sexta-feira, 15 de abril de 2011

Capitulo 24- Capitaine!




Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


“Deve viajar um saltimbanco, É antiga forma de vida, Por isso soa em seu canto Um certo tom de despedida. Voltarei um dia por sorte? Isso, meu amor, não sei não, As vezes, a pesada mão da morte Apanha a rosa ainda em botão. “
Elimar von Monsterberg, O saltimbanco





Tony


Minha fascinação por flores e poesia não era vista com bons olhos... Muitos chegavam a me excluir, me taxar como homossexual, essas coisas.
Mas quero deixar claro que, na verdade, a “culpa” é toda do papai. Sim, porque  ele foi quem destruiu o orquidário da mamãe naquele dia que veio a ser o mais obscuro da família Geraldy, ao menos, nessa geração. Eu era só um garoto montando minha caixa de formigas, quando ouvi uns ruídos: porcelanas quebrando, vozes alteradas, e depois, até alguns tiros. Corri pros braços de minha mãe, vendo meu pai virar sua garrafa de uísque com uma mão, na outra um rifre, aos pés, um dos enormes vasos partido ao meio.
O orquidário estava destruído, muito mais do que no dia em que sofreu pelo vendaval. Mamãe estava no auge de sua brancura, vestida tão somente por sua camisola, cabelos desgrenhados, vermelhos como carmim. A abracei forte, de encontro a seu colo, e todas as sardas que a deixava ainda mais graciosa. Lembro-me do perfume de minha mãe, ela era mais cheirosa do que todas as flores do jardim. – Porque está chorando mamãe? Não se preocupe! Eu farei um jardim mais bonito que esse, e terá tantas flores que precisaremos de um mapa pra não nos perdemos no meio delas!– essa foi a ultima frase que me lembro de tê-la dito. Depois disso, as flores e as poesias me acompanharam como se fora minha própria mãe, vivendo e me ensinando através delas.

Bem ela e papai já não se entendiam haviam anos. Acho até que eu mesmo criança, já tinha aprendido a lidar com as brigas deles, que chegavam a ser diárias...

O Claude ao contrário de mim, que me mantinha neutro, apesar de sempre estar ao lado de mamãe, enfrentava o nosso pai, o peitava como se pudesse realmente “destroná-lo”. Claude sempre estava disposto a passar tudo à pratos limpos, principalmente depois que descobriu o que papai fazia além de ser um péssimo marido e chefe de família. 
Papai era corrupto, frio e calculista, mas ainda era meu pai, meu só não, nosso pai, apesar de meu irmão ignorar isso até hoje.

O que eu mais gostava de fazer era visitar o asilo em Verrieres, aquele lugar, aqueles senhores... era tudo tão... mágico! As vezes Frasão ía comigo... e até consegui levar a turma de teatro do Perrault pra fazer uma apresentação por lá... eu visitava-os semanalmente, levava flores e doces que comprava na vila, além de meus melhores livros de poesia... aquele parque... era tão inspirador! Ainda mais com pessoas tão... maravilhosas (em sua quase absoluta maioria) e tão sábias. Lá aprendi as poesias mais lindas, e encontrei as flores mais coloridas! Era de lá, a maior parte das flores que entregava à Serafina...

Rosa... Estraguei tudo deixando todo esse tempo passar... passar longe dela! A nossa paixão passou... apagou

Rosa... espero não ter estragado mais a vida dela... Deus e agora?



Rosa

Vup ! Ouço esse som abafado, seguido pelo som das botas se “chocando”, enquanto o homem levava a mão à testa

- Captain!- ele diz, antes de se virar e sumir na penumbra deste beco maldito, onde ainda ecoa o trovão que saiu das mãos do homem, e que penetrou o peito do meu amado anjo. Meu anjo agora rouco, mas ainda de olhos brilhantes.

- Tony?!

- Rosa... espero que não fique brava, mas tenho que te confessar, eu comprei outra flor.- solta em sussurros

- Tony?!

- e... ela tem cor. Ela tem uma cor forte... ES...escura... e... ela é sua. E eu...- nessa hora, sua boca solta uma erupção, como um vulcão solta lava, sua boca expelindo sua essência vermelha...

- Tony?!!

- Escuta-me... – começo a sentir que o ferimento onde pressiono agora pulsava como um coração, Tony parecia estar exausto

- Shiii, quieto!- tento conte-lo, uma senhora aparece numa das sacadas agitando os braços, ao telefone- a ajuda já já chega...- ele começa a sacudir a cabeça, e depois dá um meio sorriso

- Esse você me contou... “O amor eterno... é o amor impossível. Os... amores possíveis... começam a mo...morrer no dia em que se concretizam...” -(Eça de Quiroz) Tony fecha os olhos, começo a me desesperar

- Hey!

- Meu amor por você é eterno Bel... non porque nunca se concretizou, mas porque para sempre estará no ar... –sussurra em tom quase inaudível

Suspiro...

Em mais um daqueles momentos em absurda insanidade mental (se é que pode ser mais absurda que a própria), vejo em minha atordoada mente, o riacho em Verrìeres... e uma das flores mais fascinantes de todas: o dente de leão, que com o vento, esparrama suas “pétalas” pelo ar... Eu não cansava de soprá-las! Sentava na pequena ponte, com dezenas dessas florzinhas dentro duma cestinha, e me dedicava à soprá-las, com todo cuidado... em meio a sussurros, risos: sons de “crianças” felizes, brincando na água...

As imagens são rapidamente substituídas, pela luz da lanterna do bombeiro no meu rosto, sua voz me despertando

- Dame? Dame? Vous bien?

- ... Oui...je.. je suis- pigarreio, ainda um pouco confusa, abaixo os olhos e fito Tony em meu colo. Ele respirava com dificuldade, e sangrava muito

Claude

- Non... non... Nara! Nara, pára com isso já! – Ouço um ruído do outro lado da linha- Nara quem está ai? É Dádi? Passa pra ela, hã?

- Alô!

- Dádi, Dieu! Oque está acontecendo ai, hã?

-  Olha Doutor Claudes, ela simplesmente tá parecendo uma múmia vice? E está fumando! Fumando como uma chaminé!

- Mon Dieu! Mas entom tente impedir que ela fume, Dadi! Esconda o dinheiro, jogue os maços no lixo sei lá!

- Tudo bem Doutor Claudes eu entendi... mas o senhor... vem quando?

- Non sei Dádi... pra ser sincero non sei... vou ver se consigo ser escalado pra transportar umas crianças doentes para a Alemanha... ver se consigo dar uma passadinha relâmpago por Paris na volta... mas isso, se der certo, significa no máximo umas quatro horas na França, e depois... Afeganiston outra vez... afinal, eu non posso correr risco de... ser acusado de desertor pelos meus queridos amigos da onça dentro da corporaçon..

- Ok... Ok Doutor... fica com Deus viu...

- Você também... tchau. – desligo num suspiro. Minhas costas ainda doem pelo peso que carreguei a madrugada inteira... cada bomba d’água parecia ser feita de puro chumbo!

- Ai!- reclamo automaticamente pelo choque da madeira em meu peito. Haviam muitas poças na rua de terra avermelhada, e alguns homens carregavam ripas, para construírem suas barracas, e, para não pisarem na água suja, se amontoaram no único lado da rua que estava seco, no caso, o lado do telefone público, no qual eu estava. Os homens desculparam-se em sua língua (acho) e continuaram o caminho. Eu sentia um desconforto quase insuportável, começo a ofegar. Deus o que será isso? A batida nem foi tão forte...



                          

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Capitulo 23- In Ville

 

Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


Tudo foi tão rápido... é incrível como as coisas vão acontecendo, principalmente quando tudo acontece ao mesmo tempo...
 Não me pergunte como, mas o Tony descobriu o “plano” todo. O mais estranho foi a reação dele. Ou melhor, a NÃO reação. Ele apenas chegou no restaurante do papai, sentou na minha frente, e pegou em minhas mãos enquanto dizia olhando em meus olhos: eu já sei. Na hora, eu pensei em dizer alguma coisa, procurei algum argumento, pensei em me defender da suposta imagem de interesseira que ele poderia ter formado sobre mim. Mas não, eu não disse. Não, eu não me defendi, e acredito que ele nem por um minuto pensou isso de mim. Ele estava chocado demais pra dizer alguma coisa, molhado demais pra não sentir frio... me pergunto de onde ele veio correndo assim na chuva... Sei que jamais pensaria mal de mim... Nos conhecemos a tanto tempo...

(...)

- Deus! Mas oque você fez desta vez ein?

- Ah estava sem fome.

- Eu sei que estava mas porque você não fez força pra comer?

- Rosa...- ele vira o rosto, fechando os olhos- chega, hã?!

- Ver você assim é que não dá.

- ...

- Olha Tony, eu sei oque parece. E sei oque você está sentindo...

- non... eu duvido.- ele curva os lábios num quase sorriso

- É. Mas...- arregalo os olhos, um dos  aparelhos emitindo um pi contínuo- oque?- olho Tony, que permanecia de olhos abertos, me fitando como se nada estivesse acontecendo- Céus oque é isso?!- levanto da beira da cama, como quem descobre uma cobra por perto

- Hum...- ele levanta o braço, mostrando um fio solto- ops, caiu

- Tony!!! – ele apenas sorri

- Acho que agora, mais do que nunca, você non pode esperar que eu morra assim de repente.

- Nossa você é um cretino!- rio, batendo em seu ombro de leve
  
- Ow.

Tony

Depois do susto, pensei muito sobre tudo oque vem me acontecendo... Acho que Rosa está fazendo muito mais do que deveria... Não posso deixar ela desamparada. Ao que a conheço, sei que nenhum dinheiro ou status social pode preencher aquilo que ela precisa realmente. Sei que ela precisa de mim. Nesse momento, mais do que nunca. Ver os olhos dela, em seu marrom intenso, me observarem com tanta atenção, como se quisesse enxergar dentro de mim, como se quisesse ir até o meu coração pra entender meus atos, meus sorrisos e minhas caretas. Ela parece querer entender cada suspiro meu... E agora eu sei, isso não vai passar.

Posso dizer que este plano, apesar de maluco, pode dar certo. Acredito que me ascendeu a chama da esperança novamente... Quando me vi sozinho, peguei o primeiro pedaço de papel que encontrei, e comecei a escrever... Engraçado... Era pra serem apenas anotações, mas se parecem com cartas. Cartas à Rosa. Não tenho certeza se eu mesmo mostrarei a ela... Acredito que ela as descobrirá sozinha, apesar do lugar incomum que escolhi pra guardá-las.

Com os acontecimentos que estão por vir, sei que na Bel cresce uma dúvida. Na verdade, uma dúvida sobre mim, e sobre o que eu farei. Ela pode não esperar recompensas além das que meu pai irá pagar, apesar de que sei que tudo é mesmo por mim, mas sei que de alguma maneira, fica a meu critério que tudo fique bem. Por um minuto pensei que poderia sim estar tudo entrando nos eixos. Quem sabe dê certo? Quem sabe eu não possa viver essa história por inteiro?

Mas, o mais intrigante foi a descoberta, de que o amor que Rosa sente por mim, que é o mesmo que sinto por ela, é mais intenso do que imaginávamos. Um amor inexplicável eu diria. Um amor de paixão, mas uma paixão assexuada!

- Foi como beijar o Sérgio, meu irmão.- ela declara, cenho franzido e as mãos largando meus ombros devagar

- Foi como beijar minha própria mãe. - digo abaixando os olhos

- Não acredito. Como eu não percebi antes? Isso é muito difícil  de se explicar... - pigarreia

- Agente ainda pode casar, se você quiser.

- Oque? Tá brincando? Não!- Ela vira pra mim sorrindo

- Poxa... já até pensei nos meus votos... – rio- Bel, Bel, branca que nem papel!

- ha!

- Non... Já sei! Rosa, Rosa, tem medo de ficar idosa!

- Chega!

- Tudo bem. Hahaha

- Uau- ela suspira, sentando pesadamente no sofá

- Quer ir jantar?

- É...

- Non em restaurante Italiano. Nem... Japonês, nem... Coreano.

- Tailandês.

- Tailandês?

- Oui, oui!-  me puxa em direção a porta

Rodamos um pouco, entramos no restaurante, Rosa parecia um “pinto no lixo”... Sorria pra mim, enquanto eu contava todas as minhas crônicas engraçadas. Talvez assim como eu, se sentisse um pouco aliviada. Uma duvida que nos acompanhou por tanto tempo... e descobrimos que jamais daria certo. Pelo menos não mais, porque depois de tantos anos, não conseguíamos mudar nossas visões...

- Enton, non me disse oque achou do meu apartamento...- tento começar uma conversa, andamos abraçados pelos ombros, na rua pouco iluminada

- Achei... a sua cara!

- A minha cara?

-uma loucura. Você é que nem eu, doido. Livros pra todos os lados,numa bagunça sem fim

- É... Mas é uma bagunça organizada, hã?- rio

- Olha ali Tony, aquele casal ali deve estar junto desde a primeira grande guerra.

- É... deve ser muito bom ter alguém com quem envelhecer junto...

- Eu não envelheceria com você!- dizemos juntos, caindo na gargalhada

-Eu quero sorvete!

- Tudo bem, espere que eu vou pegar.- deixo Rosa e ando até o meio da praça, onde um homem de avental branco vendia doces e pipoca. Mas não sorvete. Vou até outra ponta e consigo o tal sorvete com um senhor muito esquisito, mas deveras engraçado, parecia-se muito com Asterix, do desenho.

- Oba!- Rosa toma o sorvete de minha mão e começa a Lambê-lo com ânsia, como é típico das crianças.

- Vai se afogar desse jeito.

- Ah não vou não. Mas sabe, até que não foi de tudo mal oque aconteceu?

- É mesmo?

- Claro, Tony. Pensa, se você se curar, agente não precisa mais casar!

- Nossa, non sabia que você estava sendo obrigada a isso non!

- Sabe o que é? É que depois do último episodio de casamento na minha vida, eu fiquei meio traumatizada... Dá até arrepio quando passo na frente de cartório.

- Sei... mas você non quer se casar nunca mais? Quero dizer, mesmo que seja com outra pessoa?

- Não sei... talvez um dia... nossa, olha!

-Oque foi?

- O... O...- Rosa corre até a entrada do beco do lado direito, e se curva. Pelos ruídos, esta vomitando. Olho a frente e vejo um cachorro atropelado, ou pelo menos é oque parece. O estranho é que onde estamos mal passam motos. Começo a reparar no lugar ... deserto... meio escuro...

- Acho que non devíamos ter nos afastado tanto...

- Ai... Nossa.- Rosa caminha lentamente em minha direção, mãos no rosto

- Você está bem?

- Mais ou menos... Mas... Mas que nojo!

- Sabe que você me surpreendeu? Você tinha sempre estomago forte pra essas coisas, tratava de animais como ninguém, non é, Belina?

- Belina... Ah!!!- Rosa me assusta com esse grito, me viro de relance e percebo uma silhueta masculina exatamente atrás de mim, pela sombra.

-Hã?- viro-me de supetão e o homem me esbofeta o rosto

- Savait qui était en ville!(Sabia que estava na cidade!)- a voz é mediana, e roda na minha mente em meio a dor que sinto em meu nariz, que foi de encontro ao chão na queda


segunda-feira, 11 de abril de 2011

Capitulo 22- Explica?...



Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


- Alô?...- solto num suspiro, tento alcançar o botão do abajur que esqueci ligado - Tá... Claro, claro. Estarei ai as treze horas. Ok. Outro. Tchau.

Levanto preguiçosa e languidamente. A penumbra do aposento só me deixava ainda mais confusa... o sono, a novidade... tudo ao mesmo tempo. Arrasto-me até o banheiro, faço meu toilet... Banho tomado, cabelos penteados, (olheiras disfarçadas), estou pronta.
 Vou enfrentar então minha nova rotina. Novos padrões, novos patrões, enfim, vida nova.

Breve entrevista durante o almoço com o pai do Tony e muito café depois pra agüentar o leve clima tedioso da tarde que seguiu... Principalmente pelo meu cansaço que ainda perdurava, conseqüência da viagem. Como eu ainda estava com a carta em suspenso, tomei um taxi e fui direto pra “casa”.  Ou algo parecido. Nem vi mais nada depois de passar pela porta... Devo ter amassado as revistas de decoração que Janete largara no sofá... Mas quê importa? Nem sei oque pode me dar mais prazer, um banho ou um cochilo. Na ocasião, o cochilo veio primeiro, mas então acordei do nada e fui direto estrear minha banheira. Parece mentira, o telefone sempre está pronto quando você está submerso numa banheira maravilhosamente cômoda.

- E-A-I?- ouço uma voz um tanto frenética, seguida por risinhos abafados. Depois de um longo suspiro respondo

- OK. Aaaaa... bem, diria que foi pára choque. Então não sei.

-Como pára choque?

- Ah Jane pára choque, primeira impressão, essas coisas. Não dá pra saber porque de tão nervosa nem reparei direito.

- Então?

- Então oque?

- ué como foi!

- Como foi?... horrível. Quer dizer...- antes que eu forme o resto da frase em minha mente, Janete dispara:

- A chefa! Fala da chefa! Quem era?

- Quem É, você quis dizer porque continua sendo.

- E quem é ela?

- Está sentada?- Passo a espuma pelo braço

- aaaa... Agora estou.

- Soletra-se GA-BRI-E-LE.

- Gabriele... Gabriele? Conheço?
                  
- dãar.. claro que conhece! A Gabriele! Gabriele... pensa!- levanto de leve a perna e o telefone quase cai na agua

- Gabriele... não! A Gabriele... Gabriele do... do Tony?!

- Ela mesma! Amiga você não vai acreditar como ela está ótima!- tento equilibrar o telefone com o ombro

- Gabriele, ótima? Brincadeira né?!

- Agora chamam-na NINICA. Virou uma perua de primeira!

- Mas a menina tinha mó cara de sonsa... Sério Rosa, a Gabriele sua chefa?!

- Parece que a empresa é dos pais delas, são donos de meio mundo de escritórios e mandam na publicidade de Paris... a revista promove o grupo deles... Essas coisas.  Ah, nem sei viu!

- Mas ela te reconheceu?

- Claro! Aliás, ELA me reconheceu, porque eu, nem em um milhão de anos a reconheceria!

- Nossa... Tô passada!

- E eu!..

- ã... Mas e como foi com o pai do Tony? Porque vocês já se falaram não já?

- Sim, agente almoçou hoje... Mas taí outro que eu não entendo... Ele disse que ouve uma pequena mudança de planos.

- Como assim? Ele desfez o acordo?

- Não. Ele modificou. O... Material a ser usado não vai mais ser dele...

- hã?!

Tony

Depois de muito chá de cadeira e chatice, saímos do hospital, minha sonolência estava mais em evidencia do que as próprias olheiras... Tudo que mais quero é um longo banho e depois dormir até as quatorze horas do outro dia, aproximadamente.
 Toda a dissimulação de meu pai jamais foi capaz de me enganar. Ele, assim como o Claude, acham que sou um leigo nessa coisa a que tenta se parecer com uma família. Eu sei que ele, ao menos o Claude, tenta me proteger escondendo certos fatos de mim. Na verdade, tentando esconder, pois eu os sei. Ele pode querer que eu esteja à parte mas estou a par de tudo... tudo desde o começo. E não foi ninguém que me contou, assim como ele, eu vi e ouvi.
Basicamente, tudo gira em torno do casamento dos nossos pais. Ou quase isso. A tentativa frustrada de “acabar” com toda a família de nossa mãe pelo nosso pai, a invenção da loucura do meu irmão... o Claude supostamente louco por ter ouvido certas conversas do papai em uma de suas empreitadas... Sempre as margens da lei. 


Um diplomata jura sempre usar de ética, mas certamente meu pai cruzou os dedos no dia do juramento.Olhando ele assim, cabelos grisalhos, estatura mediana, sorrisinho fácil, ninguém imagina do que esse homem é capaz... Talvez o Claude tenha razões suficientes pra odiá-lo pelo resto da vida... talvez eu tenha ainda mais. Mas ainda sim, não sinto que sair de perto dele seja o melhor que posso fazer. Ele esta cada dia mais estranho, e anda tossindo muito mais do que antes. A velha tuberculose o acompanhando... Claude o chama de “cão turrão” não apenas por isso, eu sei. Mas é engraçado.


Decidi ir até o velho Formaggio nel piato e ver como andam todos... Seu Giovanni me olhou tão estranho... Como sempre mal me cumprimentou, subiu as escadarias a saltos, ou quase isso. Encontrei Sérgio com Alice nos braços, Janete parecia me ver como um fantasma, mal completava as frases e me respondia tão pausadamente que entendi que escondia algo, e algo grave.
E o algo grave apareceu, num casaco cinzento, lenço roxo e minhas luvas de couro, igualmente me olhando assustada

- ã... estou tão horrível assim?- abro os braços, tentando parecer mais simpático

- Tony...- bel me olhava como se eu tivesse morrido 

- Eu... Mas e você Bel, oque faz aqui?

- A... nada. Quero dizer, vim... visitar meu pai- ela aponta as escadas pelas quais minutos atrás dom Giovanni subira

- Digo aqui, em Paris.

- aaa... claro, nem deu tempo...de.. de te avisar.

- Avisar?...

- É... que.. eu... Consegui um emprego... melhor aqui e .... decidi voltar pra cidade e... ficar perto...da família.

- Ah, sei... e.. onde é?

- Onde é o que?

- O seu trabalho. Onde você está trabalhando.

- Ah, sou... Sou..- ela olha Janete como que pedindo ajuda- editora na revista Le Cordier.

- Bel?...- curvo a cabeça, procurando seus olhos que fugiam como cabritos assustados- Você... Está se sentindo bem?

- A...- Ela senta na cadeira que Sérgio lhe puxa- Sim. Quer dizer... Mais ou menos é que...

- Ela está muito surpresa assim como eu em te ver, Tony!- Janete dispara.

- Ah, claro. - sento-me olhando as duas que tem as faces em brasa- por acaso... sejam francas! Por acaso... Meu pai disse a vocês que eu... Tinha morrido? Ou algo do gênero?- todos se entreolham e Janete da uma risadinha sem graça

- ha... Mas que idéia é essa, Jean! Afinal, alem de tudo, nós mal conhecemos o seu pai!

- É... Mas aposto que ele conhece vocês...

- Hã?

- Esqueçam. Mas... Enton, você está morando onde, Bel?

-aa... próximo a praça Itália.

- Nossa...

-Que foi?- Rosa se encolhe um pouco na cadeira

- Nada non é que meu irmon tem um imóvel por lá...Mas non mora mais aqui...


Rosa

-Tudo bem, admito. Dei muita bandeira.

- Bandeira? Bel só faltou você começar a balançar os braços e gritar: Fogo! Fogo! Estou mentindo mas estou mentindo MUUITO!

- Sérgio para, não esta vendo que o assunto é sério?

- Amor, eu sei. E estou dizendo a verdade, vocês duas estavam terrivelmente constrangidas!

- Acha que ele percebeu?

- Com certeza esta desconfiado...  e não vai desistir até descobrir o que estou aprontando...aprendeu comigo a ser curioso.

- Mas vai ter mesmo uma hora que não vai ter como esconder né. Você ia ter que abrir o jogo!

- Sei. Mas... ah eu não queria que fosse agora!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Capitulo 21- Vai-se a neve... De volta à luz



Le Eternel Amour
Tulipe Rouge

- Onde ela está?

- Ainda dormindo doutor Claudes.

- Enton Dadi, você entendeu tudo, non entendeu?

- Sim doutor Claudes pode ir sossegado que eu vou cuidar de tudo enquanto o senhor estiver fora.

- Ótimo. Confio em você Dádi!

Fecho a porta e saio em meio à lama da rua. A neve que derreteu forma poças horríveis, que aos poucos, vão sumindo... e dando lugar a uma paisagem um tanto desértica... Do alto tudo parece pequeno...

Mas meus problemas continuam iguais... Enormes e o pior: muito reais!
Pelo menos três anos sem voltar a pôr os pés na França. Não vou estar lá pra ver o bebê nascer... mas verei tudo graças a tecnologia da internet e todos os meios de comunicação disponíveis que encontrar. Não quero perder nada... E Dadi vai me ajudar com isso.
Não sei se teria coragem de tomar a criança de vez de Nara... Apesar de que se ela se mostrar uma “ameaça” ou mesmo a abandonar, oque é muito provável, eu não vou pensar duas vezes em fazer com que ela nunca mais a veja. Eu vou garantir que nunca falte nada a essa criança, inclusive proteção. Proteção essa que não me foi dada, mas que eu darei ao meu filho. Ou filha. Na verdade, ao contrário de meu pai, nunca rejeitaria nenhum filho. E mesmo esse não tendo o meu sangue, é meu por que eu o escolhi. Um filho de sangue às vezes é ingrato: Diz que sente se rejeitado por que o pai não escolheu que ele nascesse. Um filho adotivo é diferente, ELE foi escolhido. Isso faz toda a diferença.

Não vejo a hora deste tempo passar... Vou servir no campo de refugiados da guerra no Oriente Médio e depois vou voltar literalmente voando... sei que depois vou precisar voltar de novo... Mas no regresso, me lembrarei: desta vez tem alguém me esperando em terra. E sempre vai me esperar. Por que o laço de pais e filhos não é como o de conjugues, que acaba por qualquer coisa. Pais e filhos nunca se separam, porque estão marcados uns pelos outros. Os pais jamais esquecerão dos filhos e os filhos, querendo ou não, jamais esquecerão quem foram seus pais. No meu caso, isso não é exatamente uma bela filosofia, não me soa bem. Mas é verdade; ainda que eu queira, nenhum segundo pude me esquecer de onde eu vim...


Rosa




 Um dia após o outro... Olhando todas essas caixas, nem acredito que já estou voltando! Deus! Eu mal ajeitei a estante e já estou embalando tudo outra vez? Mas... Às vezes é necessário se jogar... Mesmo que pareça insano. Preciso tentar radicalizar... É exatamente o que eu busquei sempre e nunca tive a coragem suficiente. Mas agora é tudo ou nada.

Silvia não vem agora, mas daqui dois meses ela está pousando em Paris. Vou precisar muito dela, aconteça oque acontecer, pois, apesar da minha família toda estar lá, não vou recorrer a eles caso necessite, porque sei que provavelmente não me darão muito apoio... mesmo que dessem, acho que não o aceitaria...

Estou indo quase que no rebote do Jean... Porque faz só quatro dias que ele deixou Montreal rumo à Londres com o pai... Nem sei como tudo vai funcionar a principio, mas acredito que essa “ponte” em Londres seja pra que eu me instale em Paris antes de levantar muitas suspeitas ao Tony. Basicamente, vou fazer pose no espelho até achar que ensaiei o suficiente uma desculpa que não deixara de ser esfarrapada a todos os meus conhecidos... Nem eu me convenço ! REVIRAVOLTA é essa a palavra.


- Sim babbo, isso mesmo... Não... Eu vou trabalhar ai babbo, mas não vou voltar pra sua aba, não se preocupe... - digo num tom distraído, mas aperto o telefone como se ele fosse um peixe que pudesse escorregar pra água novamente- É... Eu sei mas eu.. Quero ter minha vida pai. Será que o senhor pode entender? Olha, são só doze horas até agente poder conversar pessoalmente... preciso desligar, se trata de um telefone publico e... ok. Também te amo pai.- devolvo o telefone ao gancho e me escoro na parede- ufa!

- Rosa... Meu Deus... Oque ele vai dizer...

- Silvia não se preocupe com isso, com meu pai eu me acerto. Mas eu quero saber... Você está mesmo disposta a largar tudo e voltar pra França?

- Estou. Até porque, oque eu tenho aqui pra largar? – ela mostra as palmas, revirando os olhos- Rosa... Montreal não passou de um sonho... Mas sei que aparecerão outros... E enquanto isso não acontecer, eu estarei com você minha amiga, como nos velhos tempos!

- Ah, Sil... Obrigada mesmo!- abraço minha querida amiga... ela foi uma das primeiras e mais verdadeiras que tive. E que ainda tenho e terei ao que me consta.



A viagem passou mais rápida do que nunca... Acordei já em Paris. A primeira coisa que vi foi minhas próprias mãos, as luvas que Tony me renunciara. Pra minha estranheza, não havia uma só alma viva me esperando... Fiquei intrigada, mas depois me lembrei que o vôo que peguei estava muitas horas atrasado e por isso não havia mais ninguém no frio aeroporto...

Encontrei um telefone público, pedi pra que Sérgio viesse me buscar...

- Engraçado isso.

- Isso oque?

- Você ter vindo e não ele.

- Ah, pois é Rosa. Ta vendo como são as coisas? Agente que pega pra criar e eles enchem a boca pra dizer que o cabeça são eles! Que cuidam que mandam em tudo!- Janete sacode a cabeça rindo, suas mãos pálidas seguram o volante com a mesma leveza de sempre...

- haha... Jane... Estava mesmo com saudade daqui... – observo as luzes fugindo na janela, os prédios, os postes... Esta é a minha Paris...

- Tem certeza de que não quer ligar pra ele?

- Tenho. Ah ele já deve estar dormindo... a Joana vai ficar louca comigo se eu interromper o ‘sono de beleza’ dela...

- Está com o endereço?

- Estou. Mas obviamente só vou lá amanhã a tarde.

-Hoje a tarde você quis dizer pois já passam das duas da manhã, Bel.

- Esquece esse Bel, por favor!- rio

- Tá bem então, Fina!

- Fina? Fina Janete?! Quer mesmo me matar!

- Como você disse que o tal jornal lá se chama?

- Não é um jornal, Jane, é uma revista. E chama-se Le-  Cor-di-er... – Pronuncio pausadamente, num suspiro...

- Eu sei no que está pensando.

- Ah sabe?

- Claro que sei. Você esta nervosa.  Poxa amiga, você vai ser editora!     

- Eu sei... esse era meu sonho né...

- Era? Ué... Não é mais?

- Nem sei...

- Entendi... Acho que é porque quando se realiza um sonho, agente sonha outro, pra que não pare de sonhar.

- Janete.... - sorrio- Você me conhece mesmo amiga. Mas estou tão cansada...

- Chegamos. Vou ver se minha cria desce e carrega suas malas lá pra cima! – ela abre a porta, eu me estico pra espiar o prédio, bege, como todos os outros  da rua...



Encho o copo até a borda, me preparo pra virar de uma só vez

- Não devia fazer isso... - Sérgio me adverte em vão, sinto minha laringe queimar

- Oque mais ele disse? – Janete senta a meu lado, cheira a talco..- escutei até “ non ci posso credere!” e ai Alice começou seu show.

- Onde ela está?

- Ah com a babá. Mas não fique você achando que sou uma mãe desalmada,  afinal, dois quarteirões e eu já estou louca para ligar pra saber se está tudo bem, se já acordou... Mas então, você vai mesmo se mudar?

- Estou decidida Janete. Eu preciso fazer meu pai entender de vez que quem cuida da minha vida sou eu!

- Genitore civeta... Querendo manter sempre debaixo das asas... Eu que sou só enteado e ainda por cima sou casado e recebo bronca até hoje!

- Sérgio, tenho certeza que você mereceu.- rio, Janete mostra-me o polegar

- Concordo plenamente!

- Mas então, quer que eu te leve lá?

- Ah Sérgio, quero sim mano. Estou muito nervosa... recebi um e-mail dizendo que eu começo na Cordier amanhã!

- Amanhã? Nossa! Mas que rápido!

- Nem me fale... mas por isso mesmo é melhor irmos logo, ver esse tal apartamento, ajeitar as coisas por lá...

- E... Quando você vai... Você sabe, se encontrar com ele?

- Não sei. Nem sei se eu vou falar diretamente com ele... mas sei que o Tony não pode desconfiar de nada por enquanto.

- Recebi um e-mail do Frasão.

- É mesmo Sérgio?

- É... Parece que ele está de volta na cidade. Não sei se você ficou sabendo, ele estava no Brasil, a negócios da empresa em que ele trabalha.

- Nossa... Brasil, que máximo! Mas e ai?

- Ele vai vir aqui em casa amanhã. Pena que você não vai estar!

- É pena mesmo... Mas eu preciso mesmo ir lá, conhecer tudo... me adaptar...

- Quem é o editor chefe você sabe?

- Não Jane... Mas parece que é uma mulher...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Capitulo 20- Mudança de planos



Le Eternel Amour
Tulipe Rouge


Tony

Deixei minhas luvas em algum lugar, eu sei. Um lugar entre a sala e o banheiro, na certa! Isso não é nenhuma novidade: esquecer. Esqueço tudo o que se pode imaginar com mais facilidade com que respiro. Aliás, as vezes, respirar é muito mais difícil do que se pensa. Principalmente quando você teme perder o compasso e parar de repente. Estranho... parar de respirar do nada... Parece absurdo, mas não é de tudo surreal. Não é como se afogar, é como... se os pulmões se fechassem ou sei lá... Queria ter cursado medicina... precisamente em Oxford... Não que a universidade inglesa seja superior, mas... Lá estaria perto do meu tesouro... 


Rosa sempre foi e sempre será meu tesouro... Que estranhamente, eu não achei, não desenterrei da areia de nenhuma ilha deserta ou encontrei no Monte Cristo... EU fui achado, fui encontrado por ela. E ela me cultiva como se eu fosse a flor e não ela. Rosa... 
Queria poder ter dado muito mais do que um céu de estrelas pra ela, no primeiro sorriso com que ela me presenteou de tão boa vontade.

- Oque está procurando, Tony? Você está todo torto ai, debruçado no sofá, que engraçado!- ouço a voz de Silvia, seguido por uma gargalhada,

- Meus rins! Sabe que eu tinha certeza que tinha deixado eles aqui no sofá... Você por acaso non os viu por ai?- ergo-me, sustentando o torso nos punhos

- Ah, as luvas envenenadas?

- Hô de casa!- Rosa irrompe pela porta, abraçada a uma enorme sacola de papel, vejo minhas luvas

- Ow ai estão elas!- Silvia corre pra pegar a sacola, eu me levanto- A Rose, e as luvas!

- Rose, Silvia?- Rosa ri, tirando o pesado casaco úmido

-Ah, por acaso você não sabe que é assim que se fala Rosa em quase todos os idiomas?

- Quase todos... É nada. Mas deixa, eu trouxe o nosso jantar!- Rosa joga as luvas pra mim, as aparo no ar.

- Obrigado, hã?

- De nada. Estava aquecendo elas pra você!- ela sorri, e eu mal ouço a primeira chamada do celular. – ow, tenho que atender, licença. – me afasto de fininho, atendo meu pai...

Devo admitir que gosto sim muito de meu pai. Mas não é apenas por isso que sempre estou com ele. Faço isso porque sei que, apesar de ter errado muito, eu disse muito, ele ainda é meu pai. Depois que mamãe morreu e ainda mais quando Claude saiu de casa... Ele entrou numa depressão lastimável. Eu estava igualmente triste e com medo, mas precisava encontrar forças. 
Tentei de todas as formas reconciliar minha família mas... parecia bem mais fácil me afastar dos dois também. Mas como sei que meus dias estão quase que contados, vou dar o meu máximo pra que tudo fique bem entre eles. E tem mais uma coisa: Rosa. Tenho que pensar nela também.

Ela não vai me esquecer, o estrago que fiz na vida dela é irreversível... como eu queria que ela não tivesse se apaixonado! Queria que ela me visse como irmão, assim como eu me esforcei pra vê-la assim... não posso negar que isso é muito difícil, mas tenho  me forçado a aceitar essa condição: sou o ANJO de Rosa, estou aqui pra fazer o melhor que puder POR ela. Não quero e não vou tirar proveito disso. 
Na verdade, é muito mais difícil do que se parece, uma vez que ela é a única mulher por quem me apaixonei durante toda a vida. E a única mulher que eu não posso me dar o luxo de seduzir, apesar de já tê-lo feito inconscientemente. Não posso simplesmente beijá-la e depois ir embora. Eu não posso magoá-la...

Minhas loucuras pró radical deixam meu pai com os poucos fios de cabelo (grisalho) em pé. Até Claude fica preocupado quando descobre que por acaso eu subi uma montanha ou bati meu recorde saltando de pára-quedas... correr não é menos necessário do que me alimentar. Faço isso de qualquer forma, a qualquer custo. Se tornou um vicio eu diria...

A breve conversa que tive com meu irmão na manhã de natal, talvez não tenha surtido o efeito que eu esperava. Depois de quase se casar de verdade, ele me liga, com uma voz seca dizendo que foi traído, e que estava tudo arruinado. Poderia me culpar, disse a ele, porque eu sabia desde o principio que não havia amor de verdade no relacionamento dele com Nara.
Mas oque ele me disse me deixou ainda mais chocado: o amante da noiva dele era ninguém mais ninguém menos do que Carlos, seu inimigo quase mortal. Quase porque a sabotagem que o tal 32 fez pra tentar fazer meu irmão se dar mal na aterrissagem... quebrando o trem de pouso e sei lá mais o quê... Não deu certo. E meu irmão está ainda hoje vivinho, e muito, mais muito irritado. Eu o assegurei de que casar seria a melhor coisa a se fazer. 


Mas ele que escolheu a noiva, disso não me culpo. Nara não é de tudo má pessoa, sei que ela sofre e sofreu muito na vida mas... Ela não tem equilíbrio... Vários problemas com exagero em bebida e medicamentos fortíssimos explicariam a “quase insanidade” dela?...

 Calço as botas e sorrio:
- Meninas, se me dão licença, tenho que sair um minuto.

- Onde vai?- rosa senta ao meu lado.

- Vou até a farmácia e depois... vou encontrar meu pai. Ele acaba de chegar à cidade!- dou um sorriso um pouco incerto da aprovação dela mas me surpreendo ao perceber que ela desvia o olhar- oque foi Rosa?

- Nada...- ela levanta languidamente. Esta me escondendo alguma coisa eu sei.

- Tem certeza?

- Claro.- de dá os ombros. Mas ainda me evita de olhar nos olhos.

- Tudo bem... eu já volto, hã? Prometi que ficaria até receber a resposta do seu novo projeto e vou cumprir!- beijo sua testa, e saio.

Claude

Nem que eu pudesse arrancar cada órgão interno daquele cretino eu daria essa chance pra ele... não quero ver ele nunca mais na vida... quanto a Nara, dizer que fique com o apartamento é melhor do que expulsá-la grávida. Sei que o pai dela a deserdará ( se é que existe alguma herança da parte dele) e Carlos não vai dar menos do que uma surra nela quando descobrir que ela está grávida. Em parte tenho culpa disso. Não apenas porque nunca amei Nara de verdade, mas também porque na nossa ultima briga, despejei todos os remédios dela no ralo da pia. Inclusive os preventivos.

Ontem cheguei a pensar que o relacionamento dela e Carlos fosse sólido, que ele a amasse, mas foi depois de ter pedido pra pensar um pouco que tirei prova: encontrei Nara tentando se matar na banheira de novo. Mas dessa vez é mais grave: existe uma outra vida em jogo.
Hoje tomei uma decisão, decisão esta que pode sim tomar o rumo de minha vida: esse filho é meu, até que se prove o contrario. E não me refiro a exames e afins, digo que quando se tem alguma coisa, se tem mesmo, pra sempre, e de todo o coração. Eu desejei um filho desde o dia em que Tony me lembrou da estória do Pequeno Príncipe... Desejei ter um só pra mim. Não me importa de onde veio. Mas esse bebê é meu, e, se eu tivesse útero e pudesse carregá-lo comigo, eu o faria.

- Você fica. E non tem mas nem meio mas. E tem mais uma coisa: você não vai ficar sozinha.

- Oque? Mas você não vai pro campo de refugiados lá?

- Vou. Mas quem vai ficar com você é Dádi.

- Dádi? Aquela Dádi, empregada do seu pai?

- É. Ela mesma. Mas Dádi era empregada de minha mãe, e só permaneceu na família por mim e por meu irmón, ela cuidou de nós mesmo sendo muito jovem na época... e ela vai cuidar do MEU filho, entendeu? E você non se atreva a machucá-lo.

- Claude...

- Olha aqui Nara... Eu vou vir sempre que puder do Afeganiston ou seja lá de onde eu estiver, pra ver como anda meu filho entendeu? Eu non vou deixar que você o destrua... Jamé! (jamais)

Rosa

- Eu sei, eu sei oque você deve estar pensando... Que eu pirei de vez e tudo mais...

- Rosa... eu até entendo que você esteja muito dividida, mas.... Acha mesmo que precisa disso tudo?

- Oque eu puder fazer por ele, Silvia, tudo e qualquer coisa que eu puder fazer por ele... eu estou disposta a fazer.

- Quer dizer então... Que você aceitou a proposta do pai dele?...

- Sim. Mas não pelo tal cargo que ele me ofereceu, você sabe que não. Mas pelo Tony. E porque eu sei que não existe outra maneira de... fazer isso sem ter que voltar a morar em Paris. E também, porque eu não quero e não vou voltar para a casa do meu pai. Você sabe que eu não vou dar esse gostinho pra ele.

- Você quem sabe. - Silvia da os ombros, eu suspiro. Uma proposta que pode mudar o rumo da minha história... Definitivamente...









sábado, 2 de abril de 2011

Capitulo 19- Amor de verdade?...



 


Le Eternel Amour
Tulipe Rouge



-Levanta daí, Sérgio!- Bato no ombro de meu irmão preguiçoso, esparramado no sofá- Vamos que já está na hora do almoço!

-Ué mais já?! Acabei de acordar!

- Eu só deixei por causa do fuso horário, se não você já estaria de pé ás seis e meia!- Janete aparece carregando Alice- Segura pra mim, Rosa?

-Claro!- abro um sorriso toda boba.

Silvia e Janete se encarregaram de praticamente tudo pro almoço, Nara ficava observando, como se cozinhar fosse coisa do outro mundo. Eu acabei conseguindo o que parecia ser impossível: fazer Alice dormir. Segundo Jane, ela estava “acesa” desde as cinco da manhã!     
Claude, Sérgio e Tony, fizeram o “clube do bolinha”, conversavam animadamente entre eles, mas nós não entendíamos quase nada. Principalmente na hora em que os três desembestaram a falar em russo... eu nem sabia que o Tony e o Claude falavam russo... Mas pareciam bem seguros!

- Nossa... É mais agressivo do que o alemão...- diz Silvia, cabeça pendendo prum lado

- Agressivo?- Janete ri, enquanto põe mais um cobertor sobre a filha que dorme no carrinho inteiramente cor-de-rosa

- É, agressivo, parece até que estão discutindo!

- Isso é porque estão mesmo, Silvia!- Janete revira os olhos, balançando a cabeça- Quer dizer... Mais ou menos.- ri


- Do que eles estão falando?- pergunto curiosa

- Rosita... - Jane toca meu nariz com o indicador- Vejo que certas coisas não mudam, né amiga?

- Ai Jane não seja má! Conta!- franzo o cenho numa agonia exagerada

- Não!... Pergunta pra eles que é mais interessante.- ela dá os ombros rindo.

- Interessante pra quem? Nossa Jane você é sádica, sabia?

- Por quê? Eu só dei uma sugestão, oras! É só ir lá e perguntar.

- Ai, você sabe que eu não vou fazer isso né... Quer me matar de curiosidade!- cruzo os braços

- Ah, Rosa que isso, são só alguns metrinhos de distância!- Janete ri

Nos olhamos por um segundo e caímos na gargalhada. Jane sabe mesmo como me fazer voltar no tempo... Na trupe falta apenas Frasão e Alabá, que estão há um oceano de distância... Telefonemas pra cá... Telefonemas pra lá...
Tony praticamente implorou ao Claude que falasse com o pai pelo telefone e ele não deu a mínima importância, como se nem se importasse. Começo a me perguntar o porquê disso tudo... Assim que Claude percebeu que todos ao redor o olhava de cenho franzido (assim como eu), ele soltou o ar com força, agarrou o telefone e disse duas frases no máximo, devolvendo o aparelho a Tony em menos de um minuto que conversa.


- Onde vocês vão para encontrar um pouco de diversão por aqui?- Janete diz sorrindo, segurando a taça com as duas mãos

- Bem... na verdade...- Silvia me olha rindo- a Bel NUNCA se diverte! Com ela é sempre trabalho, trabalho e trabalho! Parece até propaganda política, né?!

- Olha isso não é verdade!- a olho de lado

- Ah, não? Então vai conta irmãzinha! Conta oque a senhorita faz pra se divertir?- provoca Sérgio

- Hey mais oque é isso? A Bel sempre foi ton alegre... tenho certeza de que ela se diverte sim!- Tony me olha, e percebo os olhos de Claude me fulminando. Odeio ter toda a atenção voltada pra mim.

- Viu só...- dou os ombros, me sentindo desconfortável com tantos olhos me observando

- Ainda toca seu violino, Bel?- Sérgio sorri, dou rápida examinada na mesa: Jane mexendo calmamente no prato com as talheres, Nara com o nariz vermelho fitando o anel de noivado distante, Claude tomando uma bela golada de vinho fazendo careta e olhando pra taça como se não soubesse oque tinha dentro... Viro me e encaro Sérgio

- Sempre.- respondo calmamente. Depois dou um languido sorriso e volto ao meu prato.

- Coitados dos visinhos! – ele ri

- Ah não se preocupe, Sérgio. Os únicos visinhos vivem viajando... temos só uma senhora que mora aqui realmente, mas ela é bastante idosa e nem tem mais tanta audição..

- Oh, obrigada pelo elogio, Silvia!- levanto a taça arqueando as sombracelhas

- Quem diria... – Sérgio suspira- Seu Giovanni que achava que Londres era longe... veja você, no Canadá!

- Pois é...- mexo em meu cabelo, pensando sobre as voltas que minha vida deu...

- Imagina se você tivesse mesmo casado com o Julio... Onde será que você estaria hoje, Rosa?- Jane sorri, pondo a mão no queixo

- Provavelmente pilotando... – Sérgio ri, olhando pra Claude, que não entende a indireta e franze o cenho- Pilotando o fogão efetivamente!

- Sem graça!- lanço-lhe um tapa no ar

- Você ia se casar?- Nara me olha curiosa

- Pois é... – pressiono os lábios pedindo mentalmente que o assunto se encerre

- E oque aconteceu?- Nara dispara.engulo em seco- Quero dizer, por que não se casou? Oque deu errado?

- Bem... sabe oque é? Eu... acabei desistindo por que... porque eu queria minha independência minha... carreira e...

- Você não o amava?- ela me olha intensamente, pega na mão de Claude

- Sinceramente? Eu não sei dizer se eu algum dia de fato me apaixonei por ele, sabe? Acho que... Foi meio que uma imposição... Dávamos-nos bem e ele... Eu... Ah, é isso. - cubro o nariz com os dedos. Nara se ajeita na cadeira, parece ter se perturbado um pouco com oque eu disse...



Claude


Entre todas as maluquices de meu irmão, essa em especial, eu deverei lembrar pro resto da vida. Jean sabe que detesto natal e sabe o por quê. Sabe que detesto gente estranha e sabe muito bem como é meu relacionamento com nosso pai. Mas mesmo assim, ele me apronta.

-Então... Não vai me dar um abraço de despedida?- Jean sorri como um gatuno, que me rouba a paciência.

- Claire, irmón. – o abraço por alguns segundos-  Ne pas jouer plus avec moi, Jean! S'il vous plaît! (Não me apronta mais por favor!)

- Até logo, Claude. - sorri, e eu tenho a certeza de que ele nunca deixaria de aprontar.

Entramos no táxi que nos levaria ao aeroporto, rumo à Paris desta vez. Passaríamos o ano novo na minha cidade natal, onde por acaso, Nara escolheu pra se casar.
Passamos a maior parte do voo em silencio, até que ela dispara:

- Claude... Você me ama?

- Hum?!- assusto-me

- Você me ama?...Por que... Eu não sei se te amo! Estou me sentindo tão culpada!

- Nara... a verdade é que também non sei se... te amo... eu acho que isso devemos deixar o tempo nos dizer, hã?

- O tempo?- ela levanta as sombracelhas- o tempo Claude? Mas que tempo?! Agente mal passa quatro dias seguidos juntos! Você nunca aparece e quando aparece, logo some de novo!

- Cherri... você sabe que é por causa de meu trabalho...

- Ai, eu nem quero ouvir! Essa desculpa está em vigor desde que nos conhecemos! Mas acontece Claude, que agora agente vai CASAR, entendeu? CASAR. E isso significa, que eu tenho todo o direito de passar pelo menos um mês inteiro com você. De ter uma CASA, uma FAMÍLIA de verdade!

- Nara... – sorrio- você non sabe o quanto é importante para mim ter tudo isso. E ouvir isso de você é muito bom.

- Eu sei. – ela suspira, encostando a cabeça em meu ombro.

Comprei um apartamento perto da praça Itália em Paris, non muito maior do que o de Rosa em Montreal, mas com certeza, o suficiente pra um “começo”. Enchemos o lugar de móveis e Nara encheu as paredes de quadros (horríveis) pintados por sei lá quem, mas ela disse que são caros, não pestanejei.
Senti-me feliz por ter uma residência, mas estranho por que afinal, tudo era novo pra mim. Mas eu sabia que era aquilo que eu escolhi, e parecia formidável.
Nara insistia pra que eu arrumasse um emprego como piloto civil, e deixasse de lado minha fixação por caças... mas não me parecia nada simples...

O casamento demoraria mais umas duas semanas, e entravamos no segundo mês do ano novo quando chego em casa e encontro Nara sentada no sofá, olhos borrados e vermelhos. Me olha por baixo

- Claude, eu preciso falar com você um minuto.

- Tudo bem, mas o que foi? Aconteceu alguma coisa?- sento a seu lado

- Sim, aconteceu. Ou melhor dizendo, está acontecendo nesse mesmo instante.

- E o que é?...- sorrio sem entender

-  Acontece... que acho melhor agente desistir dessa palhaçada toda.- ela se levanta

- Oque?

- é. Chega dessa farsa Claude. Agente sabe que nunca daria certo... Você não me ama! Está comigo por mera solidariedade.

- Nara, quem te disse isso?!

- Claude...- ela senta novamente, calma demais pro meu gosto- eu gosto de você. Mais nunca te amei como você merece... E... Agora é tarde demais pra que agente tente mudar isso.

- Mudar? Mudar oque?

- O meu ESTADO, oras...- franzo o cenho e ela completa num suspiro:- Estou grávida Claude!

- Comment?! Gra...Grávida?! – me levanto num pulo- Mas Nara... isso é maravilhoso cherri!

- Mas acontece que você... NÃO É O PAI!