu tudo. Você sabe o quanto foi difícil crescer sem a figura de um pai.

-É... eu sei sim.

- E agora que ele sabe que o Claude já sabia, e que mesmo assim não esteve presente...

- Ele sabe que eu...

- É. Ele sabe que o Claude não esteve presente porque você não permitiu. Mas pensa que ele deveria ter insistido e lutado por ele. E acha que ele não o fez por causa...

- Da Rachel. Ele deve achar que o Claude não queria ele porque já tinha a Rachel.

-Sabemos que isso em partes é verdade, porque se o Claude não tivesse Rachel, talvez ele se irasse mesmo, rodasse a baiana e viesse com tudo lutar pela guarda do Caleb... Mas em partes também porque ele simplesmente não queria mais sofrimentos. Já que tudo se baseava na vida e obra de Jean Antoine Geraldy e que você já havia passado por muita coisa....

-Ele sabia que tudo ficaria bem...- concordo cabisbaixa

- Ei... não fica assim. O Caleb te ama. Ele vai te entender. Sei que ele já te perdoou. Você conhece a tua cria não é? Ele só está meio incomodado e enciumado pela presença da filha do Claude, que por sinal, ele pensa que roubou o lugar dele no coração do pai.

-É. Você tem razão... mas é que eu não gosto nada disto...

-É...Compreendo...

-Ei...não fica assim você também, mano! Estou aqui com você, hã? Elas já aparecem!

Sérgio balança a cabeça

- Eu peço desculpas por encher ainda mais a sua vida com meus problemas...

-Não... estamos juntos nessa, não é?

- É. Você tem razão. Vamos vencer tudo isso juntos, eu sei!

Sorrimos em cumplicidade. Não um sorriso alegre em efetivo, mas um sorriso de esperança e certo otimismo  porque, afinal, estávamos juntos!















quinta-feira, 14 de julho de 2011

Capitulo 43- Fora do ar





Le Eternel Amour
Tulipe Rouge




“...Eu fugi na noite passada....
Me peguei longe de uma visão e um lugar que eu conheço.
Totalmente esmagado sobre minha pele
Essa confusão que eu coloquei você e o soco que te dei...
Foi  uma reação estranha
Alguém como você continuar do lado
E, em uma reação em cadeia
Eu estava pra baixo pedindo por um lugar para me esconder....”

Quando os seus olhos estão abertos, e mesmo assim você não enxerga.

Ah...Calleb....

Quando os seus olhos estão vidrados e mesmo sem piscar, você ainda não vê nada, e não há nada a perder...
Rachel...

Quando você procura num lugar onde não há nada... Quando você não sabe onde procurar...
Rosa....

O dia em que tudo se perdeu... Não... O dia em que eu perdi tudo...
>>>> 
-Tritec !!!!

Tento abrir os olhos...

- Tritec !!!

Dói... tudo em mim dói

- Traaaaa....- parece...som de... alguma espécie de “trilho”...metal...

-bunp!

Finalmente abri os olhos, eu sei que abri! Mas... a ausência de luz me emerge na escuridão... Frio... muito frio.
Tento me levantar, mas acabo engatinhando. Me sentindo cego... estou, ao que parece, num camburão. E o veículo não está deveras devagar. Mas sei que existe algum fator natural que o impeça de "voar" na pista... como...
- Neve? -  tento adivinhar oque toco na fenda da porta... e acertei, sem dúvidas é neve. Onde estarei?

Rosa
  

“Eu vi um braço quebrado
Máquinas irão quebrar, todas da forma que eu sei
Todas remendadas e limpas.
Vi na tela todas as pedras que eu joguei...”

Hm...
 Estou... fora do ar...

Vem uma vozinha... um tanto rouca e fina ao mesmo tempo... como uma brisa que corre pela rua... e aí, faz as vidraças zumbirem...
Fraqueza e fortaleza... rimam... mas não necessariamente  parecidas... são... antônimas... são... antagônicas uma da outra...

-Psiiiiu... – um assovio fino... languido – Psiiiiuu... olha... olha aqui... pra mim... abre os olhos!

E ai tomo a consciência de novo. Sinto o meu corpo... estranhamente. É tão apavorante e ao mesmo tempo maravilhoso viver... sentir suas costas... sua própria pele... perceber que seu pulmão respira... que seu coração trabalhou mesmo quando você esteve de alguma forma ausente...

Como acordar de manhã depois de passar a noite chorando... aquela sensação: estou perdido no mundo... mais veja! Há esperança!



Uma luz que me desnorteia e sensibiliza os olhos... não... não é o fim do túnel... é a lâmpada de uma lanterninha... alguém me sustenta o queixo, me olha indiferente e atento ao mesmo tempo... Quando você não é alguém... você é só... Mais um. Ser que pensa e respira mesmo assim...

Me percebo no corredor de um hospital... sentada numa cadeira pouco cômoda... pessoas passando sem parar, e mesmo assim essa moça me olha intensamente... diz palavras em um idioma que não compreendo. E faz frio... verão e está muito frio aqui.... Fecho os olhos querendo me virar, como se estivesse procurando a posição perfeita em minha cama- como se eu estivesse me casa! 
... mas a moça nem parece ter se incomodado, ela puxa minha pálpebra, diz mais alguma coisa e acena pra que uma outra moça se aproximasse.

A mulher fala num inglês carregado de sotaque soviético – ao qual tive contato muitos anos atrás, quando visitei Jane na Rússia- 
Ela me informa de que eu estava em Minsk, que eram dez horas da manhã e que a minha filha estava sem documentos. Se eu sabia explicar porque ela estava abordo sem identificação... qual era minha nacionalidade, oque eu estava pretendendo fazer em Belarus e quanto tempo eu pretendia ficar.
Muitas perguntas. Sem respostas.

 Aliás, respostas tinham, mas não tinha estado de espírito pra isso. Principalmente quando você sabe que ela já sabe. Só está te testando. Quer saber se você está... em alguma falcatrua. Sei lá...
Respondi não com palavras, mas com números. E em francês, foi meio automático. Eles vieram na minha mente como se eu estivesse no balcão da locadora, ou...
como se estivesse de frente pra recepcionista da clínica pediátrica... qualquer coisa, liga nesse número... ow... meu Deus...

Ela fica estática me olhando... depois pergunta: vous êtes français?
Eu balanço a cabeça, e não consigo ver mais nada....


Sérgio

Duas quadras, amigo, duas quadras! Vaaaamos!

- Ah tio, meus tornozelos, as solas dos meus pés!

- Que isso Caleb, você mesmo é quem estava me dizendo que eu não era de nada, e blá blá blá... Cadê? A sua força? Ein?

Rodeio o pequenino, a testa de ambos suada e as camisas grudadas no corpo.

- Tinha que ser por essa rua? E todas as ladeiras? As escadas?!

- Ah agente precisa mesmo melhorar a forma... que isso... Não podemos admitir que num dia como esse, tão raro aqui em Paris, com esse sol e o calor, agente perca a oportunidade de andar por ai por falta de coragem!

- Quê? Falta de coragem? Ih agora cê vai ver!

- Ei ei ei rapazinho! Caleb! Ei!

Droga!

Caleb caiu e esfolou toda a perna, o joelho ficou roxo e uma luxação no braço.
Tudo porque agente queria se libertar e correr. Tudo porque eu fui um imprestável que não soube lidar com uma criança e escolhi a pior ladeira pra fazê-lo subir correndo.

Eram só dois quarteirões!


- Alô, bonjour.... Mais Quoi???

Rosa estava perdida e sozinha em outro país... e um daqueles que eu nem sequer sonhei em conhecer... nos confins.. quase que em outro continente...  e lá estava ela... e ... Rachel.

Quando a mulher do outro lado da linha disse que havia uma garotinha, meu coração pulou, mas quando ela disse o nome pelo qual esta respondia... eu respirei fundo, e tentei não chorar. Foi um segundo negro... aquele em que uma montanha é tirada de meu coração e depois posta de volta, e aí, parecendo ainda mais pesada...

Tipóia pro Caleb, ligações pra consulados e visitas a consulados e embaixada e blá blá blá..  Bem que o avô do Caleb podia estar na ativa agora... seria muito mais rápido...


Em dois dias, a Rosa estaria aqui... com a Rachel.


Rosa

Demorou alguns segundos pra eu me ligar... pra cair a ficha de que... minha filha? Pera ai.... a
- Rachel?- chamo, e ela imediatamente me olha com aqueles olhos de pires, e percebo que ela segura firme em meu braço. Está a meu lado no banco

- Sallut...

- Você está bem? Alguém te... te machucou?

- “um-um”... – ela balançou a cabeça- Cadê meu pai?

- O seu pai... – pensei em usar de metonímia com ela mas desisti por razões obvias, eu não poderia manter mentiras nessas circunstâncias- eu também não sei... – arfei- eu... eu estava com ele... estávamos atrás de vocês e ... Rachel, onde está a Janete e a Alice você sabe?

- Não... você diz... a Lili e a mãe dela né?

- é... – suspirei, sabendo que ela não poderia ajudar muito

- Agente se viu... estávamos de carro... a noite... e depois... depois elas foram pra outro lugar... e eu dormi.

- Como assim meu anjo?

- agente estava num carro... depois o carro parou e apareceu um moço, que fez gesto pra elas ficarem caladas... a tia Janete soltou um grunido alto... ela tava nervosa e chorando muito... ai o moço bateu no rosto dela... eu e a Lilli começamos a gritar socorro mais ai o moço ficou ainda mais nervoso e me trancou de volta no carro e levou elas pro outro carro, pra outro moço... ai eu não vi mais elas...

- ele tem um comparsa... sabia que tinha!

- Mas pra que isso tia? Por que levaram elas se ele só queria que meu pai pagasse pra ele?

- oque?

- é...o moço disse que meu papai querido estava devendo ele... e que ele ia ter que pagar...eu disse pra ele que eu falaria com o meu pai... que com certeza ele ia pagar tudo... que ele podia me soltar... mas ele disse que eu iria pra casa logo, se tudo desse certo...

- é mesmo?

- é... ele disse que só queria....


Sergio

- O Claude... era tudo um plano maluco Sérgio...

- Meu Deus Bel... Ele estava só... brincando com agente? Imbecil sádico! Quem ele pensa que é? Onde está minha filha e minha mulher?!

- eu não sei Sérgio... eu não sei... ele pode ter passado elas pra algum... outro maluco ou sei lá... a Rachel disse que ele as separou... separou ela da Jane e da Alice... que elas foram pra outro lado....

- De Marsele elas foram pra onde? Deus elas podem estar em qualquer lugar! Se elas saíram pelo porto... elas podem estar na Itália ou.. podem ter sido levadas pra Romênia... Amsterdam...

- Calma Sérgio... na verdade... eu acho que daqui a pouco elas aparecem...afinal... como eu disse... foi tudo uma tortura psicológica  e  ato passional... ele já tem que ele queria... o Claude....



“...Foi uma reação estranha
Alguém como você se manter tão decidida
E, em uma reação em cadeia
Eu
 me desmancho e me quebro e depois rastejo para long
e...”


(trechos da música You Love means everything, Coldplay)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Crônicas de Urca


Confissões de Claude


Cena que vem, ao menos em nossa imaginação, logo após Claude brindar a Lua, dizendo que o casal bebesse daquele licor sob a luz do luar jamais se separaria... Consiste então, aos pensamentos dele... E sua remissão através de sua auto-censura... afinal, ele precisava se tocar de seus erros!

Poderia me imaginar assim? Tão... abobalhado assim? Como foi que aconteceu? Quando? Eu... eu não percebi!
Foi... repentino. Como eu disse aos Smith hoje... e não menti!

A alguma razão maior nisso? Acho que não... devo estar louco. Devo ser um louco a vida inteira mesmo....
Não tinha direitos sobre a vida de Serafina Rosa... mas a induzi a tantas coisas... e maluca era ela... como pude dizer isso.

É... pensando bem, somos os dois... Malucos.


Frasão sempre me criticando e tudo mais... mas ele sabe que o fato de eu dizer sempre aos quatro ventos que jamais me apaixonaria por uma mulher como Rosa não era simplesmente por ela ser minha secretária...
Mas sim porque... eu não entendia nada sobre o tipo de beleza que ela sempre cultivou... a INTERIOR! A que eu não via... sim eu era cego!


 Como pude ser injusto com ela desse jeito... Primeiro por julgar a aparência dela e até mesmo sobrepor esse valor tão miserável sobre aquilo que realmente importava e a tornava e sempre tornará diferente das outras pessoas: a integridade dela!

Ah... eu vivia mesmo num outro mundo... num mundo de festas, risos e badalações... tudo falso. Festas sem motivo real, risos forçados e badalações inconseqüentes... E eu nem sonhava que existia seres humanos de verdade.. como Serafina e a família dela. Nunca consegui enxergar a sinceridade no sorriso dela... pelo menos não acreditava que aquilo era real. Que era comigo, pra mim...

Hoje eu posso dizer que fui beijado por uma flor... e que eu me sinto meio estranho... indigno até...

Mas a sensação de aliviar algo que eu estava a muito sentindo...ah! valeu. Eu tenho apenas o mesmo receio de antes... de que pode ser que aconteça como das outras vezes... e que ela sofra.
-Coisa que sei que ela não merece... Mas estranho... desta vez... sinto que nunca vai acabar! Nunca vai acabar porque eu não tenho apenas vontade de estar com ela... eu.... quero muito que ela seja feliz! E... talvez... isso signifique que se ela não for feliz eu também não vou conseguir ser! Se... agente se separar...

-E meu Deus.. é duro pensar sobre isso... porque afinal... eu quero?

Ta ai... eu acho que se agente se separar... eu vou acabar perdendo ela de vista... Não quero perder ela de vista... quero sempre... ver oque está acontecendo na vida dela se... está tudo bem e.... Cuidar dela... mesmo que de longe.

Pronto, é oficial. Acabo de provar pra mim mesmo, com meus próprios argumentos, que estou completamente louco. Me internem! Me ponham camisa de força! Eu... não estou nada bem... acho que bebi demais...

Só sei que nada sei... haha... Como eu posso me esquecer que com Nara eu fingi um noivado tendo relacionamento íntimo... com Rosa vivo um casamento sem relacionamento intimo nenhum... estranha, a vida!

Queria que o tempo congelasse. Assim não precisava mentir mais pra ninguém. Não teria que mentir pra Nara que quero casar com ela e tampouco veria Rosa partir... cada um pro seu lado, ela disse. Ouvir aquilo só me fez refletir...

- Refletiu na verdade.Ecoou na minha mente. Não pensei em nada. Desde que nos tornamos mais... amigos... não consigo me ver longe dela. É... eu acho que mesmo que eu fosse pra longe... ela ia comigo... raios! Ela estaria bem ali... me olhando... eu nunca sei oque ela está pensando... ela sempre me surpreende...


Não tem previsão metrológica que evite o colapso desse... furacão em tudo ao redor dela... Não sei se me acostumei... mas acho que tem uma compensação... sempre tem. É que depois que a poeira abaixa... eu sempre sou obrigado a admitir que ela só quer ajudar. Ela só quer ajudar...






quinta-feira, 7 de julho de 2011

Crônicas de U.R.C.A


Tá dando onda! Parte 3/3


E então, algo estava acontecendo. De maneira quase absurda, mas estava.
Não vemos tudo oque acontece ao nosso redor, isso é fato. Mas e quando acontece dentro de nós? Quando algo cresce lá no fundo de nosso ser? Foi assim.

- Ah não, conta direito!

- Mas eu contei! e era só essa parte não era?

- Não contou não! Ah fala tudo... o resto... oque aconteceu depois que ele voltou pra São Paulo?

- hum...- sorrio, porque a lembrança parece nunca me abandonar. Poderia contar sim, de todos os jeitos possíveis. Oque aconteceu. Como...

O louco me apareceu duas semanas depois. Duas semanas depois de um aperto ter se instalado no meu coração. Duas semanas de angústia. Até que ele apareceu. E como apareceu!

Não sei se de propósito... mas alguém me chamou na enfermaria. Parece que... Alguém... havia tido... problemas de percurso enquanto subia as escadas rolantes...correndo.
Alguém... tropeçou no penúltimo degrau. Alguém... estava, ao que parecia, chamando- leia-se  gritando - meu nome. E de maneira demasiadamente engraçada, enquanto as enfermeiras faziam o trabalho delas. Enquanto seu braço estava sendo imobilizado por uma tala de gesso e envolto em faixa, “alguém” estava muito nervoso, e só queria que eu aparecesse. Eu.

- Mas... Mas então? Oque aconteceu???

- agente se casou, oras!

Na praia, na mesma que nos conhecemos. E ele aprendeu a surfar também.

- Você que ensinou?

- Pra você ver....- balanço a cabeça... Claude não odiava mais o mar.

- E oque mais?

- ai ele decidiu  morar em Santos e ... um dia... ele apareceu de novo no hospital, sem avisar. Ah ele me sempre me deu muito trabalho!

- O que ele fez?

- Torceu o tornozelo, acidente de trabalho sabe... Tava numa obra com os engenheiros e... Acho que ele caiu... Não lembro direito... mas oque importa foi... eu tinha uma surpresa pra ele desta vez!
Me lembro dele sentado numa cama... eu tinha examinado ele e... depois de um minuto de silêncio...olhei no fundo dos olhos dele e disse:

- Agora é sua vez.

- O quê?!- ele perguntou assustado, como que voltando do mundo de seus botões

- Olha...- tirei o estetoscópio do pescoço e coloquei nos ouvidos dele, ele se retraiu- calma...

-Mas... que...

- Aqui... não vai ouvir nada... mas é simbólico...

Assim, pela primeira vez, ele tentou ouvir o SEU coração, filha!

- É mesmo?

- Foi sim...

- bluuu... que frio... mamãe... e ele que não volta?

- Calma... ali está ele....

Claude entra no carro

- Você é uma medrosa... non sei porque non foi lá ver.

- Ah pai... eu... ai eu fiquei com medo! Mas... e ai?

- Confia em mim, vamos lá.

Ela me olha apreensiva, mas acaba aceitando.
Entramos e, no meio de tantas pessoas, dedos percorrendo listas...
Ela bate na parede, a mão espalmada. Eu não entendo e olho Claude, gargalhando. Ela apóia a cabeça na parede e começa a chorar

- Calma....- eu toco seu ombro, ela se vira sorrindo e me diz

- Eu passei! Mamãe eu passei!!! Eu tô dentro!

Nos abraçamos rindo... os corações num só ritmo...

Quando as coisas que realmente importam acontecem, geralmente agente não presta muita atenção, não enxerga. Mas agora eu sei que tudo deve ser bem analisado... tudo tem propósito, ou pelo menos... PODE TER. basta agente não desperdiçar.
Muita luta espera nossa filha... mas sei que ela vai estar pronta. Sei que nós vamos estar com ela, que seja apenas em pensamento...

Talvez, simbolicamente, mas, eu salvei a vida do Claude. E ele salvou a minha. E nós dois geramos três vidas: a nossa, aquela que vivemos juntos, os sonhos que sonhamos juntos e que se concretizaram numa terceira forma de vida: nossa Victória.
E agora, ela vai seguir... e salvar muitas vidas, é o que sonhamos, os três juntos.

E assim vivemos... e tentamos “pegar” todas as ondas que a vida e o mar trazem....




segunda-feira, 27 de junho de 2011

Capitulo 42- Ligação irreversível

 
Le Eternel Amour
Tulipe Rouge




Abro os olhos depois do que me pareceu cinco segundos mas pelo jeito, fora mais de uma hora... Estou num lugar abarrotado de bagagens e ouço o som do maquinário do avião em sua atividade... No chão, onde minhas mãos trêmulas me sustentam agora... Provavelmente havia algum fármaco naquela água... Maldita sede! Onde estará Rosa agora? E com quem? Deus, me ajude!
Saindo pelo saguão, vejo uma portinhola no “teto”, que certamente dará num lugar restrito a comissários. E o pior: trancado por fora!

- Dieeeeu!- berro, tentando abrir a passagem com chacoalhões, pondo todo meu peso nos braços


Rosa


- Ei... aeromoça!..- chamo

- Sim?

- Onde está o Claude... o moço que estava comigo, sabe?

- Ah o seu namorado? Ele disse que iria voltar pro lugar que consta no passaporte dos senhores, mas não quis te acordar... e disse que a senhorita não se preocupasse, e aliás, acho melhor a senhorita não se preocupar mesmo e esperar o avião pousar, isso acontecerá em menos de dez minutos sabe....

- hm... eu cochilei foi?- a comissária assente- Nossa... mas que dor de cabeça...

-A senhorita quer uma água?

- Oh, sim, obrigada.

A mulher sai e eu me levanto rapidamente, sabia que algo estava errado. Jamais o Claude ia me deixar sozinha visto a complicada situação... quero dizer, eu acho. Quero acreditar que está tudo bem, mas ao mesmo tempo, não posso crer que ele me deixaria sozinha sabendo que eu estou assustada e com medo. Afinal, eu estou indo pra um lugar desconhecido, sem propósito definido e o pior: tenho a certeza de estar sendo observada pelo seqüestrador de Janete, Alice e de Rachel.

Entro num banheiro e me dedico a arrancar o carpete: tenho certeza de que há uma saída pra...ah sei lá, uma portinha que me leve a algum compartimento secreto ou...que seja!

E alguém bate na porta...e eu batia na tranca...sim, havia mesmo uma saída!(?) E consigo empurrar a espécie de ferrolho e desço por uma escadinha que me levava pra um lugar branco... inteiramente branco.

Encontro outra escadinha e desço desse...conteiner ou sei lá. E depois mais uma escadinha, e um maquinário esquisito... Não sei ao certo do que se trata... Mas era grande o suficiente pra me render uma escalada. Eu precisava seguir em frente! Mas ai... Descubro finalmente oque havia ali a frente, atrás desse obstáculo dentro do bico do avião...

Era a Rachel, deitada no chão, como que dormindo um sono tranqüilo. Ela estava ali, de bruços, parecia tão... acomodada! Mesmo estando naquele lugar e... no chão frio! Corro até ela e a pego nos braços. Mas era verdade eu sabia: eu estava sozinha ali, naquele lugar vazio, e não sabia como iria sair dali... e quem estaria à espreita! E se eu cai numa armadilha? E se agora aparecessem bandidos pra me pegar ou... matar?

Claude

De alguma forma, percebi que pousamos. Sim, pousamos. Mas é a segunda vez, já. Desde que fiquei preso aqui. Duas vezes... ninguém apareceu, eu não consigo mais me debater, acabei de acordar de mais um cochilo e acho que só vão me encontrar quando as benditas bagagens forem retiradas por completo... deve se tratar de algum esquema de compartimentos de bagagem, elas ficam aqui, todas enfileiradas, com certeza há bem mais malas e caixas dividida em vários cômodos. E este por sinal, é um cômodo pouco “visitado”, deve ser por que todas as malas estão com destino à Minsk... o “ponto” final...

Mas de quê me adianta ser contido e durão agora? Desconto minha raiva em tudo que me aparece à frente. E parece que ninguém nota, Ninguém me nota, e eu fico aqui, sozinho e desprotegido de meus pensamentos e do peso da culpa: -eu devia ter feito alguma coisa.

Eu mal conheço a Rosa mas já consegui deixá-la em perigo. Rachel não tem culpa de tudo o que aconteceu e eu fui quem a deixei desprotegida. Talvez, se eu tivesse prestado mais atenção... Talvez eu percebesse a falha antes dela me surpreender. Como se a teia em que eu guardava meus tesouros rompesse, e, depois de perder tudo, eu descobrisse que nada mais importa. As vezes, eu me achava inalcançável e  inabalável, mas então havia uma garotinha, minha garotinha, tudo oque eu tinha, e então, me vi rendido. O amor as vezes, pode mudar você. Te convencer de coisas improváveis, mas quando você o sente, aí, nada mais importa.

Eu sabia que algum dia amaria, amaria pra valer, a ponto de negar minha existência para que outrem vivesse em meu lugar. E então, redescobri amar, e de brinde ainda percebi que não odeio mais ninguém. Nem mesmo meu pai ou o Carlos.
Só quero encontrar Rachel, e pedir perdão a ela. Me certificar que ainda vamos comer muito cachorro-quente, dar pipoca aos pombos na praça e cantar desafinadamente no piano velho do sótão.
Quero voltar pra casa, e contar uma história pra ela dormir. Quero voltar pra casa, e poder passar um mês com Caleb que seja. Quero voltar no tempo, e salvar a todos. Me salvar pra poder salvar todo o resto.

Sérgio

Ontem foi um dia estranho. Fui pro escritório de manhã, voltei e almocei com Caleb (em voto de silêncio?) Depois, passei a tarde olhando prum frasco vazio de uísque, que esvaziei noite dessas. O Caleb disse que meus olhos estão horríveis. E realmente, não acredito que nada morto possa ser bonito. Sim, meus olhos estão mortos.

Hoje também está sendo um dia estranho. E eu odeio essa chuva estranha, que escurece o céu! Como se não bastasse minha vida estar melancólica, o tempo lá fora me faz cenário.
Uma das coisas mais estranhas é que as vezes, eu acordo pensando ter ouvido risadas delas, das mulheres de minha vida. Delas no banheiro se maquiando, delas na sala assistindo a TV, delas na cozinha fazendo bolo.

Me pergunto como pode o Claude ter vivido só por tantos anos. Criando uma filha. Uma filha mulher. Admiro ele, de certa forma. E nas alturas que estou agora, da maneira como tudo está, dolorosamente me pego pensando na possibilidade de ter apenas uma das duas de volta. E se apenas Jane voltar? Como viveremos sem Alice? E se apenas minha filha voltar, como terei forças pra cuidar dela sozinho?

Sim, admiro o Claude. Ele perdeu a mãe de Rachel e por todos esses anos, cuidou dela. Sendo militar, durão em serviço- muito mais do que um mero homem se vê intimado a ser em seu dia-a-dia normal - e ao retornar à casa, tendo mão de mãe sobre a cabeça da filha, tendo que ser suave e carinhoso, dando toda a atenção que uma menina como… Como minha Alice! Como a Rachel dele requer.

Estranhamente, acredito sim que o Tony de certa forma, previa tudo oque iria suceder. Não estava exato da própria morte, mas sabia que o Claude e a Rosa estariam algum dia, e de alguma maneira, ligados pra sempre. Sim porque, ele sempre queria por eles em convivência.
Queria que os dois se conhecessem. Ele sempre dizia pra mim que era porque ele amava a Rosa como se ela fosse parte dele e o Claude também, da mesma forma era parte dele. E então, ele queria de maneira aparentemente insana e sem nexo, unir os dois. E colocá-los diante de seus olhos.
No fim, eles estão obrigados um a existência do outro. De maneira irreversível. E o fator, esse irreversível, é Caleb - Esse que dorme agora, na cama de Alice, ao lado da poltrona na qual estou agora e a mesma que estive tantas noites para ler esse mesmo livro- o filho deles. Um fruto que nasceu por um amor. Mas não diretamente entre os dois. Mas sobre o Tony.
Para Claude, mais valia a vida de Jean do que a dele próprio. Tony fora quem disse: “está tudo bem irmão, não desista agora. Vá, e lute por você e por mim.” O sonho de voar se tornou para meu estranho amigo Claude, um sonho conjunto. Era certo que apenas ele podia estar lá, e pilotar. Mas como ele fazia parte de Tony, ele estava lá também, no céus, com ele.

Para Rosa, poder fazer algo por Tony era como poder ter asas e voar. Era realmente algo estrondoso e que parecia poder mudar tudo- e mudou. Ela amava o “maluco da flor” a ponto de transformar-se em mãe sem nunca ter tido nada em troca- como o amor em matrimônio.
Depois de tanto que aconteceu, e tudo em torno da breve mais incomparável existência do nosso amigo Jean Antoine Geraldy, surge uma grande pequena promessa: Caleb.
Menino que trouxe alegria a minha irmã solteirona, e ao Claude… Bem, acredito que a ele trouxe a prova de que ele podia sim gerar um filho. E foi o Tony que ajudou. Ha… sim. O maluco tinha razão de novo!